sexta-feira, 8 de junho de 2018

Crítica: Jurassic World: Reino Ameaçado


Jurassic World: Reino Ameaçado
por Joba Tridente

Com a chegada de mais um bando de dinossauros às salas de cinema, em mais um capítulo da franquia Jurassic, iniciada por Steven Spielberg em 1993, com base no romance Jurassic Park, thriller tecnológico escrito por Michael Crichton (1942-2008), a pergunta que muito espectador fã da ficção científica faz é: Até quando os realizadores da franquia terão fôlego e criatividade para repovoar a imaginação do público com seus monstrengos pré-históricos?

Bem, a se acreditar nas notícias vagas da internet, pelo menos no que diz respeito à franquia Jurassic World, a trilogia se encerra em 2021, com mais uma história corroteirizada e dirigida por Colin Trevorrow..., que foi quem recomeçou a franquia com o morno Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros, em 2015. Mas, enquanto este ano não chega, ocupemo-nos do de Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018), com boa direção do cineasta espanhol J.A. Bayona (Sete Minutos Depois da Meia-Noite, O Impossível, Orfanato).


Jurassic World: Reino Ameaçado, com roteiro pouco inspirado de Colin Trevorrow e Derek Connolly, e suas cansativas referências ao clássico Jurassic Park (1993), se passa três anos após mais um desastre, digo, mais uma tragédia (óbvia!) envolvendo humanos e dinossauros clonados ou geneticamente modificados na Ilha Nublar, e prenunciando mais duas desgraças: a primeira é comunicada logo no início da trama, com a notícia catastrófica da erupção do vulcão Monte Sibo (capaz de extinguir novamente os dinossauros), e a segunda, que reflete uma discussão no Congresso Americano sobre o destino dos animais abandonados à própria sorte em Nublar, chega com a noite tenebrosa, toma conta do Santuário Lokwood, e deve se agravar o amanhecer em Jurassic World (2021).

Bem, falar em tragédia na franquia Jurassic tem mais a ver com redundância do que com spoiler, já que todos os filmes da série terminaram com uma grande tragédia e já que algumas surpresas deste (para azar de quem viu!) estão nos trailers. Como não vejo nenhum trailer antes de assistir ao filme, consegui me divertir e me deixar envolver pelo pavor muito bem orquestrado por Bayona, principalmente na soturna sequência final.  


Neste penúltimo (?) capítulo da franquia, por causa da erupção do vulcão na Ilha Nublar, Claire Dearing (Bryce Dallas Howard), a ex-gerente do parque, e atual presidente do Grupo de Proteção dos Dinossauros e Owen Grady (Chris Pratt), o ex-treinador de velociraptores, são contratados pelos empreendedores Benjamin Lockwood (James Cromwell) e Eli Mills (Rafe Spall) para resgatar o maior número possível de dinossauros e transferi-los para outra ilha (sem vulcões e sem parque de diversão). O que leva Owen a enfrentar o “Inferno de Dante” é o propósito de salvar a inteligente velociraptor Blue. Mas, como todos sabemos, na ficção ou na vida real, se esmola é demais o santo deve desconfiar, quando o nosso benevolente casal de heróis, com a ajuda do TI Franklin (Justice Smith) e da médica Zia (Daniella Pineda), se dá conta de que a história do resgate não é exatamente o que parece e que nem todo capitalista tem vocação para Noé, vai ter de correr um bocado, fugindo de mercenários, das lavas e dos dinossauros desesperados, para tentar evitar outra tragédia (óbvia!) maior (não diga que eu não avisei!). Se bem que a carnificina, na Costa Oeste Americana, é bem merecida! Aliás, excetuando o mau-caráter Dr. Henry Wu (BD Wong), geneticista do Jurassic Park desde 1993, acho que vai faltar (?) vilões humanos na jornada final dos dinossauros em solo norte-americano.  


Jurassic World: Reino Ameaçado é uma prova de que, até um roteiro tosco (que não dispensa clichês óbvios), nas mãos de um diretor criativo, pode resultar num filme interessante. Trabalhando com dois cenários distintos (Ilha de Nublar e Mansão Lockwood), e sem perder o ritmo (de ação e aventura), Bayona dosa meticulosamente cada ato com uma carga eficiente e diferente de terror psicológico e real. Um terror que leva o espectador a um riso amarelo-sádico, com o nível de violência dos inusitados ataques do terrível Indoraptor (combinação do Indominus Rex com Velociraptor)..., ou a um frio na espinha, com a iminência do seu ataque, em cenas primorosamente sugeridas com o uso perfeito de luz e sombra. Há duas cenas envolvendo a garotinha Masie Lockwood (Isabella Sermon) e o Indoraptor, que são irretocáveis. Elas não vão além dos segundos necessários para incomodar e apavorar até os espectadores mais corajosos..., porque não dependem do susto-áudio que automatizou os recentes filmes de terror. É bem provável que estas duas sequências despertem no público adulto o mesmo pavor anteriormente provocado pelo antológico Alien - O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott.


