domingo, 5 de setembro de 2010

Crítica: Nosso Lar


Crítica: Nosso Lar

Muitos fãs ou crentes sempre fazem questão de não entender que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, assim como um livro é um livro e um filme é um filme..., ou algo parecido. Cinema e literatura têm tanto pontos convergentes quanto divergentes. E daí, se ao final há um e ponto ou e vírgula? Nenhum espectador público ou privado deve ver ou deixar de ver um filme ou qualquer espetáculo que seja só porque leu uma crítica favorável ou contrária. Espectador que é espectador (ou seria cinéfilo?) assiste o que quer, para ter a sua própria opinião, concordante ou discordante e (aqui, sim) ponto!


Nosso Lar (Nosso Lar, Brasil, 2010), com roteiro e direção de Wagner de Assis, é um drama da vida além morte, baseado no livro homônimo psicografado (em 1944) pelo médium Chico Xavier (1910 - 2002), através do espírito de André Luiz. Ele narra a venturosa caminhada de André Luiz (Renato Prieto) na Terra e numa Cidade Celestial que existiria acima do nosso planeta. André é um médico (viciado em seu trabalho) que, dado a exageros alimentares, contrai uma doença terminal. Considerado um suicida (pelo excesso praticado), morre e esperta no umbral, um tipo de purgatório, e ali convive com torturadores e torturados (num sofrimento aparentemente sem fim), até ser resgatado e levado para uma clínica. Ao despertar, agora num admirável mundo novo, ele questiona aquela realidade e a sua própria morte, toma consciência dos seus “atos pecaminosos” e atinge a redenção, conquistando o Nirvana. Ali, fora do hospital, numa cidade que parece saída diretamente de um fantasioso livro de contos maravilhosos ou de um filme de ficção científica sobre totalitarismo, com projetos arquitetônicos futuristas ou retrô (alguns de gosto bem duvidoso) ele terá oportunidade de (re)encontrar velhos conhecidos, acertar as contas com o passado e desenvolver poderes psíquicos, em prol dos desencarnados.


A produção que se destaca pelo uso de alta tecnologia digital nos efeitos especiais, um avanço também no gênero cinereligião realizado no Brasil, acaba abusando e provocando indigestão. Em algumas sequências o resultado passa do deslumbrante ao brega numa rápida mudança de foco. Como um filme não se faz (ou se basta) apenas com “roupa bonita”, Nosso Lar, com forte didática doutrinária e um clima que vai do horror gótico à ficção (variada), sem esquecer as parábolas bíblicas, carece de algo mais. O que se vê na tela é uma história pouco profunda, incômoda na sua carolice que, como toda e qualquer religião, tenta se impor sobre os (pobres) fiéis mais pelo temor (a alguma Divindade) do que pelo amor ( a alguma Divindade). É claro que, oferecendo a alternativa hipócrita do livre arbítrio (de fachada) onde só existem dois caminhos possíveis: o “certo” e o “errado”. Lembrando que não importa qual seja o escolhido, já que, quem decide qual é o “certo” e ou o “errado”, não é o humano comum (que fez a sua “livre” escolha), mas alguma Divindade poderosa (que se acha) acima do bem e do mal. Luz ou trevas é o buraco negro de todas as religiões, acredita-se ou não. E ponto!


Nosso Lar traz um elenco de (sempre os mesmos) atores carimbados (globais) ligados no automático em curto-circuito. A atuação do grupo principal, além de teatral, é sofrível. Parece aquelas espetaculosas apresentações religiosas dubladas, onde os atores precisam apenas abrir e fechar a boca, para parecer real. Não há conivência, envolvimento, entrega ao personagem. Tudo bem que o texto (aqui) não ajuda, mas se o ator acreditar nele, o espectador também acreditará. Pieguice à parte, para quem não é fiel ardoroso, Nosso Lar (infelizmente) soa apenas como um cinecatequese que pode mais afastar do que conquistar adeptos à sua causa evangelizadora. Se o tratamento dado à obra de André Luiz e Chico Xavier não foi dos mais felizes, o uso da trilha sonora de Phillip Glass, também decepciona. Ela se tornou intrusiva (e chata) demais, aparando arestas, preenchendo lacunas, conduzindo emoções... Lastimoso ainda é o figurino hippie judaico-cristão, com suas túnicas e togas comuns nesse tipo de filme evangélico ou de ficção (até mesmo científica) “zen”. Com a moda indo e vindo no tempo, não deve ser fácil projetar trajes, para uso futuro ou no além, que fujam dos pretensos angelicais.


