por Joba Tridente
Nos anos de chumbo, porradas e afins, entrando aos trancos e barrancos na idade adulta, me aventurei por Brasília durante 15 anos, onde trabalhei também como jornalista pra diversos veículos, inclusive o Correio Braziliense, tendo como editoras Maria do Rosário Caetano e Cora Rónai. Ali, “incomodando” a cultura local, no Caderno 2, era um colunista chiclete, que não esquentava muito a cadeira, a máquina de escrever..., mas afiava a língua que só! Naquele tempo, nos comentários cinematográficos, não raro deixava escapar que lá, em Brasília, a única coisa que passava era cartaz de filme. Você ia aos cinemas (naquele tempo tinha cinema exclusivo para público infantil, filme de arte, de aventura etc...) e via os cartazes anunciando um filme novo. Depois o lançamento em breve. E finalmente o cartaz sumia e o filme nunca chegava. O que salvava a nós, cinéfilos inveterados, eram as mostras de filmes japoneses, italianos, alemães, russos, patrocinados pelas embaixadas.
Pois é, a mesma história dos cartazes também acontece aqui em Curitiba. Tem um monte de filme bom, cinema de qualidade, que já envelheceu no DVD e jamais ganhou o privilégio da telona. Aí, se não chega o esperado, às vezes a gente acaba tropeçando no inesperado, como é o caso do aclamado Cashback (Cashback, Inglaterra, 2006) de Sean Ellis, sensação no Festival de Cinema do Rio em 2007, que chegou por força da mobilização neste fim de 2008.
Cashback, esta delícia cinematográfica, que demorou mas chegou por aqui, e que vale o sabor de cada cena carregada de sensualidade e puro fetiche, é a versão estendida do curta de 18 minutos, realizado em 2004, de mesmo nome e roteiro/roterista e diretor, indicado ao Oscar em 2005. Não ganhou o Oscar, mas virou longa, com praticamente o mesmo elenco, e ganhou o mundo.
No curta o estudante de Belas Artes, Ben (Sean Biggerstaff), vai trabalhar, no período noturno, em um supermercado para pagar os estudos e ali ele e seus colegas de turno inventam formas de passar o tempo.
No longa, após ser dispensado pela namorada Suzy (Michelle Ryan), acusado de não saber fazê-la feliz, Ben (Sean Biggerstaff), estudante de Belas Artes, entra em crise, não aceita o fim do romance e tenta de tudo para voltar com a moça. Enquanto Suzy, apressada em sua busca de felicidade, já está com outro, Ben, inconsolável, começa a sofrer com insônia. Não há coisa alguma que o faça dormir ou se esquecer de Suzy. No auge do seu sofrimento, buscando jeitos estranhos de ocupar o tempo noturno, ele vai trabalhar num supermercado onde descobre que tem o poder de parar o tempo e, então, quando tudo ao seu redor se torna enfadonho, usa a nova habilidade para se entregar ao que lhe dá prazer: contemplar a beleza feminina e desenhar as belas mulheres que freqüentam o supermercado e também a sua colega operadora de caixa Sharon (Emilia Fox).
Em Cashback, Ben é um amante das belas formas femininas desde que se conhece por gente..., ou desde que ainda criança viu uma hóspede, em sua casa, sair nua do banho e subir as escadas e também notou que as mulheres nuas nas revistas masculinas não pareciam reais e que os gestos sensuais da sua professora do fundamental despertavam algo ainda desconhecido nele. Ben é um artista capaz de compreender profundamente a beleza das mulheres e imortalizá-la em suas obras de arte, mas é um homem incapaz de compreender a mulher que ama. E muito menos lidar com o fim da sua relação amorosa.
Cashback, com sua plasticidade estonteante, uma invejável edição e montagem precisa, que nos convida e nos expulsa do admirável mundo de Ben, não é apenas tecnicamente irrepreensível, ele tem conteúdo, uma história muito boa sobre amores juvenis. E esse é o diferencial deste filme inglês entre um monte de bobagens americanas que tentam explorar o mesmo tema. Nesta interessante película há ainda uma inusitada inversão de valores, pouco explorada na dramaturgia, que trata das emoções masculinas diante do amor perdido..., ou que lhe parece perdido. Sentimento exposto também, com um outro olhar mas grande sensibilidade e beleza, em Reflexos da Inocência (Flashbacks of a Fool, Inglaterra, 2008), com Daniel Graig e direção de Baillie Walsh. Quando se é jovem deseja-se que o encanto do primeiro amor, da primeira paixão seja para sempre, mesmo desconfiando que o para sempre um dia acaba e é preciso cair na real. E essa queda nem sempre é fácil de suportar. Sobram dores para todos os lados. Feridas que às vezes não cicatrizam.
Paralelo ao drama, aparentemente banal mas que dói muito em Ben, ocorrem outras divertidas histórias envolvendo um galante amigo de infância, que adora dar conselhos amorosos, três colegas de turno para quem a vida é um grande palco para brincadeira e fantasias eróticas, um gerente que “se acha” o chefe, e a caixa que estuda uma outra língua para um dia conhecer novos lugares. Na verdade, todos naquele supermercado, à sua maneira, buscam ou sonham com a felicidade, mesmo que efêmera.
Com um bom argumento e um roteiro muito bem costurado, todas as angústias, carências, fugas, desejos, sonhos, vontades juvenis estão presente nesta jóia divertida e surreal do diretor inglês Sean Ellis, que antes de se aventurar pela sétima arte, já se aventurava como fotógrafo de moda para revistas como The Face e Vogue e na direção de comerciais e videoclipes.