Enfim, considerando que a direção e a criatividade do talentoso J.A. Bayona traz vigor e suspense à franquia que está tentando galgar outros patamares, com o processo de clonagem animal e a manipulação genética; que pelo final deste capítulo o epílogo da trilogia Jurassic World pode surpreender em 2021; que o próximo filme talvez tenha nada a ver com Baby: O Segredo da Lenda Perdida (1985); que o elenco é convincente, ainda que a variedade de personagens seja mínima; que há espaço para homenagens a filmes “B” e os efeitos especiais (CGI e Animatrônicos) são excelentes; que em meio a situações de terror há algum alívio cômico (ainda que sádico) no ataque dos dinossauros aos homens maus..., se você não levar muito a sério a história de ficção científica e deixar de lado o “mais uma vez o já visto anteriormente”, vai se divertir um bocado e até se apavorar com algumas sequências memoráveis do entretenimento Jurassic World: Reino Ameaçado, que mescla muito bem fantasia e terror.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Crítica: A Morte de Stalin


A Morte de Stalin
por Joba Tridente

Com suas farsas e sátiras políticas televisivas e cinematográficas, o cineasta e roteirista escocês Armando Iannucci vem se tornando merecidamente unanimidade e referência de qualidade e ousadia. É impossível ficar indiferente à comicidade de pérolas como o longa-metragem In the Loop (2009) e as séries The Thick of It (BBC - 2005/2012) e Veep (HBO - 2012/2016)..., e ou não reconhecer a sua maestria com a brilhante desconstrução de um mito da tirania e seus asseclas na anárquica comédia dramática A Morte de Stalin (The Death of Stalin, 2017).

Baseado na premiada graphic novel homônima (2010), dos franceses Fabien Nury e Thierry Robin, lançada no Brasil em 2015, a sátira A Morte de Stalin, com roteiro inteligente de Iannucci, David Schneider e Ian Martin, é tão ferina quanto necessária nestes dias turbulentos (de ânimos acirrados nas redes “sociais”) em que políticos populistas (e seus correligionários acéfalos) se fazem de mansas ovelhas e armam as suas arapucas para chegar ao poder e nele permanecer ad infinitum.


A trama, situada em 1953, cobre algumas horas antes e, principalmente, alguns dias após a morte do tirano sanguinário (que se considerava o pai dos povos) Joseph Stalin (Adrian McLoughlin)..., quando então a ebulição política toma conta do Politburo, onde o deputado Georgy Malenkov (Jeffrey Tambor), o chefe do partido Nikita Khrushchev (Steve Buscemi), o ministro das Relações Exteriores Vyacheslav Molotov (Michael Palin), o chefe da polícia secreta Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale) se engalfinham na ambição de sucedê-lo. Todos temem uns aos outros. Todos se blindam com as “armas” que têm: documentos, anotações e ou farta hipocrisia. 

Para desatar esse imbróglio, o excepcional diretor Armando Iannucci convocou um elenco sublime, que inclui também Jason Isaacs (o fanfarrão marechal Zhukov), Rupert Friend e Andrea Riseborough (o beberrão Vasily e a perturbada Svetlana, filhos de Stalin) e o expressivo fotógrafo Zac Nicholson, que (ladeado pela direção de arte) dá a Londres as características perfeitas da Moscou cinquentista. Pelo seu toque humorístico (a melhor maneira de atingir a qualquer alvo) A Morte de Stalin, cujos fatos narrados com descompromissada elegância e diálogos afiados e hilários (em inglês e sem sotaque russo!), pode até parecer, mas não é ficção. Pelo menos no todo! O que não quer dizer que não tenha lá um olhar muito particular sobre esses fatos (alguns até negados por partidários radicais, que seguramente se recusarão assistir a esta preciosidade).


Embora a trama cite (com brevidade e contundência) o lado mais tenebroso daquela ditadura banhada em sangue e corrompida até a alma (como todas as ditaduras), o foco da trama é a insana corrida ditatorial, com cada “candidato” se esmerando nos conchavos com membros menos potenciais e na destruição moral (e física) do provável concorrente. É da sordidez dos vilões posando de santos, enquanto o corpo de Stalin esfria e durante a realização do velório, que vem o humor (inglês e negro) com gags visuais perspicazes (às vezes beirando o pastelão) e diálogos ferinos. Rimos da estupidez e da (nossa) servidão humana. Rimos da nossa impotência, inda temerosos da repetição dos erros eleitorais passados, na tentativa de superar a dor e as frustrações políticas. Rimos da mediocridade dos poderosos ridículos em suas mortes solitárias..., vítimas da mesquinhez e do próprio mecanismo genocida que criaram.


Enfim, considerando o notável roteiro, o ritmo e a abrangência da história, que não faz concessão a político algum (de ontem e de hoje, que queira vestir a carapuça); que a narrativa sólida, sem cair na gratuidade do gracejo vago ou sádico (!), traz sequências antológicas..., como, por exemplo, a do concerto ao vivo (“Esta é apenas uma emergência musical!”) e as suas consequências drásticas; ressaltando que algumas cenas (ou tiros!) são ótimas metáforas ao mercado político de hoje no mundo; levando em conta que a obra foi censurada na Rússia (por motivos óbvios!)..., A Morte de Stalin é uma sátira política da melhor qualidade. Um filme para quem aprecia a originalidade crítica em tempos de entretenimentos capengas...

*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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