terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Série Documental ELAS.LAB


Série Documental ELAS.LAB

Incentiva Jovens Garotas

a Descobrirem a Ciência como Profissão

links em laranja 

Eu sei que sou cientista desde pequena. Eu queria microscópio, kit de química. [...] Eu não queria ser assistencial, queria desvendar o que está no meu entorno, na célula. Resolvi fazer biologia, e me encontrei. Sou bióloga por vocação!”, conta Luciana Maria Silva, chefe do serviço de biologia celular da Funed e responsável por um exame genético para prognóstico precoce de câncer de ovário, no primeiro episódio da série documental ELAS.LAB, cuja primeira temporada estará disponível para acesso gratuito no Youtube a partir de 23 de fevereiro de 2022, com novos episódios nas quartas-feiras seguintes.  

Nada poderia ser mais revelador do que o depoimento de Luciana, que ao lado da farmacêutica e diretora da Fiocruz da Bahia, referência no estudo da doença falciforme no país, Marilda de Souza Gonçalves, e da engenheira Fernanda Palhano, responsável pelo primeiro estudo sobre ayahuasca de depressão do mundo, protagonizam três episódios da primeira temporada da série, que conta com a direção de Helena Bertho e Pétala Lopes 

Queríamos mostrar toda a potência destas cientistas, como suas pesquisas são inovadoras e relevantes. Não são documentários sobre os desafios de ser mulher na ciência, mas sim sobre a potência das cientistas mulheres, apesar de todos os desafios”, explica Helena. 


Ao destacar as trajetórias, os trabalhos e a importância de cada uma dessas mulheres, o ELAS.LAB tem a intenção de mostrar jovens à  meninas como a ciência é um caminho profissional possível. “Os documentários foram pensados não para focar os desafios de ser mulher na ciência ou os preconceitos enfrentados, mas sim para mostrar os trabalhos que têm sido feitos, apesar disso tudo. A primeira temporada foi feita com foco na área da saúde e queremos ainda tratar de outros campos científicos em futuras temporadas”.   

Acompanhamos cada uma dessas cientistas em seu ambiente de trabalho, e em seus depoimentos ressaltam a importância de suas pesquisas para a sociedade. Marilda, por exemplo, é a primeira mulher diretora do instituto e não médica e também a primeira negra. “A pessoa em que me transformei é reflexo do trabalho que desenvolvi ao longo dos anos. Eu tenho um cuidado muito especial com a pessoa, o ser humano. E isso me ajudou: o que desenvolvo no laboratório, com os pacientes, com as famílias, e eu levei para a gestão do Instituto. Eu acho que as pessoas hoje que estão no poder têm que ser humanas. Por que estar no poder afeta a vida das pessoas diretamente”, explica num depoimento emocionado no episódio final de ELAS.LAB. 

Mostrando as cientistas em seu ambiente de trabalho, os documentários destacam também como elas são importantes para a sociedade, e como seus trabalhos são fruto de esforço e dedicação, num país onde a ciência tem sido desvalorizada nos últimos anos. Segundo Helena, “Ao falar especificamente da questão de gênero, mulheres não são incentivadas a seguir carreiras na ciência e, quando o fazem, sofrem machismo, racismo e apagamento do seu trabalho. 

Assim, o ELAS.LAB é não apenas um registro do trabalho desse trio de cientistas, mas, também, um convite às jovens das mais diversas faixas etárias e sociais a pensar na possibilidade de se tornar uma cientista. A primeira temporada tem como foco a área de saúde, com mulheres com trabalhos relevantes e inovadores na área, e que são referência no que fazem. Além disso, os filmes também mostram a diversidade do Brasil, ao sair do eixo Rio-São Paulo.  


No primeiro episódio, o foco está no trabalho da bióloga Luciana, de Belo Horizonte, cuja pesquisa está centrada no câncer de ovário. Para ela, é preciso olhar para o humano, mesmo trabalhando com a pesquisa, ou "na bancada", como ela ressalta, é preciso lembrar que aquela parte, aquele material veio de alguém, resultando num tratamento mais personalizado a partir de um perfil particularizado.  

Fernanda é de Natal, e é pesquisadora do Instituto do Cérebro da UFRN. No terceiro episódio, ela fala sobre seu trabalho na pesquisa do uso da Ayahuasca no tratamento da depressão. Ela também ressalta a importância dessa investigação, que foi a primeira no mundo a usar drogas psicodélicas.  

Helena e Pétala sabiam, ao fazer os filmes, que era preciso encontrar uma forma acessível de abordar a ciência, que, afinal perpassa a vida de todos nós, mas a linguagem científica costuma ser mais complexa. “Durante as entrevistas, foi um cuidado que tivemos de sempre pedir para as entrevistadas que explicassem seus trabalhos da maneira mais simples e clara possível. Além disso, usamos o recurso das animações para ajudar a explicar as pesquisas de maneira didática”, explica a diretora.  

As diretoras ainda deixam a promessa de que trarão, nas próximas temporadas, outros campos científicos, mostrando, assim, um leque de possibilidades e inspirações para jovens considerar o campo da ciência como algo viável para seus futuros profissionais.  