Nos anos de chumbo, porradas e afins, entrando aos trancos e barrancos na idade adulta, me aventurei por Brasília durante 15 anos, onde trabalhei também como jornalista pra diversos veículos, inclusive o Correio Braziliense, tendo como editoras Maria do Rosário Caetano e Cora Rónai. Ali, “incomodando” a cultura local, no Caderno 2, era um colunista chiclete, que não esquentava muito a cadeira, a máquina de escrever..., mas afiava a língua que só! Naquele tempo, nos comentários cinematográficos, não raro deixava escapar que lá, em Brasília, a única coisa que passava era cartaz de filme. Você ia aos cinemas (naquele tempo tinha cinema exclusivo para público infantil, filme de arte, de aventura etc...) e via os cartazes anunciando um filme novo. Depois o lançamento em breve. E finalmente o cartaz sumia e o filme nunca chegava. O que salvava a nós, cinéfilos inveterados, eram as mostras de filmes japoneses, italianos, alemães, russos, patrocinados pelas embaixadas.
Pois é, a mesma história dos cartazes também acontece aqui em Curitiba. Tem um monte de filme bom, cinema de qualidade, que já envelheceu no DVD e jamais ganhou o privilégio da telona. Aí, se não chega o esperado, às vezes a gente acaba tropeçando no inesperado, como é o caso do aclamado Cashback (Cashback, Inglaterra, 2006) de Sean Ellis, sensação no Festival de Cinema do Rio em 2007, que chegou por força da mobilização neste fim de 2008.
Cashback, esta delícia cinematográfica, que demorou mas chegou por aqui, e que vale o sabor de cada cena carregada de sensualidade e puro fetiche, é a versão estendida do curta de 18 minutos, realizado em 2004, de mesmo nome e roteiro/roterista e diretor, indicado ao Oscar em 2005. Não ganhou o Oscar, mas virou longa, com praticamente o mesmo elenco, e ganhou o mundo.
No curta o estudante de Belas Artes, Ben (Sean Biggerstaff), vai trabalhar, no período noturno, em um supermercado para pagar os estudos e ali ele e seus colegas de turno inventam formas de passar o tempo.
No longa, após ser dispensado pela namorada Suzy (Michelle Ryan), acusado de não saber fazê-la feliz, Ben (Sean Biggerstaff), estudante de Belas Artes, entra em crise, não aceita o fim do romance e tenta de tudo para voltar com a moça. Enquanto Suzy, apressada em sua busca de felicidade, já está com outro, Ben, inconsolável, começa a sofrer com insônia. Não há coisa alguma que o faça dormir ou se esquecer de Suzy. No auge do seu sofrimento, buscando jeitos estranhos de ocupar o tempo noturno, ele vai trabalhar num supermercado onde descobre que tem o poder de parar o tempo e, então, quando tudo ao seu redor se torna enfadonho, usa a nova habilidade para se entregar ao que lhe dá prazer: contemplar a beleza feminina e desenhar as belas mulheres que freqüentam o supermercado e também a sua colega operadora de caixa Sharon (Emilia Fox).
Em Cashback, Ben é um amante das belas formas femininas desde que se conhece por gente..., ou desde que ainda criança viu uma hóspede, em sua casa, sair nua do banho e subir as escadas e também notou que as mulheres nuas nas revistas masculinas não pareciam reais e que os gestos sensuais da sua professora do fundamental despertavam algo ainda desconhecido nele. Ben é um artista capaz de compreender profundamente a beleza das mulheres e imortalizá-la em suas obras de arte, mas é um homem incapaz de compreender a mulher que ama. E muito menos lidar com o fim da sua relação amorosa.
Cashback, com sua plasticidade estonteante, uma invejável edição e montagem precisa, que nos convida e nos expulsa do admirável mundo de Ben, não é apenas tecnicamente irrepreensível, ele tem conteúdo, uma história muito boa sobre amores juvenis. E esse é o diferencial deste filme inglês entre um monte de bobagens americanas que tentam explorar o mesmo tema. Nesta interessante película há ainda uma inusitada inversão de valores, pouco explorada na dramaturgia, que trata das emoções masculinas diante do amor perdido..., ou que lhe parece perdido. Sentimento exposto também, com um outro olhar mas grande sensibilidade e beleza, em Reflexos da Inocência (Flashbacks of a Fool, Inglaterra, 2008), com Daniel Graig e direção de Baillie Walsh. Quando se é jovem deseja-se que o encanto do primeiro amor, da primeira paixão seja para sempre, mesmo desconfiando que o para sempre um dia acaba e é preciso cair na real. E essa queda nem sempre é fácil de suportar. Sobram dores para todos os lados. Feridas que às vezes não cicatrizam.
Paralelo ao drama, aparentemente banal mas que dói muito em Ben, ocorrem outras divertidas histórias envolvendo um galante amigo de infância, que adora dar conselhos amorosos, três colegas de turno para quem a vida é um grande palco para brincadeira e fantasias eróticas, um gerente que “se acha” o chefe, e a caixa que estuda uma outra língua para um dia conhecer novos lugares. Na verdade, todos naquele supermercado, à sua maneira, buscam ou sonham com a felicidade, mesmo que efêmera.
Com um bom argumento e um roteiro muito bem costurado, todas as angústias, carências, fugas, desejos, sonhos, vontades juvenis estão presente nesta jóia divertida e surreal do diretor inglês Sean Ellis, que antes de se aventurar pela sétima arte, já se aventurava como fotógrafo de moda para revistas como The Face e Vogue e na direção de comerciais e videoclipes.
Após a belíssima cena final o público ainda anestesiado parece não acreditar que o filme acabou. Demora a sair da sala de exibição. Quando sai é com a alma lavada. Agora é esperar a estréia de The Broken, para ver se Sean Ellis veio mesmo para ficar ou apenas teve a sorte de principiante.
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