terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Crítica: Incontrolável


Incontrolável

Cinema é que nem moda, hora mais, hora menos, volta um modelito que fez sucesso na década passada ou por aí. Eu já nem me lembrava mais do gênero catástrofe, com o advento do cinema-apocalíptico. Mas eis que chega Incontrolável (Unstoppable, EUA, 2010), dirigido por Tony Scott, um filme com muita ação, tensão e suspense (do princípio ao fim) para fã nenhum botar defeito. Ele lembra um bocado outras “produções descarrilhadas”, mas, em se tratando de catástrofe ferroviária, rodoviária, aeroviária, ovniviária, é claro que um sempre vai lembrar o outro, já que catástrofe para se catastrófica tem que fazer muito estrago. E olha que Incontrolável (que me espanta, no Brasil, não receber o título de O Trem Assassino - ou algo parecido - tão ao gosto dos tituladores) é inspirado em fatos reais.


Incontrolável conta a trajetória do Trem 777, uma locomotiva toda computadorizada, com 39 vagões, carregando produtos tóxicos, que, por falha humana (evidentemente!), fica descontrolada e, sem maquinista, sai atropelando (a 240 quilômetros por hora) tudo que encontra pela frente, colocando em risco a vida da população de algumas cidades nos EUA. A empresa ferroviária, mais preocupada com a sua imagem perante a sociedade financeira, do que propriamente com a população, tenta algumas iniciativas (uma delas é tão sem noção que vai provocar riso, mas que, pensando bem, é tipicamente americana) para evitar a tragédia que se anuncia. Porém, como o “vilão dos trilhos” é uma pesadíssima máquina sem freios (e sem sentimentos), as estratégias vão caindo por terra. Quando todas as esperanças parecem definitivamente perdidas, a missão heróica de parar a composição enlouquecida fica nas mãos profissionais e amadoras de dois ferroviários que só tinham saído de suas casas para cumprir mais um dia rotineiro de trabalho.

Incontrolável traz os clichês de praxe nesse tipo de produção, onde tragédia pouca é bobagem, para envolver o espectador (e a espectadora). Assim, entre atropelamentos e explosões bem dirigidas, fotografadas e montadas num ritmo alucinante, vêm à tona os tradicionais melodramas pessoais dos protagonistas. Frank Barnes (Denzel Washington) é um pai que busca se dedicar às duas filhas adolescentes. Will Colson (Chris Pine) é um pai que está impossibilitado de ver o filho. Frank é um profissional em fim de carreira e Will é um profissional iniciante, querendo mostrar serviço. A bordo do trem 1206, para não sair dos trilhos, eles vão se ver obrigados a deixar as preocupações familiares de lado, para salvar a vida de milhares de pessoas e uma cidade que, por azar, está no itinerário sem destino do “trem-bomba”.


Baseado no roteiro de Mark Bomback, a narrativa é bem amarrada, conta com ótimos efeitos especiais e trilha marcante. Incontrolável dá ao público aquilo que se espera desse tipo de filme: diversão! Trágico ou não, verídico ou não, a platéia quer se divertir, se emocionar, se apavorar, se contorcer na cadeira, e nisso Tony Scott é um mestre. Acredito até o que filme provoque algumas lágrimas nos (ou seria nas?) mais sensíveis. É um drama de (muita) ação que só tem graça ver no cinema, na tela grande, lugar de todo e qualquer filme (de qualidade ou não) e que, acredito, ficaria muito melhor se fosse em 3D. Para quem gosta do gênero vale o ingresso..., depois se esquece os dois. A estréia está prevista para o dia 7 de Janeiro de 2011.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Crítica: Enrolados


Enrolados
pra desenrolar o mau humor

Já não é novidade que a maioria dos filmes de animação é bem melhor que a maioria dos filmes de ficção que cai de paraquedas por aqui, via EUA. Portanto, quem é fã do gênero e de um bom cinema, não deve perder o divertido Enrolados, mais uma aposta certeira da Disney na releitura de um clássico dos Contos de Fadas dos Irmãos Grimm: Rapunzel. Fique atento é uma releitura, portanto, não espere ver aquela velha história, mas essa é tão boa quanto, e muito mais movimentada, engraçada e enrolada. Estréia dia 07 de Janeiro de 2011.