ELAS.LAB foi produzida via Lei de Incentivo, com patrocínio do Grupo Fleury, e faz parte das ações do instituto AzMina, que é uma organização sem fins lucrativos, que luta pela igualdade de gênero. A partir do perfil dessas três mulheres, mostrando seus trabalhos como cientistas e a importância de suas pesquisas, os filmes também têm o objetivo de despertar a consciência e o desejo de mais meninas e mulheres ingressarem no campo das ciências um ambiente no qual as vozes femininas foram, sistematicamente, silenciadas ao longo dos anos. Mas, conforme mostram os documentários, é um cenário que está mudando graças a mulheres que causam verdadeiras revoluções. O machismo pode limitar a presença de mulheres na ciência ou apagar suas histórias. Mesmo assim, elas seguem ocupando esse espaço e transformando o cenário, com pesquisas que são verdadeiras revoluções. Na primeira temporada da Série Documental ELAS.LAB, contamos as histórias de três cientistas brasileiras da área da saúde que se destacam por seus trabalhos pioneiros, relevantes e assertivos.  

Os filmes estarão disponíveis gratuitamente online e a Revista AzMina incentiva que professores e escolas organizem sessões para apresentar o trabalho aos alunos e puxar o debate sobre a ciência como carreira com as meninas. 

 

 1º Episódio


LUCIANA MARIA SILVA

Direção: Helena Bertho e Pétala Lopes.

Luciana Maria Silva, bióloga mineira, conta sobre sua pesquisa que levou à invenção do primeiro exame para prognóstico de câncer de ovário. Com ele, mulheres poderão buscar tratamentos mais assertivos para este tipo de câncer que causa tantas mortes. 

ASSISTA AQUI

 

2º Episódio


MARILDA DE SOUZA GONÇALVES

Direção: Helena Bertho e Pétala Lopes

Marilda de Souza Gonçalves é farmacêutica e primeira diretora mulher, negra e não-médica da Fiocruz Bahia. Ela é também uma das maiores referências no país na pesquisa da doença falciforme e seu trabalho tem impacto direto nas vidas das famílias que lidam com a doença na rede pública. 

ASSISTA AQUI

 

3º episódio


FERNANDA PALHANO

Direção: Helena Bertho e Pétala Lopes.

Fernanda Palhano, engenheira de Natal, estuda o uso de psicodélicos para o tratamento de doenças psiquiátricas. Encarando de frente os tabus ligados às drogas, ela é responsável pela primeira pesquisa do mundo a estudar o uso da Ayahuasca para tratar depressão resistente a medicamentos.

ASSISTA AQUI

 


Helena Bertho é jornalista formada pela USP e com pós-graduação em roteiro pela FAAP. Já atuou em diversos veículos, como UOL, M de Mulher, Veja São Paulo e a Revista Sou Mais Eu. Especializada em cobertura de gênero, direitos humanos, diversidade e sexualidade, é editora chefe da Revista AzMina e também escreve a coluna quinzenal sobre sexo. Link para a matéria  

Pétala Lopes é diretora, fotógrafa, pesquisadora e artista multidisciplinar. Formada em fotografia contemporânea pelo Centro de las Artes na Cidade do México, atualmente cursa sociologia e política na Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). Sua investigação pessoal parte da ideia de como as imagens impactam os meios em que circulam, construindo as narrativas, e os imaginários coletivos, que atuam diretamente na construção social e cultural da nossa sociedade. Seu trabalho atravessa e é atravessado por questões de gênero, mestiçagem, memória e palavras, e é principalmente motivado pelas relações humanas e pelo encontro com outras pessoas. Colabora com publicidade para marcas, produtoras e agências, como The Washington Post, Time, Marie Claire, El País, Mutato, Globo Filmes, Conspiração Filmes, UOL, etc.

O Instituto AzMina é uma organização sem fins lucrativos que luta pela igualdade de gênero. Produzimos a Revista AzMina, onde usamos o jornalismo de qualidade para denunciar as violências de gênero, informar mulheres sobre seus direitos e monitorar o poder público. Fazemos também um aplicativo de enfrentamento à violência doméstica e uma plataforma de monitoramento legislativo dos direitos das mulheres, além de palestras e consultorias. 

A história do Grupo Fleury é marcada por grandes inovações, como a inserção do código de barras em exames, em 1994, e a disponibilização de resultados na internet, em 1998. Inspirado por esses importantes marcos é que idealizamos o Fleury Lab. Ele é voltado para o desenvolvimento, promoção e troca de inovação e conhecimento em saúde. Dessa forma, aliamos tecnologia ao cuidado humano, promovendo um ecossistema sustentável e voltado para o desenvolvimento de novas soluções no setor de saúde. 

