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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Crítica: Bob Cuspe - Não Gostamos de Gente

 

BOB CUSPE - NÃO GOSTAMOS DE GENTE

por Joba Tridente

Muitos autores literários acreditam que seus personagens fictícios têm vida própria e que, a certa altura de uma narrativa qualquer, são eles que conduzem o fio da história. O cartunista Angeli, entre outros, está nem aí para tal sentimento. Seus famosos personagens (Bob Cuspe, Rê Bordosa, Skrotinhos, Rhalah Rikota, Irmãos Kowalski, Wood e Stock), emoldurados nos mais diversos espaços das HQs, foram criados por ele e, portanto, quando estiver de saco cheio de alimentá-los com falas e traços, corta a porção devida de tinta nanquim e os mata. Simples assim. Depois, é seguir em frente sem ficar remoendo o que ficou para trás. 

Punk’s not dead! 


É mais ou menos essa a lógica que embasa a animação Bob Cuspe - Não Gostamos de Gente, dirigida por Cesar Cabral (Dossiê Rê Bordosa), com roteiro de Leandro Maciel e Cabral, que traz, de um futuro pós-apocalítico, repleto de vampiros Pop Stars (André Abujamra e Márcio Nigro), para um presente estressado, o punk Bob Cuspe (Milhem Cortaz), na companhia dos Irmãos Kowalki (Paulo Miklos), para uma visita nada amigável ao cartunista Angeli (Angeli). É que..., assim como a criatura replicante Roy Batty, ciente da morte anunciada, busca pelo criador Dr. Eldon Tyrell, para que ele prolongue a sua vida, em Blade Runner - O Caçador de Andróides..., a criatura Bob Cuspe (mesmo não acreditando ser um personagem de HQ), alertado da sua iminente morte em uma história em quadrinhos, pelos Kowalki, que conhecem as Sagradas Escrituras Chi-Ban, inicia uma jornada (de volta ao passado) para tirar satisfações com o criador Angeli (que vive no presente). E mesmo que o criador discorde, ao menos na animação, suas criaturas têm vida própria dentro e fora da mente caótica dele. 


Com o alerta inicial: Baseada em fatos reais da obra fictícia do cartunista Angeli..., a primorosa animação em stop-motion Bob Cuspe - Não Gostamos de Gente, vencedora do Prêmio Contrechamp, no Festival de Cinema de Animação de Annecy, na França, entrelaça documentário (ou seria mocumentário?), com Angeli (dando a cara a tapa?), e road-movie, com boa dose de comédia e horror (envolvendo seus personagens clássicos), para falar de autoria e de processo criativo. Alguns trechos da entrevista de Angeli, para a animação (?), inclusive, remetem à entrevista para o documentário em curta-metragem Angeli 24 Horas (2010), de Beth Formaggini, que também discutia o assunto. Algumas oportunas referências (?) icônicas a filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço, O Iluminado, Mad Max, dão um charme a mais à produção. 


Em sua divertida trama, que desenha um mundo real de forte alegoria e um mundo fictício em constante mutação, não faltam convidados (em papeis maiores e/ou menores) para apoiar Angeli, em bloqueio criativo, como o cartunista Laerte (Laerte) e Madame L (Laerte), ou justificar o mau-humor do criador, como a namorada Carol (Carol Guaycuru)..., e nem para palpitar sobre a jornada de Bob Cuspe e Irmãos Kowalski, como o Rhalah Rikota (André Abujamra), o Toninho Mendes (Beto Hora), os Skrotinhos (Hugo Possolo) e a Rê Bordosa (Grace Gianoukas). Intelecto versus instinto, lado a lado na animada mesa de embate, cujo vencedor é o espectador que apostar na certeza da vitória de Angeli (o carrasco!) ou de Bob Cuspe (a vítima!), uma vez que o reflexo de um não embaça a imagem do outro. 


