quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Internet: Festival online com temática ambiental


Até o próximo domingo, 30 de Janeiro de 2011, a Elo Company exibe o primeiro festival online com temática ambiental. O Festival Online Entre Santos, realizado em parceria com a Casa Noar - Associação Cultural de Nova Arte, pode ser visto nos canais Elo Sustentável, Elo Comunidade e Elo Cinema .

O Festival Online Entre Santos acontece paralelamente ao evento homônimo, realizado, em sua quinta edição, pela Casa Noar, em Trancoso, município localizado no Sul da Bahia, e apresenta obras como: Dois Mundos, de Thereza Jessouroun (melhor roteiro no Festival de Brasília em 2009), Uma História Severina, dirigido por Debora Diniz e Eliane Brum, (vencedor do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro) e Cortina de Fumaça, documentário polêmico dirigido por Rodrigo Mac Niven.

O Festival Entre Santos - Festival Internacional de Trancoso é um evento anual. O nome Entre Santos vem do fato dele estar programado entre as festas populares de São Sebastião (20 de janeiro) e São Brás (03 de fevereiro), dois principais santos do município. Com projeções no Quadrado (Centro Histórico de Trancoso), ele exibe gratuitamente filmes que dificilmente chegariam aos habitantes locais, criando um espaço de interação cultural entre os turistas e a população nativa:

Elo (2008) - Documentário de Babi Avelino que se destaca por esboçar, através de vários pontos de vistas, um retrato da delicada relação entre os habitantes das aldeias, do campo e das cidades da região do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso.

Uma História Severina (2005) - Documentário de Debora Diniz e Eliane Brum, fala do drama da cidadã Severina, que teve seu destino alterado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Grávida de quatro meses de um feto sem cérebro, ela estava internada no hospital na mesma tarde em que o tribunal cassou a permissão para interromper a gestação.

Dois Mundos (2009) - premiadíssimo Documentário de Thereza Jessouroun sobre o cotidiano dos surdos que transitam entre dois mundos: o do silêncio e o sonoro.

O Petróleo tem que ser nosso - Última Fronteira (2009) - Documentário de Peter Cordenonsi que levanta questões relevantes sobre a propriedade das enormes jazidas de petróleo do pré-sal, recentemente descobertas pela Petrobras, na costa brasileira.

Projeto Alegria e Saúde - O documentário apresenta o Projeto Saúde & Alegria (PSA). Mostra a trajetória da ONG formada em 1987 e seu trabalho para se manter viva e conseguir resultados significativos numa região pobre e abandonada.

Cortina de Fumaça (2010) - Documentário de Rodrigo Mac Niven que coloca em questão a política de drogas vigente no mundo, dando atenção às suas conseqüências político-sociais em países como o Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro. Ele traz depoimentos de figuras importantes, como Fernando Henrique Cardoso e Fernando Gabeira sobre a legalização das drogas.

Roteiro de Saturno (2010) - Animação de Lisandro Santos que retrata um momento de mudança na vida de um homem que completa 29 anos. Segundo a astrologia, o retorno de Saturno é um período de grandes mudanças na vida de uma pessoa. E é o que acontece com um homem que se vê sem emprego, sem namorada e com três filhos para cuidar.

Mais informações no site: http://www.entresantos.com/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Crítica: Amor e Outras Drogas


por Joba Tridente

A receita de Amor e Outras Drogas é não desapontar os pacientes, digo, espectadores. A história é inspirada em fatos reais e com boas doses de humor, romance, drama, sexo e algumas dores não controladas. Na sua bula, independente do público ser ou não hipocondríaco, não há contraindicações.

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, EUA, 2010), é dirigido por Edward Zwick, coautor do roteiro com Charles Randolph e Marshall Herskovitz, recriado a partir do livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman (Venda Dura: A Evolução de um Vendedor de Viagra), de Jamie Reidy. A trama gira em torno de Jamie Randall (Jake Gyllenhaal), um sujeito bonito e conquistador que não leva a vida (também profissional) muito a sério. Não se apega a nada e a ninguém. O que importa para ele é pegar garotas (o que não tem nenhuma dificuldade) e ganhar muito dinheiro. A vida de Jamie, no entanto, começa a mudar quando arranja um novo emprego, o de vendedor de medicamento antidepressivo e meio que por acaso conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), portadora do Mal de Parkinson. A relação entre eles, de comum acordo, é apenas sexo, sem nenhum compromisso. Mas, assim como a vida profissional do rapaz dá um salto, quando ele troca um produto por outro (dor por prazer) e começa a vender o revolucionário (na época) Viagra, os amantes começam a rever seus princípios de sexo pelo sexo.



Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway formam um belo casal e estão ótimos. Não há como não se emocionar com o drama de Maggie, tão jovem e com uma doença degenerativa ainda longe da cura. Ou admirar a cara de pau de Jamie com as suas investidas certeiras em qualquer rabo de saia que lhe interesse. Com suas idas e vindas amorosas, desamorosas, e desastrosas, como é o caso de Josh Randall (Josh Gad), irmão de Jamie e viciado em sexo na internet, Amor e Outras Drogas inicia descontraído, vai ficando meio pesado, mas na parte final, prestes a escorregar sob o peso da dramaticidade, consegue dar uma reviravolta bem satisfatória. Um dos momentos mais marcantes ocorre em uma tragicômica convenção de pacientes de Mal Parkinson onde a Lucy Roucis (atriz diagnosticada antes dos trinta anos de idade) interpreta uma comediante com a doença. Lucy, que trabalhou a construção da personagem de Anne, trabalha em Denver com uma companhia de atores chamada PHAMALY (Physically Handicapped Actors and Musical Artists League, Inc. - Liga de Atores e Músicos Portadores de Deficiências).