Equipe Técnica: Direção: Helena Bertho e Pétala Lopes. Direção de fotografia: Pétala Lopes. Pesquisa e Roteiro: Helena Bertho e Aline Oliveira. Direção de Produção: Monique Rocco. Produção: Gabriela Freitas. Operadora de Câmera: Fernanda de Sena, Sarah Cambraia, Fabíola Silva e Tamires Allmeida, Sylara Silvério, Mylena Sousa. Técnica de Som Direto: Flora Guerra, Haydson Oliveira, Maria Morena. Produtora Local: Gabriela Meneses, Aline Araújo, Keila Sena. Edição: Thais Denardi. Edição: Ludmila Daher. Edição de som: Rosana Stefanoni. Animação de recortes:  Gim e Miu Iuná. Ilustradores: Gim, Miu Iuná, Rudá Almeida Silveira, Vitorelo. Tratamento de cor: Daniele Oliveira. Acessibilidade: Entrelinhas Comunicação Acessível. Revista AzMina - Direção: Carolina Oms, Thais Folego Gama e Helena Bertho. Apoio de projeto: Sintonize Captação de recursos: Incentiv. Colaboraram: Nathália Cariatti e Marília Moreira. Agradecimentos: Luisa Caires, Luciana Maria Silva, Marilda de Souza Gonçalves, Fernanda Palhano, FUNED, Vivian Teixeira, Fiocruz BA, UFBA, Antonio Brotas e Susy Moreno, Instituto do Cérebro - UFRN,  Laíza Felix.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Crítica: A Ilha de Bergman

A ILHA DE BERGMAN

Bergman Island

por Joba Tridente

Fårö é uma ilha de areia fina e paisagem árida, repleta de monólitos de calcário, chamados ‘raukar’, no mar Báltico, a nordeste de Gotland, a maior ilha da Suécia. Hoje em dia Fårö é mais conhecida como a Ilha de Bergman, não porque o famoso cineasta fosse seu proprietário, mas porque adquiriu propriedades, viveu e trabalhou na ilha por mais de 40 anos e foi onde rodou filmes como Através de um espelho; Persona; A hora do lobo; Vergonha; A paixão de Ana; Cenas de um casamento. Ali encontra-se o Centro Cultural Bergman, que proporciona ao turista fã do cineasta o Safári Bergman (passeio por locais de filmagem e pontos curiosos) e a Semana Bergman (com seminários, sessões de cinema, conferências), no final do mês de junho. Ou seja, atrações turísticas cinéfilas, em torno da obra e do grande diretor sueco, não faltam. Inclusive, uma das casas de Ingmar Bergman (1918-2007) é oferecida como residência de artista para autores em crise criativa e/ou em busca de inspiração, como é o caso dos protagonistas do drama romântico A Ilha de Bergman (Bergman Island, 2021), escrito e dirigido pela francesa Mia Hansen-Løve. 

“Bergman foi tão cruel em sua arte

quanto em sua vida.” 


Híbrido de ficção e documentário (mas longe do docudrama), A Ilha de Bergman é um provocante exercício de metacinema que explora as nuances do desejo e da reflexão no fazer cinematográfico, ao acompanhar a rotina de viagem e de desenvolvimento de roteiros de um casal de cineastas nova-iorquinos, Tony (Tim Roth) e Chris (Vicky Krieps). Enquanto o reconhecido diretor Tony participa de eventos da Semana Bergman, do Safári Bergman e escreve com facilidade o seu roteiro..., a insegura Chris, tomada pela melancolia, enfrenta uma crise de criatividade que só começa a ser vencida quando conhece o estudante de cinema Hampus (Hampus Nordenson) e decide traçar o seu próprio itinerário pela ilha bucólica, pesquisando apenas que lhe interessa. 

Mais tranquila, ela esboça algumas ideias para um filme, que se passa em Fårö, ao longo de três dias, e cujos protagonistas, Amy (Mia Wasikowska), uma jovem cineasta, e Joseph (Anders Danielsen Lie), seu ex-namorado, estão ali para prestigiar o casamento de uma amiga e, inevitavelmente, se recordam da relação amorosa que tiveram há algum tempo. Enquanto Chris discute a trama com Tony, esperando que ele a ajude resolver o final da história, o roteiro vai ganhando forma na imaginação do marido (e do espectador). Quanto ao epílogo, este será a chave que fechará as duas narrativas (envolvendo Chris e Amy) e arrematará uma terceira, num encadeamento irresistível e surpreendente em que as aparências (de personagens transitando entre os filmes) realmente enganam, principalmente no cinema. Bem, o termo “fim” também não é dos mais confiáveis... 

“A morte é apenas uma luz se apagando.” 


Uma vez na Ilha de Bergman e às voltas com um roteiro que acaba se dividindo em três e trata basicamente de relações humanas (familiares, conjugais, amorosas, sociais, culturais), a(s) história(s) contada(s) por Hansen-Løve acaba(m) resvalando na obra singular do mestre sueco..., principalmente a Cenas de Um Casamento (constantemente citada no enredo), num catártico contraponto nas “três” narrativas. Porém, ainda que invoque situações análogas em alguns pontos estruturais (notadamente nos diálogos), não parece ser o caso de uma releitura (fragmentada)..., ainda que pairem dúvidas. 

