quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Crítica: Belle

B E L L E
Ryū to Sobakasu no Hime
por Joba Tridente

Quando a gente ouve falar de uma nova adaptação de um velho conto (de fadas e/ou fantástico) direcionado ao público infantojuvenil, pensa logo em assemelhados da Disney..., e bufa enfadonhamente. Quando a gente ouve falar de uma nova releitura de um velho conto (de fadas e/ou fantástico) direcionado ao público infantojuvenil, fica de orelha em pé com a incômoda pulguinha te perguntando se é mesmo necessário mais uma nova releitura do velho conto. A probabilidade de sucesso e/ou de fracasso de tal projeto é a mesma. Depende da produção e/ou do marketing. No entanto, como toda via das especulações estaciona o veredito apenas no lançamento, é preciso assistir para saber. É o caso da animação e/ou anime Belle (Ryū to Sobakasu no Hime, 2021), escrita e dirigida por Mamoru Hosoda (Mirai).  


“Você não pode recomeçar na realidade,
mas pode recomeçar em U.”


No cinema (independente do gênero), muito já se falou (mais para o mal do que para o bem) do mundo virtual para além da ficção científica. Excetuando os documentários, com o preocupante conteúdo sobre manipulação eleitoral e roubo de dados (por exemplo), as tramas investem no suspense, no terror distópico, na submissão do homem à máquina robótica, à inteligência artificial..., que aos poucos está deixando de ser mera ficção nos países mais desenvolvidos..., como passatempo “inócuo”. Dependendo do roteiro e da direção (e não do dinheiro envolvido), algumas produções resultam bem melhores (alertas e/ou diversão) que outras. Principalmente aquelas que “lidam” com as redes sociais movidas a texto (sintético) e vídeos (extravagantes). Demonizar ou santificar as redes sociais pode ser bem mais que mero ponto de vista do espectador..., ou do usuário. 


É o caso da fascinante (e nada gratuita) animação/anime Belle, que escancara a janela virtual para uma alucinante plataforma digital catártica, onde o usuário poderá “velar” e ou “desvelar” (aparentemente anônimo) seu verdadeiro eu, sob o lema: “Você não pode recomeçar na vida real, mas pode recomeçar em U”. Neste mundo (metaverso = realidade virtual + realidade aumentada + internet) batizado de “U”, que une 5 bilhões de pessoas no mundo inteiro, sob regras discutíveis de interação e de compartilhamento,  o usuário só precisa se conectar, criar um “AS”, que equivale ao conhecido avatar (cibercorpo), e “Você será U.” “U será você.” “Você será tudo.” “U é uma outra realidade.” “AS é uma outra versão de você mesmo.” “Você pode viver uma nova versão de você mesmo.” “Pode começar uma nova vida.” “Você pode mudar o mundo.” Uma recém-criada plataforma servindo à fama, à afirmação pessoal e social, ao cancelamento, mas também, quando possível a empatia e a solidariedade, ao resgate... 

“Você pode mudar o mundo.” 


A trama de Belle conecta com maestria os fios da realidade física com os fios da realidade digital. Cada uma com seu nível de inteligência. No mundo físico, Suzu (Kaho Nakamura) é uma adolescente tímida que, desde os seis anos de idade, vive traumatizada com a morte trágica da mãe. Um trauma tão profundo, pela sensação de abandono, que a impede de se relacionar socialmente com o pai e com os colegas da escola. Foi a mãe que lhe apresentou a música e que a ensinou a cantar, um prazer que ela oculta de todos, até conhecer, através da amiga nerd Hiro (Lilas Ikuta), a alucinante plataforma “U”. Ali, a partir de informações biométricas e da sua personalidade, Suzu, a garota desengonçada, de rosto sardento, se transforma na irresistível Belle, uma cantora ousada, de olhos azuis, cabelos cor-de-rosa, vestidos luxuosos, que não teme soltar a voz maviosa e virar unanimidade na rede. 


A fama repentina de Belle, além de suscitar todo tipo de sentimento (crítico) a seu respeito, dentro e fora da rede social, também acaba exigindo cada vez mais a sua presença na plataforma de sucesso. Porém, quando um grande show de Belle é interrompido por um “AS” em fuga, conhecido como Dragão (Takeru Satoh), os dois mundos da garota começam ganhar novos contornos e inquietações. Quem é o Dragão? Por que está sendo perseguido pelos Justiceiros da Rede? Por que tamanha violência numa plataforma que (aparentemente) irradia beleza e alegria? A suburbana Suzu e a sua persona glamorosa Belle, cada qual conforme as regras do seu mundo particular, não vão descansar enquanto não descobrirem a razão do Dragão transparecer tanta raiva, tanta dor, tanta tristeza..., a ponto de ser temido e odiado por quase todos os usuários da rede. O “quase” fica por conta das crianças que, assim como o Anjo (Hana), veem o Dragão como um herói. Entre ternas canções, amores juvenis, fake news, negligências..., a desvelação da identidade e do temperamento explosivo do Dragão, que virá numa reviravolta das mais surpreendentes do cinema, vai surpreender e comover a todos, nos três mundos: real (do espectador), fictício (de Suzu) e virtual (de Belle). 