Esta versão fala do drama de um casal real, cuja Rainha, grávida, adoece e somente a infusão de uma rara flor poderá curá-la. A planta, escondida pela vaidosa Gothel (que é a cara - haja plástica! - da espetaculosa Cher), é encontrada e a Rainha é salva, dando à luz uma linda menina: Rapunzel. No entanto, para tristeza de todos, a vingativa e maldosa Gothel sequestra a criança. 18 anos depois a busca pela princesa perdida continua e aí conhecemos o decidido cavalo Maximus (o melhor personagem); o engraçado e superprotetor camaleão Pascal; o ladrão Flynn Rider e seus dois comparsas; o impagável bando de malfeitores sonhadores (outro achado genial). Não demora e, em meio a perseguições de praxe, num belo recanto, damos de cara com a torre-prisão onde a jovem bela e inocente Rapunzel que, entre outras ocupações, se exercita penteando diariamente os 21 metros de seus cabelos dourados.


O excelente roteiro de Enrolados (Tangled), na verdade, não era a primeira opção da Disney, que pensava numa sátira ao conto Rapunzel, com um título de Rapunzel Destrançada (Rapunzel Unbraided). Parece que era cabelo demais para destrançar e acharam melhor enrolar. Com isso o público tem uma deliciosa animação que é uma ótima comédia, para começar bem o ano. O que nunca é demais ressaltar, independente da qualidade do 3D, é a evolução técnica. Hoje em dia uma animação não se basta apenas numa olhada, tantos são os detalhes a serem observados. Em Enrolados além da impressionante textura e movimento das roupas (principalmente de Rapunzel) e das flores na janela, tem as pinturas feitas por ela, os fios de cabelo, o contagiante clima de fantasia no desenho do castelo, da taverna, da floresta, da torre.


Enrolados (Tangled, EUA, 2010), com direção de Byron Howard e Nathan Greno, é a 50ª animação da Disney e traz de volta a música tão característica dos seus clássicos desenhos, e sem chatear o espectador, que poderia pensar (ih, mais uma musiquinha!), já que ela tem a ver. Mas, como nem tudo é um prazeroso e inesquecível musical, há um mal-estar que poderia ter sido evitado. A irritação fica por conta da incômoda “dublagem” de Luciano Huck, “dando vida” ao protagonista Flynn Rider. Como se não bastasse o volume do seu áudio, muito superior ao dos outros dubladores, é impossível encaixar a imagem de um na persona do outro, além da “piada” do nariz (será essa a razão de tal convite?). Dublagem já é algo terrível, com as vozes de sempre dos profissionais da área, mas contratar “celebridades” do momento pra dublar, principalmente animação, é o fim! Duvido que alguém vá assistir a um filme só porque ele foi dublado por um “humorista”, uma “cantora”, um apresentador...


Feito o desabafo, se a conhecidíssima “voz” não incomodar (na versão dublada e sem SAP) esqueça qualquer compromisso (mesmo que inconsciente) com lição de moral e bons costumes ou mensagens edificantes, relaxe e mergulhe num mundo fantástico, repleto de sequências de (literalmente) tirar o fôlego, e role de rir com a determinação de Maximus, com a valentia de Pascal, e com as performances apaixonantes dos maiores malfeitores do mundo animado.

No próximo ano a grande expectativa cinematográfica fica (também) por conta das animações brasileiras como: Brasil Animado (de Mariana Caltabiano); Lutas (de Luiz Bolognesi); A Floresta É Nossa! (de Paulo Munhoz); Minhocas (de Arthur Nunes e Paolo Conti); Bruxaria (de Virginia Cúria); Nautilus (de Rodrigo Gava, Clewerson Saremba e Eduardo Campos). Tomara que convençam e arrebatem o público com produções esbanjando técnica e muita criatividade em 2 ou 3D. Está mais do que na hora de Santo Animado de Casa fazer bons Milagres nas grandes salas!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cinema: Cartão Virtual de Natal de HOP


Cartão Virtual de Natal de HOP

Em abril estréia HOP, uma comédia animada que narra as confusões em que se mete Fred (James Marsden), um sujeito preguiçoso e sem trabalho que atropela o Coelho da Páscoa (Russel Brand), ao voltar para casa. Já que o Coelho não pode pular, por causa de uma pata quebrada, o preguiçoso é pressionado com a tarefa de salvar a Páscoa. O filme se torna em uma queda de braço entre a icônica criatura religiosa e o preguiçoso, ambos sem maturidade.

