quarta-feira, 30 de maio de 2018

Crítica: Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim


Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim
por Joba Tridente*

Sete anos após a criativa releitura musicada de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, na animação britânica (com fortes elementos teatrais) Gnomeu e Julieta, o romântico casal de gnomos de jardim, está de volta para mais uma empolgante história. Desta vez, pegando carona nas páginas literárias do misterioso mundo de Sir Arthur Conan Doyle, a dupla se junta aos agentes Sherlok e Watson, para resolver o estranho sumiço de gnomos dos jardins de Londres.


Repleta de ação e aventura, a animação Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim (Sherlock Gnomes, 2018), com bom roteiro de Ben Zazove e direção cuidadosa de John Stevenson (Kung Fu Panda, 2008), começa com uma estratégica mudança de cenário: sai a bucólica Stratford-Upon-Avon (terra natal de Shakespeare) e entra a urbana Londres, onde os recém-chegados Gnomeu (James McAvoy) e Julieta (Emily Blunt), juntam-se ao arrogante e egocêntrico adorno de jardim Sherlock Gnomes (Johnny Depp) e seu subestimado parceiro Dr. Watson (Chiwetel Ejiofor), para encontrar a sua família que, assim como os gnomos dos jardins da capital inglesa, desapareceu sem deixar rasto. Bom, na verdade, o sequestrador até que tem deixado pistas por onde passa, sugerindo que o autor dos crimes é o malvado Moriarty (Jamie Demetriou), o mascote de uma doceria e arqui-inimigo de Gnomes. O problema é que Moriarty morreu no último confronto com Sherlock. Então, quem está sequestrando e se fazendo passar pelo vilão? Qual o destino dos gnomos sequestrados? Será que o famoso Sherlok Gnomes, com seu incomparável espírito analítico, conseguirá resolver mais esta caso? É ver pra crer.


Fazendo referências a várias histórias de Conan Doyle para Sherlock Holmes, incluindo O Cão dos Baskervilles e o polêmico O Problema Final, o desenho animado, que faz bom uso de elipses, para dar mais agilidade à envolvente trama, também apresenta uma insinuante versão “Barbie” da única mulher a vencer o genial Sherlock (nos livros): a admirável Irene Adler (Mary J. Blige)..., numa sequência fascinante em que ela brinda o espectador com Stronger Than Ever, a nova composição de Elton John e Bernie Taupin. Há, pelo menos, mais umas duas outras sequências muito boas, mas perde a graça, se eu citar.


Assim como no filme anterior, o requinte no detalhamento e na textura dos gnomos (com todo tipo de avaria) dá uma veracidade ainda maior na composição irretocável de cada expressivo personagem. E falando de excelência técnica e CGI, o que também chama muito a atenção são os impressionantes flashes (em 2D) que ilustram as lembranças (em preto e branco) de Sherlok e (em cores) de Moriarty ao desvelar o raciocínio investigativo de um e o plano maléfico do outro. Enquanto a mente de Gnomes se aproxima da meticulosidade estética de M.C. Escher (1898-1972), a de Moriarty não vai além de uns rabiscos.


Não resta a menor dúvida de que, ao investir na releitura de obras literárias de grandes escritores universais, estes adoráveis personagens (com suas idiossincrasias humanas) têm potencial para maravilhar espectadores de diferentes fixas etárias e mesmo despertar-lhes o interesse pela literatura. Vejo estes graciosos gnomos e adornos de jardim, cheios de personalidade, como uma trupe de atores pronta para representar textos dos mais diversos autores nos mais diferentes cenários. Eles se saíram muito bem com William Shakespeare e com Conan Doyle. É uma ideia original que, em mãos certas (de roteiristas e diretores), sempre resultará num divertido espetáculo para toda a família..., desde que esta não esteja preocupada com lição de moral e ou se algum dos gnomos será quebrado durante o espetáculo.


Enfim, considerando a história infantojuvenil de ação e suspense e alguma ousadia na linguagem visual (e entrelinhas) muito bem costurada; as reviravoltas convincentes; a narrativa inteligente que prioriza mais o conteúdo que o humor fácil, já que é engraçada, mas não chega a ser hilária; o elenco de ponta que dá voz aos gnomos e adornos de jardim; a seleção musical do produtor (da animação), compositor e cantor Elton John, que não incomoda; a qualidade do roteiro de Ben Zazove e a notável direção de John Stevenson..., Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim, que é uma produção britânico-americana, tem tudo para deixar o seu público alvo (pensante) ligadíssimo e, consequentemente deve agradar também aos acompanhantes (pensantes) da garotada.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Crítica: Deadpool 2


Deadpool 2
por Joba Tridente

No campo das artes, o sucesso por ser imprevisível. Nem sempre as grandes apostas acompanham as grandes promessas. Se na área da música o fardo é pesado, no cinema pode até encerrar carreiras de estrelas prodígios. Na era do bigue-bangue hollywoodiano que catapultou o Universo Marvel para além das revistas de histórias em quadrinhos e vem desvelando galáxias para que também o Universo DC tenha oxigênio para os seus balõezinhos um tanto sombrios, a vida de herói e ou anti-herói na telona nem sempre é garantia de perenidade quanto aquela das páginas de um gibi. Também porque não tem a menor ideia de que recorte da sua vida irá viver na cinebiografia.

