quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Crítica: O Contador de Histórias


por Joba Tridente

Premiado recentemente, no badalado II Festival Paulínia de Cinema (09 a 16 de Julho, em Paulínia, São Paulo), com o Prêmio Especial do Júri – Melhor Filme, Prêmio de Melhor Ator, dividido por Marcos Ribeiro, Paulo Mendes e Cleiton Santos, que interpretam Roberto Carlos Ramos, Prêmio do Júri Popular – Melhor Filme de Ficção, o tocante filme: O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, ganha as salas de cinema, espera-se (ou acredita-se), de quase todo país neste mês de agosto.

O Contador de Histórias é a fantástica história, cheia de imaginação, de Roberto Carlos Ramos, premiado Contador de Histórias que, contrariando as previsões mais otimistas, de ser um “caso irrecuperável”, aos 13 anos e sob os cuidados da FEBEM mineira, é encontrado por uma pedagoga francesa e, às portas de um provável ocaso, o acaso se apresenta e uma escada para a saída do limbo começa a ser delineada.

Na década de 1970, Roberto Carlos Ramos (Marco Antonio Ribeiro), por conta de um anúncio veiculado na TV, aos seis anos é levado por sua mãe (Jú Colombo) à FEBEM - Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor, (hoje, Fundação CASA - Centro de Atendimento Sócio-educativo a Adolescentes) que tinha o propósito de formar “médicos, advogados, engenheiros”. Ali, o caçula de dez filhos, longe dos laços da família, dos amigos e vizinhos estranhos do bairro, refugia-se no mundo da fantasia e dos sonhos, e talvez até acredite nas promessas de um futuro promissor. Mas, a partir dos sete anos, descobre que o mal é estar ali e que a única saída do pesadelo é escalar o muro que cerca a instituição. Mais de cem fugas depois, e ainda analfabeto, aos treze anos, ele conhece a pedagoga francesa Marguerit Duvas (Maria Medeiros) que, ao contrário das pedagogas e professores da FEBEM, que o tratam como uma coisa qualquer, antes de lhe dirigir a palavra, lhe pede licença e por favor. Algo tão simples, mas que fará grande diferença em seu futuro. E a vida que, até então, lhe parecia madrasta vil (na FEBEM e na rua) começa a se transformar em fada-madrinha (na casa da pedagoga francesa, que busca compreender a marginalização do menor).

A vida de superação de Roberto Carlos é narrada com muita emoção, fantasia, humor e, entre um cigarro e outro, alguns momentos bem incômodos, num filme que recebeu apoio da UNESCO, por enfocar temas de cultura e educação. É difícil prever carreira, mas deve agradar a um público mais seleto, principalmente aquele dedicado à educação. O Contador de Histórias, é bom que se diga, felizmente não é mais um ”filme” sobre favela/tráfico/violência, apesar de tangenciar o tema. Tem passagens marcantes, como a da chegada de Roberto à FEBEM, ou hilárias e inesquecíveis, como a do assalto ao banco, e de perturbadora poesia, como a do assalto dos adolescentes, retratado feito uma clássica partida de futebol do Canal 100.

O Contador de Histórias (Brasil, 2009), de Luiz Villaça, é um filme simples, direto, sem firula, e talvez por isso incomode nos momentos mais pesados (tenho dúvidas sobre a necessidade de tal exposição) tanto quanto emociona, toca fundo ao desvelar, com deliciosa ingenuidade infantil, o mundo de sonhos, de fantasia, em que Roberto se refugia. Para tanto, o diretor conta com uma excelente produção, onde brilha a competente e requintada fotografia de Lauro Escorel, registrando com maestria e uma luz inacreditável, cada etapa da vida de Roberto Carlos Ramos, em um casamento perfeito com a direção de arte de Valdy Lopes, que nos brinda com uma bela e saudosa reconstituição de Belo Horizonte dos anos 1970,1980. No elenco, além Maria Medeiros (pedagoga francesa Marguerit), Mallu Galli (psicóloga), Jú Colombo (mãe de Roberto), vale destacar o trabalho dos meninos Marco Antonio Ribeiro (excelente) e Paulo Henrique, que representam Roberto Carlos aos seis e aos treze anos.

O Contador de Histórias, de Luiz Villaça é um filme incômodo, não tanto quanto o Entre os Muros da Escola, de Laurent Catet, mas tão necessário quanto.

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