sexta-feira, 29 de março de 2013

Crítica: Jack - O Caçador de Gigantes



Conforme a temporada de arrecadação, os produtores hollywoodianos aproveitam para fazer onda ou saltitar marolas em busca de milhões de dólares. No momento o vento sopra mais ou menos a favor, estufando as velas de novíssimas versões de velhíssimos contos populares clássicos. Ao primeiro sinal de calmaria..., eles tratam de mudar de barco! A horta da vez, que recebeu uma boa chuva e muito adubo, é a do Jack e o Pé de Feijão que, de ladrão e assassino de um gigante, passou a ser o caçador de toda uma sociedade deles. O problema é que, como Jack é um bom rapaz e o Pé de Feijão cresceu além da conta, o caldo talvez não fique ao agrado de todos.

O conto Jack e o Pé de Feijão (The History of Jack and the Bean-Stalk) vem da tradição oral inglesa e, até onde se sabe, o seu primeiro registro em livro é de 1807, creditado a Benjamin Tabart, que justifica os roubos e o assassinato do ladrão Jack. Mas a versão (Jack and the beanstalk) mais popular é a de Joseph Jacobs, de 1890, em que fica tudo por isso mesmo: o garoto rouba, mata e ainda se casa com uma princesa. Por se tratar de tradição oral é claro que, no boca a boca, as versões ganham e ou perdem elementos para a satisfação do público alvo. No Brasil, mesmo, o João e o Pé de Feijão é encontrado em outras versões além das duas citadas. (Se quiser conhecer as versões “originais” de Talbart e de Jacobs, e também a análise delas, é só clicar nos títulos-links.)


Jack - O Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer, EUA, 2013), dirigido por Bryan Singer, é um filme fantasia levemente inspirado em Jack e o Pé de Feijão (ou João, no Brasil). Nesta versão cinematográfica, o caipira Jack (Nicholas Hoult) é criado pelo pai viúvo (Tim Foley) e depois pelo tio (Christopher Fairbank) e, em vez da vaca (sem leite), vai vender um cavalo e uma carroça. Distraído, acaba se metendo em uma confusão e perde o cavalo por alguns grãos de feijão (até que rimou!). Em meio a um temporal, acolhe a rebelde e independente (mais uma!) princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), e, para a surpresa de ambos, um feijão brota sob o assoalho, levando a casa e garota para as alturas. Ao saber do sumiço da filha, o rei Brahnwell (Ian McShane) providencia um grupo de resgate, sob o comando de Elmont (Ewan McGregor), o chefe da guarda, e inclui o nada confiável noivo da princesa, Roderick (Stanley Tucci), e o sonso Jack. Trepando no gigantesco pé de feijão eles vão dar na terra celestial dos gigantes (até então apenas uma lenda) e desencadear uma guerra descomunal. Os humanos querem a princesa. Os gigantes querem petisco de gente. Isso é tudo pessoal!

Variação de gênero à parte, o filme dirigido ao público infantojuvenil (dos 7 ao 12 anos?) não é dos mais agitados. A sensação de aventura (com uma pitadinha de romance) está por toda parte, mas a ação (pra valer!) só dá as caras no final, quando explode a grande batalha de ferro e fogo. O roteiro morno de Darren Lemke, Christopher McQuarrie e Studney Dan, é bem linear e traz resquícios de A Princesa Prometida (1987), de Rob Reiner, e de O Senhor dos Anéis (2001), de Peter Jackson, desde o simpático prólogo, onde o pai de Jack e a mãe de Isabelle, coincidentemente, estão lhes contando a mesma história para dormirem. O conto fala de gigantes que vivem acima das nuvens, da guerra que travaram com os humanos e de como foram dominados e mantidos a distancia com o poder de uma coroa e a coragem de um rei.