Aproveitando a comemoração Natal (do Papai Noel), a Universal está disponibilizando um Cartão Virtual de Natal de HOP, aqui para o Brasil. Pra quem ainda não enviou a sua mensagem ou quer conhecer a novidade é só clicar em HOP.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Crítica: Tron - O Legado



Tron - O Legado

Fã de Tron - Uma Odisséia Eletrônica (Tron), escrito e dirigido por Steven Lisberger em 1982, estava ansioso pra ver o que viria em Tron - O Legado. Como não sabia (ou imaginava) o que esperar, confesso que o achei bacana (com algumas ressalvas), talvez mais pelo envolvimento com os belos efeitos visuais.



Tron – O Legado (Tron: Legacy, EUA, 2010), dirigido por Joseph Kosinski, traz uma história (até) simplória e assimilável por qualquer criança ou adulto plugado ou não em game, ou no Tron do século XX, que fez a cabeça de muita gente que se maravilhava com os portais de possibilidades que se abriam com a nova tecnologia, ainda que ao alcance de poucos, bem poucos. Ela fala dos anseios entre criador e criatura, das expectativas entre pai e filho e da perturbação causada pela ausência de um mestre no mundo real ou virtual. As pessoas e as máquinas mudaram muito nestas últimas três décadas. Aquele que antes conduzia, agora é praticamente conduzido, prisioneiro de uma tecnologia nova a cada dia.


Desta vez, quem nos transporta para dentro da máquina, para as armadilhas da Grade, é Sam Flynn (Garrett Hedlund), filho de Kevin Flynn (Jeff Bridges). Ao investigar o desaparecimento do seu pai, ele acaba descobrindo, meio que por acaso, o cibernético universo criado por Kevin. O problema é que aquele mundo virtual vem sofrendo mudanças desde que foi criado, para o bem e o mal da evolução eletrônica. Ali, Sam é um usuário (um vírus), presa fácil de programas avançados, e mesmo que não conheça as regras do jogo, vai ter que jogar. Nessa plataforma repleta de inimigos ele precisa descobrir em que malha da Grade seu pai se encontra e, com a ajuda da guerreira Quorra (Olivia Wilde), resgatá-lo e tentar escapar do domínio de Clu (Jeff Bridges), um programa mestre obcecado pela idéia de perfeição, dentro e fora do computador.


Com roteiro de Edward Kitsis e Adam Horowitz, a ficção Tron - O Legado, tem cara de continuidade. Talvez por isso não se aprofunde em questões como o conflito de interesses econômicos na Encom, empresa herdada (e desprezada) por Sam, preferindo investir no (batido) dilema vilão e mocinho(s). Carta na manga pra uma eventual continuidade? Resta apreciar, através de magníficos e luminosos efeitos especiais, o reflexo de um mundo humano num mundo virtual, onde a meta é o poder. A supremacia do autoritário em detrimento da harmonia. A purificação da raça cibernética, sincronizando o que está dentro com o que está fora, antes que alguém dê um Ctrl+Alt+Del. O côncavo e o convexo, no mesmo espelho, modificam o corpo, não a mente. Mas, será que o público que busca novidade na ficção científica quer continuar vendo a mesma história de sempre?


