sexta-feira, 29 de abril de 2011

Crítica: Água para Elefantes

por Joba Tridente 

Água para Elefantes (Water for Elephants, EUA, 2011), de Francis Lawrence, baseado no best-seller homônimo de Sara Gruen, está dividindo opiniões de ontem e de hoje, para ontem e para hoje. Dizem que a romântica produção tem cara de filme antigo. Mas, qual é o problema em se fazer um filme de época nos dias de hoje? Ou melhor, como se fazer um filme, cuja ação se passa na década de 1930, sem que ele seja ou pareça ser um filme de época da década de 1930? Bahhh!

Água para Elefantes é, na medida, para quem aprecia um bom drama romântico, com pitadas de tragédia. Com roteiro assinado por Richard LaGravenese, que tomou a liberdade poética de unir personagens e pinçar apenas o essencial do livro de Gruen, o filme conta (muito bem) a história de Jacob Jankowski (Robert Pattinson), um jovem estudante de veterinária que perde os pais, num acidente, e se vê obrigado a pegar a estrada em busca de trabalho. Ao embarcar num trem, ele acaba se juntando à trupe do Circo Benzini Bros, que passa por dificuldades financeiras, por conta da Grande Depressão norte-americana. Ali, no palco das grandes ilusões, em meio a acolhedora família circense, Jacob sofre um bocado, nas mãos do psicótico August (Christoph Waltz), o dono do circo que não poupa nem a sua esposa Marlena (Reese Witherspoon), a amazona por quem se apaixona. No entanto, apesar das dores do ofício, perdas e humilhações, esta também será uma inesquecível e enriquecedora experiência de vida para ele: “Fui eu que peguei o trem, ou foi o trem que me pegou?”.

O mérito de Água para Elefantes, e que pode ser a causa de desagrados, é que ele não trata exatamente da recessão econômica americana, e sim daqueles que tentam sobreviver à Crise de 1929, como os integrantes do Circo Benzini Bros, capazes de ações sórdidas ou solidárias. A Grande Depressão é “mero” pano de fundo para o desenvolvimento de um (perigoso) triângulo amoroso e da relação deste (improvável) trio com os demais artistas circenses e, principalmente, com a exploração (cruel) dos animais que usam nas atrações principais. É um filme que emociona e provoca no espectador sentimentos que vão do riso às lágrimas, passando, com toda certeza, pela indignação. É uma história simples, talvez até banal, apesar das cenas mostrarem o contrário, na sua linearidade. Não é previsível, porque desde o início sabemos como ela irá terminar, mas surpreende pela bela e tocante narrativa.

A produção tem um apuro técnico invejável, na reconstituição de época, com ótima direção de arte. O figurino é caprichado e a bonita trilha sonora de James Newton Howard, complementa as cenas, sem induzir emoções baratas no espectador. A fotografia de Rodrigo Prieto faz a diferença no retrato de uma geração desesperada com a recessão econômica que engolfava ricos e pobres, artistas e plateias. É provável que muita gente vá ao cinema para ver o galã Robert Pattinson, que a crítica adora malhar, desde que o jovem ganhou projeção (e arrebatou corações) com a saga Crepúculo, que não vi e que, (talvez) por isso, ele não me pareceu tão mau ator assim. Pode ser ainda um pouco limitado, mas parece esforçado e disposto a convencer que (também) não é apenas um rostinho bonito no crepúsculo dos deuses. Reese Witherspoon, com seu tipo físico comum (mirrado), interpreta com alguma graça a glamourosa artista do circo decadente e Christoph Waltz, literalmente apavora, com seu maléfico August. Entretanto, quem rouba a cena é a adorável Rosie, interpretada pela veterana Tai, uma maravilhosa elefanta de 42 anos.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Crítica: Thor



THOR
por Joba Tridente



Para os fãs de HQs é sempre um risco quando um personagem tem as suas aventuras adaptadas para o cinema. Nem sempre o herói encontra roteiristas e ou diretores à altura. E, pior, geralmente (re)contam a sua história incluindo passagens (que nunca existiram) ou excluindo momentos importantes. Como se não bastasse, de tempos em tempos, os super-heróis têm a sua personalidade virada do avesso (Batman que o diga!), de forma que nem eles mais se reconhecem pelo famigerado nome.

Thor (Chris Hemsworth), o filho de Odin (Anthony Hopkins), é um jovem impulsivo e arrogante que, na noite da sua coroação, acaba provocando uma guerra contra os Gigantes de Gelo, colocando o Reino de Asgard em perigo. A sua punição é o exílio e quem se beneficia é o seu maquiavélico irmão Loki (Tom Hiddleston). Apesar de ser destituído dos seus poderes e, principalmente, do famoso martelo Mjolnir, o exilado Thor não fica tão mal na fita. Assim que literalmente cai do céu, no Novo México, enquanto se ambienta, conhece e (é claro!) se apaixona pela astrofísica Jane Foster (Natalie Portman) e é cortejado pela SHIELD (Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão). Porém, vai descobrir que, de nada vale ser um cara saradão, se não tem poderes para enfrentar o Destruidor.
  

