quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crítica: Invictus



Invictus é um poema escrito por William Ernest Henley e, em sua última estrofe, diz algo como: "Não importa o quanto é estreito o portão,/ a quantos castigos sentenciado;/ eu sou o dono do meu destino;/ eu sou o capitão da minha alma" (It matters not how strait the gate,/ How charged with punishments the scroll,/ I am the master of my fate;/ I am the captain of my soul.). Invictus (Invicto: invencível) é o poema que inspirou Nelson Mandela e o manteve lúcido nos 27 anos, de profundas feridas, passados num cárcere, por acreditar na liberdade e na igualdade de direitos em sua terra negra dominada por brancos ingleses. Invictus (Invictus, EUA, 2009) é o novo filme de Clint Eastwood, feito para quem acredita na paz e no perdão em busca da conciliação.

Numa forte e bela sequência inicial, dois grupos distintos de garotos (brancos uniformizados e negros com roupas comuns) jogam rúgbi, em campos separados. A passagem do carro presidencial, levando Nelson Mandela, desperta sentimentos contraditórios em ambos: temor e esperança no amanhã ainda incerto. A cerca do apartheid ainda levará um tempo maior para ser derrubada. A confiança da minoria branca racista levará um tempo para ser conquistada. E tempo é o que Nelson Mandela não tem. Invictus não é um filme-biografia sobre Mandela, mas sobre um momento crucial na história da África do Sul, logo após ele assumir o governo do país ainda engasgado com o “fim” do apartheid (segregação) e em grave crise socioeconômica.

Baseado no livro Playing the Enemy, de John Carlin, Invictus mostra como Nelson Mandela (Morgan Freeman), dando um grande passo rumo ao futuro de efetivas mudanças, uniu uma nação cheia de rusgas em torno de uma paixão em comum (mesmo segregada): o rúgbi. Para tanto contou com a prestimosa colaboração de Francois Pienaar (Matt Damon), o capitão da desacreditada equipe da África do Sul, Springboks, amada pelos brancos e odiada pela maioria negra, para virar a página da história dela e dos sul-africanos. A aposta única era a Copa Mundial de Rúgbi de 1995, realizada na África do Sul. Com uma poética “injeção” de ânimo e um desejo de reconhecer um país unido, governo e atletas despertaram uma nação. De um lado o presidente sem medo: O esporte tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, de unir as pessoas, de uma maneira que nada mais consegue. A nação arco-íris tem início agora. A reconciliação começa agora. O perdão começa agora. De outro, uma equipe que buscou honrar a camisa até o fim: Quer a gente goste ou não, somos mais do que um time de rúgbi… Os tempos estão mudando. Nós também precisamos mudar.

Clint Eastwood está se tornando um mestre das sutilezas, explorando com precisão a intenção da palavra ou do gestual, através de imagens de forte impacto. Daí a maioria dos seus acertos, como em Invictus, onde os diálogos são mínimos, alguns quase monossilábicos. A bela fotografia de Tom Stern, com seu impressionante registro dos jogos de rúgbi e o dinamismo na edição de Joel Cox e Gary D. Roach, são um espetáculo a parte. Se, quando ator, os seus soturnos personagens, praticamente, entravam mudos e saiam calados, sob a sua direção não é muito diferente. Morgan Freeman e Matt Damon (sem exageros e maneirismos) encontraram o tom exato de seus personagens e convencem bem nos papéis carregados de nuances e sotaques. O único perigo em filmes como este, que fala de um ícone da política mundial, é o peso dramático que, num vacilo, pode escorregar para o sentimentalismo barato. Como em algumas sequências (talvez desnecessárias) em que Clint (buscando cumplicidade?) joga com a emoção do espectador, podendo desagradar alguns cinéfilos, por considerá-las muito piegas. Mas isso é um detalhe, uma questão de leitura.

Diferente de suas realizações anteriores, marcadas pela violência física ou psicológica, para sanar violações de direitos, Invictus é até linear, mas não é monótono. Há um tempo (e um ritmo) para refletir e um tempo para agir. A delicadeza de Eastwood, na exposição do racismo, em cenas ou diálogos, corta mais que uma navalhada explícita. Mas não derrama sangue. Invictus é um filme que emociona (e muito), constrange (um pouco) e provoca (pra valer) mesmo quem não é fã de Eastwood ou desconhece a jornada de Nelson Mandela: O que passou, passou. Agora vamos olhar para o futuro.

