quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Crítica: Gran Torino


por Joba Tridente

Todo homem é uma ilha? Walt Kowalski, de Gran Torino, é! Ou pelo menos acredita que seja.

Walt Kowalski, personagem de Clint Eastwood, em Gran Torino (Gran Torino, EUA, 2008), é um homem rabugento, preconceituoso, racista, cercado de estrangeiros por todos os lados no decadente bairro onde continua vivendo depois da morte da mulher. Ele é um homem velho e xenófobo, no ocaso da vida, que não vê necessidade de mudar seus pré-conceitos americanos de ser. Orgulhoso de ter trabalhado, por décadas, na Ford, onde ajudou a montar inclusive o seu carro Gran Torino, um bem maior que guarda na garagem apenas para o seu deleite, não aceita a invasão dos carros japoneses e muito menos dos seus vizinhos hmongs, latinos e afro-americanos.

A Guerra da Coréia deixou marcas desagradavelmente tão profundas que minou seus sentimentos, dificultando também o seu relacionamento com os filhos. Solitário, da varanda de sua casa, onde tremula uma bandeira americana, tendo como combustível muita cerveja e a companhia da cadela Daisy, Walt Kowalski não reconhece mais o próprio bairro. Certa noite, numa tentativa de roubo do seu Gran Torino, ele se vê envolvido de corpo e alma numa questão que jamais acreditaria ser possível, obrigando-o a rever seus conceitos, enfrentar seus fantasmas, conhecer realmente os vizinhos que odeia e até mesmo bater-se contra um jovem padre que insiste em cumprir o último desejo da sua esposa: a confissão dos seus pecados.

Não sou um apaixonado pela obra de Eastwood, que acho um diretor superestimado na maioria das suas realizações, mas confesso que apesar dos clichês e previsibilidade da história, achei bastante simpático este Gran Torino. Possivelmente por tratar de temas delicados como: migração, costumes, aceitação, medo, insegurança, crime, castigo, perdão..., com humor, às vezes negro, é verdade, e algum sarcasmo. Trabalhando praticamente só com atores de primeiro filme, como os hmongs: Bee Vang (Thao) e Ahney Her (Sue), entre outros, Clint conta uma história ainda contemporânea, com uma vertente diferenciada sobre a periferia de uma cidade industrial, com suas gangues demarcando território, emigrantes em busca de visibilidade e trabalho, e a interferência diária da religião, numa hora em que a crise, muito mais de valores familiares que econômicos, desperta a todos, com a mesma campainha, de um sonho ou pesadelo. E isso, com muita veracidade.

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