O filme se preocupa, primeiramente, em situar o espectador no universo mítico nórdico. Depois, trocando uma coisinha aqui e outras ali (que o fã do herói vai sentir falta e reclamar), desvela a personalidade rebelde do Deus do Trovão e as razões da sua queda na Terra (Midgard). Como o tempo do cinema é bem menor (e mais caro) que o de uma história em quadrinho ou animação, e os fatos acabam sendo atropelados (ops!) e abreviados, resgatei na WEB o sermão de Odin (da HQ), quando exila Thor: "Tu és o filho favorito de Odin! Além de valente e nobre, tua alma é imaculada! Mas ainda assim és incompleto! Não tens humildade! Para consegui-la deverás conhecer a fraqueza... sentir dor! E para isso necessitas deixar o Reino Dourado e despir-te de tua aparência divina! A Terra, lá aprenderás que ninguém pode ser verdadeiramente forte se, em realidade, não for humilde! Por um tempo não mais serás o Deus do Trovão! A tua memória também tirarei! Agora, vai! Uma nova vida te espera!".


Thor (Thor, EUA, 2011), dirigido pelo shakespeariano Kenneth Branagh, é um simpático épico de ação e aventura, assim na Terra como em Asgard. Com roteiro de Ashley Edward Miller, Zack Stentz e Don Payne, baseado no personagem criado pelos míticos Stan Lee e Jack Kirk, em 1962, o Deus do Trovão ganha uma versão que, apesar da tradicional infidelidade autoral, deve agradar quem cresceu lendo as suas aventuras ou assistindo a série (mais ou menos) animada na televisão. É uma produção grandiosa e, excetuando a farsa do 3D, tem efeitos visuais esplendorosos. A direção de Branagh é eficiente, consegue um feito inesperado: humanizar o malvado Loki (do inspirado Hiddleston), além de fazer um filme divertido e com uma boa dosagem cômica (sem piadas escatológicas) e de ação. Não sei será um divisor de películas marvelianas, mas está muito acima da média que se vê dos filmes de heróis. Ah, e quem quiser saber o que reserva a próxima produção que trará Thor, na companhia de Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Nick Fury, em Os Vingadores, não deve sair da sala antes dos créditos finais.

Para saber mais sobre as animações e quadrinhos de ThorFANTVDesenhos AnimadosHeróis HQ.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Livros sobre Cinema: Grátis

Dramaturgia de Série de Animação

Está sendo lançado, junto com as novas séries (Carrapatos e Catapultas e Tromba Trem)premiadas pelo Programa ANIMATV, o livro Dramaturgia de Série de Animação, escrito por Sérgio Nesteriuk. Esta é a primeira publicação, em língua portuguesa, no Brasil, sobre o tema: “A proposta de desenvolvimento deste livro surgiu durante a estruturação da Oficina de Desenvolvimento de Projetos do ANIMATV, a partir da percepção de uma escassez bibliográfica sobre animação em língua portuguesa. Ao resgatar um pouco da história das séries de animação e de socializar a riqueza das informações do projeto ANIMATV, este livro tem o mérito de chamar a atenção dos leitores para os bastidores dos processos criativos e de produção das séries, servindo como fonte inspiradora para novas produções.

Dramaturgia de Série de Animação será distribuído para mais de 500 instituições (universidades, oficinas de audiovisual, escolas de animação e bibliotecas), em todos os estados do país, e já está disponibilizado gratuitamente para download no site da
TV Cultura.

 













Coleção Aplauso

Para quem gosta de cinema, teatro, televisão, e não tem tempo financeiro para adquirir todas as publicações, vale a pena ficar atento aos lançamentos, em versões PDF e TXT, da Imprensa Oficial de São Paulo, que continua disponibilizando, gratuitamente para download, a excelente
ColeçãoAplauso, com grandes edições sobre atores, autores, diretores, roteiristas.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Crítica: HOP - Rebeldes Sem Páscoa















O mês de abril vai chegando ao fim com o lançamento de HOP - Rebelde Sem Páscoa, uma produção em live-action/animação (mistura de atores reais com animação) que deve agradar a garotada dos 5 aos 12 anos.

HOP conta a história de Junior, um coelho adolescente que prefere passar o tempo tocando bateria, a ter que se preocupar com a fábrica de doces e ovos de chocolate, do seu pai, o Coelho da Páscoa. O jovem é filho único e quer se dedicar à carreira de músico, mas o velho Coelho espera que ele assuma o seu lugar e continue a produzir as doçuras pascais, na Ilha da Páscoa, que serão distribuídas em todo o mundo. Enquanto isso, em Los Angeles, um homem de 30 anos, Fred Lebre (James Marsden), vive uma crise sem fim, com a sua família, por estar constantemente desempregado e não ter a menor ideia do que quer fazer na (e da) sua vida. Em busca do sucesso pessoal, Junior foge para Los Angeles e o destino se incumbe de juntar ele e Fred, numa louca aventura. A estranha amizade, entre um humano e um coelho, vai fazer com que os dois acabem descobrindo o lugar de cada um no mundo real.


HOP - Rebeldes Sem Páscoa (HOP, EUA, 2011), de Tim Hill, baseado em história e roteiro de Cinco Paul e Ken Daurio, tem uma narrativa simples e de fácil compreensão pelo público (alvo) infanto-juvenil, mesmo que ainda não esteja na fase de “duelar” com os pais sobre o seu futuro profissional. Há uma certa manipulação (ou seria preocupação?) de valores a favor da tradição, família e patrimônio, meio que travestida de egoísmo, intolerância e incompreensão (tanto filial quanto paternal), que passará batida pela criançada, mas servirá aos pais como reflexão sobre o ter e ser filho. Sempre que penso em filhos presentes e futuros, me lembro de Os Filhos, o fabuloso texto de Gibran Kalil Gibran (1883-1931), publicado em O Profeta: Uma mulher que carregava o filho nos braços disse: "Fala-nos dos filhos." E ele falou: Vossos filhos não são vossos filhos./ São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma./ Vêm através de vós, mas não de vós./ E embora vivam convosco, não vos pertencem./ Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,/ Porque eles têm seus próprios pensamentos./ Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;/ Pois suas almas moram na mansão do amanhã,/ Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho./ Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,/ Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados./ Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas./ O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força,/ Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe./ Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:/ Pois assim como ele ama a flecha que voa,/ Ama também o arco que permanece estável.