No murmurinho cinéfilo, acredita-se que a metaficção de Mia Hansen-Løve (que foi casada com o famoso cineasta francês Olivier Assayas) talvez seja menos ficção do que parece e que, nas entrelinhas, traria elementos da sua vida profissional e pessoal, tanto na composição do enredo quanto no desenvolvimento das personagens. Talvez por isso (?) que, a princípio, a ambiguidade (?) feminina, a dependência e/ou a necessidade da aprovação e/ou da conivência masculina aos projetos profissionais e/ou pessoais de Chris e Amy (alter egos de Mia?) soa bem estranha, já que, também no cinema, as mulheres estão conquistando com relevância o seu espaço. Depois, durante o processo de amadurecimento dos projetos das duas (ou três?) mulheres, aceita-se tais atitudes como catarse (autoral?). Supondo que, para se livrar de todas as aflições, inseguranças, medos femininos, só “exorcizando” os homens (soberanos) que (sublimados) não atendem às suas expectativas. Daí a impressão de uma marioneteira (Mia) manipulando uma marionete (Chris) que manipula outra marionete (Amy)..., na esperança de uma hora as cordas catárticas se romperem e libertá-las (de si mesmas), para que encontrem a independência profissional e pessoal em algum lugar fora da Ilha de Bergman (real e fictícia). Em algum lugar onde as obras impactantes de autores consagrados não fustiguem os (as) autores(as) iniciantes em busca da própria linguagem. 


Enfim, além do ótimo elenco esmiuçando o mirabolante roteiro e da bela fotografia de Denis Lenoir, enquadrando maravilhosamente as peculiaridades da convidativa Fårö, a diretora Mia Hansen-Løve ainda aproveita o itinerário e a (auto)reflexão de seus personagens cinéfilos pela ilha povoada de fantasmas peliculares bergmanianos, para anotar alguns dados biográficos (mais ou menos relevantes) sobre o cineasta, um indistinto homem/artista. Alguns dados são conhecidos e outros recebem comentários irônicos (meio que fora do contexto) da personagem ChrisNesse ir e vir por uma ilha tão cheia de fatos e fantasias, não falta nem mesmo um “encontro” folclórico com moradores que ainda “cumprem” à risca as recomendações de Bergman sobre as informações que devem dar aos turistas. 

A Ilha de Bergman é um filme que pode fazer o fã de Ingmar Bergman querer revisitar a sua fascinante obra e o espectador leigo a conhecer e certamente se surpreender com o quanto o cinema passado pode fazer sombra no cinema presente. Ah, não confundir o instigante Bergman Island (2021), de Mia Hansen-Løve, com o interessante Bergman Island (2006), de Marie Nyreröd. Pois, entre o devaneio e a memória das águas do mar, nem toda onda é a responsável por esculpir um “raukar”. 

Produzido pela França, Bélgica, Alemanha, Suécia e México, A Ilha de Bergman, chega aos cinemas brasileiros em 24 de fevereiro de 2022, com distribuição da Pandora Filmes.

Trailer Aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Crítica: Licorice Pizza


LICORICE  PIZZA

por Joba Tridente 

Possivelmente por causa do sobrenome, há quem confunda os excelentes diretores norte-americanos Wes Anderson (dos fascinantes Os Excêntricos Tenenbaums; Viagem A Darjeeling; O Fantástico Sr. Raposo; Moonrise Kingdom; O Grande Hotel Budapeste; Ilha de Cachorros) e Paul Thomas Anderson (dos instigantes Boogie Nights; Magnólia; Sangue Negro, Trama Fantasma), ainda que suas premiadas obras sejam distintas. Particularmente, me identifico mais com Wes Anderson, cujo último filme, A Crônica Francesa, menosprezado por parte da crítica, amo de paixão..., por lembrar o meu tempo de redação de jornais e revistas culturais. Embora goste muito do significativo trabalho de Paul Thomas Anderson, confesso que o seu recente Licorice Pizza (2021), indicado ao Oscar 2022, não me pegou em sua corrida sem rumo pelas calçadas e ruas de Encino, na Califórnia. 


Escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, o badalado Licorice Pizza, com todas as idiossincrasias técnicas (testadas e aprovadas em filmes anteriores) do autor, acompanha a turbulenta “relação amorosa” de uma jovem judia, de “25 anos”, que ainda busca o seu lugar no mundo, Alana Kane (Alana Haim), com o adolescente, de 15 anos, Gary Valentine (Cooper Hoffman), um jovem estudante do ensino médio, ator mirim e empreendedor com grande tino comercial..., no Vale de San Fernando, na Califórnia, em 1973. Curiosidades: Alana Haim integra a banda norte-americana de indie rock HAIM, com as irmãs Este e Danielle que, assim como seus pais, aparecem na trama, como membros da família da sua personagem. Cooper Hoffman é filho do falecido ator Phillip Seymour Hoffman. Ambos estreando muito bem no cinema. 


