Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy with a chance of meatballs) é, até certo ponto, uma divertida animação, dirigida por Phil Lord e Chris Miller. Porém, depois de algum tempo o filme, que é uma adaptação do livro infantil homônimo de Judi Barrett, fica um tanto quanto indigesto. Mais americano é impossível, com a sua ode à gula.
Tá Chovendo Hambúrguer é centrado na
vida de Flint Lockwood, um cientista
bem intencionado cujas invenções são (meio) desastrosas. Zoado desde criança,
pelos colegas de escola, Flint não
desiste de criar algo realmente útil para todo mundo. Vivendo numa pequena ilha,
chamada Swallow Falls, na costa americana, onde o único tipo de alimentação é
a sardinha, o jovem cientista decide mudar esta dieta, inventando uma máquina
capaz de transformar água em alimento. Logo os insaciáveis moradores começam a dar asas à gula e a engenhoca,
sobrecarregada de informações, acaba entrando em pane e comprometendo a
segurança dos moradores.
Transformar o
céu num grande fast food parece ser
um sonho tipicamente americano e o que fazer com as sobras um pesadelo do resto
do mundo. A princípio a animação em 3D parece até uma resposta ao excelente
documentário Super Size Me – A Dieta do
Palhaço (EUA, 2004) do diretor Morgan
Spurlock, que critica os fast foods
com sua comida insuportavelmente calórica. Enquanto o
documentário adverte para os cuidados com a alimentação, o desenho parece
sugerir o contrário, tendo como meta a comida em busca da felicidade. Tá Chovendo Hambúrguer não deixa claro
se é uma ode ou uma crítica à gula. Nem tão pouco se, ao se tornar viva, esta
comida é um alerta transformador ou mero efeito de animação em busca do riso
fácil. Na pequena ilha, renomeada de Chewandswallow, apenas um personagem com problemas de excesso alimentar
é punido, mas não exatamente por isso.
Vale lembrar
que, da recente safra de animações, outras duas também falam de comida: em Ratatouille (ganhador do Oscar de 2008)
há um rato, com apurado olfato e sensibilidade para fazer as mais diferentes
combinações de alimentos, que sonha em se transformar num grande chef; em O Corajoso Ratinho Desperaux,
uma ratazana, não resistindo ao saboroso cheiro, cai dentro da vasilha de sopa
e provoca uma tragédia em todo o reino. Ou seja, nas três animações a comida
conduz os personagens à glória ou à perdição. Mera coincidência? Não custa (?)
esperar pela sobremesa!
A busca do
sucesso na vida profissional é um direito de todos. Porém, se a fama é “algo”
que transforma o ser humano, qual é o preço a pagar quando ela chega
prematuramente ou vai embora inesperadamente..., ou vice-versa? Várias facetas
da fama, bem como comodismo, rejeição, bullying, aparecem em Tá Chovendo Hambúrguer , mas sem muita
profundidade, já que não conseguem concorrer com o produto principal. Longe da
graça e do perfil psicológico dos personagens de Desperaux, o desenho de Tá
Chovendo Hambúrguer é legalzinho, mas nada muito original. Chega a lembrar
os personagens de Ratatouille. Pode
ser birra, mas a caracterização de um policial negro, retratado num misto de
gorila com chimpanzé, que, em vez de andar, pula e rodopia de um lado pro outro,
além de ser muito brabo, me incomodou.
Tá Chovendo Hambúrguer, com sua dose
de inocente sujeira, escatologia infantil e humor negro, tem tudo pra agradar,
principalmente as crianças que têm um estômago no lugar do cérebro.
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