“U é uma outra realidade.” 


Fruto indispensável do Studio Chizu, a “inspiração” de Belle está (óbvio?) no famoso conto de “fadas” de tradição oral A Bela e a Fera. Das inúmeras versões conhecidas em todo o mundo, a de Hosoda é a mais desconcertante. A bem da verdade, excetuando a denominação de Bela (Belle) e Fera (Dragão), dos protagonistas, a referência às versões mais conhecidas é mínima. Apenas ponto de partida (ou chamariz) de um argumento que ganha forma num roteiro sagaz e pertinente no uso do termo Fera (cruel, de maus instintos) como metáfora para falar de bullying, cyberbullying, abuso, violência infantil, nas redes sociais e no mundo real, numa linguagem compreensível pelo público de qualquer idade. 


Esta impressionante fantasia imersiva no mundo digital, não diz respeito apenas à chamada Geração Z. O seu inspirador roteiro, que esmiúça o metaverso, fala alto também aos adultos, por vezes (?) negligentes com a segurança das crianças, dos jovens e ou da sua própria, ao se expor vaidosamente, ou por carência afetiva e/ou por escapismo, nas redes digitais, onde tudo (entre o anonimato e a fama) é possível (para o bem ou para o mal) no compartilhamento de dados. Não se deve confundir virtualidade com virtuosidade (assunto muito bem entranhado no enredo de Belle). Pois, em se tratando de redes sociais, não é uma questão de semântica, mas de ética. Todos sabemos do que a “humanidade” é capaz, em interesse próprio..., e do que é preciso para um ato de coragem! 


A produção de Belle é simplesmente primorosa. Não bastasse o conteúdo de excelência, há ainda a fusão perfeita da arte tradicional do anime (por vezes caricatural) em 2D, no desenho dos personagens, com a criativa arte cenográfica em 3D. Dois mundos distintos e de beleza ímpar, que salta aos olhos em cores e tons inimagináveis, detalhes surreais, movimentos inusitados..., casando harmoniosamente as canções pop ou melancólicas. Deslumbramento total.

Aplaudido por 15 minutos, na sua estreia no Festival de Cannes, em 15.07.2021, Belle, o oitavo filme de Mamoru Hosoda, que está na corrida para o Oscar, estreia no dia 27 de janeiro de 2022, nos cinemas brasileiros. Imperdível.

Trailer: AQUI 

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Crítica: A Felicidade das Pequenas Coisas

 

A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS

por Joba Tridente 

Recentemente comentei sobre a felicidade, ao falar do fascinante filme sul-coreano A Mulher Que Fugiu, do diretor Hong Sang-soo: “Onde habita a felicidade? Muitos de nós, “humanos”, certamente nos perguntamos (nas mais diversas ocasiões)..., e divergimos quanto à resposta. Uma vez que a felicidade tanto pode habitar dentro quanto fora de cada “humano” à sua procura..., ou em lugar nenhum, que tal é a quimera.” Se no drama A Mulher Que Fugiu, a questão perpassa num contexto mais sutil, no contagiante A Felicidade das Pequenas Coisas, escrito e dirigido por Pawo Choyning Dorji, ela é explicitada e gruda no espectador para muito além da sessão de cinema. Não digo que a tal felicidade ficará 100% com o espectador, porque estamos no Brasil e..., assim como em outros países com viés extremista, onde o crime (social, político, religioso etc) compensa..., no momento (?) não há bálsamo para tanto dissabor. 

um professor pode tocar o futuro 


O Reino do Butão, país sul-asiático, nos Himalaias, entre a China e a Índia, considerado o país mais feliz da Ásia e o oitavo mais feliz do mundo, conforme avaliação BusinessWeek de 2006 (index), é o cenário da envolvente trama A Felicidade das Pequenas Coisas (2019), que segue os passos do jovem Ugyen Dorji (Sherhab Dorji), um professor que acredita não ter vocação para o ensino. Ugyen vive em Thimphu, a capital do Butão, e sonha com uma carreira musical de sucesso na Austrália. Porém, para cumprir o último ano de contrato com o governo, ele é nomeado para uma escola do ensino fundamental em Lunana, um remoto Distrito de Gasa..., uma das regiões mais isoladas do Himalia do Butão (localização que provoca um trocadilho divertido com as palavras altitude e atitude, num diálogo irônico entre uma funcionária pública e o professor). 