Com um roteiro mordaz (e sem grandes elucubrações), voltado à diversão ligeira de uma história em quadrinhos, que se devora rapidamente, página a página, na ansiedade da conclusão (e sem perder o prazer da leitura)..., a narrativa de Bob Cuspe - Não Gostamos de Gente envolve o espectador da abertura à última cena. O apuro da animação é de encher os olhos, tanto pela técnica quanto pela carga emotiva que transborda em algumas cenas nada menos que espetaculares e no detalhamento do estúdio de Angeli e da paisagem desolada do pós-apocalipse, por onde vagam, entre outros, Bob Cuspe e Irmão Kowalski. E por falar em Irmão Kowalki, desculpa, aí, mas, por melhores que sejam os dois protagonistas, quem rouba a cena é a dupla, exalando humanidade e no melhor estilo nonsense. 


Enfim, Bob Cuspe - Não Gostamos de Gente é filme para deixar qualquer amante do cinema de animação brasileiro orgulhoso. Pois, no mesmo tom da sagacidade dos diálogos (no contexto futuro/presente/passado de seus respectivos personagens) está a excelência da arte sob responsabilidade de Thomate (diretor de animação), Daniel Bruson (diretor de arte), Olyntho Tahara (criação de bonecos), Alziro Barbosa (direção de fotografia) e Eva Randolph (montagem). O único senão, é o áudio. Em algumas sequências é praticamente impossível entender o que os personagens estão falando, principalmente quando a voz/dublagem é casada com ruídos e trilha. Mas isso é apenas um detalhe... 

Trailer: Aqui 


NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


sábado, 9 de outubro de 2021

11º ANIMAGE - Online

11º ANIMAGE

Festival Internacional de Animação de Pernambuco

08 a 17 de outubro de 2021

online I presencial I gratuito

links: textos em laranja 

Para os amantes da animação, já está rolando, em formato híbrido (presencial e online) um dos festivais de animação mais importantes do pais: ANIMAGE – Festival Internacional de Animação de Pernambuco. Confira algumas informações e links de acesso à excelente programação gratuita.

Uma conjunção de circunstâncias trouxe novos significados ao ANIMAGE em 2021. Neste ano, o festival realiza sua 11ª edição e adota um formato híbrido, com a maior parte da programação disponível na internet, além de projeções cinematográficas presenciais, em caráter simbólico, com público reduzido e outras medidas de segurança. 

Esta é a primeira edição oficial do festival após a interrupção provocada pela pandemia da Covid-19. No primeiro semestre de 2021, houve um retorno virtual, com exibições na internet de uma programação especial, alternativa e reduzida. 

O ANIMAGE retorna com sua programação completa e, com todos os cuidados necessários, realiza também cinco projeções presenciais, possíveis graças ao retorno das atividades do Teatro do Parque, belíssimo e histórico espaço no Centro do Recife, recém-restaurado e reequipado para atividades audiovisuais. 

Esta edição do ANIMAGE é simbólica porque representa o reencontro com a plateia. Simboliza também a reabertura do Teatro do Parque para sessões de um festival de cinema, um momento aguardado pacientemente pelo público recifense. 

É verdade que nem todos poderão estar presentes fisicamente, uma vez que será utilizada apenas parte da capacidade de público do espaço. Por outro lado, uma vasta programação digital poderá ser acessada ampla e gratuitamente por todos. 

A realização do ANIMAGE é um gesto de esperança e de expectativa por dias melhores para todos, um desejo expressado pelas possibilidades criativas ilimitadas da arte da animação. 

Dedicamos o festival a figuras como Joel Datz, o Irmão-Evento, um ícone dos eventos culturais do Recife, que continuará vivo em nossas lembranças e registros. 

Exibições e Conteúdos Educativos

As sessões presenciais serão realizadas no Teatro do Parque, no Recife. A programação de filmes e mostras online você acessa aqui: programação completa. As atividades educativas serão realizadas no canal Youtube do ANIMAGE. Você pode assistir clicando direto na atividade na página principal do site. Conheça a programação completa. 