Jack - O Caçador de Gigantes, enfraquecido pela indecisão de público alvo, carece de humor (a única piada - do enroladinho de carne - está no trailer) e de um roteiro mais esperto. É tudo brando demais (para não chocar a garotada?), casto demais, infantilizado demais. Não há química alguma entre os bons atores e entre os fracos personagens. Não há emoção! A apatia reinante não provoca, não faz o espectador querer tomar partido (a favor dos humanos ou contra os gigantes). O destino de cada personagem é indiferente. Eu vi apenas uma piada (dos assados) e uma sacada genial (com o último grão de feijão), talvez a criançada consiga ver algo mais.

Depois de Avatar (2009), de James Cameron, qualquer cidade vertiginosa, mesmo fazendo parte do contexto, como na história de Jack, já não causa mais tanto impacto. Não há como não comparar as tecnologias. Os efeitos CGI são bem chinfrins e mostram menos do que devia. Há apenas uma cena de travessia (entre os caules), as outras ficam por conta da imaginação do espectador. A artificialidade (e pobreza técnica!) da cenografia (na terra e ou no céu) é constrangedora. Também os gigantes (personagens mais interessantes da trama, ainda que mal resolvidos) parecem desenhados para animar plataforma de videogame. O pé de feijão você jura que é feito de massinha. Já que tudo é tão falso, podiam ter optado logo pelo desenho animado. Com certeza o resultado seria muito melhor. Ah, quem não viu os trailers pode até ter alguma surpresa. E não esqueça: Jack - O Caçador de Gigantes tem nada a ver com João e o Pé de Feijão.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Crítica: Jorge Mautner - O Filho do Holocausto



Jorge Mautner é um dos mais originais autores e compositores brasileiros. Conheci casualmente a sua literatura e música ainda nos anos 1970. Nessa época morava em Santo André e sempre ia a São Paulo, a Capital Cultural do Brasil onde se encontra de tudo (do arco da moça ao arco da velha), e passava o dia assistindo a vários filmes, indo a livrarias e visitando sebos.

Naquele tempo era comum encontrar pessoas vendendo livros “usados”, espalhados em uma lona ou pano, na calçada. Foi assim que encontrei à venda, numa manhã de sábado, na Avenida São João, os livros Deus da Chuva e da Morte (Editora Martins Fontes, 1962) e Narciso em Tarde Cinza (Editora Exposição do Livro, 1965). Sabia quase nada de Mautner, mas estudava Mitologia Grega e achei que tinha a ver. Paixão total! Nunca havia lido nada tão arrebatador e moderno (como se dizia). Nem mesmo o perturbador PanAmérica (Editora Tridente, 1967), do José Agrippino de Paula, que logo depois encontrei num saldão, mexera tanto comigo. Ao saber que os dois volumes faziam parte da Mitologia do Kaos, saí fuçando em tudo quando era canto e acabei encontrando o Kaos (Editora Martins Fontes, 1963)..., também na calçada. Não demorou e conheci o seu desconcertante e (para mim!) melhor disco: Para Iluminar a Cidade (Selo Pirata - Polygram, 1972).

Continuei lendo e ouvindo Jorge Mautner com satisfação, mas sem o mesmo impacto inicial da sua trilogia iluminando a cidade e fazendo cabeças. Tive depois apenas mais uma sensação de total arrebatamento literário, se bem que noutro contexto (muito outro!), com o romance Zero (1975), do Ignácio de Loyola Brandão. Mas isso é outra história..., e candanga.


Mautner está em algumas salas de cinema, iluminando a tela com a sua presença literária, filosófica e musical, no documentário Jorge Mautner - O Filho do Holocausto (Brasil, 2012), dirigido por Pedro Bial e Heitor D’Alincourt. O filme traça um panorama razoável deste genial artista (ainda de vanguarda!) que, para muitos, é um ilustre desconhecido. Para tanto, traz uma boa seleção de números musicais (gravada especialmente para o doc), com participações de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Nelson Jacobina (1953 - 2012); trechos de livros (em leitura meio enfadonha pelo autor); cenas de O Demiurgo, filme dirigido por Mautner, quando do seu exílio em Londres; e lembranças memoráveis de pessoas próximas ao homenageado, como o multiartista José Roberto Aguilar, que relembra a amizade nascida na adolescência.