Ao apresentar este universo retrô, para os novos espectadores (acostumados a games de novíssima geração), os criadores perdem um bocado de chão e (mesmo com o diferencial de pioneiro), infelizmente, acaba sendo mais um numa imensa lista de filmes pós-Tron, que exploram o entra e sai de usuários e de personagens em games. É um filme mediano, cuja melancolia reinante é acentuada pela irreconhecível e melodramática trilha do Daft Punk (que só funciona no filme). Ele carece de humor, alegria, personagens e diálogos mais consistentes e convincentes. É (sem dúvida) muito bonito (apesar de pouquíssimas cenas em 3D), mas ao final fica a sensação de que é só isso. Ou seja, uma previsível aventura (sem sangue, sexo, romance) que se assiste, embevecido com o apelo visual, e logo se esquece. Tudo bem que é um filme tipicamente Disney, mas, precisava ser tão família? Em tempo, dizem que em IMAX o 3D realmente impressiona.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Crítica: Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos


Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos

Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, EUA, Espanha, 2009), de Woody Allen, é mais um daqueles mix que só ele sabe fazer: dramático, engraçado, melancólico, irônico, sensual. Só que, desta vez, um pouco mais triste e quase sem esperança de que “tudo” (ainda) pode dar certo, já que nem “tudo” sai como os seus personagens esperam. Sonhadores (às vezes fúteis), eles se atropelam nos seus desejos (pessoais, sexuais, profissionais). Surpresas acontecem na vida real e na tela de cinema, queiram ou não as gentes de cá ou do lado de lá da ficção.


Sagaz, enquanto rolam os créditos iniciais (e finais) rola a música tema de Pinóquio, clássica animação da Disney, ganhadora de dois Oscars em 1941 (melhor trilha sonora e melhor canção): When You Wish Upon a Star (de Leigh Harline e Ned Washington): When you wish upon a star/ Makes no difference who you are/ Anything your heart desires/ Will come to you (…) If your heart is in your dream/ No request is too extreme/ When you wish upon a star/ As dreamers do (…) Fate is kind/ She brings to those who love/ The sweet fulfillment of/ Their secret longing (…) Like a bolt out of the blue/ Fate steps in and sees you through/ When you wish upon a star/ Your dreams come true. A balada fala que ao fazer um pedido a uma estrela, não importa quem você seja, se o pedido for de coração, ele será atendido. A versão de Leon Redbone é tocante e antes que o espectador comece a se debulhar em lágrimas, lembrando das peripécias do menino de madeira que virou menino de verdade, uma frase Shakespeareana: A vida é cheia de som e fúria, mas no final não significa nada, encerra o prólogo.


No palco armado, numa Londres em qualquer lugar do mundo, cada personagem choraminga sua dor, ciente do seu ponto de fuga. Helena (Gemma Jones), na meia idade, não aceita a separação e busca respostas (pagando e bebendo para ouvir o que quer) nas consultas a uma futuróloga charlatã, que lhe garante que ainda vai encontrar um homem alto e moreno (do título original). O ex-marido Alfie (Anthony Hopkins) acredita poder recuperar a juventude perdida e, na tolice dos “enta”, busca o “afeto” de uma garota atriz/acompanhante: Charmaine (Lucy Punch). A filha do casal, Sally (Naomi Watts), com o casamento em crise, busca a felicidade no trabalho (enquanto não conquista a independência financeira), sonhando com o amor do patrão Greg (Antonio Banderas). Roy (Josh Brolin), marido de Sally, é um escritor (frustrado) de um sucesso só que, infeliz no amor e na profissão, se apaixona pela vizinha de vermelho Dia (Freida Pinto). Acreditar em si mesmo exige um pouco mais do que força de vontade. Caso contrário, a rasteira é certa.


Nesta nova trama de Woody Allen, o espectador cai de paraquedas no seio de uma família pra lá de complicada. Cada um remói seu problema achando que a culpa é sempre (a falta de complacência) do outro. Um ciclo vicioso que começa e termina em Helena. Se há muita verdade nos desejos dos personagens (amor, sucesso, felicidade, trabalho, filho, casamento), há também muito jogo de cena, pra enganar a solidão e as (pequenas?) frustrações cotidianas. Helena se consulta com uma vidente cartomante (que lhe prevê um futuro promissor) porque é muito mais barato (e produtivo) do que se consultar com um psicanalista (que não lhe vê futuro algum). Crédulos ou incrédulos cada um se deixa cegar pelo egocentrismo. O amanhã pode estar nas mãos do Acaso, do Destino ou das Cartas de um Tarô, e o tal homem alto e moreno, não passar de uma metáfora.