Às vezes, de onde menos se espera, aparecem algumas pérolas: Guardiões da Galáxia, Mulher Maravilha, Pantera Negra, Homem-Formiga, por exemplo. De outras, onde mais se aposta: Esquadrão Suicida, O Homem de Aço, Batman vs Superman: A Origem da Justiça, por exemplo, vem o pedregulho. Roteiro, direção, carisma de personagens e atores, tudo influi, tudo flui para o sucesso e ou para o fracasso no giro da roleta nas mãos do espectador juvenil (que gosta de qualquer coisa em movimento) e ou do espectador adulto um pouco mais exigente na diversão.


Dois anos depois de estourar a boca do balão com Deadpool, o desbocado, safado e irônico Wade Wilson/Deadpool (Ryan Reynolds), o metalinguístico personagem dos quadrinhos Marvel, está de volta às telonas com Deadpool 2 (Deadpool 2, 2018) com a mesma irreverência para enfrentar Cable (Josh Brolin) um soldado do futuro que viaja no tempo para exterminar Russell/Firefist (Julian Dennison), um adolescente poderoso e descontente com o tratamento que recebe do rígido diretor (Eddie Marsan) do reformatório para jovens mutantes Broadstone House. Para enfrentar este caçador implacável, Deadpool vai criar o seu próprio grupo de heróis, o X-Force, que conta, entre outros pretendentes ao ofício, com a ágil sortuda Domino (Zazie Beets). Também retornam para abrilhantar este fumegante capítulo: Vanessa (Morena Baccarin), a namorada de Wade Wilson; o taxista Dopinter (Karan Soni); o barman Weasel (TJ Miller) e os mutantes “X”: Colossus (voz de Stefan Kapicic) e Negasi Teenage Warhead (Brianna Hildebrand).


Ao dizer que Deadpool 2 é um filme família, Deadpool não está necessariamente falseando a verdade, fazendo um chiste, porque, do seu conturbado ponto de vista e sem levar em conta a sua atividade de risco, ele está bem mexido com a ideia de um lar pra chamar de seu e até mesmo sonha com filhos. Toda via da violência e pancadaria, no entanto, para um mercenário (ainda que imortal) com a sua folha corrida, a lua de mel com o amor da sua vida pode se tornar uma lua de fel. Tudo é uma questão de trabalho e ou de tempo.

Quem assistiu ao filme anterior (fã ou não do anti-herói) e sabe do potencial do personagem e de suas incômodas idiossincrasias não vai se preocupar ou se horrorizar com seus atos insanos, já que o tresloucado Deadpool continua cumprindo à risca a sua sina de não dar trégua a bandido. Já o espectador de primeiro contato pode se incomodar um pouco com alguma cena ou diálogo..., mas nada que o faça sair da sala. Pois, passado o “susto” diante de situações esdrúxulas e sanguinolentas (exaustivamente exploradas em games, em filmes de heróis e em telejornais), vai se divertir e rir um bocado dessa paródia que, se forçar comparação, é bem mais “leve” que a anterior.


Deadpool 2 mantém ligada a chave de impropérios do personagem, quase que do princípio ao fim. Estão lá (a cada cena) as tiradas espirituosas e ou sacanas, as citações de filmes como Yentl (1983) e Instinto Assassino (1992), por exemplo, que a maioria do público jovem deve desconhecer, e de obras mais recentes (que não vou citar por conta de spoiler), a azaração com os personagens da DC e da própria Marvel. Quando ao humor, há piadas e gags para todos os gostos, apelos e compreensão, por isso alguma coisa é capaz de passar batida e ou não terá a menor graça..., principalmente aquelas de humor negro (que nem todo mundo entende). A mim, toda a sequência de formação e ataque da X-Force é sensacional, com destaque para o antológico salto de paraquedas da equipe, principalmente por causa de um detalhe genial (nada de spoiler!). Bem, também tem a inimaginável e hilária sequência de crescimento de partes faltantes de Deadpool..., só vendo pra crer!