Enquanto a paixonite do improvável casal fica ali no sobe e desce dos encontros e desencontros amorosos e/ou profissionais, como se numa montanha russa desenfreada, alguns personagens bizarros, que tanto pegam quanto largam o bonde andando, aparecem em subtramas pra lá de fragmentadas (para testar o nível de envolvimento dos jovens e/ou a paciência do espectador). Entre eles, Jon Peter (Bradley Cooper) um irritante produtor; Jack Holden (Sean Penn) uma estrela hollywoodiana; Rex Blau (Tom Waits), um histriônico diretor de cinema; Joel Wachs (Benny Safdie), um candidato cuja carreira política está em risco; Jerry Frick (John Michael Higgins), um dono de restaurante de comida japonesa..., que entram em cena, fazem lá seus gracejos (alguns constrangedores), sempre na presença do precoce Gary e/ou da faz tudo Alana, e, então: “- Bye, bye! So long! Farewell!”. 


Licorice Pizza não tem uma história a ser seguida, mas um punhado de esquetes “cômicos” que forçam a mão no “humor” racista, escatológico e sexista, cuja graça vai depender do nível de leitura do espectador, que pode se esbaldar (?) ou se incomodar (!) com as bobageiras típicas norte-americanas..., acreditando que, se era normal rir de tais piadas nos anos 1970, não há nada de mal em rir delas nos anos 2020. Empatias e empatias! Acho que em tempos pandêmicos ando levando tudo muito a sério demais da conta! Ainda mais quando vejo arcos desamarrados e flechas tortas sem alvo definido. 


Ao que se sabe, a nostálgica “trama” é baseada nas memórias de Thomas Anderson, que viveu naquela região, e em alguns fatos envolvendo conhecidos seus e/ou personalidades. O título é uma homenagem à cadeia de lojas de discos Licorice Pizza (Pizza de Alcaçuz), do sul da Califórnia, dos anos 70-80. Daí a trilha sonora ser embalada por grandes baladas, incluindo na seleção David Bowie; Paul McCartney & Wings; Nina Simone; Donovan; The Doors; Seals and Crofts; Sonny & Cher, Bood, Sweat & Tears; Suzi Quatro..., entre outros. Como a música, praticamente, não para, a impressão é a de que, de repente, alguns personagens vão começar a cantar e a dançar como se estivessem em um musical. Sinceramente, chega uma hora em que... 


Enfim, a “comédia” romântica Licorize Pizza (de vários sabores discutíveis) pode não satisfazer o paladar de todos os espectadores famintos por uma boa e divertida história. Seu roteiro vago, por vezes, subestima a inteligência do público pensante, com seus alívios cômicos duvidosos e gags desastrosas, suas sequências torturantes que vão muito além da “piada”, seus retalhos mal costurados na grande colcha retrô do vintage sonho americano self-made man. Mas não há como negar mérito ao seu maior acerto: a escolha do excelente elenco repleto de gente com corpo e cara bem comum. Numa narrativa que dura 133 minutos (40 a 50 minutos a menos fariam grande diferença), o grande destaque fica para a performance dos jovens e carismáticos atores Alana Haim e Cooper Hoffman.

Trailer Aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Crítica: Rio de Vozes

RIO  DE  VOZES

por Joba Tridente 

O Rio São Francisco nasce manso na Serra da Canastra, no centro-oeste de Minas Gerais..., desliza córrego pelo interior e, irmanado com outras águas riacheiras, ganha corpo e engrossa o leito com outros rios até virar um mar de água doce, batizado de Opará ou Parapitinga, pelos indígenas, e de Velho Chico, pelos assentados que vieram depois. Rio São Francisco, abençoado e explorado e abandonado em seu percurso que vara Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, até desaguar dolente no Oceano Atlântico. Rio São Francisco de tantas memórias e histórias cantadas e contadas em verso, prosa e imagens. Rio São Francisco, protagonista, coadjuvante e figurante de filmes, novelas e anúncios publicitários. Rio São Francisco, camaleônico personagem dividindo a cena socioeconômica e cultural com ribeirinhos, no documentário Rio das Vozes, dirigido por Andrea Santana e Jean-Pierre Duret 


“O sertão era pra ser sustentável.
Rico. Generoso. Cheio de Dinheiro.
Só com o quê a gente tem.
A gente derruba o que é nosso,
para plantar o que é dos outros, para os outros.”


Escrito por Andrea Santana, o documentário Rio de Vozes (2019), busca um olhar atualizado da rotina dos pescadores e agricultores ribeirinhos do (ainda) resiliente Rio São Francisco, assoreado em muitos pontos do seu percurso. A longa jornada inicia num estaleiro, onde um mestre carpinteiro constrói mais um barco que, pronto, é lançado ao São Francisco, traçando o itinerário que irá captar as vozes dos ribeirinhos que vivem da escassa pesca, dos seus descendentes que sonham com outro futuro, e daqueles que insistem em uma agricultura sustentável num solo árido. 