O roteiro pode não ter ficado uma pílula dourada, mas longe de ser um placebo, dá conta da posologia bem humorada e melodramática. A boa direção procura evitar as facilidades do clichê, nos trocadilhos com a venda e uso do Viagra e nas mudanças de rumo dos protagonistas e coadjuvantes. A fotografia de Steven Fierberg é caprichada e a trilha beira a discrição. É um filme que se assiste mais com sorriso nos lábios do que com lágrimas nos olhos. Apesar da temática farmacológica, não é uma produção que vá fazer a felicidade dos hipocondríacos. Mas vai “divertir” os depressivos com a boa piada de um mendigo e as (benditas) amostras grátis que ele encontra no lixo, por conta de um certo domínio de mercado entre o Zoloft e o Prozac.

O livro (ainda não lançado no Brasil), segundo os comentários de leitores, em sites literários americanos, traz um relato muito engraçado e devastador sobre o comércio de remédios e o advento dos anúncios de medicamentos na TV (no final da década de 1990), e passa longe do drama do filme que, é claro, sempre carrega um pouco na emoção. Afinal, um livro o leitor interpreta do jeito que quiser e um filme ele vê somente o quê o diretor quer. Por isso que nem sempre um tem a ver com o outro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Crítica: Brasil Animado


por Joba Tridente

O ano cinematográfico da animação brasileira começou bem desanimado, com a chegada de Brasil Animado, de Mariana Caltabiano. Vi a versão em 2D, no Clube do Professor, acompanhado por uma platéia de umas 20 pessoas (no máximo) entre professores e espectadores aproveitando o preço promocional.


O Brasil Animado que assisti, frustrando as minhas expectativas, é constrangedor. Os personagens são chatos, a dublagem “mecânica” é horrorosa e irritante, e a musiquinha ufanista da trilha é insuportável. O “roteiro” didático e enfadonho parece a serviço de alguma companhia de turismo do lugar comum ou da EMBRATUR, o que dá no mesmo. Não há sequer um destino dos dois viajantes animados que não tenha sido explorado à exaustão por telejornais e programetes turísticos até dos canais mais chinfrins. Ainda bem que o Brasil real é bem mais do que se vê ali. Ou quase se vê, melhor dizendo. Não sei se por “culpa” da projeção, ou qualidade baixa da captação, as “imagens turísticas” pareciam ter saído diretamente de um Túnel do Templo VHS, digo do tempo do VHS. Elas têm cara de coisa velha, parecem vindas lá dos anos 1970, 1980, por aí. A cor, as pessoas, os lugares, tudo parece prisioneiro daquelas fitas lá de trás. É um contraste impressionante com o colorido chapado da animação. Bom, também pode ser um estilo dos realizadores.

Brasil Animado (Brasil, 2010) narra as viagens de Relax e Stress, dois grandes amigos, em busca de um Jequitibá Rosa, que seria a mais antiga árvore do Brasil. Enquanto Stress só pensa nos lucros, com a exploração de tal tesouro, Relax aproveita a viagem para explorar os lugares por onde passam e para explicar (com tom professoral) o “o quê é o quê” e o “quem é quem” da região. O itinerário da dupla começa em Santa Rita do Passa Quatro, cidade interiorana paulista, e de lá segue por vários estados e o Distrito Federal. A linguagem utilizada em toda a narrativa é equivocadamente primária. Parece ser dirigida (exclusivamente) ao primário público do ensino fundamental. Se é que ele se interessa pela esquisita mistura ou pelas piadas sem graça que saltam de vez em quando para o nada.


O filme é um guia turístico (meio) animado com 3 focos ou 3 direcionamentos. O primeiro é o da animação, o segundo é o do turismo e o terceiro é o do cicerone. Os cuidados técnicos foram distribuídos conforme o grau de importância: desenhos dos personagens: medianos, imagens turísticas: ruins e desenhos complementares: péssimos. Os desenhos complementares, que ilustram a catatônica descrição de cada lugar (lendas, mitos, heróis), parecem cópia photoshopeada de a História do Brasil, antiga publicação (em fascículos) da Editora Abril. Talvez seja, mesmo, já que uma das revistas da editora é patrocinadora presente (via merchandising) no desenho, com o mesmo espaço publicitário do carro que carrega a dupla protagonista. Quanto ao texto ciceronizado, lembra a redação sonolenta de algum antigo livro didático de Conhecimentos Gerais.