HOP tem uma animação primorosa, muito colorida e, praticamente, irretocável. Os personagens animados (coelhos e pintinhos) são simpáticos e graciosos. Porém, o mesmo não se pode dizer dos caricatos personagens do “mundo real”. Apesar do avanço tecnológico, a mistura de humanos com seres animados (ainda) causa desconforto visual. Um ator adulto, de carne e osso, sabe que vai sempre estar em desvantagem ao contracenar com uma criança ou animal real. Dividir a cena com um fofinho personagem animado, então, é covardia. O sujeito pode até botar banca de protagonista, mas vai ser mero coadjuvante, já que os seres animados são mais interessantes e (é ilusório mas) parecem mais “reais” que ele. O filme tem clichês suficientes para agradar o espectador infantil (correria, vilania, humor bobo, doces, piadas escatológicas), mas não acredito que o acompanhante adulto (ou adolescente) desembarque feliz nesse universo fantástico. Quanto ao significado mitológico (anglo-saxão) e religioso (judaico-cristão) da Páscoa, o filme sequer toca no assunto, preferindo manter o foco na característica mais comercial, digamos assim, da data: consumo de ovos de chocolate. Quer dizer, em dado momento, um dos personagens (da família Lebre) até aparece pintando os tradicionais ovos de galinha, criando as famosas Pêssankas (ucranianas), mas sem maiores explicações sobre o seu simbolismo.

A animação tem potencial para ser bem mais do que é, não fosse a preguiça criativa dos seus realizadores. Em se tratando de arte cinematográfica (entre outras) nem sempre falar menos resulta em mais. Dependendo da competência de quem fala, não sai do zero.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Crítica: A Garota da Capa Vermelha


Se ao ouvir falar de Chapeuzinho Vermelho você logo se lembra daquela musica do Braguinha (1907-2006): Pela estrada afora eu vou bem sozinha/ Levar esses doces para a vovozinha/ Ela mora longe e o caminho é deserto/ E o lobo mau passeia aqui por perto/ Mas à tardinha, ao sol poente/ Junto à mamãezinha dormirei contente, cantarolada pela garota, na sua adaptação do conto dos Irmãos Grimm, esqueça! A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, EUA, 2011), dirigido por Catherine Hardwicke, traz a menina de capuz vermelho, a estrada, a floresta, a vovozinha, o lobo, o lenhador..., só que numa linguagem adolescente, longe da versão infantil conhecida e (apesar de alguns resquícios) também distante do conto de Perrault. A história de Chapeuzinho Vermelho tem várias versões e, talvez, pela diferença de foco e público, as duas mais famosas são a (violenta e sem final feliz, aliás, sem final) recolhida por Charles Perrault (1628-1703), publicada em 1697, e aquela amenizada pelos Irmãos Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), que todos conhecem nos dias de hoje, com um final pra lá de feliz, menos para o lobo. A narrativa que chega às telas prefere caçar (níquel) na espinhosa floresta do cinema (recente) que generaliza a mitificação do “feio”.


Se em Chapeuzinho Vermelho a mensagem (subliminar?) é para que as crianças (principalmente as meninas) não falem com estranhos, em A Garota da Capa Vermelha a mensagem (subjetiva?) é para que as adolescentes tomem cuidado com a aparência de quem quer que seja. É que, quem vê cara, não vê maldição. Conforme o roteiro de David Leslie Johnson, a aldeia de Daggerhorn, onde Valerie (Amanda Seyfried) mora com seus pais Cesaire (Billy Burke) e Suzette (Virginia Madsen), é um lugarejo que vive uma estranha trégua com um lobo que, todos os meses aparece para aterrorizar os moradores e recolher um animal deixado em sacrifício para ele. Valerie é apaixonada pelo lenhador Peter (Shiloh Fernandez), mas, no dia em que seus pais acertam o seu noivado com o fundidor Henry (Max Irons), mortes estranhas começam a acontecer na aldeia, mudando o rumo dos acontecimentos e a vida de todos. Para piorar, quem chega para desvendar os assassinatos, é o Padre Solomon (Gary Oldman), um Santo Inquisidor, com os seus Cruzados, transformando o conto na lenda do lobo doido.


A Garota da Capa Vermelha é um filme óbvio para românticas adolescentes consumidoras de seres crepusculares (vampiros) e genéricos (anjos, lobisomens), apesar da sua antropofágica trama não convencer no romance e muito menos no suspense pífio. O apelo “erótico” se basta nuns dois três beijinhos, uma roçadinha, olhares tortos e insinuação sexual (com direito a uma abominável simulação de estupro homossexual). O famoso lobo, gerado por computação gráfica, é amadoristicamente ridículo, mal feito. As suas ações (ataques e movimentos truncados) são risíveis, de tão ruins. Por conta disso, não se pode dizer que o filme não tem humor. Excetuando a fera, são dignos de nota a fotografia, direção de arte e figurino. Quanto ao belo elenco jovem, ele é apenas bonito, por enquanto. Já os mais viajados, como Gary Oldman e Julie Christie (Vovó), fazem o combinado e pronto.