Em seu segundo registro, a sequência traz duas comerciantes de peixe, num caminhão frigorífico, por uma estreita estrada de areia, rumo a um ponto de pescadores que negociam a pesca do dia, e cujo diálogo parece saído de um conto fantástico: “Olha, de que hora nós estamos caminhando em cima da cama do rio. Nós estamos aqui só em cima da cama dele. (...) Quantas e quantas vezes nós passamos aqui de barco. Eu, você os pescadores. Era profundo isto aqui. Não era uma situação dessa que está hoje, que você passa de bicicleta, que você passa de moto, que você passa de carro velho..., oito, dez quilômetros talvez...”. 


Em cada parada beira-rio, vila, casa, associação, nas mais diversas horas do dia, são coletadas histórias saudosas de pescadores e pescadoras que insistem na profissão de futuro incerto; de apaixonados capitães de barcos; de adolescentes que querem cursar faculdade; de estudantes de escola agrícola apostando na sustentabilidade; de agricultores testemunhas das mudanças climáticas e do descaso geral com o grande Rio São Francisco, cuja fauna, aos poucos, está sendo extinta. O que não falta ao documentário é assunto: a morte do rio; custo de vida de pescador; amores brotando da água; memória, orgulho e tradição; pertencimento; desmatamento criminoso; formação profissional longe dali e/ou nos arredores, para cuidar de quem precisa. A vozes volteiam na simplicidade da fé e dos desejos, cientes de que as novas tecnologias que chegam “distraídas” e viciantes, ocupando as mãos das crianças, darão novos rumos à prosa. 

“Quero ser médica para cuidar de quem precisa.
Quero olhar para o paciente e não para o dinheiro.”

Apesar do movimento das águas do rio nem sempre ser satisfatório, na sua malemolência ou cantilena que respinga no cotidiano dos ribeirinhos, Rio de Vozes é um filme que transpira a poesia crua e tocante no depoimento aflitivo e/ou nostálgico dos moradores locais. É claro que o espectador precisa aprender a ler nas entrelinhas, para se aperceber da carga poética muito além dos depoimentos sinceros e, por vezes, magoados, nos registros fotográficos “casuais” e, por vezes, bucólicos, de Tiago Santana e Jean-Pierre Duret. 


Rio de Vozes tem o quê dizer para quem quiser ouvir um bocado de histórias e murmúrios de gente que beira o rio, de gente que centra o rio, de gente que se deixa levar pelas águas límpidas e/ou barrentas do Velho Chico..., que além de lavar roupas, lavar louças, lavar corpos, também lava as almas dos ribeirinhos e daqueles que só estão de passagem. O porém (que não compromete a apreciação), fica por conta de um ato abominável na maioria dos documentários brasileiros, que nomeia os participantes apenas no final..., como se o espectador fosse vidente, para adivinhar o nome dos “anônimos” personagens e dos locais de registro, e/ou memória fotográfica para se lembrar quem é quem no filme, a partir dos créditos finais. Outro incômodo, também comum em documentário brasileiro, que não tem legenda, é a dificuldade para entender algumas falas dos participantes. 

Distribuído pela Pandora Filmes, o documentário está previsto para estrear dia 17 de fevereiro de 2022 nas salas de cinema.

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Mostra Reflexos do Modernismo

REFLEXOS DO MODERNISMO

Mostra Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922

no Petra Belas Artes À La Carte 

A partir de 10 de fevereiro de 2022, o streaming À La Carte prestará homenagem ao Centenário da Semana de Arte Moderna, com a mostra intitulada Reflexos do Modernismo, trazendo nove filmes antológicos, produzidos entre 1931 e 1954, todos tendo em comum a flexibilidade e não ortodoxismo do cinema que era feito nesta época. A maravilhosa seleção reúne os diretores Mario Peixoto, com o clássico absoluto Limite (1931); o também brasileiro Alberto Cavalcanti com os raros Na Solidão da Noite (1945), As Vidas e Aventuras de Nicolas Nickleby (1947), Simão, o Caolho (1952), O Canto do Mar (1953) e Mulher de Verdade (1954); e o francês Jean Vigo, representado pelas joias Zero de Conduta (1933), O Atalante (1934) e o curta A Propósito de Nice (1930). 


A Semana de Arte Moderna, também conhecida como Semana de 22, ocorreu em São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade. O evento representou uma renovação sem precedentes na linguagem artística brasileira, um grande salto da vanguarda para o modernismo. Entre os seus participantes estavam nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti, Agenor Fernandes Barbosa, entre outros. Embora na ocasião a pintora Tarsila do Amaral tenha sido considerada um dos grandes pilares do modernismo brasileiro, ela não pôde participar do evento porque se encontrava em Paris. 

REFLEXOS DO MODERNISMO

Mario Peixoto - Jean Vigo - Alberto Cavalcanti

 

LIMITE

Direção: Mario Peixoto

Brasil, 1931, 114min, Drama/Romance

Elenco: Olga Breno, Tatiana Rey e Raul Schnoor

Sinopse: Três pessoas navegam sem rumo enquanto lembram de seu passado. 