Eu nem imagino como tenha ficado esta animação 2D em 3D, me basta a exaustiva experiência com a versão alternativa. 2011 pode ter começado meio frustrante no mundo animado brasileiro, mas o bom é saber que há uma boa quantidade de animações nacionais programadas até o fim do ano. É esperar pra ver (se estreiam) e torcer para que superem a má impressão deste Brasil Animado. Ser o primeiro nem sempre é a melhor opção. Mas alguém tem de correr o risco.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Crítica: As Aventuras de Sammy


As Aventuras de Sammy, de Ben Stassen, é desses filmes que a gente se apaixona logo de cara. Tudo começa em 1959, com o nascimento de ninhadas de tartarugas. Sammy é menor que as outras, mas que terá de lutar (do mesmo modo) para sobreviver a todos os percalços a que estará exposta desde a quebra do ovo. Em sua emocionante saga, de dar volta ao mundo, enfrentará gaivotas, tubarões, poluição, humanos (entre outros perigos), mas também se divertirá um bocado na companhia do brincalhão amigo Ray (os dois no ofurô é demais). Ah, e terá um bocado de tempo para procurar, encontrar e se perder de Shelly, uma adorável tartaruga que ele conheceu ainda bebê, na praia, a caminho do mar, e por quem sente uma irresistível atração.



Criada com tecnologia 3D IMAX, a deslumbrante animação às vezes lembra um gigantesco e relaxante salva-tela com o tema marinho. Porém, de nada adiantaria tal estética e tamanho domínio tecnológico sem uma boa história. E aí entra o excelente roteiro de Domonic Paris, cuja narrativa encanta (sem ser piegas) e educa (sem ser moralista), toca em (incômodas) questões ecológicas, expondo inaceitáveis (e inacreditáveis) atos humanos, para que cada um tire as suas próprias conclusões. O certo e o errado estão na mente de quem constata e no gesto de quem o provoca o desequilíbrio. Tomar uma atitude é dever de todos.



A animação é um deleite para os olhos e para a mente. A impressionante qualidade do 3D (feito por quem sabe) coloca o espectador dentro de um cenário esplendoroso (e nem precisa saber nadar), com animais relando, encarando e atacando a platéia. Os personagens são cativantes e a história simples (não infantilóide!) e de fácil compreensão, agrada tanto aos pequenos quanto aos grandes acompanhantes. Ela propõe (e cumpre muito bem) uma viagem de 50 anos pelas águas (e vida marinha e fluvial) da Terra, sem subestimar a inteligência de ninguém. Além de passar longe do didatismo de qualquer livro de ciências ou biologia escolar.



As Aventuras de Sammy (Sammy's Avonturen: De Geheime Doorgang, Bélgica, 2010), que também está disponível em 2D, é um filme amoroso que valoriza a amizade e o respeito à vida. O seu humor gostoso e saudável é envolvente e contagioso. A trilha sonora é uma delícia e, quem puder, veja em 3D, este é honesto e real.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Crítica: O Turista


por Joba Tridente

Sabe-se lá porque (?) Hollywood continua convencendo premiados diretores europeus a realizarem remakes de filmes europeus. Será uma espécie de vestibular? Em 2010, ao comentar sobre o filme Chloe - O Preço da Traição (Chloe - EUA, Canadá, França, 2009), dirigido por Atom Egoyam, refilmagem de Natalie X, (Natalie..., França, 2003), de Anne Fontaine, eu escrevi: “A refilmagem é o “gênero” mais difícil pra um diretor de cinema. Se é sua a iniciativa de refilmar (o que duvido!) é porque não gostou de algo na direção do filme alheio e acha que pode fazer melhor. Muita pretensão! Se o interesse é do estúdio, parece que o diretor escolhido pra tal proeza (mesmo que tenha feito bons filmes) ainda não tem competência pra autoria. Ou seja, continua de segunda! Um diretor que “cai” nessa, sempre corre o risco de encontrar um espectador que viu o filme original e fará inevitáveis comparações, raramente pra melhor.


O diretor da vez é o alemão Florian Henckel von Donnersmarck, vencedor do Oscar de filme estrangeiro por A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, Alemanha, 2006), que, ironicamente, já estava nos planos de Sydney Pollack (1934 - 2008) para um remake americanalhíssimo. Pois bem, Florian Henckel foi incumbido (intimado?) de refilmar Anthony Zimmer: A Caçada (Anthony Zimmer, França, 2005), de Jerôme Salle. O resultado pode ser visto na superprodução O Turista (The Tourist, EUA, França, 2010). Um filme que, trocadilhos à parte, é realmente (ou tão somente) uma viagem de puro glamour. A elegância do elenco impressiona, mas o deslumbrante figurino de Angelina Jolie, criado por Colleen Atwood, é digno de Oscar.


Angelina Jolie (que nunca esteve tão linda) é Elise Clifton-Ward, uma estranha mulher que chama a atenção por onde passa (ou melhor, desfila) cumpre religiosamente as “ordens” que recebe através de bilhetes. Numa luxuosa viagem de trem, entre Paris e Veneza, ela se insinua para o americano Frank Tupelo (Johnny Deep), um profesor de matemática, que (como todos os homens que a vêem) acaba magnetizado por ela. Mal sabe ele que acabou de ser fisgado para o centro de uma história onde as aparências enganam.


O Turista é um filme que está muito mais próximo do cinema europeu do que americano. É bom ressaltar que tem um ritmo (lento) que o espectador dos explosivos e sanguinários filmes policiais americanos não está acostumado a ver (e não vai gostar). Mas, pelo clima de romance, pode agradar ao público feminino que odeia filme de (muita) ação e (muita) violência. A sua narrativa é despretensiosa e se desenrola sem pressa, como se o tempo fosse mero detalhe. Às vezes dá a impressão de se espelhar nos canais venezianos, que vão para todo e nenhum lugar, ou que vai emborcar, mas acaba encontrando prumo.