Todos os dias tem estreia de conteúdo novo. Cada sessão ficará disponível por 24h a partir da estreia. E tem também as reprises! Todo o conteúdo do Festival ANIMAGE é gratuito: os filmes na plataforma online, os conteúdos no Youtube do ANIMAGE (masterclasses, painel e entrevista) e as sessões presenciais que vão rolar no Teatro do Parque. 

PLATAFORMA

Para conhecer as Mostras da programação online do ANIMAGE, basta acessar programação completa. Você pode assistir aos filmes na sequência, clicando na imagem com o nome da mostra, do lado direito da tela, ou assistir aos filmes individualmente apenas clicando em “Assistir”. Faça um cadastro simples – com seu nome, e-mail e senha – e pronto! Você já pode curtir o conteúdo disponível. 

PERÍODO DE EXIBIÇÃO


A programação online começa no dia 8 de outubro de 2021 às 19h e encerra no dia 17 de outubro de 2021 às 19h, com o anúncio e exibição dos filmes premiados. 

Permaneça logado no site até o fim do ANIMAGE, para assistir aos filmes sem interrupções. Não esqueça de observar as datas de estreia de cada filme/mostra. Elas ficam disponíveis apenas por 24h, a partir da estreia. As sessões também possuem reprises. Dê uma olhada na PROGRAMAÇÃO ou veja as datas e horários direto na plataforma. 

Configurar de Dispositivo

No geral, se você estiver no seu computador ou dispositivo móvel não precisará de nenhuma configuração específica. Mas existem várias maneiras de garantir uma excelente experiência do ANIMAGE no conforto da sua casa. Reserve um tempinho testar sua configuração antes de garantir que você está pronto para iniciar a transmissão. AQUI você tem a lista de opções. Escolha a mais adequada para você! Se ainda assim tiver alguma dúvida, entre em contato com a gente no email contato@animagefestival.com. 

Teatro do Parque

12 a 15 de outubro de 2021


Os Protocolos de prevenção à Covid - 19 para o Teatro do Parque - sessões presenciais de 12 a 15 de outubro de 2021 - são os mesmos utilizados pelo Teatro do Parque durante o seu funcionamento normal:

- Limite de ocupação da sala: 300 pessoas.

- Uso de máscara obrigatório durante todo período de permanência no espaço interno e externo do teatro do parque.

- Distanciamento de 1m entre as pessoas em todo o espaço interno e externo do teatro do parque (inclusive na fila para os ingressos).

- Disponibilização de álcool gel em vários pontos do espaço.

- Os banheiros estarão devidamente higienizados e haverá 

disponibilização de sabão e papel toalha.

- Será realizada apenas uma sessão por dia

- Haverá sinalização sobre as exigências de cumprimento dos protocolos por parte da equipe e do público

- Utilização das duas portas de acesso ao teatro

- Membros de uma mesma unidade familiar poderão ficar sentados juntos, desde que seja mantido o distanciamento de 1m para as outras pessoas.

 


Festival Internacional de Animação de Pernambuco

08 a 17 de outubro de 2021

FACEBOOK

YOUTUBE

INTAGRAM


terça-feira, 7 de setembro de 2021

2º ANIMATIBA - Festival Internacional de Animação de Curitiba

2º ANIMATIBA

Festival Internacional de Animação de Curitiba

01 a 15 de setembro de 2021

online e gratuitamente

links: textos em laranja 

Para os amantes da animação, que não perdem a oportunidade de conhecer as mais recentes produções mundiais, já está em exibição online e gratuita, o 2º ANIMATIBA - Festival Internacional de Animação de Curitiba, cuja programação reúne 203 filmes, de cinco continentes, entre os dias 01 e 15 de setembro de 2021, em mostras competitivas, na plataforma de streaming Play Animatiba, criada exclusivamente para o festival.  

