sexta-feira, 29 de julho de 2011

Crítica: Capitão América: O Primeiro Vingador


Capitão América: O Primeiro Vingador é um filme de aventura que chega com o propósito de fazer justiça às histórias em quadrinhos originais. Este primeiro capítulo realmente surpreende ao se aproximar muito dos gibis que, há 70 anos, deram vida ao herói norte-americano cheio de boas intenções norte-americanas. Com breves variações e poucas liberdades cinematográficas a produção enterra de vez a triste lembrança da versão trash de 1990: Capitão América: O Filme, dirigido por Albert Pyun.

Capitão América, alterego de Steve Rogers, o mais patriota de todos os heróis americanos de HQs (dependendo de quem conta a sua história), foi criado na década de 1940 por Joe Simon e Jack Kirby. Ele não tem nenhum poder especial, apenas força física, e como arma de defesa e (se preciso) ataque usa um escudo mais rápido que um cometa e tão eficiente quanto um bumerangue. A primeira revista Captain America Comics, em cuja capa ele aparece vestindo uma roupa nas cores da bandeira americana (vermelho, branco e azul), e esmurrando Hitler, saiu em março de 1941, meses antes dos EUA entrarem na II Guerra Mundial. Como se vê o “Yes, We Can! (Sim, Nós Podemos!)”, vem de longe. Nem o ET Superman (criado em 1938) chegava a tanto.  

Fruto de uma experiência científica que o transformou em um supersoldado, Steve Rogers e ou Capitão América já foi morto (e substituído) algumas vezes (seis ou sete), por conta do humor dos roteiristas e ou do clima sócio-político envolvendo os EUA e o (sempre) resto mundo. Nos anos de 1960, o super-herói (original) acabou ganhando uma versão, que serviu de base para o filme de Pyun e agora de Johnston, onde ele sofre um acidente de avião e desaparece ao final da Segunda Guerra, no Atlântico Norte. O Sentinela da Liberdade ficou, por décadas, “enterrado” no gelo (em coma) até ser encontrado (na HQ, pelos Vingadores em guerra contra Namor, o Príncipe Submarino). Na sua última morte, em 2007, conforme a minissérie Fallen Son: A Morte do Capitão América, ele volta a ser enterrado no gelo por aqueles que o encontraram (até a próxima ressurreição). Assim, enquanto Capitão América, O Filme se passa saltitando entre as décadas de 1940 e 1990, o Capitão América: O Primeiro Vingador se passa (praticamente) no período da II Guerra.


Para quem não é fã de quadrinhos e ou não se lembra da história, Steve Rogers (Chris Evans) é um garoto órfão que atende ao apelo norte-americano de convocação para o alistamento militar e que, por ser franzino e ter a saúde debilitada, é dispensado. No entanto, pela sua insistência, acaba despertando o interesse do Dr. Erskine (Stanley Tucci), um cientista alemão, asilado nos EUA, que descobriu uma fórmula capaz de transformar pessoas de qualquer porte físico em supersoldados. Rogers, com seu corpo duplicado, musculoso, esbanjando saúde, ganhou logo a patente de Capitão América, para zelar pela segurança da pátria estadunidense. No campo de batalha o saudável soldado nacionalista conhece o pior dos seus pesadelos, Caveira Vermelha (Hugo Weaving), alterego de Johann Schmidt (ou vice-versa), oficial alemão que sofreu com os efeitos colaterais ao passar pela mesma experiência de Steve.

Divertida e irônica, a narrativa explora as várias mídias (inclusive HQ) usadas pelo Governo e Forças Armadas americanas na apresentação do Capitão América, então um objeto propagandista caro e raro, para vender bônus de guerra, convocar jovens e persuadir a população de que a hora dos EUA salvar o mundo tinha chegado. A propaganda era (e ainda é!) uma arma de persuasão poderosa na mão dos governantes das nações em guerra, todas usavam e abusavam de tais artifícios, principalmente difamatórios. No site Grandes Guerras, um artigo sobre A propaganda na Segunda Guerra Mundial, em um parágrafo sobre os alemães, diz: ...Outros discursos e cartazes promoviam e retratavam a união entre soldados e trabalhadores, instando os últimos a "fazer sua parte" no esforço de guerra, demonstrando cenas de batalha em uma maneira semelhante ao período romântico (era Napoleônica). Este tipo de cartaz normalmente explorava a figura masculina, musculosa, pois se imaginava que a força do homem era um conceito interessante para inspirar a confiança nos tempos difíceis. De volta ao Capitão, o bom moço loiro, inocente até nas “coisas” do amor, porém bonito e confiante, vai fazendo tudo como querem os figurões, até resolver agir por conta própria e dizer a que foi criado. Seleciona um grupo de Soldados Gloriosos, entre eles o parceiro Bucky Barnes (Sebastian Stan), e parte para cortar a cabeça da HYDRA e acabar com os planos do vilanesco Caveira.