Para quem pensa que o filme é ruim porque é brasileiro está muito enganado. Há centenas de tralhas estrangeiras (piores até) que têm a religião como pano de fundo. Os indigestos abacaxis mais recentes foram: O Livro de Eli (The Book of Eli), dirigido pelos irmãos Albert e Allen Hughes, filme evangélico estrelado por Denzel Washington, e Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones), filme espírita dirigido por Peter Jackson. Para quem quer ver uma obra-prima, recomendo Depois da Vida (Wandafuru Raifu), filme japonês dirigido pelo mestre Hirokazu Kore-eda, em 1998.

14 comentários:

  1. Concordo plenamente com sua crítica, e olha que sou espírita!
    O filme foi decepcionante, sem emoção.

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  2. Olá, Maria.
    Infelizmente ainda não foi desta vez que os filmes que tratam do Espiritismo marcou um ponto real.
    Vi, há alguns anos, uma série, se não me engano francesa, sobre Allan Kardec, que era agradável porque se bastava em si mesma, e, por isso, despertava curiosidade. O problema de filmes com foco religioso ou doutrinário, não está no tema abordado, mas em como ele é abordado ou abortado, quando vira cinema, que é outra linguagem.

    Abs.
    T+
    Joba

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  3. Olá Joba.
    Ainda não tive oportunidade de ver o filme, e te confesso que estou contando nos dedos para estréia dele em minha cidade. E como falas em teu texto que existem aqueles que saem maravilhados da sala de cinema e aqueles que saem com cara de que esperava algo melhor, minha ansiedade ficou mais aguçada rsrsrs.
    Nasci em uma família católica, apóstolica, romana temente a Deus (Credoooo). Quando comecei a caminhar com minhas próprias pernas, visitei alguns tipos de religião para ver qual combinava mais com minha maneira de pensar. E foi justamente no Kardecismo que encontrei todas as respostas para minhas perguntas, inclusive que à Deus não se teme, se tem como amigo. Portanto discordo quando dizes que ..."como toda e qualquer religião, tenta se impor sobre os (pobres) fiéis mais pelo temor (a alguma Divindade) do que pelo amor ( a alguma Divindade)".
    Depois que ver o filme virei aqui te contar o que achei!! rsrrsr
    T+

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  4. Tirando os exageros, sua critica eh valida. As falhas quanto as tecnicas e ateh de construcao de cenas aconteceram.

    Porem, estou comentando pq algo me incomodou (por ser espirita). Imagine alguem que so assiste filme Kick Boxer comentando um filme como o Carteiro e o Poeta, vc perceberia na hora, pois o sujeito n tem mto conhecimento de causa (cinema). Eh o q eu penso qdo li da parte "tenta se impor sobre" ateh "E, ponto!", esse trecho entra na parte da religiao e vi q vc n tem conhecimento de causa. Pois vc fala como profundo conhecedor das religoes e do espiritimos que no seu ponto de vista (q pra mim eh o msm de quem soh entende de filme de Kick Boxer)resume grotescamente as doutrinas cristas q se divergem em mtos pontos. Tirando esse trecho, o restante da critica eh valida, pq estah na sua area de domino q eh o cinema.