Apesar de todo o seu ceticismo em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, não acho que Woody tenha perdido a mão como diretor ou roteirista, como alegam os seus detratores. É um drama curioso e, dependendo do estado de espírito de espectador, bem engraçado. Talvez esse riso (não digo gargalhada) venha depois da exibição, ao se lembrar de alguma passagem, principalmente nas trocas de palavras e farpas entre Helena, Sally, Roy. Os atores estão ótimos e a trilha sonora é maravilhosa. Para fãs (ou não) é mais um bom filme com a assinatura de um mestre cinematográfico em constante questionamento (social, filosófico, moral, religioso...). Ah, e de brinde ainda tem boas, divertidas e dramáticas reviravoltas. O público não perde por esperar para ver se (afinal) o novo livro de Roy vai fazer mais sucesso que o primeiro (no surpreendente final).


Ao fim da sessão, imediatamente me lembrei da música As Aparências Enganam. Acho que ela poderia tranquilamente encerrar o filme. Diz a bela canção, de Sergio Natureza e Tunai, imortalizada por Elis Regina: As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões/ Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague/ Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são/ O alimento, o veneno, o pão, o vinho seco, a recordação/ Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver/ As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões/ Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele/ Se ha neve cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser/ Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar/ Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor/ As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam/ Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões/ Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno/ Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali/ Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera/ No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Crítica: As Crônicas de Nárnia: O Peregrino da Alvorada



As Crônicas de Nárnia: O Peregrino da Alvorada
por Joba Tridente

Vi a mais recente aventura cinematográfica As Crônicas de Nárnia: O Peregrino da Alvorada (The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader, Reino Unido, 2010), e achei encantadora. O filme infanto-juvenil, dirigido por Michael Apted tem uma narrativa mágica e envolvente. O roteiro de Christopher Markus, Stephen McFeely e Michael Petroni prima pela simplicidade de só querer contar (e bem!) uma história. E conta, para o deleite do cinéfilo mais ranzinza.


Nesta nova aventura, Edmundo Pevensie (Skandar Keynes) e Lúcia Pevensie (Georgie Henley), com seu antipático e mimado primo Eustáquio Clarence Scrubb (Will Poulter), são tragados por uma pintura e lançados ao Mar do Leste de Nárnia, de onde são resgatados pelo Rei Cáspian (Ben Barnes), que comanda o belíssimo navio O Peregrino da Alvorada. Na embarcação, além da experiente tripulação, se encontra também Ripchip (voz do ator britânico Simon Pegg), o simpático rato guerreiro, que vai ter um papel fundamental na união do grupo para defender Nárnia de forças e aberrações malignas. As tentações são muitas e cada um ainda vai ter que enfrentar o próprio medo, ou ser derrotado por ele.


Não li nem um dos sete livros de C. S. Lewis (1898-1963), publicados de 1950 a 1956, que registram As Crônicas de Nárnia, mas gostei (de cara) do primeiro filme: As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005). Não vi o segundo: As Crônicas de Nárnia: Príncipe Cáspian (2008), que disseram ser melhor e agora superado por este As Crônicas de Nárnia: O Peregrino da Alvorada. A série parece seguir um esquema de qualidade semelhante a Harry Poter, que foi melhorando filme a filme. Mesmo não tendo lidos as obras originais (ou talvez por isso) de um e de outro, sou fã das adaptações. É bem verdade que não gosto de alguns efeitos especiais de Harry Poter (as cobras são ridículas), mas os deste Peregrino da Alvorada são impressionantes.


Aos preconceituosos, vale lembrar que os traços da tão alardeada cultura cristã de Lewis estão sutilmente presentes e devidamente incorporados na narrativa fluida. Pra falar a verdade, os tais elementos cristãos (avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho, preguiça), chamados de pecados, que muitos ressaltam nas obras de Lewis, estão presentes na literatura desde muito antes do cristianismo, portanto, não é o que poderia embaçar a sua literatura, se fosse o caso. Também porque são facilmente encontrados em qualquer conto (clássico) de fadas ou maravilhoso. O filme tem excelente ritmo e ação na medida certa, pra envolver toda a família numa deliciosa e emocionante viagem rumo à fantasia (acredite!) sagrada e profana.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mostra na Internet: Campanha Tropa de Paz


Favela no Ar
Mostra na Internet: Campanha Tropa de Paz

A partir de hoje, 6 de dezembro de 2010, e durante toda a semana, a Elo Company está realizando a Campanha Tropa de Paz, uma mostra online capaz de fazer o espectador internauta repensar seriamente o recente conflito (segurança pública e narcotráfico) na cidade do Rio de Janeiro.

