segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Crítica: Pets – A Vida Secreta dos Bichos


Pets – A Vida Secreta dos Bichos
por Joba Tridente

O universo do desenho animado pode ser paralelo (repleto de histórias já vistas anteriormente, com melhor e ou pior qualidade de arte e ou narrativa) ou único (na originalidade). Como uma animação pode levar entre dois a cinco anos para ficar pronta, dependendo do estúdio e ou condições financeiras, ocasionalmente aparecem “coincidências” no argumento e ou roteiro de obras em produção e que acabam suscitando questionamentos de “espionagem” ou “plágio” no lançamento. A verdade é que, uma vez que a originalidade custa caro, tem sempre uns (artistas) e outros (estúdios) querendo encurtar o caminho, mudando uma coisinha aqui e um gênero acolá numa história conhecida, acreditando ter resolvido o seu problema criativo...., apostando, evidentemente, na memória curta do espectador alvo (geralmente infantil). O que não quer dizer que (re)contar uma história já conhecida seja (de todo) ruim, o que vale é como se (re)conta essa história.

Durante muito tempo assisti curioso, nas salas de cinema, a um mesmo trailer de Pets – A Vida Secreta dos Bichos, ansioso por sua estreia. Ainda que constante, sempre provocando alguns risos e gargalhadas. Somente depois de assistir ao filme em sessão especial (Cabine de Imprensa) fiquei sabendo de mais dois trailer veiculados no YouTube e dei graças pela minha ignorância e espero que os amantes de animação também não tenham sabido deles. É que muito da graça e da surpresa da trama está lá..., o que, pra mim (avesso a trailer/spoiler), tira um pouco do brilho deste divertido e animado desenho animal.


Pets – A Vida Secreta dos Bichos (The Secret Life of Pets, 2016) dá asas à imaginação (assim como outros filmes nos primórdios do cinema) ao se ocupar com uma questão: a rotina doméstica dos animais de estimação quando os seus (solitários) donos saem para a sua rotina profissional. Provavelmente você já se pegou na janela olhando o comportamento, por vezes, estranhos de algum animal (cão ou gato) do vizinho (na web há trocentos vídeos com registros bizarros desses domesticados em “ação”). Que eles têm uma linguagem própria não há a menor dúvida. E o mais interessante é que, além de se entenderem, ainda compreendem o linguajar humano. Um passo à frente do homem que não tem muita noção do que eles estão dizendo.  Aliás, o homem não entende nem o próprio homem.


Abrindo com uma bela sequência aérea sobre Manhattan e Central Park outonal, a crônica nova-iorquina Pets – A Vida Secreta dos Bichos começa num edifício residencial, onde cães, gatos, pássaros trocam confidências, e logo ganha as ruas da cidade. Em um desses apartamentos, com maravilhosa vista para Nova York, o terrier Max leva a vida que pediu a Deus... até a noite em que sua adorável Katie traz para casa o enorme e peludo vira-lata Doug, pra lhe fazer companhia. Óbvio que Max odeia a ideia de compartilhar o que é seu (inclusive o amor da sua dona) com um estranho desclassificado e logo no primeiro dia de relacionamento, por conta da distração do passeador, os dois se metem numa confusão atrás da outra até dar de cara com Bola de Neve, um coelhinho tão foto quanto psicótico, líder da Turma do Bueiro, que agrega animais revoltados com o abandono de seus donos. Perdidos em NY, na tentativa de voltar para casa e se livrar de Bola de Neve e seus capangas (Tatuagem, um porco, Brutus, um cão-focinheira, Croc, um crocodilo e Dragão, um lagarto), Max e Doug acabam se conhecendo melhor. Enquanto isso, como “quem tem amigo tem tudo”, a lulu Gidget, vizinha de Max, estranhando o sumiço dele, convoca uma força-tarefa, que inclui o falcão Tiberius e o cão paraplégico Pops, para encontrá-lo. Assim tem início uma jornada dupla de amizade, solidariedade e até mesmo de redenção..., mas sem ser piegas e moralista.


Pets – A Vida Secreta dos Bichos, dirigido por Chris Renaud e Yarrow Cheney, é um filme infantojuvenil, repleto de gags visuais, nonsense e humor pastelão, que não decepcionará o acompanhante adulto que libertar a sua criança oculta e mergulhar nessa fantasia surreal. Nem é preciso ter algum animal de estimação em casa, para apreciar essa “maluquice”. Mas é bom ficar atento, porque a história, onde os humanos são meros coadjuvantes, talvez pareça boba, alucinante (como qualquer fábrica de salsicha deve ser), mas, no subtexto, traz provocante reflexão sobre a adoção, o cuidado e o abandono de animais domésticos. O gracejo com o cão paraplégico, com a obesidade da gata, com a “psicopatia” dos animais do esgoto, não é gratuito.