A produção juvenil cumpre as normas da nova cartilha norte-americana e opta por não mostrar vestígios maiores de sangue, em cenas de violência explícita, para não causar constrangimento nos espectadores mais sensíveis. O que não é o caso, aqui, pois mal se vê o ataque do gigantesco lobo e ou as feridas causadas. No entanto, mesmo não optando pela sanguinolenta versão de Perrault ou a (quase) inocente dos Grimm, para quem insistir na lembrança da canção de Braguinha: Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau/ Eu pego as criancinhas pra fazer mingau/ Hoje estou contente, vai haver festança/ Tenho um bom petisco para encher a minha pança, vai ver que, no final, o lobo também faz a sua papinha, mas não de criancinha. A garotada pode até não sentir medo durante todo o filme insosso, mas nessa hora vai ter indigestão. Isso é, se entender de comida macabra!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CACINHO: Animando a Massa - II



Continuando, em ritmo stop motion e live-action, a parte final de desamassando Cacinho, que vêm fazendo história festivais de cinema Brasil afora.

CC: Costuma participar ou já foi contemplado por algum edital de estímulo ao cinema? Acha que esse tipo de incentivo, patrocínio, chega aos novos cineastas ou ele apenas privilegia os grandes de sempre?

C: Tenho pavor de burocracia. Sempre me enrolo ao preencher aquela papelada que é exigida e acaba indo faltando algo. Sei lá, não me dou bem preenchendo as papeladas, prefiro desenhar. Acho que todo artista é meio assim. Qualquer incentivo é sempre bem-vindo, o problema realmente é a burocracia. Aí os grandes levam vantagem, não há duvidas. Os editais que ganhei foram particulares, da Gravadora Trama, e da Vivo Telecomunicações.

CC: Ultimamente você está em evidência no Brasil e exterior, acha que depois de participar de um festival fica mais fácil ser selecionado para outros ou tem nada a ver, cada festival é um “vestibular”?

C: Com certeza! Quando você ganha um festival, outras portas se abrem, mas não quer dizer que seu filme irá classificar em todos os festivais que você se inscrever dali pra frente. Eu tento participar de todos os festivais que abrem inscrição. Cada um tem o seu corpo de jurados, então é um vestibular. Também procuro ir aos festivais que classifico porque, além de ver a reação do público, sempre se faz contatos com pessoas do meio, que tem o mesmo pensamento que você e que te indica outros festivais ou até mesmo que organiza algum e acaba resultando em um convite pra levar seu filme. E por aí vai.

CC: Além dos festivais, onde o público pode ver seus filmes?

C: Tenho a pagina do Youtube/cacinho, do vimeo/cacino e a da produtora, que está em construção.



CC: Como você vê o atual mercado cinematográfico para os filmes brasileiros de animação?

C: A animação brasileira está em franco crescimento. Festivais específicos estão sendo criados e nos tradicionais cada vez mais animações são inscritas. O Ministério da Cultura do Brasil (MinC) está realizando um convênio com o Ministério da Cultura de Cuba, para lançar uma escola de animação lá e aqui, começando com a produção do longa-metragem O Caminho das Gaivotas. (Conforme matéria na página do CTAV, o objetivo é experimentar, possibilitar e promover uma linha de produção que coadune anseios e desejos de uma política pública voltada para a qualificação da animação brasileira e de Cuba, no que diz respeito à produção voltada para a infância). Eu acredito muito nesta parceria.

CC: Você orienta oficinas de animação em todo o país ou só em Minas? Qual é o seu público alvo? O retorno é sempre satisfatório? Algum produto que tenha chegado a alguma mostra ou festival?

C: Tenho saído de Minas também. O meu público é diversificado, crianças, adolescentes e adultos. Já trabalhei com publico misturado, na primeira oficina que dei. Hoje separo por faixa etária, pois os interesses são os mesmos e a animação fica mais produtiva. No momento estou finalizando uma animação que fiz com alunos durante a oficina Sucata Animada, no FriCine Ambiental, em Nova Friburgo. Nós fizemos uma animação com sucatas, que foi apresentada no final do festival, e aí apareceu uma oportunidade de inscrever essa animação no concurso Água em Movimento, por conta do tema que ele trata. Então, eu e o ator Diogo Borges, que me auxiliou na oficina, gravamos algumas vozes que vão dar um melhor entendimento à história. O Diogo (que também é palhaço e manipulador de bonecos fantoches) trabalhou no meu curta Reviravoltas, que fiz para o TCC da faculdade.

CC: Quantos filmes já fez e qual lhe deu maior prazer?

C: Tenho mais de 20 curtas, além de animações (maioria) me arrisquei também em documentário e ficção, principalmente na época da faculdade e logo depois de formado.

CC: Depois do filme pronto e lançado, muitos diretores acham que poderiam ter feito melhor, começam a ver problema em tudo, já aconteceu isso com você?

C: Sempre acontece. O público vê uma animação no festival e acha o máximo ou ruim. Como é a gente que faz e vê o mesmo filme umas três mil vezes, sempre acha um defeito ou a falta de algo. Agora, pela trabalheira que dá fazer uma animação, mesmo depois que acho que tem algo errado nela, não arrumo não. Procuro é na próxima, não cometer o mesmo erro.