A intenção é provocar e ampliar a discussão sobre as comunidades carentes, seus moradores e toda sua dinâmica, sem entrar nos superficiais clichês midiáticos de violência e guerra, revelando uma nova perspectiva sobre a favela. Ao todo serão 14 produções, entre ficções, documentários e animações, exibidos nos canais Elo Cinema e Elo Comunidade.

Filmes da Campanha Tropa da Paz: 5 x Favela - Agora por nós mesmos; Sabotage; Favela no Ar; Cidade da Rima; Tambores e Metais; Lugar Nosso; Vida Bandida; Di Menor; Um Fio de Esperança; Dedicado à; Depois Rola o Mocotó; Meu barraco é na Favela; Fita Mixada; Uma Chance para Crescer.

Com a Campanha Tropa de Paz, a Elo busca promover o cinema como ferramenta de reflexão e conscientização social, assim como fez com a Mostra Cine Cufa (no mês agosto), Mostra Especial da Favela e Festival Online Entretodos (em novembro).

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crítica: Megamente


O lado bom do mau é lado mau do bom. Será que o homem realmente nasce bom e a sociedade o corrompe? Se o homem é fruto do seu meio social, o crime merece castigo ou perdão? Acho que nunca uma observação de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi levada tão ao pé da letra, como nesta admirável e divertida animação da DreamWorks.

Megamente (Megamind, EUA, 2010), dirigida por Tom McGrath, é um daqueles filmes irônicos que vai mexer com os conceitos de muita gente. Ele narra as peripécias do superdotado Megamente, um megavilão que não tem lá muita sorte com as suas vilanias contra o seu arquiinimigo Metroman, defensor da população de Metro City. Megamente e Metroman são criaturas extraterrestres despachadas, ao mesmo tempo, dos seus respectivos planetas em colapso, pelos seus pais biológicos. O primeiro encontro entre eles ocorreu ainda no espaço e, se não fosse o acaso, a história de cada um poderia ser diferente. Aqui na Terra as aeronaves-berços de Metroman (branco, forte, bonito) e de Megamente (azul, magricela, inteligente) pousaram em lares diferentes (muito diferentes!). As “famílias” que os adotaram os moldaram de acordo com o meio em que viviam. Em comum, mesmo, cursaram (ou quase) a mesma escola para crianças superdotadas. E só!


Megamente é uma divertida paródia a diversos heróis e vilões de HQ, Cinema, Televisão, especialmente do paladino de Metrópolis, o certinho (demais) Superman. O bonitão Metroman nunca levou o franzino Megamente a sério, mas está sempre pronto a defender Metro City, e a sequestrável repórter Rosane Rocha, dos seus ataques. Vivendo e trabalhando num velho observatório, com seu Criado, um dramático peixe-gorila-robô, meio trapalhão, que o acompanha desde bebê, o super-gênio Megamente estuda detalhadamente seus planos mirabolantes que nunca saem exatamente como o planejado. Quando um de seus desafios ao Metroman dá errado, mas dá certo, ele fica feliz, eufórico, pra logo depois cair em depressão, ao se dar conta de que, com o desaparecimento inesperado do super-herói, a sua vida de vilão não tem mais sentido.

Melancólico e insignificante para o povo, Megamente é ao mesmo tempo um anti-bandido e anti-herói que busca reconhecimento, mas, mais do que isso, busca o amor, o carinho que lhe foi negado desde a infância e que Metroman teve de sobra. Carente e decidido a preencher o seu tempo (e o vazio deixado pelo sumiço de seu adversário favorito) ele decide criar um novo herói para Metro City e assim ter com quem lutar. A questão é que, se mais uma vez as coisas não saírem exatamente como ele planejou, o seu gesto de “benevolência” pode virar ato de “malevolência”. É ver pra crer porque o poder em mãos (erradas) de um sujeito apaixonado é uma catástrofe, e torcer pra aparecer alguém capaz de dar um jeito na situação.


