UMBRELLA
por Joba
Tridente
Que a animação brasileira
já atingiu um bom nível internacional não há como negar. Quem não se lembra da
formidável trajetória do sensível desenho animado O Menino e o Mundo, de
Alê Abreu, que concorreu ao Oscar de 2016, por exemplo? Todo cinéfilo,
apaixonado por esta arte, sabe que a animação brasileira percorreu um longo
caminho evolutivo, desde os primeiros passos, com as Caricaturas Animadas,
de Raul Pederneiras, em 1907, para atingir a qualidade premiada de hoje em dia.
O CGI tem facilitado o trabalho artesanal de animadores em todo o mundo, mas de
nada adianta tecnologia se não tiver um bom roteiro, direção e, principalmente,
se os envolvidos não souberem realmente contar uma história contagiante. Estão por aí belíssimas animações premiadas,
que foram desenhadas quadro a quadro, por artistas dedicados a seus projetos
que, por vezes, levam anos para se completarem. Estes artistas não são contra a
tecnologia gráfica, apenas abrem mão dela, para uma realização pessoal (muito)
maior. Nesse mercado, a originalidade é tudo.
A mais recente produção
brasileira a merecer destaque pela qualificação ao Oscar 2021, é o curta-metragem
Umbrella (Guarda-Chuva, 2019), com roteiro e direção Helena
Hilario e Mario Pece. A animação é um drama comovente que conta a
história de um casal de crianças com um interesse em comum: um guarda-chuva
amarelo. Para a menina, que, junto com a sua mãe, vai fazer uma doação de
brinquedos em um orfanato, o guarda-chuva amarelo é um objeto útil que a
protege da chuva. Para o menino, o guarda-chuva amarelo é um objeto importante
na preservação da sua memória afetiva.
Umbrella, que marcou presença em mais de 19
festivais (Tribeca, Cinequest, Chicago International Film
Festival, Calgary International Film Festival, Animayo, Foyle
Film Festival, entre outros), com a sua mensagem edificante, fala de
empatia, solidariedade e esperança. A animação, cujo roteiro é inspirado em
fatos vivenciados em um orfanato, no sul do Brasil, em 2011, pela irmã da
diretora, não traz diálogos e tudo é dito através de imagens muito bem
construídas e de fácil compreensão pelo público infantojuvenil..., sem jamais
aborrecer o adulto.
Produzida de forma
independente pelo Estúdio Stratostorm, Umbrella é,
sem dúvida, uma história tocante, com uma narrativa bem costurada..., mas há um
porém, em momento algum ela lembra (nem de longe) o Brasil. Toda a caracterização, assim como na animação
Lino - Uma Aventura de Sete Vidas (2017), obedece aos padrões estéticos
internacionais (norte-americanos)..., do traço dos personagens ao traço do cenário,
tudo é tipicamente norte-americano ou britânico, incluindo os textos (em inglês)
das placas. Ou seja, se o espectador não souber que os realizadores são
brasileiros, jamais saberá (pelo desenho dos personagens e da arquitetura) que
o excelente filme é brasileiro. Não há demérito algum na opção visual dos
realizadores, já que, em grande parte do mundo em convulsão, o fato que leva o
menino ao orfanato é uma constante..., mas fica um certo incômodo. Afinal, se a
questão é puramente meteorológica (e não mercadológica), por aqui também chove
e o drama de órfãos de lá também dói nos órfãos de cá!
Enfim, o
caprichado curta-metragem de animação Umbrella, com sua pertinente
história, que está mais para reflexão sobre cidadania que para a diversão
passageira, e que deve tocar fundo o público espectador, terá sua estreia
mundial, no Youtube , no dia 7 de janeiro
de 2021, e ficará disponível, online e gratuitamente, até 21
de janeiro de 2021.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema)
aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro
curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer
crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se
compara à "traumatizante" e divertida experiência de
cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do
norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003),
de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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