Crítica: NINE


O único filme de Fellini que nunca consegui assistir por inteiro (e não por falta de oportunidade) é o 8 e ½. Nunca ultrapassei a mais de 30 minutos. Contrariando muitos críticos e estudiosos, acho o filme mais chato que o grande mestre realizou. Já me prometi várias vezes tentar assisti-lo até o fim, mas nunca cumpri a promessa..., e duvido que a cumpra. Mas, se não consegui ver o original até o fim, vi a sua “releitura” no híbrido musical: NINE.

NINE (NINE, EUA, 2009), de Rob Marshall, é a versão cinematográfica do espetáculo teatral de sucesso da Broadway que, por sua vez, é a releitura do filme 8 e ½, de Federico Fellini, de 1963. É um quase teatro filmado e um quase musical. É um filme estranho, e excessivamente dramático, pesado mesmo (chato?). NINE, o filme, fala de Guido Contini (alter ego de Fellini), um famoso e mulherengo diretor de cinema que, prestes a rodar seu 9º filme: Itália, enfrenta um bloqueio de criatividade e, em plena crise de meia-idade, acaba passando a limpo a sua vida, até então, repleta de emoções. Entre devaneios com belas mulheres, à espera de uma inspiração o diretor vai se desconstruindo até se tornar um nada e novamente buscar o chão firme.


Como tudo que é “novo” demora um pouco pra ser digerido, NINE ainda é uma incógnita.  O filme se passa na Itália, onde o cineasta italiano Guido Contini (Daniel Day-Lewis) quer rodar seu filme, e todo mundo fala inglês americano e com um sotaque de doer. E tem gente que estranha a recente animação em que o astronauta americano, Charles “Chuck” Baker, fala a mesma língua (idioma) que os nativos do Planeta 51, que, “por coincidência”, também é o inglês americano. Mas Planeta 51, de Jorge Blanc, é uma sátira! Se o filme NINE é uma “releitura” americana e super hollywoodiana de 8 e ½, qual o problema em se transferir a ação para lá? É o que Hollywood costuma fazer com suas infindáveis refilmagens de produções estrangeiras de sucesso: americaniza um a um, do começo ao fim. Porém, se há “equívocos” há alguns acertos, não que sejam confortáveis (na verdade são muito enfadonhos e cansativos), como a filmagem em estúdios. É claro que, em se tratando de um filme sobre um cineasta em crise, diante da realização de seu filme (e aqui não há metalinguagem), nada mais pertinente que rodar NINE em um set real, sem prescindir de algumas belas locações. Mas, convenhamos, o cenário e o figurino são de uma pobreza criativa de dar dó.


Se Daniel Day-Lewis parece confortável num papel que ele temia, por não acreditar que pudesse cantar, não se pode dizer o mesmo do resto de elenco estelar de belas atrizes: Penélope Cruz (Carla – a amante sensual), Marion Cotillard (Luisa – a dedicada esposa), Nicole Kidman (Claudia Jenssen - a musa inspiradora), Kate Hudson (Stephanie - a jornalista fogosa) Stacy Ferguson (Saraghina - a prostituta) e as carismáticas Judi Dench (Lilli – a figurinista) e Sophia Loren (a mãe de Guido) num festival de pontas (coadjuvantes?) sem fim. Elas não têm muito o que fazer. É aparecer, falar um pouquinho, cantar um pouquinho, brigar um pouquinho e: tchau, tchau, bambina! Algumas se desnudam, porém, sem qualquer traço de sensualidade (ausência de malícia?) ou expressão de desejo. É como se despissem para tomar uma injeção, um banho ou fazer alguma necessidade. É tudo no automático. Sem graça. Um desperdício total de talentos femininos, mesmo em trajes menores. Os números musicais, que não parecem clip da MTV, carecem de beleza, de ousadia, de novidade. Quanto a Fellini, se muito, é percebível na cena final. NINE não é Fellini (talvez no palco seja diferente) porque falta o sonho, a imaginação ou mesmo o humor encontrado, por exemplo, em Chicago, do próprio Rob Marshall, e na beleza sensual de Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, musicais que renovaram o gênero.