Sem alternativa, também porque um visto para a Austrália é demorado, o urbano Ugyen se deixa conduzir (não sem alguma relutância) ao seu destino escolar, por dois simpáticos aldeões de Lunana: Michen (Ugyen Norbu Lhendup) e Singye (Tshering Dorji). Para o inconsolável professor, o bucólico itinerário (de uma semana a pé) não é tão fácil como os otimistas condutores lhe disseram e a aldeia, com seus 56 habitantes gentis e felizes com a sua presença, é muito menos do que esperava. No entanto, é o que ele tem à disposição..., para mudar com a sua cultura urbana e ou ser mudado pela cultura rural. E o que se verá, previsível ou não, é um conto búdico de encher os olhos (também de lágrimas), tamanha a beleza narrativa, com doces canções tradicionais em louvor à Natureza que se desvela numa paisagem deslumbrante. “Gentileza Gera Gentileza”, já apregoava o brasileiro Profeta Gentileza (José Datrino: "Amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento."), nos anos 1960/1970. Mesmo que não se saiba, a gentileza ainda resiste à maldade humana, em algumas partes remotas do mundo. 


A Felicidade das Pequenas Coisas é um filme-contemplativo em sua singularidade poética e intensidade empática na troca de saberes ancestrais e modernos. Filmado em Lunana, com a maioria do elenco formada por moradores locais (com destaque para as crianças, em especial a maravilhosa Pem Zam), o roteiro enxuto, pontuado de humor ingênuo, traça uma curiosa Jornada do Herói (no caso, Jornada do Professor) incrivelmente iluminada e de fácil compreensão por qualquer público. Por um lado, um professor obrigado a rever seus próprios conceitos de educador e de progresso. Por outro, um comunidade que, em sua simplicidade, absorve da modernidade apenas aquilo que lhe parece relevante para o desenvolvimento pessoal, sem se desfazer das tradições que lhes dão sentido à vida. 


O que se vê, então, sem qualquer intenção de embate social e ou religioso, são duas formas das pessoas (de culturas distintas) se relacionarem com as indiferenças e/ou com as diferenças do mundo ao redor delas..., com a natureza das coisas que querem consagrar. Duas formas de interpretar a música no dia a dia das pessoas: corriqueira e descartável na capital apressada e eternizada no pungente canto pastoril “Yak Lebi Lhadar”, na voz da adorável personagem Saldon (Kelden Lhamo Gurung), sobre o vínculo de um aldeão com seu yak. Porém, vale ressaltar que..., ainda que a narrativa traga grandes observações e ensinamentos sobre o árduo cotidiano de um povo resiliente, cuja sobrevivência depende do pleno equilíbrio com as oferendas de cada estação do ano..., este não é um filme de autoajuda, mas de aprendizado. E que aprendizado!!! 


A Felicidade das Pequenas Coisas é a dramatização de histórias reais, que o escritor, fotógrafo e diretor Pawo Choyning Dorji colheu em suas viagens à região e as costurou com naturalidade em uma só, dando ao filme um ar híbrido de ficção e documentário. A placidez narrativa e a direção segura do elenco, que se entrega com confiança para (re)contar suas histórias emocionantes, de fato o aproxima de um docudrama. Ao contrário do título spoiler brasileiro, o adotado mundo afora é uma variação regional do inglês Lunana: A Yak in The Classroom, que faz referência a uma situação (real) e a uma brilhante metáfora do enredo, na comparação sagaz de um yak (espécie de búfalo) com um professor. Por falar em metáforas, há outras mais sutis ou mais surpreendentes, como aquela relacionada a pés descalços e calçados... 


É sabido que histórias envolvendo professores e alunos em situações limites sempre resultam em belas e reflexivas obras cinematográficas, em qualquer parte do mundo, inclusive no Brasil, cujos governantes tratam seus mestres do ensino com desdém (na esperança de manter o gado na ignorância para um fácil manejo). Quem já trabalhou com crianças carentes de cultura e de afeto sabe o que estou dizendo. Assim, diante desta pérola que nos chega do Butão, como esquecer, entre outros grandes filmes, de Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987), de Abbas Kiarostami; O Jarro (1992) de Ebrahim Forouzesh; Nenhum a Menos (1999), de Zhang Ymou; A língua das Mariposas (1999), de José Luis Cuerda; O Quadro Negro (2000), de Samira Makhmalbaf; Entre os Muros da Escola (2008), de Laurent Cantet? Dramas que, sem pieguice, trazem luz sobre o imprescindível ofício de professor. 


Fotografado com esmero por Jigme Tenzing, A Felicidade das Pequenas Coisas, representante do Butão na corrida ao Oscar 2022, é simplesmente imperdível para quem ama belas histórias que priorizam o conteúdo cultural mais que a estética viciada e a tendência do mercado. A propósito da estampa FIB - Felicidade Interna Bruta, na camiseta que o personagem Ugyen Dorji usa logo no início, vale esclarecer que, em 2008, o governo butanês criou um índice da felicidade (FIB), em contraponto ao PIB (Produto Interno Bruto), para ofertar, entre outros benefícios à população, educação aos moradores mais longínquos do Butão. O lançamento do filme, no Brasil, está previsto para 27 de janeiro de 2022, pela Pandora Filmes


NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Crítica: Fortaleza Hotel


 FORTALEZA HOTEL

por Joba Tridente 

Na vida, assim como na arte e vice-versa, as pessoas vão relando umas nas outras seus sucessos e seus fracassos..., e quando se dão conta, gentes de culturas diferentes e que nem se sabiam, já estão de braços dados até para o que der e vier, mesmo com alguns percalços do caminho. Truque, destino, senão..., sabe-se lá o quê leva a um esbarrão capaz de mudar a vida ou o itinerário de alguém. O drama social Fortaleza Hotel (Brasil, 2021), de Armando Praça (Greta), narra uma história de encontros (não programados), desencontros (anunciados) e reencontros (inusitados) de duas mulheres: Pilar (Clébia Sousa), uma camareira cearense, e Shin (Lee Young-Lan), uma hóspede sul-coreana, que se tornam parceiras de ocasião. 


Eu queria ir para bem longe.
Para mim, aqui é bem longe.


Baseado no roteiro sucinto de Isadora Rodrigues e Pedro Cândido, a trama de Fortaleza Hotel segue, por uma semana, entre as comemorações do Natal e do Ano Novo, os passos da camareira Pilar, que trabalha no Hotel Fortaleza e tem projeto de imigrar para a Irlanda, e da hóspede Shin, que veio da Coréia do Sul trasladar o corpo do marido morto, que estava no Ceará a trabalho. O que não vai faltar a uma e outra é a claudicância no enfretamento da burocracia e da má vontade para resolver pendências. Pilar só pode imigrar se conseguir resolver as pendengas da filha adolescente rebelde, que vai ficar no Brasil. Shin só pode retornar à Coréia se conseguir dinheiro para as despesas do funeral, já que o ex-empregador do marido se recusa compensar qualquer gasto. Ou seja, ambas precisam de dinheiro para seguirem adiante com seus planos imediatos... 


Com ótima direção e sem dispensar metáforas (e “coincidências”), a grande força do melancólico Fortaleza Hotel está na performance comovente das duas excelentes atrizes (Clébia Sousa e Lee Young-Lan)..., na maior parte, emolduradas por janelas, espelhos, frestas, reflexos, pela câmera de Heloísa Passos, que também explora muito bem o chiaroscuro, enriquecendo a narrativa, quando o silêncio é maior e mais necessário que a fala na solidão de cada personagem. Aliás, este não é um filme de muitos diálogos. 

Quanto à dramaturgia, Fortaleza Hotel começa curioso (com a entrevista teste de inglês da camareira Pilar) e levemente tenso (com a chegada da hóspede Shin), mas vai pesando a trama no desenrolar da história, quando tangencia (sem muita convicção) situações de violência periférica e urbana..., que só não chegam a surpreender porque são previsíveis (prenunciadas, sem nenhuma sutileza, em diálogos e/ou gestos). Algumas chegam a subestimar a inteligência do espectador. Porém, o enredo guarda uma ou duas cartas na manga em seu desfecho melodramático que, de certa forma, compensam a incômoda previsibilidade dos penduricalhos nas dramáticas reviravoltas.

Aqui: Trailer Oficial

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


terça-feira, 18 de janeiro de 2022

25ª Mostra de Cinema de Tiradentes

25ª MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES
21 a 29/01/2022
ONLINE e GRATUITA
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Em tempos pandêmicos, com onda após onda da Covid.19, não tem sido fácil para os realizadores programarem os tradicionais festivais e mostras cinematográficas, no Brasil,. Nos anos 2020 e 2021, a alternativa online, que agradou a milhares de espectadores que jamais tiveram acesso aos importantes eventos, não foi unanimidade entre aqueles acostumados às sessões presenciais. Porém, com o vírus fatal obrigando (a todos!) o recolhimento doméstico, foi a melhor opção. É verdade que houve um congestionamento de festivais e mostras cinematográficas..., mas, ainda, que dividissem vitrine com teatro, show, ópera, ballet, live, foi, sem dúvida alguma, a melhor e mais democrática opção cultural. 

Na virada do calendário, quando se esperava que, aos poucos, tudo voltaria ao normal, em 2022, eis que, antecipando as tempestades e enchentes, o vírus reaparece numa vestimenta Ômicron, para inundar os eventos culturais de dúvidas sobre a segurança do público, mesmo que restritamente. A grande festa da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, programada para exibições presenciais e online de mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias nacionais e mostras temáticas; Homenagem a Personalidades do Audiovisual; Debates; série Encontro com os filmes; Oficinas; Mostrinha de Cinema, além de atrações artísticas, se viu obrigada a contemplar apenas as exibições online