O 2º ANIMATIBA - Festival Internacional de Animação de Curitiba também contará com lives interativas com profissionais do mundo da animação. A divulgação dos filmes premiados irá acontecer no dia 10 de setembro de 2021, com encerramento no dia 15 de setembro de 2021, quando haverá sorteios de brindes e o lançamento do catálogo do ANIMATIBA.


O ANIMATIBA 2021 conta com quatro categorias competitivas: Longas-Metragens, com sete filmes na disputa; Mundo Curtas, com 139 filmes concorrendo; BrasilCurtas, com 30 filmes nacionais competindo; e Curtas Estudantes, com 27 filmes saídos de faculdades e escolas de animação.  

O idealizador do festival, Paulo Munhoz, revela que “transferir o festival do presencial para o online foi um grande desafio, e já trouxe muitos frutos inesperados. Devido à grande quantidade de filmes inscritos, já podemos dizer que o ANIMATIBA, um festival brasileiro e curitibano, atraiu o olhar do mundo todo. Isso deu ao festival uma riqueza espetacular, pois temos a visão de mais de 50 países diferentes sobre temas como a pandemia, guerras, revoluções sociais, clima e as mais diversas relações humanas, com narrativas, estilos, técnicas e gêneros diferentes, que vão do humor ao drama, da aventura clássica a filmes experimentais.Um diferencial do ANIMATIBA é premiar melhor roteiro, melhor direção, melhor design e técnica de animação, melhor trilha sonora e melhor filme.​ A Mostra Longas-Metragens, a mais aguardada, conta com filmes da Nigéria, da Índia, da Rússia, da Hungria, do Chile, da Argentina e da Venezuela. A qualidade dos filmes é simplesmente absurda. São 15 dias para maratonar com toda a família. A comissão avaliadora terá um grande desafio para selecionar os campeões”. ​

 

PROGRAMAÇÃO MOSTRAS

01 a 15 de setembro de 2021

clique no link (abaixo) para acessar a

MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL

DE LONGAS-METRAGENS

 

01 a 15 de setembro de 2021

clique no link (abaixo) para acessar a

MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL

DE CURTAS-METRAGENS ESTRANGEIROS

 

01 a 15 de setembro de 2021

clique no link (abaixo) para acessar a

MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL

 DE CURTAS-METRAGENS BRASILEIROS

 

01 a 15 de setembro de 2021

clique no link (abaixo) para acessar a

MOSTRA COMPETITIVA INTERNACIONAL

 DE CURTAS-METRAGENS ESTUDANTIS BRASILEIROS

  

clique no link (abaixo) para acessar a

PROGRAMAÇÃO das LIVES


01/09/2021 – 20h

Live: Abertura do ANIMATIBA

com Organizadores e Realizadores Convidados

 

03/09/2021 – 20h

Live: Animação Curitibana e Paranaense

reunindo Produtores Locais,

AVEC - Associação de Vídeo e Cinema do Paraná,

SIAPAR - Sindicato da Indústria Audiovisual do Paraná

 

06/09/2021 – 20h

Live: Séries em Animação

com Oz Estúdios

participação de Hygor Amorin e Jonas Brandão

 

08/09/2021 – 20h

Encontro da Animação Brasileira

com ABCA - Associação Brasileira de Cinema de Animação

e ABRANIMA – Associação Brasileira de Animação

 

10/09/2021 – 20h

Live: Premiação

com Organizadores e Jurados

 

13/09/2021 – 20h

Live: Formação Profissional em Animação

com Azalia Muchransyah (Realizadora e Coordenadora do Programa de Cinema da Escola de Design da Bina Nusantara University - Indonesia), Daniella Michelena (Professora e Pesquisadora

do Curso de Design da Universidade Federal do Paraná),

Denize Araújo (Programa de Pós-Graduação em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná), Reynaldo Marchesini (Produtor Criativo da Flamma e coordenador da pós Gestão de Negócios em Artes Digitais), Elis Lobo (Coordenadora do Núcleo de Design

de Animação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná).

