por Joba Tridente
Sincero, é o mínimo que se pode dizer do delicioso Divã dirigido por José Alvarenga Jr. Baseado no livro Divã, de Martha Medeiros, que primeiro ganhou os palcos, também no corpo de Lilia Cabral, o filme traz a sutileza de um humor inglês num roteiro de Marcelo Saback, responsável também pela adaptação teatral, que só não é mais que perfeito por conta do escorregão com o merchandising de um cosmético que, para aparecer com destaque, vira todos os outros alheios de costas, como geralmente acontece quando gente da TV vai cobrir algum assunto em um local comercial.
Divã fala das emocionantes e divertidas descobertas de Mercedes (Lilia Cabral) sobre si mesma, diante da psicanálise, e o reflexo delas na sua relação com a família e com os amigos. Ele me lembrou uma Lilia Cabral (e o texto) que tive o privilégio de assistir no teatro em Solteira, Casada, Viúva, Divorciada (1994), com direção de Marcelo Saback, cheia de garra e com uma naturalidade pouco comum no cenário teatral feminino. A princípio pode parecer natural que uma atriz que representou a mesma personagem no teatro a represente com a mesma competência no cinema..., mas é bom lembrar que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Assim como história em quadrinho, apesar do enquadramento, não é cinema, teatro também não é.
Divã é um daqueles filmes que faz a gente se sentir bem desde a primeira cena. Tem direção inesperadamente sóbria e competente de José Alvarenga Jr., conhecido diretor de séries ‘adultas’ globais e que outrora dirigiu bobagens cinematográficas de Xuxa, Angélica, Trapalhões..., mas que, aqui, deixou a comédia pastelão para trás, se entregando totalmente ao humor com conteúdo ou vice-versa, sem nenhuma necessidade de palavrões, escorregões e escatologias típicas da comédia americana. Divã é envolvente, divertido e corre solto, permitindo que cada espectador faça a sua própria tradução da trama, sem a necessidade de subterfúgios dramáticos ou clichês de segunda, com suas músicas chorosas. Tem ainda uma notável direção de arte de Cláudio Domingos e uma fotografia preciosa de Nonato Estrela provando que, em alguns momentos, uma imagem (e que imagem!) vale mais que mil diálogos.
Divã faz a gente acreditar no bom cinema nacional e, além de fazer bem à alma, mostra que existe vida inteligentíssima muito além das baixarias tipo favela x tráfico x violência. Ele é recomendado para todos os amantes de um filme de qualidade e principalmente para quem ainda não acredita no cinema brasileiro.
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