Em Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, EUA, 2011), dirigido por Joe Johnston, tudo funciona e conspira a favor do personagem Steve Rogers (seu duplo: Capitão América) e do público. Ambos ganham com a excelência da história que tem ritmo, humor, ação, aventura na medida certa. Os bons roteiristas Christopher Marcus e Stephen McFeely (ambos da trilogia As Crônicas Nárnia), que sabem muito bem contar uma boa história, continuam surpreendendo com uma narrativa simples, básica, porém eficiente. Afinal, complicar pra quê?! Johnston, depois de dividir a crítica com O Lobisomem (The Wolfman), voltou em forma e esbanjando categoria num casamento perfeito entre os quadrinhos heroicos e o cinema de entretenimento, conseguindo uma veracidade dramática impressionante. Os personagens são carismáticos e o elenco está afinadíssimo. A direção de arte (principalmente na reconstituição de época) e os efeitos especiais são um espetáculo à parte. Até mesmo a conversão 3D é boa. Resta saber o que virá na continuidade, quando a ação se tornar contemporânea.

NOTA: Para compreender a complexidade do fantástico universo dos quadrinhos (linguagem próxima, mas diferente do cinema) sugiro a leitura do artigo: Capitão América: Herói ou Vilão?, de Nano Souza, publicado no Universo HQ e do ensaio: Capitão América: Interpretações Sócio-antropológicas de um Super-Herói de Histórias em Quadrinhos, de Luciana Zamprogne Chagas, publicado na Revista Eletrônica Sinais  e também em Guia dos Quadrinhos, que publica outros excelentes trabalhos no link Monografias

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Crítica: Estranhos Normais



De tempos em tempos chega aos cinemas um filme que se destaca (também) pelo bom uso da linguagem narrativa. O exercício fílmico da metalinguagem é uma lanceta que, em mãos tortas, pode tornar a operação da palavra visual um grande equívoco. O que não é o caso de Estranhos Normais, uma deliciosa comédia de costumes dirigida por Gabriele Salvatores.

Com um charme de Woody Allen (mestre nesta arte) e uma tradicional pegada cômica italiana, Salvatores nos apresenta uma trama que, apesar da referência direta a Luigi Pirandello e a sua peça Seis Atores em Busca de um Autor, se aproxima de Duluth, de Gore Vidal, lançado no Brasil, pela Rocco, em 1987. Afiadíssimo,Vidal faz paródia de uma cidade estadunidense (Dallas) onde tudo pode acontecer. Ali, as pessoas não morrem, tornam-se personagens de seriado de TV, e os personagens literários revoltam-se contra os autores e leitores. E todos, de uma forma ou de outra, acabam interatuando entre si: “A lei da exclusividade requer – exceto nos casos em que não requer – a total perda de memória da personagem que morreu ou fez apenas uma breve aparição numa narrativa fictícia. Naturalmente, ao se completar a redação do livro, todas as personagens que estejam vivas no final ficam, por assim dizer, à disposição de outros escritores, para serem reutilizadas. Às vezes chamam a isso de plágio, mas essa palavra é demasiado severa, quando se pensa em como é limitado o número de personagens e de tramas que há por aí.” (tradução de Manoel Paulo Ferreira). Quem desconhece Duluth, vai encontrar eco no curioso Mais Estranho que a Ficção, de Marc Forster (Direção) e Zach Helm (Roteiro), que bebe no mesmo copo de Charlie Kaufman: Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Quero Ser John Malkovich e Adaptação. Citações que enriquecem ainda mais o expressivo filme de Salvatores.