 

15/09/2021 – 20h

Live: Encerramento

e Lançamento do Catálogo do ANIMATIBA

com Sorteio de Prêmios para os Internautas

 


saiba mais

ANIMATIBA

Play Animatiba

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Youtube

 

ANIMATIBA é uma realização das empresas Tecnokena e Clipagem, e conta com incentivo cultural das empresas Colégio Positivo e Condor, e apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba e Prefeitura Municipal de Curitiba.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Crítica: Umbrella

 


UMBRELLA

por Joba Tridente

 Que a animação brasileira já atingiu um bom nível internacional não há como negar. Quem não se lembra da formidável trajetória do sensível desenho animado O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que concorreu ao Oscar de 2016, por exemplo? Todo cinéfilo, apaixonado por esta arte, sabe que a animação brasileira percorreu um longo caminho evolutivo, desde os primeiros passos, com as Caricaturas Animadas, de Raul Pederneiras, em 1907, para atingir a qualidade premiada de hoje em dia. O CGI tem facilitado o trabalho artesanal de animadores em todo o mundo, mas de nada adianta tecnologia se não tiver um bom roteiro, direção e, principalmente, se os envolvidos não souberem realmente contar uma história contagiante.  Estão por aí belíssimas animações premiadas, que foram desenhadas quadro a quadro, por artistas dedicados a seus projetos que, por vezes, levam anos para se completarem. Estes artistas não são contra a tecnologia gráfica, apenas abrem mão dela, para uma realização pessoal (muito) maior. Nesse mercado, a originalidade é tudo.



A mais recente produção brasileira a merecer destaque pela qualificação ao Oscar 2021, é o curta-metragem Umbrella (Guarda-Chuva, 2019), com roteiro e direção Helena Hilario e Mario Pece. A animação é um drama comovente que conta a história de um casal de crianças com um interesse em comum: um guarda-chuva amarelo. Para a menina, que, junto com a sua mãe, vai fazer uma doação de brinquedos em um orfanato, o guarda-chuva amarelo é um objeto útil que a protege da chuva. Para o menino, o guarda-chuva amarelo é um objeto importante na preservação da sua memória afetiva.


Umbrella, que marcou presença em mais de 19 festivais (Tribeca, Cinequest, Chicago International Film Festival, Calgary International Film Festival, Animayo, Foyle Film Festival, entre outros), com a sua mensagem edificante, fala de empatia, solidariedade e esperança. A animação, cujo roteiro é inspirado em fatos vivenciados em um orfanato, no sul do Brasil, em 2011, pela irmã da diretora, não traz diálogos e tudo é dito através de imagens muito bem construídas e de fácil compreensão pelo público infantojuvenil..., sem jamais aborrecer o adulto.


Produzida de forma independente pelo Estúdio Stratostorm, Umbrella é, sem dúvida, uma história tocante, com uma narrativa bem costurada..., mas há um porém, em momento algum ela lembra (nem de longe) o Brasil.  Toda a caracterização, assim como na animação Lino - Uma Aventura de Sete Vidas (2017), obedece aos padrões estéticos internacionais (norte-americanos)..., do traço dos personagens ao traço do cenário, tudo é tipicamente norte-americano ou britânico, incluindo os textos (em inglês) das placas. Ou seja, se o espectador não souber que os realizadores são brasileiros, jamais saberá (pelo desenho dos personagens e da arquitetura) que o excelente filme é brasileiro. Não há demérito algum na opção visual dos realizadores, já que, em grande parte do mundo em convulsão, o fato que leva o menino ao orfanato é uma constante..., mas fica um certo incômodo. Afinal, se a questão é puramente meteorológica (e não mercadológica), por aqui também chove e o drama de órfãos de lá também dói nos órfãos de cá!