Como disse, talvez NINE seja novo demais pra ser digerido facilmente. É um filme que não causa empatia alguma e que se assiste com um certo distanciamento. Um musical mórbido que vai se tornando cada vez mais obscuro a cada canção. Acostumado (condicionado?) a associar musicais à comédia, à alegria, à picardia, a romances pueris, é difícil aceitá-lo retratando situações tão deprimentes. Não tem sentido procurar Fellini onde ele não está. Não vi o filme comparando-o ao 8 e ½, porque nunca vi (por inteiro) esta que é considerada a sua obra-prima. Se tivesse visto talvez compreendesse melhor a dureza, a amargura, a frieza..., a falta de inspiração de Guido Contini/Rob Marshall e o sofrimento insípido das suas belas mulheres.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Crítica: Amor Sem Escalas


Amor Sem Escalas

Amor Sem Escalas
em uma vida solteira

Amor sem Escalas (Up In The Air, EUA, 2009), o aclamado filme de Jason Reitman (do adorável Juno), finalmente estréia no Brasil. O filme busca reflexão na recente crise socioeconômica ao falar da “estranha” vida de Ryan Bingham (George Clooney), um executivo a serviço de uma empresa especializada na difícil “arte de demitir” funcionários em empresas que não têm coragem de fazê-lo. Não há ironia, sarcasmo, ou sequer culpa, no trabalho realizado, com toda ética possível, por Ryan, diante de uma situação tão constrangedora: demissão (sem justa causa). E, apesar da frieza exigida pelo trabalho, é mais favorável a ela do que ao programa de demissão, via Internet, desenvolvido pela colega Natalie Keener (Anna Kendrick).

Feito um discípulo Zen, cumprindo o ditado: Um dia sem trabalho é um dia sem comida, o que conta para Ryan é a precisão diária, seja na forma de realizar as demissões alheias ou preparar a mala, com o essencial, para as incansáveis viagens. Ele passa mais tempo em aviões, acumulando milhas, viajando de uma cidade a outra, pra cumprir o ritual de demitir pessoas que ele não conhece, do que no minúsculo quarto/sala alugado. Quando não está demitindo faz palestras motivacionais sobre o tema Bagagem de Vida. Com uma mochila aberta, sobre a mesa, fala do peso que cada um carrega (nos ombros/costas) durante toda a vida familiar, social, profissional e a importância e o valor que se dá a cada coisa.

Solteiro convicto, e entregue com gosto aos amores fugazes com a executiva Alex Goran (Vera Farmiga), ele acredita viver uma vida de sonho, sem se preocupar com família, colegas de trabalho... Rodeado de estranhos, por todos os lados, Bingham é uma ilha a deriva em si mesmo, preferindo encontrar a ser encontrado. O roteiro brilhante (co-escrito por Reitman e Sheldon Turner) é baseado no romance Up in the Air, de Walter Kirn, já lançado no Brasil, cuja história surgiu em uma viagem de avião, quando o autor perguntou a um passageiro ao seu lado de onde era e ele respondeu que era dali, daquele assento. O passageiro não tinha laços com ninguém, nem mesmo uma casa pra voltar. Vivia viajando a trabalho, assim como muitos iguais a ele.

Em um grande momento do filme, Ryan é convocado pela irmã Kara (Amy Morton) para falar com Jim Miller (Danny McBride), o noivo de Julie (Melanie Lynskey) que, confuso e em busca de coragem, se refugia numa sala para ler um clássico da literatura motivacional, o belo conto O Coelho de Pelúcia (The Velveteen Rabbit), de Margery Williams. O conto é sobre um coelho de pelúcia que sonha tornar-se um coelho de verdade, mesmo não tendo a menor idéia do que é ser um coelho de verdade. Então, pela “felicidade” da irmã (e do casal), cabe a Ryan, o orador motivacional, contrário a qualquer tipo de casamento, convencer o noivo a arriscar a sorte. Colocar o seu discurso à prova faz Bingham pensar no peso da sua própria mochila vazia. Ao se preocupar em começar a enchê-la percebe que nem tudo que está ao seu redor cabe ou merece estar ali. Carregar mochilas cheias ou vazias depende da vontade de cada um. Viver é um risco e quem arrisca aposta em ganhos ou perdas. Faz parte!