Estranhos Normais (Happy Family, Italia, 2010), fala da tumultuada vida de Ezio (Fabio De Luigi), um pretendente a escritor (meio preguiçoso) que trabalha num texto que pode vir a ser um roteiro, e por conta das suas costumeiras paradas e falta de ideias acaba se desentendo com os personagens, que já não aguentam mais tanta indecisão. A história que Ezio começou e não sabe como continuar e sequer finalizar, fala de duas famílias distintas que terminam se conhecendo, por causa da teimosia dos seus filhos adolescentes, Filippo (Gianmaria Biancuzzi) e Marta (Alice Croci), em se casarem. Enquanto os jovens insistem no enlace matrimonial, Vincenzo (Fabrizio Bentivoglio), Anna (Margherita Buy) e Caterina (Valeria Bilello), pais e irmã de Filippo, bem como os pais de Marta (Diego Abatantuono e Carla Signoris), vão remoendo seus dramáticos problemas pessoais sem conseguir ver o ponto final do capítulo. Inconformados com o rumo das suas (exageradas) vidas, todos resolvem reclamar e influenciar o autor. Engolido pelo seu próprio verbo, Ezio se torna personagem de si mesmo e começa a partilhar do cotidiano deles, na tentativa de encontrar uma saída do imbróglio em que se meteu. Mas o Destino não é de todo padrasto desse escritor que, se aprender a usar as palavras certas nas horas certas, poderá ter a chance de encontrar duplamente o amor. Se não, é melhor desligar o notebook.

Estranhos Normais tem por base a peça teatral Happy Family, escrita por Gabriele Salvatores e Alessandro Genovesi e, na sua essência, trata dos medos de cada pessoa preocupada mais com a dor (da solidão) do que com o prazer. Na abertura, enquanto o narrador (oculto) cita os medos que afligem os humanos, espera-se (ou teme-se?) uma reflexão comparável ao dramático O Medo do Goleiro Diante do Penalti (1972), excelente adaptação do romance homônimo de Peter Handke por Win Wenders. Entretanto, como o tom italiano é o da comédia leve, do nonsense, ao falar de solidão e dos percalços da comunicação, Salvatores e Genovessi buscam trilhar um caminho bem mais luminoso, ou melhor, menos sombrio e introspectivo, até mesmo quando tocam na dor (solitária) de Vincenzo em sua luta contra o câncer.


Sem pretender a profundidade de um drama alemão e muito menos a superficialidade piegas do cinema-psicanálise norte-americano, o mérito de Estranhos Normais está na simplicidade do mergulho na alma de seus personagens, trazendo à tona os seus mais íntimos desejos, frustrações e temores. As neuroses e ou as idiossincrasias de cada um, são “curadas” de forma natural, divertida, e bem longe dos divãs. Aceitar-se é o primeiro passo. A verdade é que, rir dos outros é bem mais fácil que (não impossível) rir de si mesmo, quando se está longe de um espelho. Com ótimo elenco de atores e equipe técnica, pontuado por momentos lúdicos e de pura magia, ao final, após o verbo conjugado, o que fica é o amor ao cinema e à vida. Em preto e branco ou em cores.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crítica: Assalto ao Banco Central



Em agosto de 2005, uma quadrilha de ladrões assaltou o Banco Central do Brasil, em Fortaleza (CE), e levou R$ 164,8 milhões de reais, em notas de R$ 50,00. O que mais chamou a atenção foi a ousadia da empreitada criminosa. Para chegar ao cofre os bandidos alugaram uma casa a 80 metros do banco, cavaram um túnel, com um planejamento impressionante (coisa de crime organizado!), entraram e roubaram, saíram e sumiram..., ou quase. Acredita-se que todo o bando tenha sido preso. Pouco mais de 12% (cerca de 20 milhões) foram recuperados. Ainda hoje há muito disse-me-disse sobre o assunto. Persistem dúvidas sobre os mandantes e executores do crime e se essa dinheirama (que teria sido aplicada em imóveis) será recuperada algum dia. Muita gente ainda duvida que seja coisa de brasileiro.