Enfim, o caprichado curta-metragem de animação Umbrella, com sua pertinente história, que está mais para reflexão sobre cidadania que para a diversão passageira, e que deve tocar fundo o público espectador, terá sua estreia mundial, no Youtube , no dia 7 de janeiro de 2021, e ficará disponível, online e gratuitamente, até 21 de janeiro de 2021.  


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


domingo, 13 de outubro de 2019

Crítica: A Cidade dos Piratas



A Cidade dos Piratas
por Joba Tridente

Quando se fala em desenho animado, a referência do grande público é a de entretenimento para crianças, com bichinhos e objetos falantes, canções grudentas e histórias edificantes. Mas, no submundo das pranchetas, há muita história ao gosto dos espectadores adultos, que chegou às salas de cinema e ou pode ser encontrada na web, como Psiconautas - As Crianças Esquecidas; Uma Grande Aventura; Anomalisa; Túmulo dos Vaga-lumes; In This Corner of the World; Persépolis; Mary & Max - Uma Amizade Diferente; Rugas; Quando o Vento Sopra; A Festa da Salsicha; Chico e Rita; Fritz, O Gato; O Homem Duplo; Waking Life; Valsa com Balshir; A Ganha-Pão; Perfect Blue; Akira; Heavy Metal; As Bicicletas de Belleville; O Congresso Futurista; Idiots and Angels; O Menino e o Mundo; Uma História de Amor e Fúria; Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’roll... Não há desculpas para quem gosta de animação-cabeça, com temática (sexual, social, política, religiosa) contemporânea, achar que apenas o público infantil é priorizado.


Isso posto, vamos ao que interessa: A Cidade dos Piratas. Quem conhece os filmes do cineasta gaúcho Otto Guerra talvez já saiba (será?) o que esperar da sua mais recente animação em longa-metragem A Cidade dos Piratas. Porém, o espectador de primeiro desenho animado e ou o que só sabe da sua desconcertante obra cinematográfica apenas de ouvir falar e ou, ainda, no momento, está curioso por causa das célebres tiras Piratas do Tietê, da quadrinista Laerte Coutinho, que serviu de inspiração para o filme, vai ter uma baita surpresa..., é capaz até de ficar sem chão. Os machos convictos que se cuidem!

É que, longe da sua zona de conforto de mero espectador, alinhavar a balbúrdia, com tanto assunto polêmico (e muito pertinente no Brasil do retrocesso!)..., como transexualidade e homofobia; bissexualidade e preconceito sexual; machismo e feminismo; assédio e lavagem cerebral; poesia e palavrão; poluição urbana e mental; criatividade, desenvolvimento de roteiro e produção cinematográfica; agruras do câncer de cólon de Otto..., mixado a várias entrevistas reais de Laerte, é nada fácil.


Pelo bom uso e anárquico abuso da metalinguagem, ousaria dizer que Otto faz da animação A Cidade dos Piratas, o seu 8 ½, de Fellini..., uma vez que (diretor e personagem na trama) ele discorre com amargura e humor corrosivo sobre os obstáculos que precisou vencer, do início do projeto, em 1993, quando a ideia era simplesmente animar as tiras Piratas do Tiête, até a mudança de gênero (também sexual) de Laerte, que já não se sentia mais à vontade para adaptar o passado machista e tortuoso de seus personagens saqueadores e acabou turvando as águas do rio-esgoto Tietê, alterando, assim, completamente o curso de navegação do desenho animado.

Toda via do tumultuado tráfego n’A Cidade dos Piratas, no entanto, é bom frisar que, nesse ir e vir de piratas por tintas nunca antes navegadas, os roteiristas Rodrigo John, Laerte Coutinho, Thomas Créus e Otto Guerra não desembarcaram e tampouco desterram completamente os velhos piratas das tirinhas..., apenas atenuaram seu protagonismo. No noves fora da embarcação da discórdia, entre mortos e feridos, após um prólogo cruel, quem marca maior presença no enredo é o Capitão. Os demais aparecem em flashes e ou reconfigurados em outras personagens bem consistentes (político rancoroso, empresário enrustido, crossdresser etc), que soam como metáfora do nosso cotidiano (retrógrado) em busca do poder ou da felicidade.