O documentário, que não foge ao (vicioso) formato padrão-tv, apesar de buscar a abrangência biográfica de Mautner, não esgota o assunto... Por conta da narrativa (acadêmica-tv?) deixa a sensação de estar faltando pedaços (importantes!). Jorge Henrique Mautner, filho da austríaca e católica Anna Illich e do judeu-austríaco Paul Mautner, refugiados da 2ª Guerra Mundial, é autor de uma obra cuja reflexão filosófica, pertinente ao mundo que se quer civilizado, merece ser (re)vista e ou (re)conhecida. E ouvida!

É difícil precisar o interesse da nova geração de espectadores por Jorge Mautner, o também pai da diretora de telenovelas Amora Mautner. Aliás, os dois propiciam a melhor e mais divertida sequência do doc: Amora fala dos seus traumas infantis (em família) e Mautner desvela a inusitada e bonita origem do nome Amora. O filme, apesar de problemas técnicos (captação de áudio) e excesso de preciosismo, vale pela presença (sempre!) cativante de Jorge Mautner.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Crítica: Francisco Brennand



O documentário é um gênero no fio da navalha. Um vacilo e o filme já era. Aparentemente mais econômico que a ficção, nem sempre a produção resulta em um cinema melhor e ou ao gosto do público, geralmente o adulto mais velho, já que o assunto em foco raramente é de interesse do jovem espectador. E se o é, geralmente esbarra na linguagem pouco (ou nada) criativa e com todos os vícios de uma matéria televisiva. Na maioria das vezes fica claro que o “objeto em discussão” é muito maior que a narrativa.

Francisco Brennand, dirigido por Mariana Brennand Fortes, é um doc que sofre da abominável síndrome do “jornalismo cultural” de TV. Ou seja, o que interessa é o artista e não a sua obra. Na televisão, quando milagrosamente um artista plástico (por exemplo) consegue um ou (no máximo) dois minutos para divulgar o seu trabalho, ele terá por 50 ou 110 segundos uma câmera na sua cara e o restante numa geral sobre a sua arte. Como se alguém fosse (eu não vou!) a uma exposição (por exemplo) para ver o artista e não a obra.

Brennand é um ceramista excepcional. A estonteante beleza das suas esculturas míticas e da sua casa-oficina-galeria, nos arredores de Recife, é um convite ao mundo das experimentações e das sensações que brotam verbo na argila, instantâneas na câmera ou evocativas nas telas e no papel gravado ou grafado. É impossível alguém ficar indiferente à exuberância de suas esculturas ou do seu museu a céu aberto. O grotesco e o lúdico desvelam um mundo imaginário que só encontra eco na literatura de Ariano Suassuna.

Conduzido por curiosas passagens literárias dos diários de Brennand, narradas por Hermila Guedes (que mal abre a boca e a sua voz é praticamente sobreposta pela música intrusa de Lucas Marcier), o roteiro (padrão) passeia pelo espaço interno e externo da sua arte e pousa sobre algumas obras, conforme o discurso oportuno do autor. Por entre quadros, cerâmicas, serigrafias, fotos..., desvela, também, sutilezas de sua intimidade. Nada de segredos de alcova..., apenas pecadilhos sem importância, mas com alguma plasticidade, como requer o ofício. A bonita fotografia, com direção de Walter Carvalho, às vezes se perde no memorável labirinto fantástico do mestre, e deixa informe boas memórias sobre o seu fazer artístico. Entre o verbo e o objeto, privilegiou-se o artista.

Francisco Brennand é um doc irregular. Em seu formato antiquado beira a sonolência televisiva. A repetição de foco compromete o ritmo e passa a impressão de pouco material (interessante) filmado. Todavia, o que chama a atenção é que, para um artista de 85 anos, vivendo recluso há quatro décadas, Brennand (contraditoriamente?) aparece e fala até demais.


quarta-feira, 20 de março de 2013

Crítica: Os Croods



A pré-história é um período que desperta muita curiosidade científica e literária. Porém, é no cinema que ela encontra terreno fértil para as mais divertidas e alucinadas especulações, seja na área da ficção e ou da animação. Desde os primórdios do cinema os realizadores buscam recriar a idade da pedra, maquiando iguanas, crocodilos, elefantes, em animais (esquisitões) que acreditavam dividir a terra com os humanos. Com a popularização da paleontologia, muita coisa mudou..., ou quase.