Seis anos depois estreia nos cinemas Assalto ao Banco Central, uma versão fictícia do evento que deixou o país de queixo caído. Apesar de inspirado em fatos reais, o filme dirigido por Marcos Paulo, com argumento de Antonia Fontenelle e roteiro Renê Belmonte, é assim, digamos, uma versão meio light do que teria acontecido antes, durante e depois do inacreditável assalto. Portanto, não há que se esperar por revelações bombásticas ou veracidade dos fatos.

Assalto ao Banco Central se apresenta meio fantasioso e duplamente linear, por conta da (curiosa) edição. Supondo que o espectador conheça o feito, apresenta ao mesmo tempo o planejamento e a ação dos bandidos e a investigação da polícia após o fato consumado. As narrativas correm simultâneas (indo e vindo) até as duas pontas se encontrarem e culminar num final pra lá de clichê. Com elenco e direção de funcionários da Rede XXXXX, a narrativa, que transita pela aventura, romance (com direito a duas cenas semelhantes de sexo), ação, policial (com direito a cenas de violência), não empolga. O filme é longo demais, se arrasta, tenta decolar, mas voa baixo o tempo todo, embalado por uma “trilha” horrorosa e alguns tropeços técnicos.


A culpa da coisa morna não está no até esforçado elenco: Eriberto Leão (Mineiro), Hermila Guedes (Carla), Milhem Cortaz (Barão), Giulia Gam (Telma), Lima Duarte (Chico Amorim) e ou na caricatura de alguns personagens (principalmente os gays), mas na condução da história cheia de cacos equivocados e embaçados. Se por um lado há o destaque da boa direção de arte, por outro há o senão dos diálogos improváveis. Chega a ser engraçada (apesar de involuntária) a conversa entre os policiais (Telma e Chico Amorim). Na verdade é difícil acreditar na dupla policial (Giulia Gam e Lima Duarte) que parece ter caído de paraquedas no meio da produção.

Muito do que se ouviu falar sobre o assalto está meio que diluído ou exagerado no filme que, para variar, tem mais cara de especial de TV do que de cinema. Tudo bem que não tem ritmo, provoca sono e não convence, mas (ficção por ficção) podia ao menos divertir, como a uma das joias do gênero: Trapaceiros (Small Time Crooks, 2000), do sempre genial Woody Allen. Por falar nessa deliciosa comédia, não é de todo impossível que tenha servido de inspiração para os assaltantes tupiniquins.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Crítica: Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2



Após 10 anos a fantástica saga cinematográfica de Harry Potter chega ao fim, deixando saudade, fãs inconsoláveis e produtores felicíssimos com os lucros. Quem (ainda criança) acompanhou a grande aventura do jovem e inexperiente bruxo e viu o menino Daniel Radcliffe dar vida a Harry Potter, iniciando a mais popular e rendosa franquia do cinema, nem se apercebeu que hoje, o personagem e ator, são homens feitos, pois cresceu com eles. Harry Potter é um marco divisor na mídia literária infanto-juvenil e cinematográfica. Com certeza, assistir a todos os filmes de uma vez, agora, não terá o mesmo sabor que teve ao se esperar um ou dois anos por um novo capítulo.

E pensar que tudo começou com Harry Potter e a Pedra Filosofal, da inspirada série criada pela escritora J. K. Rowling que, recusada por oito editoras inglesas e publicada pela Blomsbury, em 1997, já vendeu por volta de 500 milhões de exemplares em todo o mundo. Até mesmo o primeiro filme (antes de ser rodado) chegou a ser menosprezado por diretores de renome, mais interessados em americanizar a obra britânica. Acredite, se o fenômeno cinematográfico fosse alemão, francês, japonês, espanhol, com certeza ele seria todo refilmado para entendimento do povo americano que odeia legenda (e sucesso alheio).


O primeiro filme da franquia, que introduzia os leitores e leigos (trouxas) no mundo mágico de Harry Potter, estreou em 2001, dirigido por Chris Columbus, dividiu a crítica e empolgou o público num dos mais espetaculares lançamentos de todos os tempos. Mas isso tudo são águas e brumas passadas. De filme a filme e diretor a diretor a franquia foi engatando e melhorando a cada produção. As narrativas foram acompanhando o crescimento e o desenvolvimento dos personagens na Escola de Bruxaria e Feitiçaria de Hogwarts, ficando cada vez mais densas, dramáticas, melancólicas, chegando às raias do pavor em Harry Potter e o Cálice de Fogo (o meu favorito), dirigido por Mike Newell, e ganhando novo ritmo, até culminar no excelente Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2.