Uma vez que a trama (com suas histórias paralelas) expõe um panorama intenso, embora íntimo e pessoal, do tumultuado processo fílmico do desenho animado, incluindo a separação profissional do diretor com a produtora Marta Machado e a discussão com a equipe de animadores, bem como o desnudamento de Larte (de certo modo já visto em Larte-se), é difícil classificar o gênero cinematográfico de A Cidade dos Piratas, com seu toque documental e biográfico, em meio aos traços uniformes de ficção e realidade.

Talvez, com a opção de costurar retalhos de várias narrativas (não necessariamente do universo dos Piratas do Tiête, mas sem perder a relevância) numa cidade-labirinto autofágica, onde reina um antropomórfico Minotauro, diria que A Cidade dos Piratas é uma animação híbrida em todos os sentidos. Cada um vai senti-la à sua maneira. Este é o papel da arte! Independente do que eu diga e ou do que o espectador verá na telona, a experiência do cinéfilo será sempre única. O que não quer dizer que não possa ser compartilhada e discutida com um público maior.


Enfim, com ou sem definição precisa de gênero, a provocativa animação A Cidade dos Piratas, de Otto Guerra (Rocky e Hudson: Os Caubóis Gays; Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’roll; Até que a Sbórnia nos Separe), tem a leveza e a sutileza de um rinoceronte numa loja de cristais finos. Portanto, esteja preparado mais para o desconforto do que para o riso (raríssimo), mesmo diante de cenas escatológicas. Se por um lado é tecnicamente irretocável, com suas sequências em preto e branco e ou coloridas, gags-cartuns animadas, excelente montagem (sem perder o ritmo e ou atropelar a narrativa, com a inserção das entrevistas de Laerte ao Roda Viva e Marília Gabriela, entre outros programas)..., por outro, a dublagem (principalmente de Marco Ricca) deixa a desejar. Às vezes é difícil entender as falas das personagens..., mas isso não impede saborear alguns diálogos inteligente e a poesia de Fernando Pessoa, bem como os desabafos de Laerte sobre a sua sexualidade (da adolescência à terceira idade).

Não é um filme de fácil digestão, pela quantidade de temas apresentados, mas deve encontrar um público adulto receptivo hoje, e amanhã, possivelmente um pesquisador interessado em nossos medos presentes. Como diz Laerte: O negrume do medo surge ao nos vermos sem a proteção de uma dor que possa ser curada. Estreia dia 31 de Outubro de 2019.


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeos-documentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado em Curitiba, no Paraná, Brasil.

sábado, 2 de setembro de 2017

Crítica: Lino - Uma Aventura de Sete Vidas

Lino - Uma Aventura de Sete Vidas
por Joba Tridente

Uma das minhas grandes paixões no cinema é o desenho animado, também conhecido como animação. Todo ano chegam (de outros países) obras maravilhosas como Kubo e As Cordas Mágicas e A Tartaruga Vermelha..., só pra ficar em duas mais recentes. Por aqui já desembarcaram excelentes produções Argentinas, Mexicanas, Francesas, Canadenses, Inglesas, Alemãs, Japonesas... Os EUA ainda dão muitas cartas e continuam referência técnica e de conteúdo, inclusive, nas animações europeias, mas já com menos vícios.

Desde 1951, com Sinfonia Amazônica, de Anélio Lattini Filho, os artistas brasileiros (na garra e na coragem) vêm trabalhando duro para conquistar um pedaço do saboroso bolo animado que há um bom tempo se espalhou por todo o mundo: Piconzé (Ippe “Ypê” Nakashima, 1973); Boi Aruá (Chico Liberato, 1984); Rocky e Hudson (Otto Guerra, 1994; O Grilo Feliz (Walbercy Ribas 2001); Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll (Otto Guerra, 2006); Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi, 2013); O Menino e O Mundo (Alê Abreu, 2013); Até que a Sbórnia Nos Separe (Otto Guerra e Ennio Torresan, 2013); Guida (Rosana Urbes, 2015).