Pra quem já se cansou de ver filme policial com gente, carro, trem, avião, barco etc, explodindo, este thriller, pra lá de romântico, pode ser uma alternativa. A trama, que parece um misto de Sidney Sheldon (1917 - 2007) e Raymond Chandler (1888 - 1959) com Barbara Cartland (1901 - 2000) e Nora Roberts, tem suspense, desejo, mistério, paixão, em uma curiosa sofisticação de literatura barata. E aqui não há nenhum demérito ao sofisticado das livrarias e ao barato das bancas de revista. A fotografia de John Seale e a primorosa direção de arte de Jon Hutman são puro requinte. A estética pode até esconder alguma falha ou simplicidade do adocicado roteiro, mas funciona.

É como diz um Aforismo de Oscar Wilde: As coisas das quais temos absoluta certeza nunca são verdadeiras. Esta é a fatalidade da fé e das coisas que nos são ensinadas pelo romance. (em tradução de Mario Fondelli - CEN)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Crítica: Zé Colméia – O Filme


por Joba Tridente

Finalmente estreia nos cinemas a primeira aventura (live-action e animação) do travesso Zé Colméia (Yogi Bear) e o seu fiel amigo Catatau (Boo-Boo): Zé Colméia - O Filme. Os personagens foram criados em 1958, para o The Huckleberry Hound Show, que era dividido em três blocos: Dom Pixote, Plic e Ploc e Zé Colméia. Este ícone do mundo animado, que ganhou vida graças ao Estúdio Hanna-Barbera, fundado por William Denby Hanna (1910-2001) e Joseph Roland "Joe" Barbera (1911-2006), se tornou famoso por conta dos seus mirabolantes planos para sequestrar as cestas de piquenique dos (nem sempre distraídos) visitantes do Parque Jellystone. O sucesso do urso malandrão, que usa chapéu, colarinho e gravata, foi imediato. Em 1961 ele passou a protagonizar a sua própria série (na companhia do Catatau) e outros projetos animados, que continuaram encantando gerações por mais de 30 anos.


Oi Galera, Sou o Zé Colméia (Hey There, It’s Yogi Bear), com produção, roteiro e direção de Hanna e Barbera, é o primeiro longa deste incorrigível urso e foi lançado em 1964. Agora, 46 anos depois, nos chega o segundo: Zé Colméia – O Filme (Yogi Bear, EUA, Nova Zelândia, 2010), dirigido pelo mestre dos efeitos especiais Eric Brevig. Nesta nova aventura, Zé Colméia, que continua se considerando o mais esperto dos ursos, pode ser a única esperança de salvar o Parque Jellystone, do catastrófico planejamento político do maquiavélico prefeito Brown (Andrew Daly). Mais atrapalhado que nunca, com a ajuda do incansável Catatau e colaboração da documentarista Rachel (Anna Faris) e do guarda florestal Smith (Tom Cavanagh), ele vai ter que botar cérebro para (realmente) funcionar, se quiser continuar morando naquela reserva florestal.


Zé Colméia – O Filme é o que se pode realmente chamar de filme-família. Ele traz muita ação, aventura e romance. Seu humor (Não tema, com Zé Colméia, não há problema!; Vamos atrás do almoço!; O guarda Smith não vai gostar disso!) é inocente, maluco, pastelão, típico do desenho animado e deve agradar fãs de todas as idades. Zé Colméia continua um transgressor das Normas do Parque, principalmente daquela que “manda” ele ficar longe (da cesta de piquenique) dos visitantes. É claro que o urso comilão nunca está sozinho nesses “assaltos”. Ele sempre acaba convencendo o Catatau a ajudá-lo na construção (e no uso) de engenhocas (que nunca funcionam).


Em princípio, a mistura de atores (reais) com animação (computadorizada) pode causar alguma estranheza. Em 2D (versão que vi) o Zé Colméia e Catatau ficaram simpáticos (para um filme que fosse todo em animação), mas não parecem ter a mesma vivacidade nas cenas com os humanos. Não se parecem nem com urso de pelúcia. É meio esquisito, no começo, mas depois (mesmo não convencendo) a gente se acostuma e continua se divertindo com as confusões protagonizadas por todo o elenco. A história não é datada, tem um bom ritmo e surpreende em muitos momentos. Eric Brevig faz uma direção segura e sem querer reinventar o universo criado por Hanna-Barbera. O que já é uma grande coisa!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Crítica: O Concerto


por Joba Tridente

O Concerto é um filme que começa com uma abordagem kafkaniana sobre a vida teimosa pós-arte majestosa. E continua depois com a sua estranheza divertida, que alia um humor negro à situação absurda em que vivem os ex-integrantes de uma orquestra russa, desmantelada pelos mandos de premiê Leonid Ilitch Bréjnev (1906 - 1982), para culminar numa redenção emocionante. Uma trágica e romântica peça musical do princípio ao fim, feito o belíssimo Concerto para Violino em Ré Maior, Op. 35, de Tchaikovsky (1840 - 1893).


O Concerto (Le Concert, França, Itália, Romênia, Bélgica, Rússia - 2009), dirigido pelo romeno Radu Mihaileanu, que tem por base a história original de Héctor Cabello Reyes e Thierry Degrandi, narra a catarse triunfal do russo Andreï Filipov (Alexeï Guskov), um maestro da famosa Orquestra do Bolshoi que, por desavença com o ditador neo-stalinista Bréjnev, perde seu cargo e, da noite pro dia, é rebaixado a faxineiro no mesmo teatro das suas grandes apresentações. Perdoar já é difícil, esquecer traições é muito pior. Porém, se o Regime é madrasta, o Destino pode ser um pai cauteloso e cheio de artimanhas, ao preparar o prato da vingança servido ao ponto. Nem quente e nem frio, apenas arrebatador.