CC: Tem algum plano para um longa-metragem ou 3D? C: Estou com planos de mais curtas. Aliás, estou com uns cinco roteiros já em mãos. Minha ideia é fazer pelos menos dois curtas-metragens autorais por ano. Tenho conseguido isso. Por enquanto não quero me arriscar em 3D, não. Acho que ainda tenho muito que aprender da animação tradicional.



CC: A animação Reciclando Ideias, aquele do Robô que vai plantar uma árvore em outro planeta, foi feito bem antes de Wall.E (da Pixar), como você vê essa coincidência?

C: Dei sorte, fiz meu robozinho um ano antes deles (kkkk). Mesmo assim sempre tem um gaiato que acha que eu fiz depois. Eu acredito em coincidência, afinal, o mundo todo (quase) está pensando em reciclagem, em salvar o planeta da destruição que começamos. Falar em futuro sem robôs é praticamente impossível.

CC: Tem alguma técnica que prefira mais que outra, na animação?

C: Gosto muito do stop motion, pela plástica, pela possibilidade de continuar a usar as técnicas que aprendi na faculdade, pela construção de um pequeno mundo, tridimensional analógico, ele está ali de verdade, pode ser tocado e manuseado.

CC: Qual foi o primeiro filme que viu no cinema? Qual foi a sensação?

C: Na época, Barra do Piraí ainda tinha cinema, dois grandes e bonitos cinemas, e todo domingo tinha uma matinal, com filmes infantis. Se não me falha a memória meu primeiro filme no cinema foi Branca de Neve e os Sete Anões. A sensação é mágica, né? Qualquer filme encanta, imagina um clássico desses?

CC: A sua formação audiovisual se deu através do cinema ou da televisão?

C: Até meus 20 anos eu ia ao cinema sempre. Depois, um dos cinemas fechou e mais tarde o outro virou igreja. Então, se quisesse ir ao cinema, teria que ir a Volta Redonda. Como já tinha videocassete, passei a assistir aos filmes em casa. Acabei perdendo o costume de ir ao cinema, coisa que recuperei com a faculdade.

CC: Quando vê alguma animação, você assiste com olhar crítico, de um fazedor de animação, ou complacente, de um espectador que gosta de tudo?

C: Depois da faculdade, qualquer filme eu assisto com o olhar crítico, sempre vejo alguns furos de edição ou de continuidade, o que de certa forma me incentiva. Se os grandes erram (e erram pra caramba) dá pra ser, então, um pouco menos exigente comigo.



CC: Que gênero de filme te leva ao cinema: animação (que tipo?), ficção, aventura?

C: Animação sempre, qualquer uma, aventuras épicas, ficção científica e comédia, que é o tipo que eu mais gosto, depois da animação.

CC: Como você lida com a crítica às suas animações?

C: Como eu sei que eu ainda estou em formação, é sempre bom ouvir críticas e saber onde eu posso melhorar.

CC: Tem alguma animação sua que prefira mais que as outras?

C: Acho que sempre a última. Hoje a que eu gosto pra caramba é Coisa de Pele, mas, assim que as outras ficam prontas, eu passo a gostar mais delas. Acho que é porque é que eu a assisti menos.

CC: O que há de novo vindo por aí?

C: Estou editando a vozes da animação dos alunos de Nova Friburgo, tenho uma animação adulta já desenhada, que vou começar a scanear pra colorir, e já comecei uma nova animação do meu personagem Seilem, o rato branco do filme Viagem à Lua, onde homenageei o cineasta Georges Meliès, agora será a vez de Chaplin em Queijos Modernos.

CC: O quê lhe inspira? O quê lhe transpira?!

C: Minha mulher, minhas filhas e meus desenhos me inspiram, burocracia demais me transpira.



FILMES E FESTIVAIS:

- Pudim de Peixe - Festival do Minuto - 2010 - Internet - Receita Minuto: Prêmio Aquisição Nestlé.
- Asas da Liberdade - Festival de Cinema de Mariana/MG - 2010: Melhor Animação; 3º FIBOPS - 2010 - Concurso Cultural Elo Company: 3º lugar; I Inconfidentes; 8º FICI Festival de Cinema Infantil - 2010 - várias cidades: Indicado ao premio Brasil 2010.
- Coisa de Pele - V Locomotiva - Festival de Animação de Garibaldi: Prêmio Originalidade; X Festival Internacional de Cine de Temática Sexual - 2010 - Buenos Aires/Argentina: Seleção para a Mostra Brasil; 6º FICIFF - Festival Internacional de Cine Independiente de La Plata FestiFreak/Argentina - 2010: Seleção oficial - única animação brasileira na mostra.
- O Náufrago e a Sereia - 3º FIAE - Festival Internacional de Animação Erótica/2008 - Rio de Janeiro/RJ: Melhor Animação On Line - Prêmio Porta Curtas Petrobrás; X Festival Internacional de Cine de Temática Sexual - 2010 - Buenos Aires/Argentina: Seleção para a Mostra Brasil.
- Samba Morena - III Animaserra – 2008 – Teresópolis/RJ: 2º Colocado.
- A História de Seu João das Alfaces - WEB Cine Banana - 2008 - Sorocaba/SP: Melhor Filme; Festival de Vídeo Estudantil e Mostra de Cinema - 2008 - Guaíba/RS: Homenagem Especial - Mensagem Educativa; ANIMASERRA - 2009: 2º Colocado; I Festival de Cinema - Um Novo Olhar - 2010 - Ribeirão Pires/SP: Melhor Roteiro.
- Reciclando Ideias - Festival de Vídeo Estudantil e Mostra de Cinema - 2007 - Guaíba/RS: Melhor Animação; II Animaserra - 2007 - Teresópolis/RJ - 5º colocado. - Viagem à Lua - II Animaserra - 2007 - Teresópolis/RJ - 3º colocado; Primeiro Plano - 2007 - Juiz de Fora/MG - 3º Colocado.
- A Volta do Trem das Onze - Trama Universitário - 2005 - São Paulo/SP – Melhor Clipe para Música de Tom Zé: 2º Colocado e Clipe Oficial.
- Alberico Procura - Universo Olhar Digital - 2006 - Juiz de Fora/MG: Melhor Roteiro; II Festival Curta Três Rios/RJ: Menção Especial.
- Adivinha dos Peixes - Universo Olhar Digital - 2006 - Juiz de Fora/MG: Melhor Filme; I Animaserra - 2007 - Teresópolis/RJ - 3º colocado.