Raquel Hallak - Foto Leo Lara-MG

Como bem justifica Raquel Hallak, Diretora da Universo Produção e Coordenadora  Geral da Mostra de Cinema de Tiradentes: “Estamos vivendo tempos complexos e desafiantes em que pensar de forma coletiva e consciente é o caminho mais prudente para a tomada de decisão. Por isto, mesmo seguindo  todos os protocolos sanitários relativos à pandemia de Covid-19, em conformidade com o Programa Minas Consciente, as altas taxas de transmissibilidade inesperadamente altas da variante Ômicron estão exigindo um cuidado ainda maior. Salvar vidas é o mais importante. Sendo assim, a Universo Produção, em diálogo com o Governo de Minas Gerais, com a Prefeitura Municipal de Tiradentes, patrocinadores, parceiros, profissionais do audiovisual, fornecedores, equipes e curadores,  conclui que o melhor a ser feito neste momento é transferir as atividades presenciais da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes para o formato online, mantendo o mesmo propósito conceitual do evento e de programação. Contamos com a sua compreensão e seguimos confiantes que dias melhores virão. Vamos estar juntos e fortes no trabalho pelo cinema brasileiro – razão que nos mantém firmes no propósito de continuar renovando o compromisso com a nossa cultura, com a cidade de Tiradentes, Minas Gerais e o Brasil. A programação poderá ser acessada, de onde estiver e gratuitamente, de 21 a 29 de janeiro de 2022, pela plataforma da Mostra Tiradentes. Acompanhe pelas nossas redes as informações e orientações oficiais da 25ª Mostra Tiradentes. Nosso encontro pelo cinema está chegando e não vamos abrir mão da sua presença online. Use máscara, faça a higienização das suas mãos, tome a vacina. Em caso de sintomas gripais, fique em casa.

MOSTRA AURORA
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A Mostra Aurora celebra 15 anos com mais um recorte totalmente inédito do cinema brasileiro contemporâneo de invenção. Dos sete longas-metragens vindos de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e Rio de Janeiro, quatro deles são dirigidos por realizadores que já competiram com curtas na Mostra Foco em outras edições da Mostra. “Isso indica que a Aurora de 2022 vai incluir uma continuidade muito interessante do trabalho desses realizadores, até porque os filmes que eles apresentam dialogam com os curtas que já foram vistos em Tiradentes”, destaca a curadora Lila Foster. 

Os filmes na Mostra Aurora 2022 são: Seguindo todos os Protocolos (PE), de Fábio Leal; A Colônia (CE), de Virgínia Pinho e Mozart Freire; Sessão Bruta (MG), de As Talavistas e ela.ltda; Panorama (SP), de Alexandre Wahrhaftig; Maputo Nakurandza (RJ-SP), de Ariadine Zampaulo; Bem-vindos de Novo (SP), de Marcos Yoshi; Grade (MG), de Lucas Andrade. 


A curadoria identifica nestes sete filmes uma predominância fortíssima do documentário, não necessariamente como o gênero dos filmes, mas principalmente em formas de aproximar daquilo que filmam, em muitos casos buscando na materialidade do mundo os elementos de suas expressividades. “Essa aproximação do concreto e da realidade das coisas é uma tônica dos filmes, o que torna o conjunto muito potente nesse aspecto e constrói diálogos e pontes entre eles, ainda que claramente sejam longas muito distintos entre si”, destaca Francis Vogner. Lila completa: “Sinto que há modulações entre ficção e documentário e entre fabulação e registro. Maputo Nakurandza, por exemplo, vai mapeando a cidade de forma poética e cria vínculos com os personagens, que vão atravessando o filme por pequenas narrativas e num gesto de conhecer um lugar e suas pessoas”. Todos, então, sob vários aspectos, vão se costurando dentro dessas possibilidades da câmera diante da matéria do real. Seguindo Todos os Protocolos coloca o diretor no centro de uma trama de sobrevivência física e amorosa da pandemia, com um gesto que flerta com a autobiografia, sem deixar de também compor um registro do estado das coisas – do flerte, das relações, das paranoias pandêmicas. Tem performance, tem dramaturgia e tem autorretrato.” 


Para os curadores, o filme Sessão Bruta radicaliza ainda mais na performance e é cortado por falas e depoimentos que surgem em meio aos arranjos cênicos, mostrando também o imaginário e a vida de um grupo de artistas. Por sua vez, Grade insere a fabulação num documentário observacional sobre uma determinada estrutura prisional alternativa, agregando essa ficção àquilo que a realização encontra pelo caminho. A Colônia segue caminho similar, ao se apresentar como um documentário entremeado pela ficção na abordagem do bairro Colônia, em Maracanaú (CE), fundado na década de 1940 como uma zona de confinamento compulsório para portadores de hanseníase. Se há o escape rumo ao registro mais direto e menos devedor de imaginários externos, isso aparece em Panorama, que constrói seu imaginário numa comunidade de São Paulo a partir dos sonhos, memórias e cotidiano de seus moradores; e Bem-vindos de Novo, no qual se acompanha o processo de reconstrução afetiva de uma família de descendentes de japoneses afetada pelo fluxo de imigração entre Japão e Brasil.