No dia sete de setembro de 2017, quando se comemora o “Dia da Independência”, no Brasil, estreia nos cinemas a animação Lino - Uma Aventura de Sete Vidas, produzido pela StartAnima (Cassiopéia e O Grilo Feliz), com direção de Rafael Ribas. O filme com muita ação e alguma aventura acompanha as agruras de Lino (voz de Selton Mello), um sujeito tão azarado que, por não ter aptidão profissional alguma, cria uma horrorosa fantasia de gato (vermelho e amarelo) para “animar” festas infantis. Um desastre anunciado! Decidido a dar um novo rumo à sua vida, ele procura os serviços do feiticeiro Don Leon (voz de Luiz Carlos de Moraes) e acaba sendo transformado na fantasia que veste. Como se não bastasse o incômodo, ele vira alvo da policial Janine (voz de Dira Paes), por suposto roubo e sequestro. Agora, pra tentar desfazer o feitiço, Lino e Leon terão de correr pra reunir três ingredientes inusitados, pois o tempo é curto (pra eles, porque, pro espectador, parece uma eternidade!).


Lino - Uma Aventura de Sete Vidas (Brasil, 2017) é daquelas produções que você torce para que dê tudo certo, que seja divertida, que te deixe orgulhoso do cinema de animação brasileiro. Porém, a história vai se esticando enfadonha e você não vê hora daquela chatice, daquele arremedo gringo terminar. É inacreditável que um argumento tão bacaninha (um animador de festas transformado na própria fantasia) tenha resultado num roteiro tão bobo, tão tosco e tão estadunidense. Parece até encomenda-teste de algum estúdio norte-americano acostumado com a mão de obra sul-coreana querendo ver como se saem os brasileños...


Há pouco, quase nada de Brasil na história, cuja referência mais gritante é a animação Monstros S.A (Pixar, 2001), onde uma menininha (Boo) se relaciona carinhosamente com um monstro azul e roxo (Sullivan). Ou será mera “coincidência” que uma menina órfã caia de amores pelo grande e mal-humorado gato vermelho e amarelo e acabe criando muita “confusão”?  Em cena, pra qualquer canto que se olhe, não se vê uma cidade brasileira com a ginga, a malandragem, o jeito de ser da nossa gente..., mas uma american (way of life) city com a maioria dos dizeres em inglês: Start News, Gasoline, One Way, Police, Ice Cream. A hollywoodiana perseguição automobilística (com as indefectíveis batidas!), dupla de policiais idiotas vestindo farda azul, café, piadas imbecis e a fixação por bunda, peido e cocô, não deixam dúvida quanto a matriz, o matiz e o mercado (do) alvo.


O enredo preguiçoso e incoerente, apressado nas soluções fáceis, deve “enredar” crianças pouco exigentes de seis a nove anos. Aos adultos acompanhantes recomenda-se deixar o “Tico” e o “Teco” em casa assistindo tv, para evitar o ronco em trio. Tecnicamente é razoável (não tenho a referência da versão em 3D)..., ainda que falte apuro em um ou outro recorte de personagens e na sobreposição (sem volume, profundidade e sombra) deles em algumas sequências. O desenho dos cenários é bem superior ao traço (sem originalidade) dos personagens que, por não terem nenhum carisma, parecem bem mais feios do que são realmente. A dublagem (pra variar) é equivocada..., tem momento em que não se entende os “diálogos”, o que, pelo todo, não deixa de ser uma benção. Da “trilha sonora” nem vou comentar! Enfim..., uma animação bonitinha, mas sem graça.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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