Esta derradeira aventura de Harry Potter (Daniel Radcliffe), Hermione Granger (Emma Watson) e Ron Weasley (Rupert Grint) termina onde praticamente tudo começou, sob os pilares de Hogwarts. O tempo da inocência, das brincadeiras e descobertas acabou. Agora, para continuar vivo, é preciso aguçar os sentidos, confiar nos amigos e apostar no poder da “varinha”, que liberta mas também aprisiona o corpo e a alma. É a hora do acerto de contas entre Potter e Lorde Voldemort (Ralph Fiennes), do embate marcado quando Harry era um bebê e nem sonhava viver uma vida tão atribulada e muito menos se “oferecer em sacrifício”. É hora de saber se é possível desconstruir o desalmado Lorde Voldemort. É hora também de descobrir toda a verdade sobre o introspectivo Severus Snape (Alan Rickman) e entender porque a situação no mundo dos bruxos e magos (e principalmente de Harry Potter) chegou a tal ponto. Ao fim de uma batalha de tamanha proporção, se lamenta os mortos, antes de saudar os vivos. O dever foi cumprido lá e cá!


Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part II, 2011), dirigido por David Yates, é uma grande celebração para coroar uma história baseada no amor, na confiança, na fé, na amizade de personagens que, por mais que parecessem diferentes, extravagantes (para enfrentar o mau), ainda assim eram humanos, com as suas fraquezas de trouxas. O filme faz o espectador se mexer na cadeira, durante as fantásticas sequências de batalhas, se emocionar (e até chorar) com as decisões que Harry, e mesmo rir, em alguns raros momentos. Em geral sou alheio a trilhas sonoras. A prova de que, na maioria das vezes é dispensável, está numa cena emblemática em que Potter está sozinho, sentado numa escada, em meio a destroços, pensando no que deve fazer. Não há música piegas e muito menos incidental. Há apenas solidão, tristeza e uma dor infinita, jamais vista antes em qualquer filme da série. É de cortar o coração! Ela não teria a força que tem se fosse embalada por uma baba qualquer.

As Relíquias da Morte fecha as cortinas da franquia com classe e qualidade. Há uma entrega impressionante de todo o elenco ao olhar habilidoso de Yates, que ainda saúda os grandes atores que passaram pela saga. A narrativa bem amarrada pelo roteirista Steve Kloves (com direito a resumo da série), fotografia, arte e efeitos especiais fazem o espetáculo valer o ingresso. Harry Potter, na literatura ou no cinema, já é história. Agora é esperar para ver o que virá.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Crítica: Cilada.com



O humorista Bruno Mazzeo, que já fez nome na TV, parece estar deixando a sua marca também no cinema. Depois de roteirizar o abominável Muita Calma Nessa Hora, chegou a vez de Cilada.com. Mais um filme, sob os auspícios da Rede XXXXX, que, apesar de ser um “espetáculo” abaixo de crítica, deve levar milhares de espectadores ao cinema. A “comédia”, bem ao estilo escatológico norte-americano, que na falta de graça apela para a baixaria e a redundância do palavrão, além do “humor” frufru, abusa do clichê que vai da privada à murada.

Cilada.com., dirigido por José Alvarenga Jr., baseado em roteiro de Bruno Mazzeo e Rosana Ferrão, com a colaboração de Marcelo Saback e José Alvarenga Jr., narra as desventuras de Bruno (Bruno Mazzeo), um publicitário medíocre que, após trair a namorada, Fernanda (Fernanda Paes Leme), vê a divulgação de um delicado momento íntimo, entre os dois, virar fenômeno na internet e a sua vida ir pelo ralo. Assim, enquanto para a traída, a vingança é um delicioso prato que se come frio, para o traidor, a reconquista da “honra” se faz buscando o “prazer” numa tigela quente. Sem medir esforços, o rapaz, aconselhados por amigos “manés”, vai usar de pequenas artimanhas para tentar reverter o vexame. E aí, dá-lhe gag chata atrás de gag idiota seguida de gag trocadilho de gosto duvidoso até o (esperava o quê?) previsível final.

