Lino - Uma Aventura de Sete Vidas
por Joba Tridente
Uma das minhas grandes paixões no cinema é o desenho
animado, também conhecido como animação. Todo ano chegam (de outros países)
obras maravilhosas como Kubo e As Cordas Mágicas e A Tartaruga Vermelha..., só pra ficar em
duas mais recentes. Por aqui já desembarcaram excelentes produções Argentinas,
Mexicanas, Francesas, Canadenses, Inglesas, Alemãs, Japonesas... Os EUA ainda
dão muitas cartas e continuam referência técnica e de conteúdo, inclusive, nas
animações europeias, mas já com menos vícios.
Desde 1951, com Sinfonia
Amazônica, de Anélio Lattini Filho, os artistas brasileiros (na garra e na
coragem) vêm trabalhando duro para conquistar um pedaço do saboroso bolo animado
que há um bom tempo se espalhou por todo o mundo: Piconzé (Ippe “Ypê” Nakashima, 1973); Boi Aruá (Chico Liberato, 1984); Rocky e Hudson (Otto Guerra, 1994; O Grilo Feliz (Walbercy Ribas 2001); Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’n’Roll (Otto Guerra,
2006); Uma História de Amor e Fúria
(Luiz Bolognesi, 2013); O Menino e O
Mundo (Alê Abreu, 2013); Até que a
Sbórnia Nos Separe (Otto Guerra e Ennio Torresan, 2013); Guida (Rosana Urbes, 2015).
No dia sete de setembro de 2017, quando se comemora o
“Dia da Independência”, no Brasil, estreia nos cinemas a animação Lino - Uma Aventura de Sete Vidas,
produzido pela StartAnima (Cassiopéia
e O Grilo Feliz), com direção de Rafael Ribas. O filme com muita ação e
alguma aventura acompanha as agruras de Lino
(voz de Selton Mello), um sujeito tão azarado que, por não ter aptidão
profissional alguma, cria uma horrorosa fantasia de gato (vermelho e amarelo)
para “animar” festas infantis. Um desastre anunciado! Decidido a dar um novo
rumo à sua vida, ele procura os serviços do feiticeiro Don Leon (voz de Luiz Carlos de Moraes) e acaba sendo transformado na fantasia que veste. Como se não bastasse o incômodo, ele vira alvo da policial
Janine (voz de Dira Paes), por
suposto roubo e sequestro. Agora, pra tentar desfazer o feitiço, Lino e Leon terão de correr pra reunir três ingredientes inusitados, pois o
tempo é curto (pra eles, porque, pro espectador, parece uma eternidade!).
Lino - Uma
Aventura de Sete Vidas (Brasil, 2017) é daquelas produções que você torce
para que dê tudo certo, que seja divertida, que te deixe orgulhoso do cinema de
animação brasileiro. Porém, a história vai se esticando enfadonha e você não vê
hora daquela chatice, daquele arremedo gringo terminar. É inacreditável que um
argumento tão bacaninha (um animador de festas transformado na própria fantasia)
tenha resultado num roteiro tão bobo, tão tosco e tão estadunidense. Parece até
encomenda-teste de algum estúdio norte-americano acostumado com a mão de obra
sul-coreana querendo ver como se saem os brasileños...
Há pouco, quase nada de Brasil na história, cuja referência
mais gritante é a animação Monstros S.A
(Pixar, 2001), onde uma menininha (Boo)
se relaciona carinhosamente com um monstro azul e roxo (Sullivan). Ou será mera “coincidência” que uma menina órfã caia de
amores pelo grande e mal-humorado gato vermelho e amarelo e acabe criando muita
“confusão”? Em cena, pra qualquer canto
que se olhe, não se vê uma cidade brasileira com a ginga, a malandragem, o
jeito de ser da nossa gente..., mas uma american
(way of life) city com a maioria dos dizeres em inglês: Start News, Gasoline, One Way, Police, Ice Cream. A hollywoodiana
perseguição automobilística (com as indefectíveis batidas!), dupla de policiais
idiotas vestindo farda azul, café, piadas imbecis e a fixação por bunda, peido
e cocô, não deixam dúvida quanto a matriz, o matiz e o mercado (do) alvo.
O enredo preguiçoso e incoerente, apressado nas
soluções fáceis, deve “enredar” crianças pouco exigentes de seis a nove anos. Aos adultos acompanhantes recomenda-se deixar o “Tico” e o “Teco” em casa assistindo tv, para evitar o ronco em trio. Tecnicamente
é razoável (não tenho a referência da versão em 3D)..., ainda que falte apuro em um ou outro recorte de personagens e na sobreposição (sem volume, profundidade e sombra) deles
em algumas sequências. O desenho dos cenários é bem superior ao traço (sem
originalidade) dos personagens que, por não terem nenhum carisma, parecem bem
mais feios do que são realmente. A dublagem (pra variar) é equivocada..., tem
momento em que não se entende os “diálogos”, o que, pelo todo, não deixa de ser uma
benção. Da “trilha sonora” nem vou comentar! Enfim..., uma animação bonitinha, mas sem graça.
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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