Com uma impressionante edição, de Dana E. Glauberman, pontuando de maneira precisa, dos créditos iniciais aos finais, Amor sem Escalas, feito uma parábola contemporânea, narra com um humor melancólico, as possíveis opções de vida (profissionais e sociais) que igualam e diferenciam os seres humanos. Emociona com os dramas (reais) dos demitidos e provoca risos ao tratar de relacionamentos amorosos. É um retrato sincero sobre vidas solteiras ou casadas, mas com providencial e eficaz sinalização para as os pontos de fuga emergenciais.

O Coelho de Pelúcia, o belo conto motivacional lido por Jim, pode ser encontrado na Internet, em versões bilíngues (inglês/português).

Crítica: O Fada dos Dentes


O Fada do Dente

O Fada dos Dentes
um filme para banguelas

Pra quem estranhou (em fins de 2009) a falta dos edificantes filmes natalinamente americanos, que geralmente inundam as salas de cinema, pode agora se contentar com a “comédia” infantil O Fada do Dente (Tooth Fairy, EUA, 2009), de Michael Lembeck, que deve agradar os fãs do insosso Dwayne Johnson. Ela segue a velha premissa de que em “comédia” que ainda vende, com todos os seus (re)batidos clichês, não se mexe. Mesmo (ou talvez por isso) que dirigida a um público infantil, não muito exigente, que pode acabar se cansando da mesmice.

Derek Thompson (Dwayne Johnson) é um famoso jogador de hóquei, conhecido como O Fada do Dente, pela sua especialização em quebrar dentes dos jogadores adversários, com toda truculência “esportiva” exigida pelo torcedor americano, que fica em êxtase ao conseguir agarrar um dente arrancado. Mas, acusado pela matriarca do Reino das Fadas de Dente, Lily (Julie Andrews), de criticar os sonhos e as fantasias das crianças, vai se tornar um verdadeiro Fada do Dente e condenado a recolher dentes de leite, durante duas semanas, vestido como um Fada, com direito a asas e varinha mágica. Derek namora Carly (Ashley Judd) que tem dois filhos, Randy, um enciumado e solitário adolescente, que não tem paciência com os namorados da mãe, e Tess, uma inocente garota de cinco anos que adora Derek. Assim, entre um namoro, uma briga, uma desavença aqui e um jogo ali, e entre uma birra e implicância acolá, Derek aprende a dar um novo sentido à sua vida, revendo os seus próprios (pre)conceitos.

O Fada do Dente é um filme pretensioso que peca, do começo ao fim, pela falta de imaginação. Quer inovar um tema extremamente explorado, como o do Fim do Mundo Encantado, mas carece de encanto, de magia, de fantasia, de poesia..., e até mesmo de razoável e convincente atuação de todo o elenco. Com uma direção fraca, cenografia medíocre e um figurino de peça infantil de ensino fundamental, O Fada do Dente se arrasta com suas velhas piadas sem graça (incluindo as indefectíveis escatológicas de banheiro) e muitos trocadilhos infames: FaDarwin!. O roteiro é uma espécie de lenda da Fada doida. De uma hora pra outra o idiota (aprendiz) vira o esperto e o esperto (mestre) vira um imbecil e o Mundo das Fadas se rende às tolices do Mundo Esportivo dos Homens. E pensar que, com a recente crise econômica americana, daria pra deitar e rolar com situações engraçadíssimas envolvendo as fadas capitalistas... Acho que isso é roteiro pra outro voo.