Enfim, considerando que a animação, com boa dose de ação e aventura, tem uma paleta de cores aconchegantes; que a textura dos animais é simples e agradável; que a plasticidade de Manhattan e de Nova York é uma beleza à parte, que o roteiro (surreal) é bacana para a diversão e reflexão (séria!) que se propõe; que a dublagem brasileira não é das piores..., vale os minutos de relaxamento e aprendizado para toda a família.

Ah, não chegue atrasado e nem saia antes dos primeiros créditos, ou perderá o curta-metragem estrelado pelos hilários Minions e o epílogo de arromba com a bicharada do longa!  

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Crítica: Ben-Hur


Ben-Hur
por Joba Tridente

Que Hollywood refilma sucessos estrangeiros, para faturar um troco e para que o americano medíocre não precise ler as legendas, é notório. Assim como refilmar o seu próprio cinema (clássico ou não) em busca de plateias (de gênero) mais jovens. Agora, com a onda de cine-evangelização (Êxodos: Deuses e Reis e Noé, entre outros), então, dá-lhe releitura de produções com apelo cristão em toda a sua diversidade doutrinária..., ou seria religiosa?

Lançado em 1880, o romance Ben-Hur – A Tale Of The Christ, do escritor americano Lew Wallace (1827-1905), chegou aos cinemas em 1907, pelas mãos do canadense Sidney Olcott. Em 1925 foi a vez de Fred Niblo recontar a história que, em 1959, ganhou a espetacular adaptação de William Wyler, arrebatando 11 Oscar e se tornando um clássico, com a sua icônica sequência da corrida de quadriga. Agora, 109 anos depois da primeira adaptação, o épico está de volta (na mais infiel das versões!) às desaconchegantes salas dos shoppings, para jogar poeira nos olhos dos jovens (principalmente evangélicos).


Ben-Hur (Ben-Hur, 2016), dirigido por Timur Bekmambetov, é um grande imbróglio. O excesso de “liberdade poética”, com seus versos de pé quebrado, cometido pelos roteiristas Keith R. Clarke e John Ridley, deixa a obra original de Wallace praticamente irreconhecível. Nessa imitação barata, a narrativa rasa gira, corre, dilacera, reza ao redor do judeu Judah Ben-Hur (Jack Huston) e do seu amigo romano Messala (Toby Kebbell), adotado (?) ainda criança por sua família e herdeiro de uma ultrajante nódoa (?) do pai... Nem Lew pensaria em tamanha sandice fraternal e ou penal! A amizade de ferro entre os dois “irmãos” começa a enferrujar quando o nobre Ben-Hur é acusado de tentativa de assassinato (em mais uma abominável intervenção absurda dos roteiristas na obra original) e o então pretoriano Messala ajuda a condená-lo a passar o resto da vida como escravo acorrentado às galés romanas. 

Intervalo/spoiler: Como devem ter achado (essa gente adora deixar sua marca de imbecilidade) que o acidente do ladrilho (na cabeça do Pretoriano) era insignificante para justificar a severa punição a Judah Ben-Hur (exílio e escravidão vitalícia), os "autores" criaram novos personagens e reescreveram (?!) a cena, transformando o acidente em atentado, ignorando que a força da trama (que provoca repulsa a quem lê o romance de Lew e ou vê os filmes anteriores) está justamente neste “mero” detalhe: insignificância do acidente..., que serve de combustível para que o invasor romano reforce o seu poder de opressão contra qualquer ato (que lhe pareça) de rebeldia. Continuando: O judeu promete sobreviver ao castigo e voltar para se vingar do ex-irmão. E volta! O acerto de contas entre os dois ex-amigos se dará numa pista (vale tudo) de corrida de quadrigas..., e, desta vez, com direito a um (inescrupuloso) epílogo cristão! Intervalo/spoiler: Não satisfeitos com a adulteração do acidente, também sumiram com personagens importantíssimos no desenrolar do enredo (durante e pós-escravidão), mudaram a ordem de acontecimentos e ajeitaram até mesmo uma (inacreditável!) punição divina (aqui se faz e aqui – ou no Céu – se paga) para o “terrorista” zelote.