Certo dia, ao limpar a sala do diretor, Andreï intercepta um convite, via fax, para a Orquestra do Bolshoi tocar no suntuoso Théâtre du Châtelet, em Paris. Ele decide dar uma rasteira no Bolshoi, montar uma orquestra e se apresentar, como se fosse a própria. Bem, pensar é uma coisa, montar uma orquestra com ex-músicos (em curtíssimo tempo) é outra bem diferente e mais difícil. Andreï Filipov começa uma saga espetacular, por lugares inusitados, em busca da mão de obra esquecida. Não sei se tudo que ouvimos e lemos, por aqui, sobre a “abertura e fim” da União Soviética (esfacelamento do regime comunista, domínio da máfia, custo de vida e da vida etc) é tudo verdade. Mas (sendo ou não) a forma tragicômica como isso é retratado é um espanto.


Singular na sua pluralidade O Concerto mostra uma Rússia de ontem, hoje e amanhã, numa Europa que ainda cose com preocupação a união que se avizinha. A narrativa engana os olhos do espectador que se perde na passagem (e na paisagem) do século 20 ao 21, até ser desperto pelo trinar de um celular ou pelo insignificante tremular de uma bandeira comunista, na boca do túnel do tempo via internet. Pois o passado só se torna presente quando são expiadas todas as culpas. É um filme que surpreende e encanta o espectador com a sua anárquica crônica musical sobre o burocrático preconceito artístico e social russo e francês, mas que, com certeza, também atravanca muita arte mundo afora. Ele ainda nos lembra que um bom nome (de peso!) pode fazer uma farsa durar bem mais que meros quinze minutos de fama.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Crítica: Desenrola


por Joba Tridente

Talvez vire escola (Ôps!). A “comédia” romântica Desenrola, dirigido por Rosane Svartman, que finalmente chega aos cinemas, é uma espécie de versão feminina light do institucional As Melhores Coisas do Mundo (2010), de Laís Bodanski.

Assim como no filme de Bodanski, este também tem seu “porto seguro” num colégio e seus protagonistas fazem de tudo para perder a virgindade. Será que o adolescente brasileiro só consegue se reconhecer uniformizado em um colégio e “lutando” contra a virgindade? Segundo a produção, o filme é o resultado de um projeto que começou com uma pesquisa sobre sexo, originando a série de documentários Quando Éramos Virgem (veiculada em um canal por assinatura) e um livro homônimo (editado pela Casa da Palavra). A pesquisa também gerou uma web-série homônima, lançada no 2º semestre de 2008, propondo uma participação direta do público e acabou chegando à rádio, televisão e escolas do eixo Rio-São Paulo, onde foi debatido com os alunos.

Linear e sem qualquer conflito (nem amoroso) que desestabilize a história ou que cause algum incômodo no público (feminino!), a narrativa de Desenrola gira em torno de Priscila (Olívia Torres), uma adolescente de 16 anos que faz de tudo para perder a virgindade. O alvo do seu desejo, para solucionar o “problema”, é o único galã da escola (e do elenco) Rafa (Kayky Brito), por quem acha que está apaixonada. O assediado garoto não é tão fácil como imagina, mas ela não desiste.


Outro ponto em comum com As Melhores Coisa do Mundo é o seu caráter (também) institucional. O filme de Laís (via Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto) demonstra preocupação com a moral e bons costumes, e o de Rosane, com a inconveniência (tão somente) da gravidez. Porém, já que (aqui) o foco é o sexo, poderia ter sido aproveitado um antigo slogan carnavalesco que invocava o uso de preservativo: “Quem vê cara não vê Aids”. Seria a rima desta história que insiste no uso da camisinha entre os adolescentes que fazem propaganda dela o tempo todo, mas, ironicamente, não a usam. Talvez prefiram chorar depois.

Em Desenrola, a história praticamente começa e termina no clima escolar do Colégio Desenvolve (?!), um lugar aparentemente liberal, cuja razão cinematográfica está centrada numa aula em que um professor propõe aos alunos um trabalho de pesquisa. O tema? Bom, o tema é de uma profundidade assombrosa, “coisa para doutorado”. O grupo protagonista deve pesquisar sobre o número de alunas (ainda) virgens e o grupo coadjuvante, o número de meninos que enxugam as mãos nas calças, ao sair do banheiro. O primeiro cria alguns vídeos com “depoimentos” de alunas dizendo como foi a primeira vez. O segundo, nem presta contas da genial idéia.


Desenrola é feito (na medida) para meninas românticas e apaixonadas que acreditam na disponibilização de príncipes encantados para serviço sexual. É um filme leve, sem violência urbana (ainda bem!), familiar ou (sequer) brigas femininas (descabeladas) por causa de namorado, mas com cenas de cyberbullying (estranhamente) não levadas a sério (?). Aliás, as meninas (da fita) são tão ingênuas e sonhadoras e os meninos tão paspalhões que é difícil acreditar que tais personagens sejam frutos de longa (e árdua) pesquisa sobre sonhos e desejos adolescentes e (pior) que eles vivam no Brasil, tamanho o grau de civilidade.

