quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Crítica: A Origem dos Guardiões



Natal chegando e já começa a pipocar nos cinemas os filmes da época, tipo família, edificante, natalino e animações para todos os gostos e idades.

Fechando novembro, estreia a mais nova aposta da DreamWorks no que pode vir a ser uma divertida franquia muito (mas muito!) animada: A Origem dos Guardiões. Baseada na série literária The Guardians of Childhood (Os Guardiões da Infância), do premiado escritor William Joyce (do fascinante curta-metragem, ganhador do Oscar em 2012: The Fantastic Flyng Books of Mr. Morris Lessmore), o filme apresenta um estranho Conto de Fadas contemporâneo, a começar pela inusitada esquipe protagonista: Papai Noel, Bicho Papão (Pesadelo), Coelho da Páscoa, Fada do Dente, Sandman (Senhor dos Bons Sonhos) e Jack Frost.


São personagens que estão no imaginário das crianças (e ex-crianças) do mundo inteiro. Alguns são mais regionais, como o nórdico Jack Frost (relacionado ao frio, à neve), mas que a fantasia globalizante ajuda a popularizar. Bem, esses seres lendários foram reunidos numa espécie de “Liga Heroica do Mundo da Fantasia”, denominada Os Guardiões, para combater o Bicho Papão, que se prepara para espalhar seus piores pesadelos, principalmente entre as crianças, envolvendo a Terra numa escuridão eterna. É o embate entre a Luz (alegria) e a Treva (medo). Além de combater o mal, nossos heróis precisam fazer com que as crianças não os esqueçam e nem deixem de curtir a infância com muitas brincadeiras, dando asas à imaginação.   

A Origem dos Guardiões (Rise of the Guardians, EUA, 2012), dirigida por Peter Ramsey (Monstros vs. Alienígenas), traz alguma novidade aos temas (Natal, Páscoa, Fadas) excessivamente explorados, como por exemplo, um imenso Papai Noel tatuado, que deve ser muito mais engraçado na versão original, dublado com sotaque russo por Alec Baldwin. Aliás, a versão brasileira, infelizmente, descarta todos os sotaques e assim, quem optar pela dublagem nacional não ouvirá a voz de Hugh Jackman dando vida ao esquentado Coelho da Páscoa (especializados em artes marciais e mestre do bumerangue) ou Jude Law apavorando com o insinuante Bicho Papão (malicioso e perigoso).


A animação, com excelente ritmo e ótimo roteiro de David Lindsay-Abaire busca a originalidade, ou pelo menos um ponto de vista diferente do lugar comum, com seu Papai Noel tatuado, Coelho da Páscoa que parece um canguru, Fada dos Dentes que lembra um beija-flor, Sandman feito de areia dourada...  Porém, por mais interessante que seja a narrativa, alguns momentos remetem a outros filmes do gênero, como Operação Presente (2011), que também discutia a importância da criança e de ser criança imaginativa, além do seu valor para o adulto, reforçando a ideia de que o Natal é muito mais que um mero presente (de Papai Noel).

Uma referência cinematográfica aqui e outra literária acolá, no entanto, não tira nenhum mérito ou sequer ofusca o brilho dessa primorosa produção que traz sequências emocionantes, de pura poesia, protagonizadas por Jack Frost que, apesar de brincalhão (feito o adorável Saci Pererê), se sente deslocado nos dois mundos por não se lembrar do seu passado. Uma dessas cenas antológicas fala sobre o “eu” (O que somos? Como nos vemos? Como nos veem?) e define a personalidade do Papai Noel. Desconcertante!


Na sessão-cabine um crítico levou seu filho, de uns cinco anos, e o piá adorou o filme, tanto quanto o pai. Portanto, acredito que o belo desenho animado não vai provocar tédio nos espectadores acima dos doze anos. É um bom momento para se rever os conceitos da Páscoa e do Natal. Ou, ainda, se quiser, a quantas anda o seu relacionamento com filhos e netos e para onde foi a sua imaginação quando deixou de acreditar na magia (da vida).