É impossível assistir a este discutível Ben-Hur, de Bekmambetov, sem compará-lo aos bons filmes anteriores e, principalmente, ao romance de Lew Wallace, de onde os realizadores parecem ter se apropriado apenas de alguns detalhes (título, nome de personagens, encontro com Cristo, competição), já que o quê se vê na telona é um arremedo da história original. Ou melhor, é um resumão novelesco temperado com moralidade cristã. É claro que não se pode esperar muito de um filme puritano onde protagonistas usam calças compridas estilosas, possivelmente desenhadas e muito bem costuradas (a mão?) pelos “descendentes” do estilista afogado por Deus em Noé (2014), mas, numa produção que testa a paciência e fé do espectador, não é nenhum pecado esperar por um milagre. Em vão!  

O certo seria deixar o livro de Lew Wallace quieto na estante e a memória do cinéfilo vagar quando quisesse pelos filmes realizados, porém, toda via caça níquel, já que a heresia foi cometida e os lendários personagens acordados, vamos ao que interessa. Com seu enredo raso e maniqueísta, focado na conturbada relação de amizade entre o bom (egoísta) judeu Judah Ben-Hur e o mau (egocêntrico) romano Messala, Ben-Hur força metáfora num “arco dramático” onde a flecha da compaixão contra a intolerância é Jesus Cristo (Rodrigo Santoro) e o alvo da redenção da humanidade é a sua cruz. Ideologia reforçada no simbolismo da corrida de quadrigas, onde a fé de seus condutores é representada nos carros puxados por cavalos brancos (Deus de Israel = luz) e por cavalos negros (Deuses Romanos = trevas)..., dualidade já vista nas cenas iniciais após um acidente com Ben-Hur. A impressão (que fica!) é a de que a motivação (subliminar) da trama é tão somente a doutrinação cristã, a evangelização do espectador, claramente pontuada em fracos diálogos (moralistas e pretensamente políticos) e cenas de perdão a crimes cometidos em nome da liberdade e ou da soberba. Os realizadores levaram mais ao pé da letra o “amai-vos uns ao outros” que o próprio autor do livro.


Pautado por uma trilha pra lá de previsível e talvez pela falta do quê dizer, excetuando as sequências da batalha marítima e da corrida de quadrigas, suas cenas são breves e geralmente em planos fechados (haja close!), para fazer o menos (cenários, personagens, figurantes) parecer mais..., alguns enquadramentos, inclusive, lembram a versão de 1925. Seus personagens (sem o menor carisma) claudicam a esmo pela narrativa, em busca de um rumo, para que o enredo capenga não pareça uma aberração ainda maior. Embora não se espere algum humor num drama religioso trágico, confesso que me diverti, ao menos duas vezes. Uma: ao imaginar que Jesus Cristo poderia aparecer, assim como Ben-Hur, Messala e Esther, vestindo calças de couro/corino. Outra: na crucificação de Cristo, ao lembrar do discurso proferido pelo centurião romano (George Clooney) no genial Ave Cesar! (2016), dos irmãos Coen, que, aliás, presta divertida homenagem ao clássico de 1959.

Enfim, Ben-Hur é um filme de ação (até) violenta, pouca aventura e nenhuma alegria que, dependendo do conhecimento do espectador sobre os filmes anteriores e o romance cristão, poderá ser recebido com: aleluia! e ou: anátema!. Sem mais, desculpa o trocadilho duvidoso: este Ben-Hur é bem ruim.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Crítica: Águas Rasas


Águas Rasas
por Joba Tridente

De 1975, quando Spielberg lançou seu apavorante Tubarão, até os dias de hoje, quando a parceria Syfi/Asylum detona o bom senso com suas divertidas aventuras trash protagonizadas por grande variedade de tubarão, muita gente já foi atacada na telinha, na telona e na vida real por esses animais que, dizem os estudiosos, não gostam de carne humana, apenas confundem pessoas (principalmente surfistas) com focas. Pobres focas!  É claro que não é por causa do Steven e do Syfi que os tubarões, “revoltados” com tanta esculhambação da espécie (em vias de extinção), atacam os humanos, evidentemente..., e tampouco começaram a atacar em 1975.  Já o faziam muito antes e continuarão fazendo enquanto viverem por mares e oceanos afora.


Águas Rasas (The Shallows, 2016), thriller de aventura dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, é daquelas produções que, por conta dos seus devaneios, costumam deixar muito espectador confuso de suas (boas ou más) qualidades. O roteiro (até) simplório de Anthony Jaswinski acompanha a saga da texana Nancy Adams (Blake Lively), uma dedicada estudante de medicina e surfista gente boa que, em memória da mãe falecida recentemente, resolve passar uns dias numa paradisíaca praia mexicana. Mas, sabe como é, quando a tranquilidade do Paraíso é demais, até a Serpente da Árvore da Sabedoria desconfia. No entanto, diante de um cenário tão deslumbrante, cuja única recomendação do nativo Carlos (Oscar Jaenada) é o de não entrar nas águas à noite, a confiante americana se prepara cuidadosamente e mergulha naquele convidativo verde cristalino.