CINEMA EM TRANSIÇÃO
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“O cinema brasileiro atravessa um período complexo e delicado em várias frentes. Do desenvolvimento de projetos à produção, das filmagens à finalização, da distribuição à exibição, toda a cadeia de realização tem sido reestruturada, reconfigurada e, muitas vezes, revolucionada. Estamos num período histórico de aceleração dos processos, que passa pela economia e pela criatividade no audiovisual, desde as formas de financiamento até a efervescência das plataformas de streaming e a crise das salas físicas. Mergulhando nesse caldeirão de mudanças, a Mostra de Cinema de Tiradentes adota a temática Cinema em Transição, buscando nesta última palavra o sentido de suas discussões.” 

Hoje, o cinema brasileiro, tão frágil em sua estrutura, mas resistente e persistente, está em transição, a maior desde a popularização do aparelho televisor. E o que seria uma transição? Uma pesquisa rápida sobre o conceito de transição nos diz: ‘é uma espécie de etapa não permanente entre dois estados’’’, reflete Francis Vogner dos Reis, coordenador curatorial da Mostra


“Em mudanças técnicas, estéticas e econômicas, o cinema brasileiro contemporâneo será investigado, durante a Mostra, em sessões de pré-estreia, debates, bate-papos e encontros com realizadores, pesquisadores, críticos e profissionais. A ambição é a de ampliar a conversa sobre novos arranjos profissionais e artísticos em andamento, diante de uma realidade econômica e criativa que segue institucionalmente negando a cultura (em âmbito de Governo Federal) e uma movimentação cultural que não pode mais se restringir aos antigos modelos de produção e circulação de obras, sob risco de sua própria sobrevivência e a dos profissionais envolvidos.” 

“No âmbito econômico, a suspensão de políticas públicas do audiovisual afetou diretamente o cinema independente, que antes vinha mantendo um mercado profissional de técnicos e profissionais de toda a cadeia audiovisual, incluindo crescente presença de produções distantes do eixo Rio-SP com pessoas negras, mulheres, cineastas de condição social fora do espectro da classe média e alta e, em número mais tímido, pessoas trans. “Ninguém quer e nem pode parar. Se existe muita constrição, precarização e recuos nesse processo, no aspecto criativo lidamos num cenário em que os intentos, as ideias e as práticas a partir do audiovisual são fortes em outros territórios de experimentação. A ocupação de espaços de produção, antes pouco acessíveis, ampliou a noção do público para uma produção audiovisual que estava restrita ao circuito de cinema independente (sobretudo o de festivais) e trouxe novas possibilidades para o trabalho criativo de equipes que passam a produzir em outros moldes e atingir novos olhares.”, afirma Francis Vogner 


“As necessidades de trabalho levaram muitos artistas a transitar (eis o conceito) entre campos distintos, trafegando do cinema para as artes visuais, as artes cênicas, a música, a performance e outros mais. A internet se tornou um espaço fértil e essencial para a difusão e manutenção de diversos projetos, sejam independentes, sejam em acordos com grandes conglomerados de difusão. “Se pensarmos o cinema menos como um objeto formatado e delimitado por sua identidade tradicional (a sala e a grande tela, os formatos tradicionais de curta e longa-metragem) e mais como um terreno de imagens e sons que conta com instrumentos diferentes (ciência, televisão, internet, apropriação etc), nos deparamos com uma atividade técnica e estética que não é específica ou apartada de um amplo contexto artístico, midiático, social e político”, avalia o curador.” 

“A forte presença de coletivos, se não é novidade, se torna ainda mais presente nas cenas culturais que ultrapassam a fruição convencional dos filmes e lançam criações diretamente no YouTube ou projetados em ambiente clubber. “Os filmes, no caso de coletivos, fazem parte de uma cena mais ampla, que envolve teatro, performance, moda e mesmo o material da vida cotidiana transfigurado em estéticas e num modo de recepção distante do tradicional: projetados na rua, em festas, em espaços de dança, desafiando as definições básicas do que nos acostumamos a chamar de cinema enquanto fruição, mas também, muitas vezes enquanto divisão de trabalho dentro da hierarquia de set”.

CURTAS-METRAGENS
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A 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes vai exibir 100 curtas-metragens de 18 estados brasileiros em diferentes seções que abarcam a pluralidade da produção audiovisual brasileira num de seus formatos mais arrojados distribuídos nas mostras Foco (13), Panorama (26), Jovem (5), Formação (8), Mostrinha (5), Praça (13), Regional (6), Foco Minas (11), Homenagem (3), Valores (1) e Temática (9).

MOSTRA OLHOS LIVRES
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Primeiros Soldados
Neste ano, três dos seis integrantes da Mostra Olhos Livres já passaram pela Mostra Aurora: Allan Ribeiro (Mais do que Eu Possa me Reconhecer, vencedor do Aurora em 2015) chega com O Dia da Posse (RJ); Caetano Gotardo (Seus Ossos, seus Olhos, 2019), com Você nos Queima (SP); e Rodrigo de Oliveira (As Horas Vulgares, 2012, e Teobaldo Morto, Romeu Exilado, 2015) com Os Primeiros Soldados (ES). A seleção da Mostra Olhos Livres ainda conta com Germino Pétalas no Asfalto, de Coraci Ruiz e Julio Matos (SP), Manguebit, de Jura Capela (PE, SP e RJ) e Avá - Até que os Ventos Aterrem, de Camila Mota (SP). Esses seis títulos são exemplares da diversidade de enfoques da Mostra Olhos Livres, que tem revelado a cada ano uma variação de olhares de cineastas que em sua maioria já possuem um percurso mais ou menos consolidado e outros que fazem proposições de experimento, abordagem e estilo que consideramos que devem ser vistos e colocados em debate por sua singularidade ou radicalidade.