Ah, pra quem não sabe, vale esclarecer que o mito da Fada dos Dentes, do ponto de vista norte-americano, é um mito capitalista. A criança, em sua “inocência” troca o seu dente de leite (debaixo do travesseiro) por uma nota de um dólar, deixado por uma bondosa Fada (ôps, cacófato!). Digo vender o dente de leite por um dólar pago por uma Fada bondosa (e bota bondosa nisso!). E lembrar que, quando criança, ficava de costas e (pés fincados no chão) jogava os dentes no telhado de casa. Nunca ganhei um centavo com os meus doces dentes usados e nem imagino que fim tiveram.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Crítica: Premonição 4


Premonição - 4
Premonição 4 – O Destino Final
um filme cujo fim pode ser um recomeço

O Ministério da Cultura e Diversão adverte: Assistir a corrida de carros em autódromo pode ser fatal; Ir ao cinema em shopping pode ser duplamente fatal. Para quem adora as previsíveis cenas “meticulosamente” preparadas para matar, com gratuitos requintes de crueldade, todos aqueles que (por um descuido) a Morte deixou escapar no seu último e trágico ataque coletivo, chegou Premoniarmação, digo Premonição 4 (The Final Destination, EUA, 2009), de David R. Ellis. Para quem sempre quis participar mais ativamente da matança, a “diversão” agora é em 3D.

Vi o primeiro filme (que não imaginei que fosse tão longe) e até gostei. Vi o segundo (na TV), dirigido também por Ellis, e achei muito ruim. O terceiro nem tomei conhecimento. Vi este quarto de horrores que, pelo que tudo indica, recomeça a série agora em 3 D (vai virar moda recomeçar séries, de franquias de sucesso, em 3D)... e nem sei o que dizer. Bom, quem gosta de violência forjada, com “ousadias” sadomasoquistas juvenis, pode ter uma grande surpresa. O filme é ruim (muito ruim mesmo), mas não ao ponto de se tornar um cult trash (apesar de ter elementos e diretor de sobra pra isso)..., se bem que nunca se sabe.

Premoniarmação, digo Premonição 4 é um filme de terror (?), suspense (?), humor (?), que involuntariamente provoca mais risos que sustos. Este começa e... (não posso contar o final) com uma batida de carros durante uma corrida, num autódromo onde Nick (Bobby Campo) se encontra com três amigos. Nove pessoas se salvam da catástrofe, por conta de uma (de novo?!) briga por causa do mal entendido sobre a premonição. A partir daí é açougue pra que te quero. A idiotia é tanta que é difícil não rir do preparo e realização das cenas de morte de cada personagem canastrão condenado, já que o Destino tirou férias. É claro que não é um filme de sustos, já que se sabe de antemão o que vai acontecer com um personagem. Então, resta aguardar alguns minutos pra ver e “se divertir” com a cena “violenta” completa. Assim como em outras franquias do gênero, ninguém morre de forma natural. As pessoas crédulas no Destino e, quem sabe, no seu Deus, são sempre martirizadas.

Premoniarmação, digo Premonição 4, que além de tudo é dublado (3D tem disso, é uma boa desculpa pra não legendar!), tem um roteiro medíocre, diálogos estúpidos e uma turma de jovens “atores” que parece não ter a menor idéia do que está fazendo ali. Desculpa, tem, sim, esperando a Morte pegar e despedaçar cada um deles. Bom, pra não dizer que todas as mortais encenações são desastrosas, tem uma que merece algum destaque, por (tentar) enganar o espectador, que espera a morte de Samantha Lane (Krista Allen) de um jeito e ela acontece de outro. Um cinéfilo mais esperto vai matar (ôps!) a charada antes da hora. Mas tudo bem. Ah, pra quem não entendeu, 3D quer dizer que tem vísceras, membros, objetos mortais, sangue e muito lixo jogados em cima da platéia. É isso! Quando se vê produções tão abaixo da crítica, como esta, é que se valoriza as idéias simples e muito melhor realizadas (e que, comparando, saiu praticamente a custo zero), como a sensação de 2009, o perturbador Atividade Paranormal (Paranormal Activity, EUA, 2009), de Oren Peli.