Num lugar de beleza ímpar, ideal para se esquecer todas as dores do mundo, a tarde vai chegando ao fim e um alvoroço de gaivotas próximo atiça a curiosidade de Nancy. Sabe aquela história de que não se deve incomodar um animal (nem de estimação) quando ele está comendo? Então, embora a surfista não tenha (?) a menor intenção de incomodar o festim das gaivotas numa carcaça sangrenta de baleia, acaba despertando a ira de um imenso tubarão branco, o dono da carniça, que a ataca e se põe a caçá-la. Acuada num pequeno afloramento de rocha em águas rasas, na companhia de uma gaivota, além de cuidar de um grave ferimento, Nancy precisa encontrar um jeito de se livrar do peixão (sempre à espreita!) antes da próxima (e fatal) maré alta.

É difícil falar da “trama” simples de Águas Rasas sem parecer spoiler (já mostrado nos trailers): uma mulher texana (inocente!) acuada por um tubarão branco (territorialista) numa praia mexicana. Para o espectador não satisfeito com a mera e esquecível “diversão” sádica, enquanto o tubarão caça a norte-americana loira de biquíni, pode passar o tempo especulando a “real” intenção dos realizadores ao contar uma história com imagens de tirar o fôlego: metáfora reversa ao xenófobo Donald Trump?..., o homem (predador) versus a natureza (violada)?..., os poderosos (até King Kong) preferem mesmo as loiras?..., o feminismo contra o machismo? Você decide!


Com pitadas de suspense (de pouco susto!) e indisfarçada pegada trash, principalmente no hilário desfecho do combate entre a “inteligência” humana e a força “animal”, Águas Rasas dá algumas pisadas em águas-vivas (ôps!), quando exagera no trauma e no melodrama familiar de Nancy, mas também encara boas ondas, quando trata da relação homem x tecnologia x natureza (numa cena breve mais muito significativa aos zumbis de celular que perderam a noção da beleza do mundo ao seu redor). As cenas risíveis de ataques do tubarão (a moralista e trôpega sequência completa - aqui se faz aqui se paga - é digna do Syfi/Asylum) são compensadas por outras bem resolvidas, como a da arrepiante suturação de um ferimento e a reposição gráfica de elementos tecnológicos (leia-se: textos e imagens de celular e de câmera de vídeo) na telona.


Águas Rasas não é uma história baseada em fatos e, portanto, Collet-Serra poderia dar nadadeiras à imaginação (servindo muito mais que o manjado pirão de cação) sem se ocupar com críticas à “liberdade poética”. Em vez disso, (invocando mas) menosprezando a vocação trash da narrativa, surfa perigosamente no túnel melodramático e desliza no sentimentalismo piegas. Um pouco mais de atenção (ou seria intencional?) evitaria que objetos de cena e diálogos entregassem parte da trama flutuante, subestimando o espectador mais atento. Tudo bem que seu anzol é destinado ao público adolescente, mas será que ele vai morder a isca de um enredo visivelmente raso e se deliciar pegando jacaré na marolinha?

sábado, 6 de agosto de 2016

Crítica: Esquadrão Suicida


Esquadrão Suicida
por Joba Tridente

Após o fiasco de Batman vs Superman - A Origem da Justiça (2016), do Zack Snyder, a taciturna DC, inspirada (ou invejosa?) pelos excelentes desempenhos dos tresloucados Guardiões da Galáxia (2014) e Deadpool (2016), nos cinemas, outra vez ataca com a pretensão (impossível?) de superar os números (e a qualidade) da concorrente Marvel. Material de Heróis vs Vilões não lhe falta..., já bons argumentos e roteiros cinematográficos com um mínimo de humor e menos drama(lhão) parecem (ainda) a cada dia mais distante...


Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016), com roteiro tosco e direção sonolenta de David Ayer, novamente desvela os pontos fracos das produções DC. O filme de ação e ação e ação tem um argumento infantilóide e indigno até de Contos de Fadas: um bando improvável de criminosos desclassificados, chantageados pelo governo americano, deixa uma prisão de segurança máxima para enfrentar um bruxa fajuta e seu irmão bronco. Uma bruxa??? Você disse uma bruxa??? Sim!