O roteiro é insosso e o elenco jovem é mediano e sem muita convicção. A trilha segue a nova tendência da diversificação musical que tomou conta das recentes produções brasileiras e que poderia ser chamada de embaralhamento sonoro. Ela parece servir mais às gravadoras e rádios, do que à história. Ou será que os personagens (classe média) são tão descolados que curtem (tudo) até samba? Feito qualquer programa de televisão, não há o privilégio do silêncio, o espectador é obrigado a aturar em cada cena (ou sequência) uma música diferente: bossa nova, samba, rock, pop, emo etc. Algumas até boas, mas no geral acaba irritando. Enfim, um filme com cara de especial de TV e cujo público alvo feminino não deve passar dos 18 anos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Crítica: As Viagens de Gulliver


por Joba Tridente

Quando se pensa que já viu o que de pior o cinema americano já produziu e se depara com o algo tão execrável como esta última deturpação, digo, adaptação de As Viagens de Gulliver (Gulliver's Travels, EUA, 2010), dirigida por Rob Letterman, com o caricato Jack Black, é que se dá conta de que ele pode piorar ainda mais.

No século passado o clássico da literatura universal As Viagens de Gulliver, do iluminado escritor irlandês Jonathan Swift (1667 - 1745), ganhou (e sofreu) adaptações para o Cinema, TV, HQ. O meu primeiro contato com a obra genial de Swift foi na década de 1960, ainda garoto, lendo a história em um gibi. Depois vi a animação de Hanna-Barbera e algumas adaptações para cinema e TV. No entanto, quando li a versão integral do romance original, percebi que tudo o que vira, até então, era nada perto da real sátira política de um autor que sabia usar o verbo como poucos. A sua Modesta Proposta (de 1729) continua atualíssima, há 282 anos.


O que mais me incomoda nas adaptações de As Viagens de Gulliver é a infantilização e a estúpida censura do texto (que atravanca Lilipute), porque algum idiota, em algum momento, acreditou que este era um texto infantil (pelo teor fantástico) e tratou de cortar o que lhe pareceu “rebarbas”, excessos de metáforas prejudiciais à formação (ou compreensão) de uma criança, cometendo impunemente um crime. Assim, o grande tratado político acabou virando uma historinha boba e fantasiosa de um homem “gigante” numa terra de gente minúscula (“menor que um anão”). Uma historinha “salubre”, politicamente correta e contrária a qualquer reflexão. Na verdade, não foi cometido apenas um crime, na infantilização da obra, foram dois: um contra a genialidade e originalidade do autor, e o outro contra a capacidade de discernimento do jovem leitor. De uma só tacada transforma o ser pensante em ser ignorante. Espero que um dia os Houyhnhnms possam nos salvar dos Yahoos!


Baseado no “roteiro” de Joe Stillman e Nicholas Stoller, esta é a mais abominável paródia de As Viagens de Gulliver. Ela é “vendida” como comédia, apesar da falta de graça (a não ser que escatologia ainda seja engraçado). Com citação de vários filmes de sucesso e com efeitos especiais toscos (se é que podem ser chamados de efeitos especiais), a versão narra as aventuras de Lemuel Gulliver (Jack Black, mais uma vez nerdiotizado) nos dias de hoje. O sujeito trabalha na expedição de correspondência de um jornal, em Nova York, e por conta da sua parvalhice e timidez acaba se metendo numa confusão que o leva ao Triângulo das Bermudas, onde, por conta de fenômenos meteorológicos, se vê arremessado à Lilipute. Ali, com a baixa auto-estima abaixo da crítica e da estatura dos liliputianos, inventa histórias mirabolantes e passa a ser considerado o que não é, colocando em perigo aquela “civilização” sugestionável. Como se não bastasse o filme sem noção (alguma) transformar uma obra capital num inexpressivo e irreconhecível vilarejo, assistimos a tudo ao áudio da insuportável (sem vida) dublagem brasileira.


Enquanto o Gulliver de Swift protesta contra a falta de discernimento da raça (que se considera) humana, o Gulliver de Black faz uma inacreditável ode ao consumo (desde os créditos). Sério candidato a pior argumento e roteiro e protagonista e coadjuvante e direção e trilha e efeitos especiais e etc, o único destaque vai para o curta de abertura, com o engraçadíssimo esquilo dente de sabre Scrat. Vindo diretamente da Era do Gelo, numa divertida aventura didática, ele demonstra, alucinadamente, como (e porque) aconteceu a separação dos continentes. A animação serve como panos quentes (tapa buraco) da baba de Black. Bem que poderia passar no final, assim a gente esqueceria o mico (Ôps!) anterior.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Crítica: A Morte e Vida de Charlie


por Joba Tridente

A morte, possivelmente, é um dos temas mais recorrentes em Hollywood. E nem estou falando da morte (des)figurante em produções que narram tragédias, catástrofes ou “brincam” com o terror. Falo dos (quase) inocentes dramas (principalmente românticos) como este A Morte e Vida de Charlie. Alguns ficaram para sempre na memória e nas sessões da tarde, como o dantesco Amor Além da Vida (What Dreams May Come, 1998), de Vincent Ward e o meloso thriller Ghost - Do Outro Lado da Vida (Ghost, 1990) de Jerry Zucker, outros passaram batido. Alguns mais (in)tensos, como O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), de M. Night Shymalan, ou mais ousados, como O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet, 1956), de Ingmar Bergman, perturbaram os espectadores e se tornaram referência.