A promessa do produtor Graig Perry é a de encerrar a franquia (mas nem ele tem certeza) com este The Final Destination (O Destino Final), já que os outros eram conhecidos apenas por Final Destination (Destino Final) e um número sequência. Bem o suspense da continuidade está, agora, por conta do título original do filme, que no Brasil é conhecido por Premonição e, claro, da bilheteria e do interesse dos fãs. Acredite se quiser.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Crítica: Sherlock Holmes



Quem espera ver um velho personagem do século 19, vivendo aventuras velhas, como nos velhos filmes do século 20, vai ter uma grata surpresa com esta “atualização” para o século 21 do personagem Sherlock Holmes (Robert Downey Jr) e seu fiel escudeiro Dr. Watson (Jude Law), criados por Conan Doyle. Baseado na HQ inédita (Sherlock Holmes) de Lionel Wigram, que é também o co-produtor, o filme dirigido por Guy Ritchie nos traz um Sherlock Holmes (Sherlock Holmes - EUA/Inglaterra, 2009) mais jovial e presunçoso, mas ainda celibatário e ciumento, numa aventura de tirar o fôlego, para salvar a Inglaterra e o resto do mundo dos planos do malévolo Lorde Blackwood (Mark Strong).

Usando e abusando muito bem de locações, cenários e computação gráfica, Guy recria uma meticulosa e verossímil Londres de fins do século 19. Eu me lembro que, quando do lançamento do filme Mad Max - Além da Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdrome - Austrália/EUA,1985), de George Miller, li uma crítica que dizia que tudo ali parecia tão real que era possível até sentir o cheiro da pocilga. Poderia dizer o mesmo da cenografia deste renovado Sherlock Holmes. Da periferia ao parlamento, por onde ele circula, há um clima de pavor ou de glamour. Pode não se sentir, mas dá pra imaginar o fedor dos cortiços e matadouros ou dos charutos e perfumes dos mais abastados.

Quando os primeiros trailers de Sherlock Holmes chegaram aos cinemas e a internet, deixaram muitos fãs do detetive apreensivos com o tipo de ação nunca vista em outros filmes do personagem. Ora, também a cara e o estilo dele e de seu grande amigo mudaram. Poucos apostavam em Downey e Law (a rede está cheia de reclamação) que estão excelentes no papel. A apreensão poderia também se justificar pelo fato de Guy Ritchie ter uma forma um tanto peculiar de dirigir seus filmes que, convenhamos, são um tanto estranhos. (Ingleses demais?) A verdade é que este Sherlock Holmes não poderia estar em melhores mãos. A graça e a qualidade dele estão exatamente na direção diferenciada, no ritmo ágil que Ritchie imprimiu a partir de um roteiro enxuto. Mas com elementos suficientes para não decepcionar o fã mais ferrenho e nem aquele que se acostumou com as personificações de Sherlock no cinema, televisão e quadrinhos.

O filme de Ritchie não tem a famosa frase jamais escrita: “Elementar, meu caro Watson!” ou roupas e bonés xadrez de tweed, mas tem as inacreditáveis deduções de um Sherlock Holmes mais casual, porém sempre habilidoso, física e intelectualmente. Bem como um certo desleixo com os bens alheios e a constante implicância amigavelmente dependente com Dr. Watson. As brigas, com os vilões de ocasião ou mesmo de ringue (Guy resgata o passado pugilista de Holmes), são das mais impressionantes já filmadas, por conta do raciocínio de Sherlock, antecipando suas ações e, principalmente, pelo uso da Phantom, uma câmera de alta velocidade que pega um segundo de filmagem e estica para 40 ou 50 segundos, criando um efeito de movimento ultralento. Ponto para o diretor de fotografia Philippe Rousselot. Vale ressaltar também a excelente trilha sonora de Hans Zimmer. A música é tão impactante que, em certos momentos, a gente até se desliga do filme. Acho que a hipnose acontece em algum momento chato, que não me lembro agora.