Conhecendo todos os percalços da vida do mirrado homem azulado, pra chegar onde quer chegar, não tem como o espectador não torcer pra que, pelo menos uma vez, o azar dê uma trégua e ele se dê bem (de verdade) na vida. A deliciosa animação tem muita ação e homenagens a heróis de HQ e, como é comum nas produções da DreamWorks, referências cinematográficas, como a dedicada ao Batman, numa cena engraçadíssima (pinçada dos filmes de Joel Schumacher, com seus closes nas “redundâncias” de Val Kilmer e George Clooney). Pode ser que os pequenos (e também alguns adultos que não se ligam em heróis) não entendam algumas piadas. Mas, estes momentos de descontração não interferem no ritmo ou na compreensão narrativa que convida o público a uma saudável (e profunda) reflexão sobre o que é ser e ter. Vale ressaltar também a divertida e bem humorada trilha sonora que, de enrosco em enrosco, pode até emocionar.

Megamente tem excelente roteiro de Alan J. Schoolcraft e Brent Simons e uma qualidade técnica impressionante (repare na água da chuva que corre pelo asfalto enquanto Rosane caminha pela rua). A versão em 3D só não é perfeita por conta da insossa dublagem brasileira. Mas, como quem prefere filmes dublados nem repara na falta de vida dos “dubladores”, tudo bem. Não se pode vencer sempre!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Crítica: Rede Social


Rede Social ou Rede de Intrigas?

Fui ver o thriller Rede Social (The Social Network, EUA, 2010), de David Fincher, sem saber coisa alguma sobre Mark Zuckerberg, “criador” do Facebook, e saí do cinema sabendo menos ainda. Não sei se ele era (é?) um nerd babaca ou que se fazia (faz?) de babaca, um vilão, um ladrão, um gênio oportunista ou sequer o que está na tela é verdade ou especulação. Também porque ele não colaborou nem com o livro The Acidental Billionaires, de Ben Mezrich, e muito menos com o roteiro de Aaron Sorkin (escrito ao mesmo tempo em que o livro), que serviu de base para esta “cinebiografia” que trafega em mega-velocidade. O espectador que perder um byte acaba se afogando em bits.


Segundo Sorkin, quando convidado pra desenvolver o roteiro, The Acidental Billionaires era apenas algumas páginas e ele recebia os capítulos conforme ficavam prontos. Para adiantar o trabalho resolveu pesquisar por conta própria. Sem conseguir falar com Zuckerberg, criou a sua própria página, aberta à opinião dos usuários e buscou os afetos e desafetos que fizeram parte do grande momento criativo do programador, que já prometia revolucionar o mundo da informática, ainda criança em Dobbs Ferry, Nova York. O que está em discussão no filme é se Zuckerberg realmente criou sozinho o Facebook ou se apropriou indevidamente do código fonte ou da idéia de criação de um site parecido (Harvard Connection), que ele desenvolveria a pedido dos irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e de Divya Narendra, e se (também) passou uma rasteira no seu principal incentivador, primeiro sócio e ex-amigo Eduardo Saverin (que, curiosamente, é o menos antipático no filme e quem mais colaborou com Sorkin).


