quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Crítica: Deixa Ela Entrar


por Joba Tridente

Deixa Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, Suécia/2008), um das produções mais aclamadas, neste fim de década, finalmente estréia no Brasil, um ano depois do lançamento e um ano antes da refilmagem americana que, com certeza, será mais uma baba infanto-adolescentelóide.

Deixa Ela Entrar, dirigido por Tomas Alfredson, é um filme singular, em sua trama envolvente e apavorante, ao narrar o relacionamento de dois solitários adolescentes num drama de amor e morte. Vindo da Suécia, terra de produções intimistas e “cabeça”, onde se destaca Ingmar Bergman, o filme está maravilhando os cinéfilos em todo mundo, com uma história de vampiro contada num ritmo diferente do costumeiro hollywoodiano (o que justifica já ter ganhado mais de 50 prêmios, em festivais, e despertado a cobiça americana pela refilmagem). O título é uma referência ao mito de que um vampiro só pode entrar na casa de alguém se for convidado.

Deixa Ela Entrar fala de crianças invisíveis, aquelas que ninguém da muita (ou nenhuma) atenção. Crianças esquecidas (e aquecidas) no seu mundo particular onde podem ruminar os seus problemas sem aparente solução. Oskar (Kåre Hedebrant) vive em Estocolmo, na década de 1980. Ele tem 12 anos. É filho de pais separados. Diariamente é provocado e invariavelmente apanha dos colegas da escola. Ele não reclama. Sofre calado. Solitário ele trama uma possível reação. Eli (Lina Leandersson) se mudou, com seu velho pai, para o mesmo prédio de Oskar. Ela é tanto (ou mais) solitária que ele. Ela tem 12 anos há muito tempo. Seu fardo é bem maior, ela é uma vampira. Pra continuar viva Eli precisa de sangue. Pra seguir em frente Oskar precisa de amizade. Eles se conhecem no pátio coberto de neve do prédio onde moram. A estranha solidão deles irá uni-los. Na catarse de cada um há o desejo ou a necessidade de morte. Oskar a busca na vingança. Eli busca a busca na vida. A morte nunca é igual e quando se apresenta não alivia a dor. Apenas aumenta o desconforto de ser diferente.

Não importa quantas vezes uma história de vampiros tenha sido contada, mas sim como ela é contada. O que destaca o filme sueco de produções americanas é a direção precisa de Tomas Alfredson, ao sugerir tamanha naturalidade em uma fantasia gótica. Mais do que a química perfeita entre os excelentes atores Kåre Hedebrant (Oskar) e Lina Leandersson (Eli) há um texto repleto se sutileza. Em Deixa Ela Entrar não há excessos ou gratuidades nas cenas mais fortes e muito menos sustos. Os efeitos especiais são poucos e eficientes. Deixa Ela Entrar é uma rara oportunidade de se ver uma história, aparentemente banal, muito bem roteirizada por John Ajvide Lindqvist, também autor do romance que originou o filme, e com uma fotografia deslumbrante e de gelar os ossos. Há muito que paisagens nevadas não eram tão bem fotografadas. Há muito que o público cinéfilo não era presenteado com uma história de amor e amizade tão fascinante.

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