Vamos ver se consigo melhorar isso: dois carnavalescos irmãos bruxos alienígenas (que, pela fantasia, parecem ter saído diretamente do set (ôps!) do mega brega Deuses do Egito, de 2015) indignados por não serem mais venerados como deuses, resolvem submeter os humanos aos seus caprichos e (assim como em trocentos outros filmes, inclusive de animação!) mergulhar a Terra nas trevas. Oh! Aí, com a “morte” do Superman (como se “viu” em Batman vs Superman) e o luto (?) do misterioso Homem Morcego (Ben Aflleck), quem poderá salvar os americanos da Bruxa má (e sem coração!) do espaço sideral que tomou o corpo da insossa arqueóloga June Moone (Cara Delevingne)? Quem? A Dorothy? O Mágico de Oz? Não, esse é um serviço sujo para o inacreditável e improvável Esquadrão Suicida, criado pela psicopata agente Amanda Waller (Viola Davis) e que reúne os melhores criminosos da pior qualidade..., também psicopatas (de bom coração): Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Fernandez), com participação especial de Katana (Karen Fukuhara), interferência de Coringa (Jared Leto)..., sob o comando do oficial militar Rick Flag (Joel Kinnaman).


Com um famigerado elenco de personagens tão descerebrados, imagina-se ter em mãos (certas e ou competentes!) uma história pra se deitar e rolar numa trama cheia de ironia, humor ácido, esculhambação... Porém, o que se vê na telona, é apenas uma história medíocre pra se deitar e dormir, mesmo com o tiroteio sem fim, a destruição sem fim, a matança sem fim (e sem sangue!)..., igual a trocentos outros recentes filmes de super-heróis, inclusive feitos pela concorrente Marvel.


A trama de bruxaria (ridícula!) começa até curiosa, lembrando a peça sinfônica Pedro e o Lobo (1936), de Sergei Prokofiev (1891-1953) na apresentação de cada personagem. Enquanto o inspirado Pokofiev utiliza instrumentos musicais, o desastrado Ayer usa trechos de música pop para “desenhar” cada perfil..., só não sei onde foi parar (porque não ouvi além do trailer) I Started a Joke (Confidential Music - ft Becky Hanson). Toda via rotatória, no entanto, não demora pra narrativa virar um caos com seu enredo sem talho e nem galho pra se amarrar no passado, presente e ou futuro. E dá-lhe sentimentalismo barato envolvendo papais bandidos, casaizinhos bandidos e suas famílias adoráveis. Oh! Tem certeza? Claro! Haja coração para aquietar os sentimentos mea-culpa dos papais Pistoleiro e El Diablo e a apaixonite aguda (arghhh!) da Arlequina e Coringa, da Bruxa/June Moone e Rick Flag, da viúva Katana e a alma do marido... Cansei! Cadê o Deadpool?

A apresentação dos personagens é fundamental para se saber quem é quem nessa arapuca de fã de HQ dos degenerados, o problema é que..., antes de ir combater uma bruxa extraterrestre sem noção e que de tão basbaque seria reprovada até no jardim da infância da Escola de Bruxaria e Feitiçaria de Hogwarts..., cada personagem não recebe mais que “duas linhas visuais” em sequências sem começo e sem fim: 1. fulano é torturado (sem que nem mais porquê) na prisão; 2. fulano é preso em ação (dramática) criminosa. Um perfil desses e nada é a mesma coisa. Mas, como o enredo bobo e sem rumo é mais raso que um pires raso e o espectador não vai sentir empatia alguma por esses vilões “heróis” (sem personalidade)..., tanto faz como tanto fez a motivação criminosa. Não dá pra sentir alguma ternura nem pela Arlequina? Bem, o cérebro é seu..., se é que me entende! Afinal, um coração de papel embrulha qualquer baboseira..., até o estômago.



Enfim, considerando a narrativa confusa e totalmente sem ritmo; atores e atrizes no automático; efeitos especiais da pior qualidade (os monstrengos criados pela Bruxa parecem ter saído de algum capítulo da fase clássica trash do Doctor Who); o medonho e indefectível “buraco de energia no céu”; a armadura brilhosa do Incubus (Alain Chanoine); “diálogos” ruins; furos e clichês de arco dramático e ou moral (a imoralidade dos bandidos não faz deste um filme amoral); a total falta de humor (a caricata Arlequina até tenta, mas fica por isso mesmo: nada de graça nessa desgraça!)..., excetuando algumas cenas, umas três, não mais que meia dúzia, de belíssimo enquadramento gráfico..., tenho cá minhas dúvidas se a trupe vai voltar pra atazanar o Batman... Se bem que, numa época de violência fofura, tudo é possível!

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