Passada a euforia dos Flintstones, Família Dinossauro, Era do Gelo..., eis que outra adorável família surge no pedaço, querendo uma caverna confortável e muita comida, nos arredores da pedra lascada e bem longe dos terremotos. Estou falando dos modernos e estressadíssimos Croods, que sobreviveram aos seus vizinhos por conta de uma máxima cavernosa levada ao pé da letra: o medo é bom, a mudança é ruim.


Os Croods (The Croods, EUA, 2013), a animação da DreamWorks, roteirizada e dirigida por Chris Sanders (Como Treinar o seu Dragão) e Kirk DeMicco (Micos no Espaço) é um espetáculo de animação de encher os olhos e provocar boas gargalhadas, o que não é raro nos desenhos animados de qualidade. A história é clássica: Grug é um chefe de família que faz de tudo para proteger Ugga, sua mulher; a adolescente Eep; o garotão Tunk; e a bebezona “selvagem” Sandy..., se possível ele protege a sogra também. Grug, apesar de bronco, é um grande artista e razoável contador de histórias. No entanto, não vê com bons olhos o interesse de Eep pelo mundo além da caverna. Ele teme tudo que quebre a sua rotina e, se já não suporta ser desafiado pela filha adolescente, vai ficar uma fera quando conhecer e não entender as ideias do criativo Guy, um jovem mais evoluído e que está em busca de um lugar chamado de “amanhã”. Um abalo sísmico irá unir a todos numa saga arrebatadora de grandes descobertas e hilárias reflexões sobre os cinco sentidos e os sentimentos humanos em relação a si próprios e aos animais ao redor.


Sanders e DeMicco criaram um roteiro simpático e inteligente. Até mesmo as exageradas liberdades poéticas, que exploram os protótipos tecnológicos, funcionam com graça. A narrativa e os diálogos são rápidos. E não poderia ser diferente, afinal essa gente tinha um vocabulário mínimo. A contação de histórias de Grug é um achado. O público vai amar os estranhos seres que povoam a telona, dando um sabor exótico e futurista à pré-história. Na verdade, uma fauna surreal parecida já frequenta a literatura para crianças há um bom tempo. Mas ver esses multibichos (que muita gente imagina ter sido assim no começo de tudo, quando coisa alguma tinha forma definida) ganhando vida é outra história.

Algumas sequências são antológicas, mas a melhor delas, casando uma pré-invenção e uma saudável mensagem, ficou para o final. Não resisti e cito a mestre Helena Kolody, em um dos seus mais significativos poema: Para quem viaja ao encontro do sol, é sempre madrugada.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Crítica: Oz - Mágico e Poderoso



O Maravilhoso Mágico de Oz, do escritor norte-americano L. Frank Baum (1856 - 1919), foi lançado em 1900 e fez tanto sucesso que acabou ganhando 14 continuações e diversas adaptações para o cinema, teatro, televisão, histórias em quadrinhos. A mais famosa versão para o cinema é a de 1939, dirigida por Victor Fleming (1889 - 1949), estrelada por Judy Garland (Dorothy, do Kansas), que imortalizou a canção Over the Rainbow, composta por Harold Arlene e E. Y. Harburg.

Oz - Mágico e Poderoso (Oz The Great and Powerful, EUA, 2013), dirigido por Sam Raimi não é uma nova versão do livro clássico de Baum e nem do filme clássico de Fleming, mas uma espécie de prólogo às duas obras, tendo como base a ideia original do romance de Frank Baum.  Ou seja, é uma história nova (com referências à velha) que se passa bem antes da tumultuada chegada de Dorothy, levada pelo segundo ciclone, com a casa e o cachorro Totó, já que o primeiro carregou o balão do espertalhão desastrado Oz (ou: Oscar Zoroastro Phadrig Isaac Norman Henkel Diggs Emmannuel Ambroise) - Mágico e Poderoso.