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  5. Olá, Tita e Marlos.
    Também nasci católico apostólico romano. Porém, em a minha família, a crença era mista, e uma parte dela era espírita. Por isso, ainda na infância, e mesmo católico, frequentei um Centro Kardecista. Adolescente, comecei a questionar e a buscar respostas que nenhuma das duas me davam. Tornei-me um livre pensador e me aprofundei na filosofia e a na mitologia gregas, onde encontrei as respostas que buscava. Depois estudei um pouco de Budismo e, curioso sobre a literatura espírita, que não tinha acesso na infância, estudei a trilogia espírita: Livro dos Espíritos, Livro dos Mediuns e O Evangelho Segundo o Espiritsmo, entre outras. Abomino o livro (de terror) Memórias de Um Suicida (de Yvone do Amaral Pereira/Camilo Castelo Branco). Alguns textos (outros) acho até curiosos. Mas acredito nos equívocos auditivos: quando um texto (mensagem?) é ditado, dependendo de quem o dita e ou de quem o escuta, se não é bem articulado ou bem percebido, ele pode ser "totalmente" distorcido. Infelizmente isso não acontece apenas nos livros de cunho espírita.
    Se um leitor não lê no original, ele deve duvidar de todas as traduções. E ponto!
    Assim como uma pessoa não deve se deixar influenciar por um comentário crítico (ou não) sobre um espetáculo, também não deve se deixar influenciar por uma religião. Cada um de nós (e assim espero) deve ser livre para optar e opinar
    sobre o que lhe apetece. O que se percebe nos comentários dos espíritas que gostam do filme Nosso Lar (e está no direito deles gostar ou não)é a agressividade vociferante com que discordam dos que não gostaram do filme, por questões técnicas ou por não acreditar no assunto cinematografado.
    Não é com com ódio, raiva, condenações, agressões verbais,abominações, terrorismo religiosos (como se fossem os donos da verdade), desqualificando, jogando pedras nos comentaristas, que vão mudar a opinião destes (e quem mudar de opinião, por conta disso, é um hipócrita).
    Acredito que, se um dia um bom cineasta fizer um filme (de cunho espírita), livre das amarras doutrinárias, pensando em todos os públicos, e não em ser um caça-níquel fácil de espírita dadivosos (ou dos que se acham, mas desconhecem o significado de humildade, redenção (também título de um livro psicografado), perdão), a crítica poderá até ser favorável, se o filme merecer.

    Grande abraço.
    Obrigado por serem tão gentis na discordâncias.
    Nos lemos por aí.

    T+
    Joba Tridente

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  6. Oi, Joba, eu sou o Carlos Augusto. Não sei se lembra de mim. A gente se conheceu no lançamento do seu filme Cortejo, lá na Cinemateca. Tô sempre passando por aqui pra me divertir com os seus comentários. Fui ver também esse Nosso Lar. Parece uma lavagem cerebral, hein. Acho que se queriam aumentar o número de fiéis, erraram feio. Caramba, o sujeito trabalha feito um condenado e só porque gosta de comer uma boa comida é condenado a passar uma temporada naquele submundo? Ô espíritas mal humorados lá e aqui, hein? Os caras não sabem nem ler crítica. Aqui pra nós acho que a maioria ta indo no cinema pela primeira vez e aproveita pra cair em cima de quem não gostou do tal filme. Eu leio muito nos comentários violentos que se espalham na internet que os críticos não sabem o que falam porque não têm conhecimento da igreja deles e nem leram o livro. E daí, desde quando é preciso ler um livro pra gostar de um filme baseado nele? Ah, eu vi esse filme japonês que você citou, é massa demais. Muito bom! E aí, já tem algum outro filme pronto?

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  7. Olá, Carlos Augusto, me desculpe, infelizmente não me lembro de você. É até compreensível, já que meu filme foi lançado em 2008 e a Cinemateca de Curitiba estava lotada. Mas saiba que é bom encontrá-lo por aqui (ou qualquer hora por aí) e saber que gosta dos meus comentários ácidos. É, parece que o filme Nosso Lar tem despertado instintos (bem) ocultos dos espíritas que não aceitam opinião contrária às suas crenças. O fanatismo (seja religiosos, político ou até mesmo esportivo) cega e faz toda e qualquer gente agir com uma virulência típica dos humanos desequilibrados. E aí não importa se católico, muçulmano, evangélico, budista, espírita, na “defesa” da sua fé (cega) são capazes das piores barbaridades. A História está aí (desde o advento do catolicismo) para não nos dar alternativas contrárias.

    Quanto a conhecer uma igreja só porque foi retratada em um filme qualquer, acho irrelevante. Cada um (crítico ou não) deve buscar o conhecimento (religiosos ou não) onde bem quiser e se quiser. Quanto a mim, não sou um profundo conhecedor do espiritismo. Li (há alguns anos) não mais do que uns 20 livros psicografados e teóricos, e nem por isso me sinto incapaz de comentar sobre um filme de teor espírita. Também porque uma coisa tem nada a ver com outra. Houve um tempo, o do bom cinema (na minha adolescência), que, quando uma adaptação era muito bem realizada, os críticos diziam: veja o filme, leia o livro, ouça a trilha sonora. Mas, realmente, não acho imprescindível que se conheça um livro para gostar de um filme nele baseado. Também porque um ou outro pode decepcionar o leitor ou o espectador. Todavia, dada a qualidade da adaptação, um filme pode (e muito) despertar interesse para a literatura inspiradora. O que não me parece o caso do filme em questão. Quanto ao Depois da Vida (japonês), realmente é um belíssimo filme. Viu como é possível falar (quase) das mesmas coisas e de forma diferente?