No cinema a morte nem sempre é protagonista. Na maioria das vezes é pano de fundo ou ponto de fuga para o estilo “cinematerapia”, como Em Busca de uma Nova Chance (The Greatest, 2009), dirigido por Shana Feste, ou dos premiadíssimos: Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980), de Robert Redford e O Quarto do Filho (La Stanza del Figlio, 2001), de Nani Moretti. Recentemente teve o divertido (e não tão mortal) Almas à Venda (Cold Souls, 2010), de Sophie Barthes, o confuso e pretensioso Um Olhar do Paraíso (2010), de Peter Jackson, e o bonito e mediúnico Além da Vida (Hereafter, 2010), de Clint Eastwood. Poderia citar ainda uma dezena deles, mas acho que esses são suficientes para ilustrar a importância temática em filmes que, mesmo deixando claro que (a maioria) trata de questões relacionadas diretamente à Doutrina Espírita, não fazem qualquer alusão a ela.


A Morte e Vida de Charlie (Charlie St. Cloud, EUA, 2010), com direção de Burr Steers, também fala de comunicação entre os dois mundos. Porém, de uma forma um tanto obsessiva. É claro que esta “comunicação” pode ser apenas uma alucinação do personagem, dependendo do ponto de vista religioso do espectador. O drama narra a estreita relação entre dois irmãos, o jovem Charlie St. Cloud (Zac Efron), um hábil velejador, e Sam St. Cloud (Charlie Tahan), de 11 anos, apaixonado por beisebol, que vivem com a mãe Claire St. Cloud (Kim Basinger), numa cidadezinha litorânea no noroeste do Pacífico. Ganhador de uma bolsa de estudos para o curso universitário, Charlie vê seus planos ficarem cada vez mais distante, após um grave acidente envolvendo ele e o irmão. Obcecado pela idéia de culpa e certo de que causou um trauma irreparável à sua família, ele faz uma promessa a Sam que, se cumprida, o afastará cada vez mais dos estudos e da comunidade onde vive.

Baseado no best-seller The Death and Life of Charlie St. Cloud, de Ben Sherwood, penso que ele poderia se chamar A Obsessão de Charlie, tamanho é o empenho com que o personagem se entrega ao cumprimento de uma promessa aparentemente impossível. Será que na vida real uma pessoa se dedicaria tanto para cumprir promessas feitas num momento de grande sofrimento, sem se aperceber do egoísmo que aprisiona familiares e amigos? O filme trata, com singeleza, principalmente dos laços familiares e da capacidade humana de se sacrificar por um ente querido ou um ser amado, anulando a si mesmo. Uma medida extremamente controversa, tanto na ficção quanto na vida real, e (até) passível de terapia, ao se confundir atos de amor com atos de culpa.


Assim como a maioria das produções citadas, este também parece (mas não é) um filme espírita, apesar das evidências provarem o contrário. Enfim, cinema é cinema e doutrina religiosa é outra linha de pensamento e reflexão. A Morte e Vida de Charlie não foge do riscado. Em vez de especular sobre o outro lado (da vida), inventando lugares espetaculares, prefere não tirar os pés (e os mortos) do chão, tratando do assunto, aqui mesmo, como se não existisse o lado de lá (da vida). Com isso ele não vai muito além de um palatável drama romântico. É uma boa história, sem invencionices ou grandes efeitos especiais, mas que reserva surpresas e um final, digamos, previsível, porém, coerente. Um filme que pode ser assistido (sem sustos) e com algum interesse, por qualquer público crédulo ou não em gente que vê e fala com mortos normais.

A morte, como se diz, “é a única certeza da vida” e, talvez por isso, desperta (tanta) curiosidade no ser humano. Se a trama de A Morte e Vida de Charlie não é nenhum grande achado, a fotografia do equatoriano Enrique Chediak é de encher os olhos. A trilha não incomoda e, numa direção linear, não há destaque num elenco com interpretações contidas e corretas. Melhor do que se arriscar (sem preparo) e cair na caricatura.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Cinema Online: Rêverie


Rêverie

O Elo Cinema está exibindo (gratuitamente) online o documentário Rêverie, sobre a vida e obra do maestro João Carlos Martins. O DOC, dirigido por Johan Kennivé e Tim Heirman, seleciona entrevistas e trechos importantes da carreira de João Carlos, ressaltando sua história de superação após sofrer uma lesão que o afastou do piano e o guiou para a regência. Em paralelo, os cineastas retratam a execução de 13 movimentos de nomes importantes da música erudita, como Bach, Mozart e Villa Lobos em Paris, Bruxelas e São Paulo.

O público que acessar o Elo Cinema e assistir ao documentário Rêverie, concorre ao livro História Visual: Cinema Brasileiro, de José Carlos Monteiro, editado pela Funarte, em edição trilingue: português/espanhol/inglês. A obra resgata a história do cinema brasileiro em mais de 200 fotos em preto e branco, onde os principais diretores, as correntes estéticas, os atores e os realizadores são elencados e analisados.