Escrita por Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire, a nova aventura trata da jornada fabulosa de Oscar Diggs (James Franco), um inexpressivo mágico que, por volta de 1900, enquanto a fortuna não lhe bate à porta, perambula pelo Kansas, trabalhando em um circo poeirento. Ele autodenomina-se Oz - Mágico e Poderoso e sonha em alcançar a fama com a mesma categoria dos seus ídolos geniais Harry Houdini e Thomas Edison. O problema é que o simpático Oz, não se leva muito a sério. Falastrão e mulherengo, não consegue viver longe de uma confusão romântica e, ao fugir de uma delas, se mete em outra, a bordo de um balão, e vai parar na belíssima Terra de Oz, onde o povo acredita ser ele o Grande Mágico das profecias e futuro rei.

Oscar pensa em usar todo o seu charme para tirar vantagem da coincidência profética de Oz em Oz, mas sabe que só vai por a mão no tesouro real se conseguir, com a sua magia, derrotar a bruxa do mal, que pode ser qualquer uma das três belas irmãs herdeiras do trono: Theodora (Mila Kunis), Evanora (Rachel Weisz) ou Glinda (Michelle Williams). Sem ter para onde fugir o nosso herói de ocasião aceita a missão e, além de alguns bons truques na manga, vai contar com a inestimável ajuda dos adoráveis Finley (Zach Braff - voz), um macaco alado, e China Girl (Joey King - voz), uma apaixonante garota feita de porcelana chinesa.


Oz - Mágico e Poderoso é um cinema de puro encantamento e não subestima a inteligência de ninguém ao proporcionar uma inesquecível jornada sensorial ao fascinante reino da fantasia. O roteiro simples (deliciosamente infantojuvenil) trabalha bem o tema, dando apenas as voltas necessárias para o desenvolvimento de um bom enredo, o que torna a narrativa tão envolvente que nem se percebe o tempo (2h10) passar. Os personagens são todos cativantes, tanto em carne e osso quanto em expressivo CGI. Lembrando que os efeitos especiais, de cair o queixo, estão a serviço da história e não de um preciosismo infantil do diretor. É impressionante a interação entre Oz, Finley e China Girl. Os três em cena (e roubando a cena!) é emoção à flor da pele, mas não se compara ao divino primeiro encontro de Oz com a Garota de Porcelana, umas das mais belas sequências já vistas no cinema (ah, você vai precisar de um lenço!).

Sam Raimi explora com muita perspicácia alguns elementos fundamentais da obra de Baum, sem replicar jamais aqueles que apareceram no filme de Fleming, como o Espantalho e os Macacos Voadores. A sutileza na mudança do preto e branco para o colorido ganha tanto na forma (janela quadrada) quanto na pertinência (expansão da percepção), dando ao espectador exatamente a mesma sensação de deslumbre de Oz olhando embevecido aquele admirável mundo novo. É a magia do cinema, a ilusão que enche os olhos gratos a Thomas Edson. Ah, o filme não tem cantoria..., ou quase não tem, na hora você vai entender. Isto é, desde que se lembre da velha versão!

Oz - Mágico e Poderoso chega aos cinemas em versões 2D, 3D digital,  IMAX 3D e 35mm - dubladas e legendadas. Vi em IMAX 3D e recomendo a quem gosta de uma sensação mais vertiginosa e ou de maior interação com a história e seus divertidos sustos. Enfim, em qualquer versão é um espetáculo imperdível (mesmo!) para toda a família apaixonada por cinema e fantasia! Acho que redundei!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Crítica: Amigos Inseparáveis



Hollywood arrota trocentos filmes policialescos (com variações mínimas) por ano. A maioria é protagonizada por atores jovens, certa de arrebanhar o espectador juvenil adrenalinado que não se importa muito com a “história”, desde que o clichê de sempre (tiroteio, pancadaria, carros e piadas escatológicas obsoletas) faça jus ao valor do ingresso. Se bem que, quem gosta de ver mais do mesmo não está nem aí para o custo dos ingressos, principalmente se o seu pancadator preferido estiver na telona. Todavia, como nem só de público jovem vive o cinema, vez por outra, Hollywood arrisca no gênero com atores mais (e mais e mais) velhos. Ora, por que não? Tem gente da terceira e da quarta idade que (ainda) gosta de ver thriller policial..., ou algo parecido! A questão é que nem sempre o tiro acerta o alvo e acaba sobrando para a culatra da cadeira ou para a bengala.