Como o filme não me despertou nenhuma simpatia (ou interesse) pelos “personagens” dessa rede de intrigas sem fim, que parecem dispostos a confundir e não a explicar (estratégia bem trabalhada por Sorkin e Fischer, para que – se possível – o espectador tire a sua própria conclusão), resolvi buscar informações outras pra saber se realmente o tal Zuckerberger é tão cafajeste como é pintado. Se no filme o bando nerd e assemelhados parecem farinha do mesmo saco, movidos a pó, álcool, sexo e rock’n roll, na “vida real” Mark Zuckerberg “é” (ou se faz) de uma apatia sem fim. Conforme um ótimo perfil dele, publicado na The New Yorker, em 20 de setembro de 2010, por José Antonio Vargas, o monossilábico e antissocial criador do Facebook parece ser o sujeito mais esquisito da face da Terra. Se não, porque um bilionário moraria numa pequena casa alugada em Palo Alto, onde tem a (discretíssima) sede do Facebook? Se o dinheiro (como está sempre afirmando) significa nada para ele, porque não faz doações? Arrogante, prepotente, tímido ou falso, a verdade é que esse gênio da informática ("Eu sou o CEO, Idiota”) sabe muito bem esconder o código fonte do seu jogo e blefar mesmo quando não é preciso.


Com uma inteligência acima da média, Zuckerberg demonstrou interesse por computadores desde criança. Aos sete anos já tinha um professor de computação. Na pré-adolescência criava jogos, programas e, com certeza, inimigos. É um sujeito totalmente contra a privacidade dos outros. O seu foco no Facebook é divulgar (partilhar) para todo mundo conectado, as informações (particulares ou não) postadas por quem se registrar, menos as dele, é claro. Como disse Dan Fletcher, em 20 de maio de 2010, num fantástico artigo para TIME.com (Como o Facebook está Redefinindo a Privacidade): O Facebook alterou o nosso DNA social, nos deixando mais afeitos a nos abrirmos. Mas a premissa do site pressupõe uma contradição: o Facebook é rico em momentos íntimos - você pode comemorar lá os primeiros passos da sua sobrinha ou lamentar a morte de um amigo próximo - mas a empresa está fazendo dinheiro porque você, em algum nível, exibe esses momentos online. Os sentimentos que você vivencia no Facebook são sinceros; os dados que você fornece alimentam o lucro financeiro.



Inconscientemente ou não, assim como na Internet (onde as aparências enganam), o filme Rede Social se parece um bocado com um site do tipo Fórum (ou mesmo uma página do Facebook), onde os personagens (usuários) dizem o querem e ouvem o que não querem, com a presença ou não de um advogado (mediador). Um fala e acusa daqui e outro linka e se defende dali, abrem-se arquivos, emails e perfis num ritmo vertiginoso, e ao final fica o dito pelo não dito. As informações são tantas (e misturadas) que a certa altura até parece um bando de nerds delinquentes fazendo muito barulho por nada. Se bem que este nada vale alguns bilhões, virtuais ou não, mas bilhões. Dizem! Para Aaron, o que ele e Fincher fizeram foi pegar um conjunto de fatos e criar uma verdade. Ou melhor, mais especificamente – criar três verdades. Não é uma história de uma única verdade. São três verdades entrelaçadas. Se você pensar nos fatos que não estão sendo contestados como pontos que você precisa ligar, nós ligamos esses pontos e produzimos um filme – porém entre os pontos existem a) os personagens, e b) o fato é que você é quem decide qual é a verdade. Nós não lhe dizemos ‘só existe esta verdade’. Nós apresentamos algumas verdades - três para sermos mais exatos, todas reveladas sob juramento por três litigantes que não querem cometer perjúrio - em busca de algo maior, ou seja, o conjunto de circunstâncias que tornou tudo isso possível.


Rede Social é (ao menos) um filme curioso. Tem uma excelente direção de atores jovens, onde se destacam: Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg), Andrew Garfield (Eduardo Saverin), Armie Hammer (gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss) e Justin Timberlake (Sean Parker). A trilha é competente e acentua bem a tensão do princípio ao fim. Mas, confesso que, apesar de toda a sua dinâmica estética, não prendeu muito a minha atenção. Pode até ter acontecido, mas é difícil de acreditar que o Facemash (precursor do Facebook) tenha sido criado como um ato de vingança, um desejo incontrolável de detonar (em rede) a ex-namorada que deixou Mark arrogantemente falando sozinho em um bar. Quem gosta de uma boa fofoca sobre código fonte, manipulação de dados, e “gente” nerd, geek e CEO, vai adorar. Já o usuário comum, que não está nem aí pra quem cria facilidades de navegação (programa, aplicativo, software, download), se ficar até o final, vai dizer: E daí?
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