quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Crítica: Whiteout - Terror na Antártida


O crime não escolhe lugar para ocorrer e pode macular até mesmo a brancura da Antártida. Tem produtor, roteirista, diretor que também quando não tem mais nada pra macular, vai procurar uma HQ na banca de revistas mais próxima. A vítima da vez é a curiosa mini-série Whiteout: Morte no Gelo, uma trama policial criada por Greg Rucka e notavelmente ilustrada e climatizada por Steve Lieber, publicada no Brasil pela Devir Editora. Whiteout, a HQ começa assim: “O fim do mundo. Antártida. O Gelo. Nenhum outro lugar pra ir, exceto pra cima.” Ela conta a história de Carrie Stetko, uma Agente Federal que vive numa base americana na Antártida e se depara com um corpo desfigurado. Ao iniciar as investigações ela se vê na mira de um assassino em série e só pode contar com a ajuda da enigmática Lily Sharpe, uma agente da Inteligência Britânica em quem ela não confia. Whiteout é uma HQ envolvente com uma arte capaz de gelar a espinha.

Whiteout: Terror na Antártica (EUA, 2009), filme dirigido por Dominic Sena, começa com um prólogo (inexistente na HQ) pra justificar uma história totalmente diferente da HQ. Totalmente é um pouco de exagero, na verdade da história original foram mantidos os nomes de três personagens: Carrie Stetko (Kate Beckinsale), Dr. Furry (Tom Skerrit) e Delfy (Columbus Short), a localização da trama na Antártida, o objeto usado pra matar, o título e..., mais nada. A razão da trama mudou. Sai a Inglaterra e entra a Rússia. A bela espiã inglesa Lily dá lugar a um inexpressivo “não sei o que estou fazendo aqui” agente da ONU (?), saído do nada para lugar nenhum: Robert Pryce (Gabriel Macht – pulando do fogo desastroso de Spirit, dirigido pelo mestre das HQs, Frank Miller, para a bobagem gelada de Whiteout, de Dominic Sena) que aparece na história num “passe de mágica”. 


A mudança de sexo e de personagem (Lily por Pryce) pode ter sido uma estratégia (que saiu pela culatra) pra driblar a puritana censura americana, já que na HQ há insinuação e divertidas indiretas dos cientistas da base sobre a sexualidade de Steko..., e quando as duas estão juntas parecem prometer algo que só a última fala do último quadrinho traduz. O moralismo de Hollywood, principalmente em relação a personagens de HQ é mais do que doentio. A primeira coisa em que os produtores e seus roteiristas e diretores pensam ao adaptar uma obra é arranjar uma companhia feminina pro herói, para que não paire dúvidas sobre a sua masculinidade. Tudo isso por conta do Batman e seu pupilo Robin. Por falar em mudança de sexo, outra que não convence é Kate Beckinsale, na pele de Steko, papel que pede uma atriz que não seja apenas bonitinha, mas que tenha a garra de uma Sigourney Weaver, a oficial Ellen Ripley em Alien, de Ridley Scott.

Whiteout é um filme que junta um monte de gente bonitinha sem a menor idéia do que estava fazendo no pólo sul. Aliás, nem mesmo o sem noção diretor Dominic Sena parece saber. Se soubesse não trocaria uma história excelente e pronta, como a mini-série (que podia servir até mesmo como storyboard) por outra inferior e a quilômetros de distância da original. Whiteout, o filme, não cumpre o que promete (ser um thriller), porque ele não é o que promete: a versão cinematográfica de Whiteout a HQ. Ele é uma históriazinha boba, convencional, “interpretada” por um bando canastrão. Hollywood é preguiçosa, ela adora pegar o que está pronto ou que já fez sucesso e mudar a cara, quebrando a cara, na maioria das vezes.

Pode até ser que no futuro Whiteout vire um cult trash, pela canastrice generalizada, mas no momento ele poderia muito bem ter se perdido num Whiteout: “O Gelo é o lugar onde mais venta na Terra. Os ventos catábicos sopram do planalto em direção ao oceano. Com rapidez. Algumas vezes ele chega a 320 quilômetros por hora. Com esse tipo de vento, a temperatura cai pra casa dos três dígitos. O vento levanta a neve que tem caído no Gelo por milhares de anos, jogando tudo pelos ares. Acaba com a visibilidade, você não consegue ver meio metro na sua frente, não dá pra diferenciar o chão do céu. Isso é o que chama de “whiteout”. As pessoas congelam até a morte no “whiteouts”...

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