Curiosidades: Primeiro e único filme escrito e dirigido por Mario Peixoto (1908-1992). Incluído no famoso livro 1001 Filmes que Você Deve Ver Antes de Morrer, editado pelo produtor cinematográfico americano Steven Schneider. O filme ainda faz parte da era do cinema silencioso, mas exige grande expressividade dos atores, e na cena em que o ator Raul Schnoor é visto em close gritando repetidamente, por exemplo, ele foi instruído a chamar pelo primeiro nome do diretor: “Marioooooo, Marioooooo...”. 

Diretor: Vindo de uma família abastada, o jovem futuro cineasta Mario Peixoto (1908–1992) foi estudar na Inglaterra, e, ao retornar para o Brasil, trazendo rica bagagem cultural dos filmes que viu na Europa, ele se empolgou com a ideia de dar uma nova cara ao cinema brasileiro, com uma linguagem mais artística, moderna e original. Foi assim que, com apenas 21 anos de idade, ele realizou Limite, seu primeiro e único filme, obra-prima e tesouro do cinema brasileiro, uma referência para diretores e estudiosos de dentro e fora do Brasil. 

 

O ATALANTE

Direção: Jean Vigo

França, 1934, 89min, Comédia/Drama

Elenco: Dita Parlo, Jean Dasté e Gilles Margaritis

Sinopse: Um casal recém-casado, Juliette e o capitão de barco Jean, lutam pelo casamento, enquanto viajam em L'atalante. 

Curiosidades: Último filme concluído por Jean Vigo (1905-1934) antes de sua morte por tuberculose, aos 29 anos. Eleito o 12º maior filme de todos os tempos na pesquisa da crítica de 2012 da conceituada revista britânica Sight & Sound, especializada em cinema e publicada desde 1932. A atriz Dita Parlo (1906–1971) também atuou no clássico A Grande Ilusão (1937), de Jean Renoir, e serviu de inspiração para Madonna em seu livro Sex (1992), no qual a cantora aparece em um grande ensaio de nu fotográfico assumindo uma personagem de nome Dita. 

Diretor: Jean Vigo (1905–1934), que morreu muito jovem, com apenas 29 anos, realizou apenas quatro filmes. O curta-metragem A Propósito de Nice marca sua estreia como diretor. Com a obra-prima Zero de Conduta, uma representação subversiva de um internato autoritário, saído diretamente das memórias dele próprio, Vigo teve o filme imediatamente censurado devido ao seu “espírito anti-francês”. Apesar disso, no ano seguinte, ele filmou O Atalante, seu único longa, mas o cineasta morreu logo depois, e a enorme importância de seu trabalho não seria reconhecida antes de 1945, quando passou a ser admirado pelo inovador realismo poético de suas obras. 

 

ZERO DE CONDUTA

Direção: Jean Vigo

França, 1933, 44min, Drama/Comédia

Elenco: Jean Dasté, Robert le Flon e Louis Lefebvre

Sinopse: Em um internato repressivo com regras rígidas de comportamento, quatro meninos decidem se rebelar contra a direção em um dia de celebração. 

Curiosidades: Filme banido pela censura da França até bem depois da Segunda Guerra Mundial. Escolhido pela revista Premiere como um dos "100 filmes que abalaram o mundo", na edição de outubro de 1998, numa lista que classificou os "filmes mais ousados já feitos". Além de ser considerado uma obra-prima do cinema francês, "Zero de Conduta" é tido como um dos filmes ficcionais mais libertários do século XX. 

 

A PROPÓSITO DE NICE

Direção: Jean Vigo

França, 1930, 24min, Documentário/Curta-metragem

 Sinopse: O que começa como um diário de viagem convencional se transforma em um retrato satírico da cidade de Nice, na Côte d'Azur francesa, especialmente de seus habitantes ricos. 

Curiosidades: O filme foi financiado pelo sogro do diretor Jean Vigo. O diretor de fotografia Boris Kaufman filmou a maior parte do tempo com a câmera escondida, captando as imagens através das casas dos botões de sua jaqueta. Boris Kaufman ganhou o Oscar de Melhor Diretor de Fotografia por Sindicato de Ladrões (1954), clássico de Elia Kazan. 

 

AS VIDAS E AVENTURAS DE NICOLAS NICKLEBY

Direção: Alberto Cavalcanti

Reino Unido, 1947, 108min, Drama

Elenco: Derek Bond, Cedric Hardwicke e Mary Merrall

Sinopse: Um homem jovem e compassivo luta para salvar sua família e amigos da exploração abusiva de seu tio de coração frio e ganancioso. 

Curiosidades: Adaptação do livro homônimo de Charles Dickens, com direção do brasileiro Alberto Cavalcanti (1897–1982), realizado em sua fase na Inglaterra. Apesar de seu alto cachê, o ator Cyril Fletcher só aparece em uma cena e fica na tela por apenas três minutos. Primeiro filme da atriz inglesa Jill Balcon (1925–2009), que participou dos filmes Eduardo II (1991) e Wittgenstein (1993), ambos de Derek Jarman. 