MOSTRA À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA
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A Mostra À Meia-Noite Levarei a sua Alma, dentro da Mostra de Cinema de Tiradentes, exibirá no fim de noite sessões de filmes do gênero fantástico ou extremo. O título sugerido pela assistente de curadoria, Maria Trika, é uma homenagem ao cineasta José Mojica Marins e pretende abrir espaço na Mostra para experiências radicais em expressões que Mojica Marins exerceu durante sua carreira, mais precisamente o fantástico no terror e o gênero erótico. A ideia é que a Mostra tenha continuidade nos próximos anos e que o público do cinema fantástico aporte em Tiradentes. Ela abre com o filme inédito de José Mojica Marins, A Praga, realizado em 1980, restaurado e finalizado recentemente, inédito até hoje. Tem 51 minutos e será antecedido por um curta atual que explica A Praga, chamado A Última Praga de Mojica, de 17 minutos, dirigido por Eugenio Puppo, também responsável pela finalização de A Praga. O curta relata o processo de recuperação do filme de Mojica, considerado perdido desde sua realização, com imagens do acervo pessoal do cineasta, relatos de profissionais envolvidos e parceiros dele de longa data. Já o filme de Mojica narra a trajetória do fim de um fotógrafo amaldiçoado por uma bruxa ao tentar capturar sua imagem. O feitiço tira o sono do jovem e o conduz a sua perdição, atordoado pela a imagem da feiticeira e o poder da praga rogada pela imagem e que atormenta o personagem justamente com as imagens. Propositalmente ou não, o último filme do mestre Mojica é quase uma metáfora desse pesadelo e delírio fatal que é fazer (e ser devorado pelo) cinema.  Essa eterna tormenta pelas imagens que não se revelam, aquelas alcançadas apenas em um mundo outro, as imagens que como ideias fixas nos fazem perder a cabeça, aquelas que nos perseguem ao fechar os olhos e romper com a realidade. As imagens que nos devoram de dentro para fora. 

Outro filme que estreia no À Meia-Noite Levarei sua Alma é Extremo Ocidente, do carioca João Pedro Faro. Uma espécie de ensaio pop e gore em uma estética que mistura texturas de som e imagem pop e analógicas (FM, TV) a partir de uma crueza estética programática, quase caseira. É um experimento de som e imagem entre o horror e o cinema de invenção brasileiro. O que o difere do cinema marginal é o barato tautológico, é o hedonismo sem desespero em uma ficção em que um soldado solitário em um mundo pós-apocalíptico parece à espera de algo enquanto um canibal barbariza em meio às ruínas. Faro é um cineasta com gosto pelo horror e o experimental e tem ideias sobre a imagem e som. É um cineasta jovem que já conta alguns filmes e possui uma sensibilidade singular no cinema contemporâneo. 

MOSTRA AUTORIAS
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A Mostra Autorias é retomada nesta 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes e programa dois filmes que, para além das assinaturas de diretores com obras reconhecidas, ambos se fazem a partir do trabalho de outros dois autores: Machado de Assis, em  Capitu e o Capítulo, de Júlio Bressane, e o fotógrafo Carlos Filho em Cafi, de Lírio Ferreira. A Mostra Autorias, portanto, vai além da assinatura pessoal do artista para refletir o olhar do criador que tem a arte como objeto, mas que também se mescla às obras investigadas. São variações sobre imagens e evocações que se sedimentaram no imaginário a partir de suas próprias regras, aqui revisitadas. 

Em Capitu e o Capítulo, Bressane faz a sua tradução intertextual não da trama, mas da forma do romance de Machado não a partir da totalidade, mas do capítulo. As imagens existem como reminiscências da obra de Machado aproximando as imagens criadas pelo texto ao exercício das pinturas de ateliê. O personagem narrador evoca a percepção da personagem Capitu elaborada como patologia, algo pregnante em que cabe não um esforço interpretativo, mas uma imagem. 

Cafi, de Lírio Ferreira, encontra o fotógrafo Carlos Filho e sua obra, sua reflexão e sua prática fotográfica pregnantes sobre a cultura popular, mais precisamente dança, teatro e música brasileira. Uma obra que lança um olhar original sobre outras obras ou que, nos casos mais significativos, tomam parte do imaginário desses trabalhos. Um exemplo são as dezenas de capas de disco que criou, com destaque para a que fez para o álbum Clube da Esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges.