No meio do roteiro confuso, que não sabe o que fazer com o tema (ejaculação precoce), que nem é dos piores, mas que, repetido à exaustão, vira uma tortura, tem ainda uma história paralela, de um anúncio institucional que, de tão desnecessária, nem é finalizada. Ou seja, não serve nem para tapar os buracos (ôps!). Enfim, se o tema é extremamente mal explorado, o resultado caricato é uma tolice indigesta bem ao gosto da nova safra de “humoristas” que infesta bares, teatros, programas televisivos, e do espectador que adora velhacaria, digo, velharia. Todavia, uma vez que a série Cilada, que “inspirou” o filme, funcionava na TV, talvez funcione no cinema, para aquele público (alvo) que gosta do estilo humor chulo (batido e rebatido) e quer assistir o tal programa (que nunca vi) numa tela grande. Realmente é difícil não ver a “comédia” como um longo episódio televisivo da TV XXXXX, já que (praticamente) todo o elenco é funcionário da casa e apenas “cumpre” mais um (mesmo) papel.

sábado, 2 de julho de 2011

Crítica: Os Pinguins do Papai



Junto com as férias de julho chegam também os filmes famílias unidas jamais serão vencidas. Para concorrer com as animações em cartaz, estreia Os Pinguins de Papai (Mr. Popper’s Penguins, EUA, 2011), dirigido por Mark Waters.

Baseado no livro Mr. Popper’s Penguins, escrito em 1938, pelo casal Richard e Florence Atwater, (parece que) leitura obrigatória no terceiro ano escolar americano, Os Pinguins do Papai atualizou a história, mantendo o nome e o sonho frustrado do protagonista de viajar pelo mundo. No original Popper é um humilde pintor que vive com a família e herda doze pinguins, enviados por um explorador da Antártica com quem se correspondia. Na versão cinematográfica, Tom Popper (Jim Carrey) é um bem-sucedido executivo do ramo imobiliário de Manhattan que recebe de herança do pai, que vivia viajando pelo mundo, um pinguim e, sem saber o que fazer, ao tentar devolvê-lo à empresa que o enviou, ganha mais cinco aves. Desesperado, Popper busca a solução mais radical e, no meio do caminho, se dá conta de que o seu grande problema gelado e barulhento, pode ser a solução para se reconciliar com os filhos Janie (Madeline Carroll) e Billy (Maxwell Perry Cotton), para quem nunca tem tempo.


Os Pinguins do Papai tem uma narrativa linear pensada para um público (alvo) infanto-juvenil não muito exigente. No entanto, não acreditando na força da situação (por si só) bizarra, o roteiro apela (desnecessariamente) na exploração da figura do pai divorciado, ausente e ainda apaixonado pela ex-mulher Amanda (Carla Cugino) e, também, do executivo mau caráter. Cacos que (assim como os pequenos problemas que os filhos de Popper fazem parecer maior do que realmente são), dependendo da criança, vão passar batido, já que os pinguins roubam quase todas as cenas. Os seis pinguins são umas graças, mas em nenhum momento o filme discute a questão do tráfico de animais ou o absurdo que é tirar animais (como eles) de seu habitat natural e enviá-los para Nova York (por exemplo) ou para prisões em Zoos.


Excetuando esses incômodos detalhes, a comédia é leve, tem alguns momentos divertidos e sequências emocionantes. Jim Carrey está mais contido, menos careteiro, e parece ter se dado bem com os pinguins que, segundo a produção, são reais na maior parte do filme: Há pessoas que não gostam de trabalhar com crianças e animais, têm medo que lhe roubem a atenção. Mas eu adoro capturar o brilho da inocência. E não há nada melhor que animais - pinguins neste caso - e crianças para nos trazer justamente isso. É claro que, em se tratando de filme família, ele tem lá os seus eternos clichês de praxe e aquele final familiar pra lá de previsível.

Os Pinguins do Papai traz também (no elenco) a veterana Angela Lansbury, na pele da Sra. Van Gundy, dona de um restaurante instalado numa cobiçada localização, Ophelia Lovibond, como Pippi, a secretária de Popper que gosta de falar na língua do “P”, e Clark Gregg, que personifica Nat Jones, chefe da “divisão de pássaros que não voam” do Zoológico de Nova York, capaz de tudo para pôr as mãos nos pinguins. 
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