    Bem, no momento estou trabalhando em alguns roteiros. Hora dessas (quem sabe?) a gente acaba cometendo mais algum.

    Abração.
    T+
    Joba Tridente

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  8. Olá Joba, eu aqui novamente, e ainda ser ver o filme. Morar no interior dá nisso.

    Mas discordo do anônimo quando citou as palavras que coloquei entre aspas.
    "Caramba, o sujeito trabalha feito um condenado e só porque gosta de comer uma boa comida é condenado a passar uma temporada naquele submundo?"

    Foi só isso que chamou a atenção dele no filme?

    Amigo a vida é uma escola, não estamos aqui a passeio tampouco para cometer exageros.

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  9. Olá, Tita.
    Como vê (e com certeza acontecerá também em sua cidade), Nosso Lar apaixona ou decepciona quem tem a curiosidade de ver o filme, por conta do tema ou por ele ser brasileiro.
    Não acredito que um cinespectador (espírita ou não) vá ao cinema apenas para fazer comentários negativos. É doentio demais e ou falta do que fazer. Muita gente está indo, não por ser espírita, mas pela massiva propaganda da Globo (produtora dele) e pode gostar ou não. O fato citado pelo Carlos Augusto é um dos pontos mais comentados. O importante é que cada um (espírita ou não) seja honesto na sua leitura.
    Pode ser que você também não goste do filme ou de como o livro Nosso Lar foi adaptado.

    Abração.
    T+
    Joba

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  10. Nosso Lar o filme, pode ser considerado o MAIOR fenômeno nacional, pois aborda um tema curioso e chamativo.

    Fora isso a obra Não é espirita

    Caso fiquem curiosos para participar entre : http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=102440724

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  11. Olá, Francisco Amado.
    Acredito que O Nosso Lar, o filme, ainda vai provocar comoções por um bom tempo.
    Ou pelo menos até O Nosso Lar-2.


    T+
    Joba

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  12. Pena que vemos pessoas que deixam o amor de Cristo, pois se apegaram mais as tradições dos pais que nos estudos da palavra de Deus. Leiam eclesiaste cap9: v 5 onde Deus deixa a verdade sobre os mortos. E segundo a palavra de Deus os sinais de engano de satanás enganarim até os eleitos. Infelizmente espiritismo não tem nenhuma aprovação bíblica e vocês não falam com mortos mas com espíritos decaído anjos que não são do Senhor. Se dela povo meu Diz o senhor. Leia a bibblia com amor e devoção e Cristo lhes explicará. Cava a palavra de Deus e Deus lhe mostrará tudo. Mas não creiam em homens. Creiam em Deus. Não fiquem triste comigo. quero apenas lhes informar que o engano espirita levará a muitos a perda de vida eterna.

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  13. Não precisamos de doutrinas, precisamos de mais amor, independente de religiões. Eu não sei por que as pessoas se apegam a religiões e esquecem o essencial. Atualmente não tenho religião, mas já fui de várias, já li tudo quando é tipo de livro e nenhuma religião foi capaz de sanar minhas dúvidas, pois se baseiam em fé cega e medo do inferno. Já havia lido o livro Nosso Lar, assim como o Evangelho segundo o espiritismo e mais alguns livros espíritas e achei meio fantasioso. Mas o filme foi de lascar. Assisti esperando que passasse uma mensagem bonita, mas a todo tempo só assisti mensagens moralistas. Não gostei.

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  14. Olá, Vanessa.
    O filme Nosso Lar tem dividido opiniões.
    Algumas mais sensatas, mais outras calorosas e até revoltosas da maioria dos fiéis, que (infelizmente) confunde qualquer comentário ao filme como ofensa à Doutrina Espírita.
    Gostar ou não de um filme ou de um livro é direito de qualquer cidadão espectador e ou leitor e deve ser respeitado.

    Abs.
    T+
    Joba

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