Enfim, pra variar, não dá pra falar muito de Deadpool 2, sem cometer spoiler. Portanto..., considerando a eficiência do roteiro (sem enrolação) de Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds; a excelente direção e ótima coreografia de luta de David Leitch; o notável desempenho do elenco, com Reynolds arrasando novamente, na boa companhia de Brolin e Beets (que rouba um bocado de cenas)..., a nova aventura do falastrão Deadpool, embora tenha um certo ar de melancolia e um “discurso” até catártico sobre a morte e ou o morrer (nada que aborreça o espectador), é diversão certa para quem já se acostumou com esse universo de heróis de HQ em cenas desenfreadas (ôps!) de ação gore-alucinante. Não fica nada a dever ao filme original.

Ah, tem duas cenas durante os créditos finais. Segundo informações na Wikipedia, é improvável um Deadpool 3, já que a intenção da Disney/Marvel é investir em X-Force. Mas, sabe como é, nesse mundo onde a bilheteria é o fiel da balança dos produtores...


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Crítica: A Noite do Jogo


A Noite do Jogo
por Joba Tridente

O cinema é feito de grandes e pequenos prazeres..., e também de prazer nenhum. E nem sempre é questão de estado de espírito durante a sessão. Tem mesmo a ver com argumento, roteiro, elenco e direção, que somente em mãos certas são eficazes. Como é o caso da sensacional comédia A Noite do Jogo (Game Night, 2018).


A Noite do Jogo é uma deliciosa surpresa de qualidade cada vez mais rara no entretenimento humorístico hollywoodiano. A comédia adulta e excêntrica, protagonizada por um elenco notável, ótimo roteiro de Mark Perez e brilhante direção da dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, gira ao redor de um grupo de amigos que semanalmente se encontra para se divertir com jogos de tabuleiro e também comer salgadinhos, bebericar e jogar conversa fora. 

No entanto, a noitada tranquila..., que sempre acontece na casa do romântico casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams), para onde se dirigem Kevin (Lamorne Morris) e Michelle (Kylie Bunbury), também casados, e o tolo Ryan (Billy Magnussen) com suas namoradas, ocasião em que o estranho vizinho policial Gary (Jesse Plemons) é propositadamente esquecido..., está prestes a mudar, com a chegada de Brooks (Kyle Chandler), o irmão mais bonito, mais empreendedor e mais bem sucedido de Max, propondo um jogo inédito valendo o seu belo Corvette Stingray. A proposta de Brook é simular o sequestro de um dos participantes, deixando pistas pela casa. Porém, assim que ele acontece, a confusão está armada, já que nem tudo é o que parece, tanto para os personagens quanto para o espectador, nessa trama inteligente e hilária envolvendo máfia, bandidos, policiais, atores e pessoas comuns se divertindo em busca de um prêmio. (Não assista ao trailer!!!)


É bom lembrar que, com sua bem dosada mistura de comédia de erros com thriller, excelente ritmo e ação alucinada (na maior parte) pastelão, A Noite do Jogo tem nada a ver com o também divertido Jumanji: Bem-vindo à selva e ou o enfadonho Jogador nº.1. A sua plataforma é de outro nível. A sua pegada é mais adulta e bem mais ousada, ao brincar de brincar com a metalinguagem cinematográfica, fazendo inesquecíveis citações de atores, personagens e cenas de filmes de ação e violência. E mais, além de não subestimar a inteligência do espectador, a sua trama perspicaz consegue a proeza de iludir o público (sobre o que é real ou falso) até o final da narrativa. (Não assista ao trailer!!!)


Despretensiosa e instigante, A Noite do Jogo, com suas histórias entranhadas umas nas outras, é uma comédia de erros que funciona não apenas pela engenhosidade do roteiro, mas por envolver prazerosamente o espectador em uma trama irretocável.., até mesmo a cenografia é um trunfo. Fazia um bom tempo que eu não ria tanto. O seu humor é genuíno e para todos os gostos: humor negro, humor bobo, humor chulo, humor pastelão, gags visuais geniais..., com sequências antológicas (de chorar de rir), como a da extração de uma bala.  (Não assista ao trailer!!!)


Enfim, quanto menos você souber do surpreendente enredo, maior a será a sua satisfação e muito mais intensa a sua imersão nessa história maluca e cheia de reviravoltas até a sequência final que acompanha os créditos. O elenco, que inclui Sharon Horgan, na pele de Sarah, a acompanhante da vez de Ryan, está afinadíssimo e pra lá de descontraído. Cada ator/personagem tem o seu tempo de brilho na tela, mas quem rouba todas as cenas é Jesse Plemons. Se gosta de uma comédia astuciosa e realmente engraçada, não perca. Ah, e o mais importante: Não assista ao trailer!!!



*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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