Amigos Inseparáveis (Stand Up Guys, EUA, 2012) é um típico drama de ação tardia, cujo título, independente da sinopse, entrega o final (clichê!). A trama se passa em 24 horas, numa cidade norte-americana qualquer, e gira em torno do reencontro de três velhos amigos velhos (septuagenários!), criminosos mais ou menos aposentados, que apostam num sopro bandido para espalhar as cinzas e reacender a brasa (mora!). A história começa com Doc (Christopher Walken), um artista plástico que pinta belas cenas do amanhecer, indo buscar o seu amigo Val (Al Pacino), que acabou de cumprir uma pena de 28 anos de prisão.

Não é só por amizade que Doc vai ao encontro de Val. Ele tem uma “dívida” com o mafioso Claphands (Mark Margolis), e o amigo que acabou de ganhar a liberdade é a quitação do seu débito, já que o vingativo chefão o quer morto. Val sabe disso e Doc sabe que Val sabe. Porém, enquanto a hora fatídica não chega, os dois perambulam pela cidade, trocando confidências e usufruindo de “pequenos prazeres”: comida, sexo, roubo, droga, dança..., até encontrar Hirsch (Alan Arkin), o outro amigo de crimes, e a história ganhar contornos ainda mais absurdos.


Amigos Inseparáveis não tem nenhum apelo para o público jovem e, vale lembrar ao público idoso que, para evitar constrangimentos (?) maiores, as cenas de sexo são apenas insinuadas. Que dera as intragáveis e ridículas piadas falológicas (sem graça!) também o fossem. Enfim, como argumento ruim e roteiro pior (de Noah Haidle) só encontram salvação na direção de um mestre..., o que não é o caso do vacilante Fisher Stevens, o filme chocho, na aventura, no humor e na ação geriátricas, capenga, de sequência em sequência, rumo a um final digno de UTI de lavagem cerebral. Não é recomendável levar o Tico e o Teco para a sessão! Pode dar tilt.

Walken, Pacino e Arkin, no automático (ou seria no eletrônico?), apenas garantindo um troquinho, brincando de bandido e bandido, estão constrangedores. O embaraço de ver Val/Pacino fazendo a releitura da famosa cena do tango em Perfume de Mulher (1992) e ou do moribundo Hirsch/Arkin na finalização de um ménage à trois, não tem preço! A narrativa, que parece ter sido fotografada por uma câmera oculta, editada a bisturi, por alguém apressado em “desentulhar” o estúdio para os novos desenganados da ilha, corta a seco qualquer empatia possível entre personagens enfadonhos e o público sonolento. É eles lá zumbizando na própria estupidez e o espectador teimoso contando os minutos para ver até onde vai o terrível enquadramento de tanta bizarrice.

Para encurtar, Amigos Inseparáveis é um filme para quem pensa em um dia variar (não arriscar!) entre o refri e o whisky..., o ice fica por conta de cada um.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Crítica: Colegas



Escrito, produzido, dirigido e montado por Marcelo Galvão, o sintomático estradeiro Colegas, temperado com drama, humor, ação e aventura (não necessariamente nesta ordem) vai finalmente saber se a voz do espectador é a voz de deus ou do adeus.

Estrelado por três carismáticos atores portadores da Síndrome de Down, que se não o fossem daria um outro peso à trama, Colegas roda em torno de Stalone (Ariel Goldenberg), Aninha (Rita Pokk) e Márcio (Breno Viola), que vivem numa Instituição e se ocupam da videoteca. Eles conhecem de cor e salteado o acervo da casa..., decoram falas, memorizam sequências. Certa noite, inspirados em Thelma & Louise (1991), clássico dirigido por Ridley Scott, eles resolvem cair na estrada, a bordo de um Karmann Ghia vermelho, roubado do jardineiro Arlindo (Lima Duarte), uma arma de brinquedo e máscaras ao estilo “anonymous” de V. de Vingança (da HQ de Alan Moore), popularizadas no filme de James McReigue (2005).