Diretor: Antes de estrear como diretor, o carioca Alberto Cavalcanti (1897–1982) projetou cenários para cineastas experimentais franceses na década de 20, realizando seu primeiro filme em 1925. Ao se mudar para a Inglaterra, em 1934, ele realizou pelo menos dois grandes filmes: Na Solidão da Noite, longa coletivo de terror, dividido em quatro episódios, obra considerada por muitos como uma das melhores antologias de horror já feitas; e também As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby, uma elegante adaptação de obra literária de Charles Dickens. No Brasil, ele dirigiu clássicos como Simão, o Caolho; O Canto do Mar e Mulher de verdade. Embora rejeitado em seu próprio país pelos fundadores do Cinema Novo, que o consideravam “um estrangeiro”, Alberto Cavalcanti é considerado nome fundamental no cinema europeu, principalmente pela sua fervorosa participação na vanguarda francesa da década de 20. 

 

O CANTO DO MAR

Direção: Alberto Cavalcanti

Brasil, 1953, 84min, Drama

Elenco: Margarida Cardoso, Cacilda Lanuza e Ruy Saraiva

Sinopse: Nas áreas de seca do Nordeste do Brasil, grupos de migrantes se mudam tentando encontrar um lugar melhor para morar, pelo menos com água. Alguns vão para o Recife, em busca de um navio para Santos, na expectativa de ter uma vida melhor. Na região pobre do Recife, uma velha lavadeira lava roupas para sobreviver e sustentar sua família. O marido dela, Zé Luis, ex-marinheiro, enlouquece por causa de um golpe de mastro na cabeça. Seu filho mais velho, Raimundo, trabalha em uma mercearia e vende manga na rua, tentando economizar para se mudar para o Sudeste com a namorada Aurora. A filha quer ser prostituta para ter melhor qualidade de vida. 

Curiosidades: O filme fez parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes 1954. O diretor Alberto Cavalcanti (1897-1982) aprendeu a fazer documentários na França e na Inglaterra, e, na década de 50, voltou ao Brasil, onde dirigiu apenas três filmes, O Canto do Mar entre eles. O roteiro foi coescrito pelo aclamado escritor José Mauro de Vasconcelos (1920–1984), autor do clássico livro O Meu Pé de Laranja Lima. 

 

SIMÃO, O CAOLHO

Direção: Alberto Cavalcanti

Brasil, 1952, 101min, Comédia

Elenco: Mesquitinha, Nair Bello, Yara Aguiar e Rachel

Sinopse: Simão é caolho e deseja recuperar a visão perdida a qualquer custo. Um dia, sonha que descobriu um olho mágico que pode levá-lo às mais diversas situações. 

Curiosidades: Segundo trabalho da atriz Nair Bello (1931-2007) no cinema. Primeiro filme do diretor Alberto Cavalcanti realizado no Brasil, após se especializar como documentarista na Europa, onde dirigiu diversas obras. Roteiro baseado no livro homônimo do escritor, jornalista e romancista mineiro Galeão Coutinho (1897-1951). 

 

NA SOLIDÃO DA NOITE

Direção: Alberto Cavalcanti, Robert Hamer,

Basil Dearden e Charles Crichton

Reino Unido, 1945, 103min, Drama/Terror

Elenco: Mervyn Johns, Michael Redgrave e Roland Culver

Sinopse: Os convidados para um fim de semana compartilham suas histórias sobrenaturais, começando com Walter Craig, que pressente a desgraça iminente quando seu sonho recorrente se transforma em realidade. 

Curiosidades: Esta foi a única tentativa da Ealing Studios de fazer um filme de terror. De acordo com o livro Elisabeth Welch: Soft Lights e Sweet Music (2005), de Stephen Bourne, um dos maiores especialistas britânicos em cinema negro e televisão, a representação da personagem Beulah pela atriz Elisabeth Welch (1904-2003) foi “Um avanço na representação de mulheres negras em filmes. Pela primeira vez, uma mulher negra é retratada como independente, bem-sucedida e engenhosa.” Entre os protagonistas do filme está Michael Redgrave (1908–1985), pai da atriz Vanessa Redgrave, e que pertencia à geração de grandes atores ingleses, dos quais faziam parte os lendários John Gielgud e Laurence Olivier. 

 

MULHER DE VERDADE

Direção: Alberto Cavalcanti

Brasil, 1954, 100 min, Drama

Elenco: Carlos Araújo, Adoniran Barbosa e Inezita Barroso

Sinopse: Uma enfermeira se apaixona por seu paciente e secretamente se casa com ele. Ao tratar outro paciente, este se apaixona por ela e, fingindo estar morrendo, lhe pede um último desejo: que ela se case com ele. E ela aceita. 

Curiosidades: Sexto, dos quinze filmes em que o cantor e compositor paulista Adoniran Barbosa apareceu como ator. Quarto filme da cantora Inezita Barroso (1925–2015) como atriz. Assim como Simão, o Caolho, o roteiro de Mulher de Verdade foi baseado em história do escritor, jornalista e romancista mineiro Galeão Coutinho (1897-1951).

 

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