Fotos e Links:
4 - Asas da Liberdade

CACINHO: Animando a Massa - I



De Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, para Juiz de Fora, em Minas Gerais, e de lá, para o Brasil e o mundo, Cacinho, premiado diretor independente de filmes de animação, vem se destacando nos festivais que tem participado nos últimos anos. Claque ou Claquete abre espaço para publicar uma entremailvista com ele.

Cacinho é um diretor de cinema que trabalha com a cara e a coragem. Se tem patrocínio, faz o filme que deseja, se não tem, faz do mesmo jeito. Talvez um pouco mais simples, mas sem deixar a massa desmanchar e se espalhar pela bancada abaixo. Simples no nome e na arte grande, Cacinho nasceu em Barra do Piraí, cidade do sul fluminense, próxima a Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Em 2005 se mudou para Juiz de Fora, em Minas Gerais, pra fazer a faculdade de tecnologia em cinema e televisão.
No site Animado Desenho, ele se apresenta como um desenhista autodidata, que um dia acabou estudando cinema e agora faz desenhos animados. Uma vez falaram que eu parecia um desenho animado! Eu fiquei lisonjeado. Claro! Se bem que, no dia em que me foi dito, era um 31 de outubro, a gente estava numa festa do dia das bruxas, eu estava fantasiado de Frankenstein!!! Mas tudo bem! Será que assim vale? Bom mas mesmo que na verdade (ou não) eu não me pareça um desenho, eu sempre desenhei, nem sei se a primeira coisa que pedi foi mamadeira ou um lápis? Tenho que me lembrar de perguntar isso pra minha mãe! Em 48 anos de existência já fiz muitos desenhos, mas já perdi muitos também. E analisando bem, é como a vida! Uns vão outros vêm! É um ciclo que não para! Meus desenhos são assim, como a minha vida! Só olhando pra eles vejo o quanto evoluí. Desde o primeiro rabisco torto e estático, até a próxima animação que ainda farei, eles contam minha história.

Agora, em ritmo stop motion e live-action, espero desamassar Cacinho e finalmente saber de que ingredientes são feitos ele e seus bonecos animados que vêm fazendo história festivais de cinema Brasil afora.

Claque ou Claquete: Cacinho, você disse que era um desenhista autodidata que estudou cinema e fazia desenhos animados. Não sei se já perguntou à sua mãe, mas, não tem mesmo ideia de quando começou a desenhar?

Cacinho: Olha amigo Joba, não sei quando comecei. Fui alfabetizado em casa e me lembro que, na primeira série, minha professora pediu um desenho para a turma, acho que era sobre uma festa. Todos desenharam, mas ela pegou meu desenho e saiu mostrando pra todas as outras professoras. Sei que desenhava muito na escola, principalmente nas aulas que não me interessavam (matemática, física etc).
CC: Teve alguma influência ou referência gráfica?

C: Tive sim, várias, em épocas diferentes: Juarez Machado, Ziraldo, Maurício de Souza..., e todos os quadrinhos estrangeiros: Batman, Tarzan, Superman, Zorro..., e por aí vai.


CC: Conforme foi crescendo, melhorando o traço e dominando o desenho, pensava em fazer cinema de animação ou se aventurar apenas pelos traços de HQs, Cartuns, Charges?

C: Eu sempre tive curiosidade sobre animação. Mas, não tinha a menor ideia de como se fazia pra que um boneco ganhasse vida. Então me contentava em fazer meus rabiscos e arriscar algumas HQs em parceria com meu irmão mais velho (Edu Toribe). Criamos muitos super-heróis na adolescência, mas se perderam pelo caminho. Depois fiz um curso de eletricista, na Escola Profissional da RFFSA/SENAI. Na verdade queria ter feito desenho técnico, mas no ano em que eu entrei só abriu vaga pra eletricista e como o curso era uma espécie de emprego, pagava 1/2 salário mínimo pra gente estudar lá, então, eu fiquei. Foi ali que comecei a fazer caricaturas, primeiro dos professores, depois dos amigos.

CC: Chegou a trabalhar profissionalmente como desenhista de humor, publicitário ou ilustrador? Chegou a participar de algum Salão de Humor?

