quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Crítica: Clarita



Dia 16 de Outubro de 2008, eu e Marcos Saboia fomos apresentar o filme CORTEJO no Instituto de Educação do Paraná, aqui em Curitiba. No debate, uma professora questionou a veracidade dos Documentários. Marcos disse que Documentário também é cinema. Ou seja, nem tudo é o que realmente parece ser. Em meio a reconstituição ou não de fatos me peguei falando do que é e do que parece ser em Clarita, o incômodo documentário de Thereza Jessouroun, um dos curtas apresentados no 3º. Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, que traz a premiada atuação da grande atriz Laura Cardoso. Nele a diretora nos desvela a sua mãe Clarita, portadora de Alzheimer.

Longe de Clarita
Clarita está com Alzheimer. Laura não. Laura não é Clarita. Laura está Clarita. Está mais que Clarita. Clarita está longe, onde não se chega são. Laura quer nos levar onde Clarita está. Mas não alcançamos nem uma e nem a outra. Clarita, perdida em si mesma, não se traduz. Laura interpretando Clarita nos apavora, gela. Laura é a ficção do real. Clarita é real. Em Laura o Alzheimer parece teatro. Em Clarita não.

Clarita, de Thereza Jessouroun, é um filme denso. Tenso. Porém, te alcança, tangencia, mas não toca como devia. Como se espera. Como se deseja. Em Clarita há o real e o que quer parecer real. Mas não é! Provocando no expectador um estranho refluxo sentimental de entrega e afastamento. Por que a ficção nos toca mais que a realidade?

No seu Almanakito, a jornalista Maria do Rosário, que esteve com a cineasta após o debate, escreve: Numa conversa que tivemos depois, Thereza fez críticas ao filme canadense, "Longe Dela" (Sarah Polley), que eu amo. Disse que o que se ali é romantizado perto do que sofre uma pessoa, vítima de Alzheimer. Me deu informações que eu não tinha. Mas, mesmo assim, continuo amando o filme canadense.”


Eu também gostei demais de Longe Dela, de Sarah Polley, e indiquei o filme pra amigos. Longe Dela fala do mesmo assunto, Alzheimer mas retrata os diversos estágios da doença de uma forma mais delicada, sutil, numa outra cadência. Mais ao gosto do expectador? Longe Dela não é o contrário de Clarita, apenas diferente no olhar e no envolvimento das diretoras e no tempo de reflexão oferecido a cada expectador. Enquanto Sarah Polley trabalha com a ficção, baseando-se no conto The Bear Came Over The Mountain, de Alice Munro, Thereza Jessouroun trabalha com uma história real, na pessoa viva da mãe, dentro da própria casa. Talvez por isso um envolvimento mais emocional e menos distanciado com Clarita.

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