Sherlock Holmes é uma boa pedida pra passar o tempo e ainda se deliciar com a enigmática Irene Adles (Rachel McAdams), um “caso superficial” não resolvido de Holmes, e as investidas de Mary Morstan (Kelly Reilly) pra fisgar Dr. Watson. É diversão garantida pra quem conhece ou nunca (?) ouviu falar do detetive inglês da 221B Baker Street, London, a imortal criação de Arthur Conan Doyle (1859/1930) que, de tão famosa, ao ganhar vida engoliu o seu autor. Pra quem se entusiasmar e se interessar pelas aventuras de Holmes, saiba que foram escritos originalmente 56 contos e 4 romances com o personagem.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Crítica: Planeta 51


Pra quem ainda não viu, a dica de férias é para a divertida e levemente satírica animação Planeta 51, dirigida por Jorge Blanc, com roteiro de Joe Stillman (de Shrek). Apresentando uma técnica apuradíssima, bem superior a muitas produções de sucesso, ela deita e rola em cima de clichês de filmes de ficção científica e fantasia.

Planeta 51 é onde o astronauta norte americano Charles “Chuck” Baker chega, pra tomar posse, e descobre que não está sozinho. Para a sua surpresa e “terror” o planeta é habitado por seres verdes, parecidos com marcianos da ficção (se um dia encontrarmos algum marciano em Marte, “ou em outro planeta”, poderemos sanar a dúvida). Interrompido, na sua cinematográfica missão, Chuck entra em pânico e foge apavorado. Ao mesmo tempo, em algum lugar do planeta, Rover, uma sonda de pesquisa mineral, que age como se fosse um cachorro, consegue escapar da Base 9 (similar a Área 51), onde “não” são guardados “destroços alienígenas” e sai à procura do astronauta. A partir daí, na pacata cidade (que vive nos dourados anos 1950), a confusão está armada. É correria pra todo lado. A explicação pra histeria coletiva está na exibição do filme Humaniacs - II (similar ao Guerra dos Mundos (The War of the World, EUA,1953) - clássico baseado no livro homônimo de H. G. Wells - dirigido por Byron Haskin, que narra a invasão da Terra por marcianos) no cinema da cidade e que, num exercício de metalinguagem, o espectador assiste junto com os habitantes do Planeta 51. O filme Humaniacs - II é o segundo, de uma série de três, sobre alienígenas que invadem o Planeta 51, levando pânico a toda população, matando uns e transformando outros em zumbis (referência a Invasores de Marte (Invaders from Mars, EUA, 1953) de William Cameron Menzies). E assim, os sugestionáveis habitantes, influenciados pelos filmes sobre alienígenas e persuadidos pelo General Grawl e pelo Professor Kipple (especialista em dissecar cérebros), com medo de virarem zumbis, se juntam à caçada ao apavorado astronauta.


Chuck sabe que não é lá muito inteligente e que se tornou um astronauta por causa do seu charme e boa aparência. Ao se “juntar” a Lem, o subgerente do Glipforg Observatório, e seus amigos (Skiff e Eckle) loucos por ficção científica, Chuck, que continua acreditando que os alienígenas são os habitantes do Planeta 51 e não ele, que veio da Terra, vai provar a si mesmo que não é apenas um apertador de botões de uma nave automática que cruzou o universo. A divertida paranóia no Planeta 51 é a mesma vivida pelos americanos na década de 1950, quando viam perigo em toda parte do céu e da terra (com a invasão de comunistas ou de alienígenas), não que isso tenha mudado muito nos dias de hoje. O filme faz referências legais a muitos filmes de FC como Guerra dos Mundos, 2001, Invasores de Corpos, Invasores de Marte, O Dia em Que a Terra Parou, Alien, ET, Star Wars, Zumbis, Cantando na Chuva, Exterminador do Futuro, sempre em situações propícias. O que me parece uma excelente oportunidade para os pais cinéfilos ensinarem aos filhos o que uma sátira, referência ou refilmagem ou, ainda, falar de filmes da FC que (duvido) não tenham ouvido falar.