C: Trabalhei no sindicato dos metalúrgicos de Barra do Piraí (RJ), na prefeitura de Barra Mansa (RJ) e em uma escola primária particular, onde fazia as ilustrações das cartilhas, depois mais tarde, passei a dar aula lá de artes. O primeiro Salão de Humor que participei foi em Campina Grande, na Paraíba, em 1989, quando a campanha para presidente, Collor x Lula, estava quente. Fiz uma caricatura do Ulisses Guimarães, que era uma múmia egípcia. Depois tomei gosto pelos salões e participei de um montão.

CC: Antes de cursar cinema já havia tentado fazer alguma animação? Qual foi o resultado?

C: Eu achava que não, que nunca tinha animado algo antes da faculdade de cinema. Mas quando estava pra fazer a primeira animação, para um trabalho acadêmico, falei com o professor de direção que eu não tinha ideia de como fazer um desenho animado. Ele se virou pra mim e disse: Se você sempre desenhou, vai me dizer que nuca fez desenhos em sequencia, na beirada do caderno, e depois passava as folha correndo com o dedão e via eu desenho se animar? Quando eu respondi que sempre fazia isso nas aulas, ele me disse: Isso é animação você já sabe como faz.



CC: Acha que o curso foi fundamental para ser cineasta de animação? Em quê?

C: Claro, me ajudou a entender a linguagem cinematográfica, os planos, o jeito de editar. Tudo isso aplico nas animações que faço. Tanto em 2D quanto em stop motion, que é uma técnica que gosto de fazer, pois tenho que ter um pequeno set de filmagem e assim nunca me esqueço das aulas de fotografia, direção, produção, tá tudo ali, só que em escala menor.

CC: Hoje você já se aventura também pela ficção. É uma transição de gênero ou diversificação de linguagem? E, ainda, o que é mais interessante: animação ou ficção?

C: Na verdade a ficção que estou colocando hoje em festivais foi iniciada na faculdade, para o TCC. Eu entreguei o filme na data marcada, mas ano passado resolvi arrumar uns problemas de som e acabei fazendo uma nova edição, que gostei mais. Datei como 2010, porque só o terminei nesta data. Mas ela já é misturada, pois a lembrança do personagem principal acontece em desenho animado. Pra mim não tem um gênero mais interessante. Tudo é interessante, seja documentário, ficção, experimental, animação, ou até mesmo uma fusão entre eles. Mas a minha praia é a animação mesmo.

CC: Como foi participar do primeiro festival de filmes animados e a primeira premiação?

C: Quando terminamos de fazer o Alberico, o nosso primeiro trabalho acadêmico, foi um certo alvoroço na faculdade. A gente era da quarta turma de cinema e aquela era a primeira animação feita por alunos. Recebemos elogios de todos os professores e resolvemos acreditar no curta. Eu o inscrevi em um Festival, em Três Rios, e ele foi indicado a melhor filme, junto com mais dois. Perdemos o melhor filme, mas ganhamos um troféu de menção especial. Aí comecei a achar que a gente era bom (hehehehe) e resolvi seguir em frente. No mesmo ano entrei em um concurso da Gravadora Trama, com a mesma equipe da faculdade, e ficamos em 2° lugar. Com isso nosso clipe A Volta Do Trem Das Onze, do Tom Zé, virou o clipe oficial da música.



CC: O que aconteceu com a turma de animadores da faculdade? Nunca pensaram em continuar trabalhando em parceria, criar uma produtora ou algo assim? Alguém mais se destacou no meio, depois de formados?

C: Seguiram outros caminhos. Alguns saíram da faculdade e foram cursar outra academia. Os que continuaram com cinema, fazem outros trabalhos, mudaram-se de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro, acho até que tem mais campo. Se eu fosse mais jovem, como eles, talvez teria ido também. Mas estamos conectados.

CC: Você trabalha a partir de um roteiro ou é na base de uma ideia na cabeça, uma massinha nas mãos e uma câmera no tripé?

C: Geralmente escrevo o roteiro, faço a decupagem de direção e de direção de arte, desenho um storyboard bem rascunhado. Mas também já fiz animações sem roteiro, só com a ideia na cabeça e a massinha nas mãos.

CC: Afinal, você faz tudo sozinho ou tem uma esquipe?

C: Geralmente sozinho, mas tenho uns amigos que estão sempre em alguma animação. Chamo quando a produção for encomenda ou então se for rolar grana. Se não, vai de Cacinho, Lu e filhas mesmo.

CC: Elas colaboram porque são da família ou porque gostam mesmo? Tem alguma que pensa em seguir carreira ou que ao menos leva jeito?

C: As filhas ajudam por que gostam, mas não o suficiente para seguir carreira. Uma é formada e tem pós em meio ambiente, a outra é jornalista, gosta de desenho mas prefere moda. Minha mulher é uma entusiasta do meu trabalho, no stop motion, além da produção executiva, ela faz os figurinos dos personagens e ajuda na iluminação.

CC: E o seu irmão, aquele das HQs, não se interessa por cinema?

C: Meus irmãos também desenham. O mais velho (Edu Toribe) é músico amador e o mais novo (Elcio Tui) é poeta. A animação Coisa de Pele é uma junção de nossos trabalhos, música do Edu, poesia do Elcio e animação minha. Brinco que é uma produção EDELCA, Edu, Elcio e Cacinho. Tenho um videoclipe animado com a música Sopra Vento, que também contribuí com dois acordes e uma frase. Mas o interesse deles por cinema, por enquanto, é só o de assistir filmes.