Nota: A Origem dos Guardiões  não tem nada a ver com a impressionante animação australiana A Lenda dos Guardiões (2010).

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Crítica: Argo



Em Argo a realidade imita a ficção e a ficção imita a realidade para contar uma história tão absurda que, não fosse baseada em fatos reais, seria inverossímil até mesmo para uma ficção (B) hollywoodiana.  

O thriller político, com uma impagável subtrama cômica, narra fatos pouco conhecidos, relacionados ao resgate de seis norte-americanos, após a explosiva tomada da embaixada dos EUA, em Teerã, em 4 de novembro de 1979. Toda ação, pra lá de cinematográfica, só veio a público em 1997, quando o presidente Clinton revelou a operação da CIA que colocou em prática o mirabolante plano do agente Tony Mendez, especializado em exfiltração, em uma missão quase impossível: resgatar seis funcionários americanos asilados na casa do embaixador do Canadá, no Irã. É interessante ressaltar que, mesmo com a liberação de documentos, do lançamento livro Master of Disguise (2000), de Tony Mendez, e do artigo The Great Escape, que Joshuah Bearman escreveu para a revista Wired, em 2007, só agora, com este fascinante filme dirigido, produzido e estrelado por Ben Affleck, o fato ganha realmente notoriedade.


O prólogo é um breve e importante relato histórico, ilustrado com fotos, desenhos, noticiário..., que situa o espectador nesse imbróglio em que os EUA se meteram (como sempre!) lá nos idos de 1953 e até hoje pagam a conta. A excelência do roteiro de Chris Terrio, com base no livro de Mendez e na matéria de Bearman, busca foco narrativo na sequência de eventos após a tomada da embaixada americana, e na imaginativa trama elaborada pelo agente da CIA, Tony Mendez (Ben Affleck), para resgatar seis funcionários americanos refugiados na casa do embaixador canadense Ken Taylor (Victor Garber).

Argo (Argo, EUA, 2012) é o cinema que (independente da origem) dá prazer assistir. A direção de Affleck é o fiel da balança entre o suspense e o nonsense. Se por um lado a tensão prende o espectador à cadeira, por outro o humor sarcástico, a fina ironia (na homenagem e crítica a Hollywood) arranca boas risadas (não gargalhadas!). É que o plano elaborado por Tony Mendez, para resgatar os seis norte-americanos, consistia em criar uma falsa produção cinematográfica de ficção científica (tipo Star Wars) que seria rodada no Irã (Agente O’Donnell: Essa é a melhor ideia ruim que temos, senhor. De longe.), entrar em Teerã, vender o projeto, e sair de lá com os refugiados, como integrantes da equipe de produção. Para tanto, com o país em convulsão e todo e qualquer estadunidense na mira, Mendez precisava dar credibilidade ao tal filme e recorre, é claro a Hollywood, onde encontra o seu grande amigo John Chambers (Jonh Goodman), que o apresenta ao decadente produtor Lester Siegel (Alan Arkin), ambos atores em performances inspiradíssimas, e a tramoia da fictícia Studio Six Productions acaba saindo melhor que a encomenda.


Argo beira a perfeição. Ben Affleck dirige com muita segurança, o que deixa os ótimos atores em plena sintonia com a inusitada narrativa. Liberdade poética à parte, é um filme muito bem produzido (reconstituição de época, figurino, trilha), editado (William Goldenberg) e brilhantemente fotografado por Rodrigo Prieto, que “experimentou” de tudo (até Super 8) para resgatar aqueles dias de fúria e fazer as imagens do noticiário (que se vê na tela) parecerem reais. Um serviço de mestre que joga com a cor e a luz (e o granulado) para ressaltar ambientes e dar veracidade ao drama e ao cômico, enaltecendo a magia do cinema. Pois, como disse Tony Mendez: Era um jogo sem nenhuma regra, portanto era extremamente arriscado. O detalhe mais perigoso era o capricho das pessoas que estávamos tentando enganar. Não tínhamos como prever o que aconteceria - conosco ou com os reféns - se fôssemos pegos.

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