SESSÃO DEBATE
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A Sessão Debate traz o retorno de Ruy Guerra, que foi homenageado na 9ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Moçambicano de nascença e presença incontornável do Cinema Novo, é um dos grandes cineastas vivos do cinema brasileiro e ganha um filme que reconhece sua dimensão histórica, artística e política. 

Através de leituras e arquivos pessoais do autor e trechos de obras diversas, Tempo Ruy, de Adilson Mendes, não é exatamente um filme sobre Ruy em um tipo de estratégia narrativa que se convencionou realizar nos documentários biográficos atuais, mas é um filme com Ruy, sobre seu trabalho. O filme traz as conversas e o cotidiano ordinário de Ruy Guerra, seus relatos sobre sua trajetória, histórias e seu ponto de vista sobre o mundo e o cinema. Neste sentido, Tempo Ruy está mais para um ensaio do que um documentário direto tradicional. Trabalha as imagens menos como figura e contexto e mais como reminiscência e digressão. 

Adilson Mendes, pesquisador em contato com o mundo dos arquivos, especificamente a Cinemateca Brasileira, parte não só da intimidade com o amigo Ruy, mas também da proximidade intelectual do processo histórico do cinema brasileiro, do qual ele se aproxima por meio das imagens que são montadas com uma poética que estabelece uma relação original com o discurso do cineasta. Entre a adesão e a recusa a certos arquivos, com flagrantes dos conflitos e também da beleza das relações entre aqueles que fizeram parte desse vasto campo chamado cinema brasileiro, é tecido um fino fio sobre as complexas relações entre cinema, memória e a história.

MOSTRA 25 ANOS
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Para a Mostra Retrospectiva 25 anos, escolhemos obras que estrearam na Mostra de Cinema de Tiradentes. Filmes diferentes, de cineastas que posteriormente teriam percursos distintos. Começamos com cineastas remanescentes da geração dos anos 90, como Hilton Lacerda e Lírio Ferreira, e vamos até um filme emblemático das transformações do cinema brasileiro e ainda pouco visto, Subybaya, de Leo Pyrata. Dividimos por anos, não por agrupamentos temáticos, porque a ideia é olhar para essa linha do tempo e tentar apreender algo sobre o percurso dos filmes e das suas expressões. 


HOMENAGEM: ADIRLEY QUEIRÓS
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Nesse espírito de movimentação intensa e de transição entre modos de fazer e fruir que a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes presta tributo ao cineasta Adirley Queirós. Desde a histórica e apoteótica sessão de A Cidade é uma Só?, em 2012 – quando inclusive saiu com o Troféu Barroco de melhor filme da Mostra Aurora, o cineasta de Ceilândia, no Distrito Federal, vem apresentando seus novos e instigantes trabalhos no evento. 

Francis Vogner dos Reis, curador curatorial da Mostra destaca: “Adirley e a Ceicine (Coletivo de Cinema da Ceilândia) tomam parte historicamente em um panorama de obras e cineastas brasileiros contemporâneos que, nos últimos 16 anos, se fizeram entre a independência radical dos coletivos e o estímulo das políticas públicas para o audiovisual em nível federal (nos governos Lula e Dilma, com a descentralização da produção) e estadual e municipal, com o fomento a pequenas produções”. 

Sobre o cinema de Adirley, Francis diz: “É possível traçar uma trajetória que reflete um processo político de um passado de violência traumática que determina o presente e influencia os rumos do futuro. Não é a violência positivista, o mito fundador da nação, mas uma violência determinada pelo negativo: ‘aqui não verá país nenhum’. Por outro lado, é desse território que ele reconhece personagens, músicas e narrativas fascinantes.” 


O curador se refere a filmes como Rap, o Canto da Ceilândia (2005), Dias de Greve (2009), Fora de Campo (2010), o citado A Cidade é Uma Só? (2012) e os posteriores Branco Sai, Preto Fica (2014) e Era Uma Vez Brasília (2017), todos a serem exibidos na Mostra Homenagem e fundamentais nesse rosto de transição que o cinema brasileiro foi adquirindo nos últimos anos. “Bem demarcado, o espaço de criação é a Ceilândia, território de vivência e construção do que Adirley chama de etnografia da ficção, um princípio prático e estético que situa não somente o corpo do cineasta, mas o corpo de uma equipe inteira, uma imersão de onde emerge a ficção”, analisa Francis. “A afirmação desse lugar é também a formulação de uma contradição explicitada sem maniqueísmos desse espaço denominado Brasília, capital do país, sede do poder, futuro projetado de uma nação que se funda e permanece situada num regime de violência.” 

A Homenagem a Adirley Queirós será realizada na noite de abertura da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, no dia 21 de janeiro, sexta-feira. Na ocasião, o homenageado receberá o Troféu Barroco, oficial do evento. A programação de abertura contará, ainda, com a exibição de trabalhos inéditos do homenageado. Os demais filmes da Mostra Homenagem estarão disponíveis no site 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, durante o período da mostra.

 


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