Apesar de excelente produção, Planeta 51 tem algumas (poucas) escorregadas percebidas por um adulto mais atento (como algumas piadas escatológicas e situações sexualmente mal resolvidas). Talvez pra ficar mais ao gosto das comédias americanas. Inclusive a dublagem é americana. Mas nada que comprometa a diversão certa. Só o fato de se tratar de uma co-produção entre os Estados Unidos, Espanha e Reino Unido, já valeria dar uma olhadela. Aliás, um dos ótimos momentos, que pouquíssima gente (inclusive a crítica especializada) compreende, é quando Lem, um nativo do Planeta 51, tenta entender (em vão) porque que o astronauta alienígena fala a mesma língua dele, o inglês. Inclusive usa a mesma grafia. Não queria, mas tenho que desvelar a sátira... Ora, é muito simples, em todo filme americano de ficção científica, que se preze, os alienígenas que invadem a Terra falam inglês americano! Em alguns filmes, principalmente “trash”, os alienígenas se justificam dizendo que aprenderam assistindo televisão, captando transmissão de rádio etc. (Caramba, até parece que nunca assistiram a Papai Noel Conquista os Marcianos (Santa Claus Conquers The Martians, EUA, 1964), de Nicholas Webster!). Fora isso o espectador não tem a menor idéia (e nem liga) do aprendizado do inglês americano pelos ETs. Genial!

Está de férias? Quer passar o tempo? Já viajou em 3D até Pandora em busca de um Avatar? Então, relaxe e se divirta no Planeta 51. Ah, mas só saia do cinema depois de descobrir os destinos do cientista, do astronauta e do cachorro alien, revelados junto com os créditos finais. O site do filme também é bacana, tem jogos, vídeos, downloads etc.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Crítica: HANAMI – Cerejeiras em Flor


Hanami – Cerejeiras em Flor
Hanami – Cerejeiras em Flor
as aparências enganam

A difícil arte de conviver e de envelhecer é o tema central do contagiante filme alemão Hanami – Cerejeiras em Flor (Kirschblüten, Alemanha, 2008) de Doris Dörrie. Delicado como a flor da cerejeira (que dura poucos dias) ele traça um painel universal sobre as aparências da vida e da morte, expondo o que nos parece eterno na sua “despercebida” fugacidade.

Hanami – Cerejeiras em Flor fala da descoberta de si mesmo na ausência presente do outro. Trudi (Hannelore Elsner) e o marido Rudi (Elmar Wepper) vivem numa bucólica cidade da Baviera. Ela ama a dança japonesa Butoh e sonha visitar o Monte Fuji. Ele prefere ficar em casa, depois do trabalho, bebendo cerveja. Um dia Trudi toma conhecimento da doença terminal de Rudi e, em vez de contar a ele, decide fazer uma grande viagem com o marido. Ela propõe uma visita ao o filho Karl (Maximilian Brückner), que vive em Tóquio, mas acabam indo a Berlim, onde moram outros dois filhos, Klaus (Klaus Angermeier) e Karolin (Birgit Minichmayr), e de lá até o Mar Báltico, onde Trudi morre repentinamente. Decidido a homenagear a esposa, Rudi vai ao Japão visitar Karl e conhecer o Monte Fuji. É a época do Festival das Cerejeiras em Flor e ele encontra beleza em toda parte, inclusive no Butoh, através de Yu (Aya Irizuki), uma garota que dança num parque.

Kazuo Ohno, o grande mestre do Butoh dizia que “A dança (Butoh) não se ensina. Ela está dentro de cada um de nós. Primeiro tem que analisar sua vida, quando entender sua própria vivência, surgirá sua própria dança”. Hanami – Cerejeiras em Flor não é sobre o Butoh, mas a essência da dança está presente em cada fotograma. Assim como o contraste de culturas na valorização da vida e na compreensão da morte. A metáfora se desenha nos detalhes que confrontam as cidades e as suas celebrações de florescimentos de prédios e de cerejeiras. Ou ainda na efêmera vida das moscas. Melancólico e intenso, o filme de Doris Dörrie desvela os signos das cidades que enclausuram homens que enclausuram a si próprios. Através das lentes precisas e nem sempre confortáveis, do fotógrafo Hanno Lentz, registra a brevidade das coisas em um mundo cada vez mais de ontem.

Saudosista, ou não, Hanami – Cerejeiras em Flor é uma obra envolvente e pega de jeito qualquer espectador, com seu nostálgico discurso sobre a vida simples e a simplicidade da vida, em meio aos atropelos capitais. Caminha a passos ágeis ou lentos, conforme as cidades se abrem ou se fecham à passagem de Rudi sob as cerejeiras ou aos pés do Fuji, lembrando que, mesmo na brevidade, há tempo para mudanças.
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