Leia um trecho do livro: “Através de uma conjugação de fatores temáticos e estilísticos, nosso cinema tornou-se um “espelho da realidade”. No século XXI alguém poderá visualizar o Brasil sem as imagens de seus filmes? Impossível. Assim, no futuro - cinquenta anos? mais cem? - se o historiador quiser efetivamente ter uma visão panorâmica do país e compreender as transformações brasileiras no decorrer deste século, recorrerá inevitavelmente às imagens cinematográficas. Remexendo nas prateleiras das cinematecas, “nos caminhos do passado”, saberá o quê, como e para quem foram registrados, em 24 quadros por segundo, os eventos transcorridos entre as fronteiras da nossa civilização.

Para participar e concorrer, é só assistir ao filme e responder a pergunta: "Qual foi o instrumento em que o maestro iniciou seus estudos musicais?". As respostas devem ser enviadas para o endereço promocao@elocompany.com até o dia 20 de janeiro de 2011.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Crítica: Além da Vida


por Joba Tridente

Clint Eastwood não é meu ator e ou diretor preferido e, apesar de admirá-lo em ambas as funções, estranhei que dirigisse um filme com abordagem espírita. Mas, em se tratando de Eastwood, pode se esperar tudo, menos o óbvio.

Além da Vida (Hereafter, EUA, 2010) fala de quase-morte, morte e pós-morte. O seu foco está na reação das pessoas diante de um fato muito especulado, pouco explicado e nada comprovado sobre o “depois daqui”. Segundo Clint: “Não sabemos o que acontece do lado de lá, mas, do lado de cá, tudo acaba. As pessoas têm suas crenças sobre o que acontece e o que não acontece depois da morte, mas é tudo hipótese. Ninguém sabe até chegar lá”. Baseado no roteiro de Peter Morgan, a narrativa acompanha a vida de três personagens que têm em comum a solidão, agravada pelo imprevisível. George (Matt Damon) é um operário norte-americano que se sente incomodado com a sua mediunidade, que lhe parece mais uma maldição do que um dom. Marie Lelay (Cécile de France) é uma jornalista francesa que vivencia um grave acidente (na Indonésia) e tem dificuldades em retomar a sua vida profissional e pessoal. Marcus (George McLaren) é um garoto inglês que não compreende e nem aceita a morte de um familiar muito querido. Os três lambem as suas doloridas feridas, enquanto buscam “algo” que acabe com tamanha angústia.


Além da Vida é um filme, no mínimo, curioso e cheio de surpresas. Longe do clima de horror mórbido e gótico (e das onipresentes “trilhas” chatíssimas) que permeiam produções como: Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito (Glauber Filho e Joel Pimentel), Nosso Lar (Wagner de Assis), Chico Xavier (Daniel Filho), Um Olhar do Paraíso (Peter Jackson), ele traz três histórias plausíveis. Cada uma tem o seu próprio tempo, que ao poucos invade o tempo da outra, até ser apenas uma única história. Não se trata de uma obra doutrinária, de um cinecatequese buscando conquistar adeptos para o Espiritismo. Aliás, em nenhum momento o público verá espíritos vestindo túnicas brancas, almas esfarrapadas penando seus “pecados”, paisagens paradisíacas e infernais, cenários retrô-futuristas ou qualquer outra exploração visual típica do gênero. Allan Kardec (1804-1869), mentor e codificador do Espiritismo, sequer é citado. No entanto, é bem interessante a forma como o personagem de Damon relaxa, ouvindo um CD com inspirados textos de Charles Dickens (1812-1870), lidos pelo ator inglês Derek Jacobi, e interpreta o retrato Dickens's Dream, de Robert William Buss (1804-1875), exposto no The Charles Dickens Museum, em que o escritor dorme, sentado em uma cadeira, e os personagens de seus romances flutuam ao seu redor.


Tocante como a vida e inesperado como a morte, Além da Vida é um filme para se ver sem pressa. Eastwood aposta no diálogo (ou na sua ausência) e na força da interpretação do afinado elenco, trabalhando, com delicadeza, as minúcias de cada personagem. As respostas que buscam para as suas inquietações físicas e espirituais estão nas mãos de cada um, apenas é preciso saber lê-las. Não me lembro de algum outro filme seu em que as mãos (sempre constantes) tenham tido um valor simbólico tão expressivo quanto aqui. É bem provável que o drama suscite mais dúvidas do que certezas no espectador que poderá se agradar (da temática) e ou se decepcionar, se for ao cinema pelo (abominável) título ou (mesmo) pelo diretor que parece decidido a dirigir (com competência) todo e qualquer assunto que lhe agrada. Se ele não se aprofunda ou discute as complexas questões da mediunidade, já que esse não é o foco, também não se deixa diluir pelo panorama que traça dos (falsos videntes) comerciantes da fé. Não faz apologia religiosa e muito menos científica, mesmo quando se aproxima (numa citação) do ótimo Fenômeno (Phenomenon, EUA, 1996), de Jon Turteltaub, com John Travolta. Crer ou não crer, fica por conta do espectador!

Clint Eastwood conta as três histórias com ternura, melancolia e amor. Às vezes vacila e quase escorrega, mas logo retoma o equilíbrio de mestre. A excelente fotografia de Tom Stern (sempre) faz a diferença numa produção em que há também um cuidado especial com a trilha sonora que apenas pontua (sem conduzir ou forçar emoções) sequências que já são (melo)dramáticas o suficiente para marejar olhos distraídos. Pode não ser o melhor deste premiado diretor de 80 anos, mas sem dúvida é um belo filme.
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