CC: Quem banca seus filmes?

C: Quando o filme é autoral é minha produtora executiva, minha companheira de 30 anos de amor e loucuras, Lu Carvalho. Também uso parte da grana que recebo dando cursos e oficinas para produzir meus curtas. Agora, quando é encomenda (coisa rara) o filme se paga.

CC: Qual é o custo básico de um filme de animação?

C: São muitas variantes, cada técnica exige um esforço diferenciado, e com isso os preços variam muito. Por exemplo, numa animação 2D eu uso papel, lápis, muita borracha, depois tem que scanear todos os desenhos e colorizar cada um. São no mínimo 15 desenhos para dar um segundo de vídeo. No stop motion, temos que construir, em uma sala escura, um pequeno set de filmagem, os cenários, os personagens e cuidar da iluminação, pois a luz do sol se movimenta e se aparecer acaba ficando animada no filme. Se eu estou fazendo um filme autoral nem tenho que calcular nada, uso materiais que já usei em outros filmes ou mando ver na sucata mesmo. Mas, se for uma encomenda tenho que planejar, ver os materiais que vão ser utilizados e gastos e o tempo que vai durar a produção. Geralmente um filme de dois minutos demora uns 3 a 4 meses. Depois, se o cliente não quer a casinha que usei no filme dele eu a pinto, modifico e reaproveito em meus curtinhas, pra baratear os custos. É bem difícil calcular.

CC: Como tem sido o retorno do público nos festivais e na internet?

C: Muito boa a receptividade. Gosto de ir aos festivais para ver a reação do público assistindo ao filme pela primeira vez. E isso me incentiva a continuar.

CC: E o retorno financeiro? Já ficou rico ou está endividado?

C: Quando rola grana de premiação em festival eu invisto em equipamento pra melhorar a qualidade de meus filmes. Ainda não me endividei, mas não tô longe disso.

CC: Por conta das premiações já recebeu convite pra realizar filmes em parceria com grandes produtoras brasileiras ou estrangeiras?

C: Ainda não, é bem difícil isso. E também tenho muito chão e muitos rabiscos pra fazer.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Crítica: RIO



Rio
por Joba Tridente

Pelo que tudo indica, 2011 será o ano da graça animada. Ele começou ainda embalado pelos resquícios do ótimo Megamente e com a estreia do engraçadíssimo Enrolados. Logo chegaram o belíssimo As Aventuras de Sammy e o divertidíssimo Rango. Como as prometidas produções brasileiras ainda não deram as caras (o fraquíssimo Brasil Animado, não conta), é hora de ver o Brasil, através de RIO, a sensacional animação de Carlos Saldanha (A Era do Gelo, Robôs) que, numa narrativa só, fala das alegrias e das tristezas do ser brasileiro


RIO conta as aventuras de Blu, o último macho da espécie arara azul que, ainda filhote, é sequestrado por traficantes de animais exóticos e vai parar em Minnesota, nos EUA, onde é criado por Linda. Ele não saber voar, mas vive uma feliz vida terrestre ao lado da amiga que é dona de uma livraria. No entanto, a relação amorosa entre eles será interrompida com a chegada do ornitólogo brasileiro Túlio, propondo levar Blu ao Rio de Janeiro, para se acasalar com Jade, a última fêmea da espécie. Os três chegam em pleno Carnaval e a estadia no Rio acaba se tornando uma aventura romântica e perigosa para o domesticado Blu e a selvagem Jade. Entre voos e correrias a dupla vai se enturmar com o canário Nico, o cardeal Pedro, o tucano Rafael e o buldogue Luiz, uma força-tarefa muito bem-vinda para ajudar na luta contra o dramático vilão Nigel (uma cacatua australiana) e os seus malandros Saguis Capoeiristas, atrapalhando os planos dos contrabandistas de ocasião.


RIO tem uma boa história (de Saldanha) e um bom roteiro (apesar de escrito por roteiristas de comédias americanas de gosto duvidoso), o que é sempre meio caminho andado para uma boa animação, o resto é direção e equipe técnica. Toda a ação se passa nos dias de Carnaval, quando o país, e não apenas o Rio de Janeiro, para “pra ver o bloco passar”. O enredo, bem costurado, fala, ao mesmo tempo, da paixão do brasileiro pelo carnaval e futebol, e do jogo de cintura do cidadão comum (e animais raros) pela sobrevivência. Enquanto para a maioria parece acontecer mais nada, no Brasil e no mundo, para a minoria de sempre, a vida continua indiferente à sorte de cada cidadão.


Muito além do belo catálogo turístico em 3D, RIO é um filme de sutilezas que o mais apressado ou xenofóbico não perceberá. Se o Rio de Janeiro é ou não apenas um grande carro alegórico cercado de favelas por todos os lados, mesmo que não passe de mero cenário de fundo, para contar uma história ao mesmo tempo divertida e preocupante, sobre a preservação das espécies, somente o espectador com a sua leitura particular poderá dizer. A verdade é que a cidade, até mesmo em animação, continua maravilhosa, embalada pela eficiente trilha sonora, produzida por Sergio Mendes, que funciona também onde o diálogo seria redundante. Quanto ao fato de Blu e Linda falarem tão bem o português e ou os brasileiros (incluindo os animais) entenderem perfeitamente o inglês, nem vale a pena entrar no mérito, tal idiossincrasia americana foi muito bem ironizada no ótimo Planeta 51 (de Jorge Blanc).

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