O trio, aparentemente inocente, se diverte praticando pequenos furtos, confundindo a realidade com as cenas favoritas de alguns filmes e, sem dúvida, colocando em risco a vida deles e das pessoas que encontram (e roubam) pelo caminho. Na cola dos garotos, alimentando uma temerosa lenda urbana, um trio de policiais ineptos: Souza (Deto Montenegro), Portuga (Rui Unas) e Batatinha (Leonardo Miggiorin). Esta viagem, totalmente sem noção, tem três propósitos: Stalone quer ver o mar, Aninha quer se casar e Marcio quer voar..., cada um com uma lúdica e bela razão infantil para realizar o seu sonho. Fazendo as vezes de redundador, digo, narrador, Arlindo (Lima) vai salientando a perigosa e inconsequente jornada dos jovens, rumo ao mar, à igreja, ao ar, como se tudo não passasse de mera galhofa juvenil explorada vergonhosamente pela mídia. Sabe aquela história de que crime praticado por “de menor” é menor, mas que não tem a menor graça para a vítima? Então!  


Colegas (Brasil, 2012) é um bom exemplo de que nem todo bom argumento gera um bom roteiro que resulta em um bom filme. Não bastasse confusa, a narrativa se repete, força situações para justificar citações cinematográficas que só servem a um cinéfilo..., algumas uma verdadeira charada até para aquele de carteirinha: Psicose (Hitchcock) ou mesmo Blade Runner (Ridley Scott). Assim como os personagens centrais não parecem ter a menor noção da gravidade dos seus atos, do imbróglio em que vão se metendo a cada ato transgressor, também o diretor/roteirista não parece decidir que história quer contar: Crime da Carochinha ou Crime e Castigo? E o mais intrigante, por que transformar três portadores da Síndrome de Down em criminosos, se a razão que os leva para a estrada é a fantasia pueril? Diversão ou perversidade?

Colega se passa (?) em um tempo indefinido. A cada sequência (esquete?) o público se defronta, embasbacado, com a mistura de elementos (de cena) de diferentes épocas: automóveis, rádios, TVs etc. Não fica claro se as “antiguidades” são por conta da velhice do narrador e ou “estilo” do diretor. Tampouco se a narrativa acontece em um mundo real e ou apenas na (desculpável?) imaginação fértil (mas irresponsável) de Arlindo, já que não é possível que seu público (cena final) conceba tamanha sandice. Se fábula infantil ou um thriller juvenil, se policial ou nonsense (sem humor negro), que cada um conclua por conta própria.


Excetuando a espontaneidade dos três protagonistas, que dá alguma veracidade aos seus papéis, a trama patina nos diálogos chochos, no equívoco narrativo, que compromete algumas sequências (historietas), e na abominável interpretação caricata dos coadjuvantes. O humor natural funciona apenas com algumas tiradas de Marcio, o escatológico irrita (mas dá público!). A trilha com músicas de Raul Seixas, o cantor preferido dos personagens, pontuando situações, é ótima. Vale destacar a solução encontrada para os créditos iniciais dos patrocinadores, totalmente inseridos no contexto. Por que nunca se pensou nisso? A abertura também é graciosa.

Colegas, que não deve ser confundido com Colegas (1982), de Eloy de Iglesias, que também trata da delinquência juvenil, é um filme que, sem dúvida, dividirá opiniões e sensações. O público que se deixar levar pela emoção e comiseração deve gostar. Já aquele que, independente dos protagonistas, gosta de um bom cinema, bem escrito, bem dirigido deve se decepcionar. Enfim, cada um com o seu olhar e ou leitura..., inclusive da constrangedora cena de inquérito policial no Instituto.

PS: Será que o cinema é uma influência tão nefasta, como faz crer Colegas? Vai ver que eu entendi nada!

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