sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Crítica: Desenrola


por Joba Tridente

Talvez vire escola (Ôps!). A “comédia” romântica Desenrola, dirigido por Rosane Svartman, que finalmente chega aos cinemas, é uma espécie de versão feminina light do institucional As Melhores Coisas do Mundo (2010), de Laís Bodanski.

Assim como no filme de Bodanski, este também tem seu “porto seguro” num colégio e seus protagonistas fazem de tudo para perder a virgindade. Será que o adolescente brasileiro só consegue se reconhecer uniformizado em um colégio e “lutando” contra a virgindade? Segundo a produção, o filme é o resultado de um projeto que começou com uma pesquisa sobre sexo, originando a série de documentários Quando Éramos Virgem (veiculada em um canal por assinatura) e um livro homônimo (editado pela Casa da Palavra). A pesquisa também gerou uma web-série homônima, lançada no 2º semestre de 2008, propondo uma participação direta do público e acabou chegando à rádio, televisão e escolas do eixo Rio-São Paulo, onde foi debatido com os alunos.

Linear e sem qualquer conflito (nem amoroso) que desestabilize a história ou que cause algum incômodo no público (feminino!), a narrativa de Desenrola gira em torno de Priscila (Olívia Torres), uma adolescente de 16 anos que faz de tudo para perder a virgindade. O alvo do seu desejo, para solucionar o “problema”, é o único galã da escola (e do elenco) Rafa (Kayky Brito), por quem acha que está apaixonada. O assediado garoto não é tão fácil como imagina, mas ela não desiste.


Outro ponto em comum com As Melhores Coisa do Mundo é o seu caráter (também) institucional. O filme de Laís (via Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto) demonstra preocupação com a moral e bons costumes, e o de Rosane, com a inconveniência (tão somente) da gravidez. Porém, já que (aqui) o foco é o sexo, poderia ter sido aproveitado um antigo slogan carnavalesco que invocava o uso de preservativo: “Quem vê cara não vê Aids”. Seria a rima desta história que insiste no uso da camisinha entre os adolescentes que fazem propaganda dela o tempo todo, mas, ironicamente, não a usam. Talvez prefiram chorar depois.

Em Desenrola, a história praticamente começa e termina no clima escolar do Colégio Desenvolve (?!), um lugar aparentemente liberal, cuja razão cinematográfica está centrada numa aula em que um professor propõe aos alunos um trabalho de pesquisa. O tema? Bom, o tema é de uma profundidade assombrosa, “coisa para doutorado”. O grupo protagonista deve pesquisar sobre o número de alunas (ainda) virgens e o grupo coadjuvante, o número de meninos que enxugam as mãos nas calças, ao sair do banheiro. O primeiro cria alguns vídeos com “depoimentos” de alunas dizendo como foi a primeira vez. O segundo, nem presta contas da genial idéia.


Desenrola é feito (na medida) para meninas românticas e apaixonadas que acreditam na disponibilização de príncipes encantados para serviço sexual. É um filme leve, sem violência urbana (ainda bem!), familiar ou (sequer) brigas femininas (descabeladas) por causa de namorado, mas com cenas de cyberbullying (estranhamente) não levadas a sério (?). Aliás, as meninas (da fita) são tão ingênuas e sonhadoras e os meninos tão paspalhões que é difícil acreditar que tais personagens sejam frutos de longa (e árdua) pesquisa sobre sonhos e desejos adolescentes e (pior) que eles vivam no Brasil, tamanho o grau de civilidade.

O roteiro é insosso e o elenco jovem é mediano e sem muita convicção. A trilha segue a nova tendência da diversificação musical que tomou conta das recentes produções brasileiras e que poderia ser chamada de embaralhamento sonoro. Ela parece servir mais às gravadoras e rádios, do que à história. Ou será que os personagens (classe média) são tão descolados que curtem (tudo) até samba? Feito qualquer programa de televisão, não há o privilégio do silêncio, o espectador é obrigado a aturar em cada cena (ou sequência) uma música diferente: bossa nova, samba, rock, pop, emo etc. Algumas até boas, mas no geral acaba irritando. Enfim, um filme com cara de especial de TV e cujo público alvo feminino não deve passar dos 18 anos.

4 comentários:

  1. O público deste filme não deve passar dos 16 anos.A premissa é muito fraca, este é um filme infantil destinado ao público juvenil. "Desenrola", não desenrola. O argumento é fraco e demora a engatar, se a história começasse mais tarde talvez fosse melhor, ele demorar muito a pegar. Dá uma Sessão da Tarde bem meia boca.

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  2. Olá, Antunes.
    O que falta aos roteiristas e diretores brasileiros é uma boa olhada no cinema japonês, principalmente nas animações
    que falam dos "dilemas" infanto-juvenis,
    com graça e paixão.

    Abs.

    T+
    Joba

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  3. O filme é decepcionante mesmo. Muito chato, insosso, vazio como a vida de seus personagens. Roteiro fraco demais. Confuso, cheio de clichezinhos, e nenhuma situação inusitada que alavanque a história.
    Nem dá pra comparar às animações do cinema japones. Seria até uma ofensa. Mimi wo sumaseba (sussurros do Coração) , é envolvente, lindo, uma obra prima, que retrata bem o caos interior do coração dos adolescentes, ao passo que o Ddesenrola , ao contrário, é uma perda de tempo, sem humor sem conteúdo, raso como um pires. Os jovens brasileiros não são assim tão sem graça, e mereceriam um entretenimento melhor.

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  4. Olá, Hanada.
    As animações (longas ou curtas)japonesas são realmente incomparáveis no Brasil e em muitos lugares do mundo. Por isso sugeri que os roteirista dessem uma olhadela, o que duvido que o façam.
    Sussurros do Coração é realmente um obra-prima, assim como 5 Centímetros por segundo. Poderíamos falar ainda de uma dezena ou mais dele, mas, pra finalizar, vale citar o bonito, curioso e estranhíssimo Vozes de uma estrela distante.

    Grande abraço.

    T+
    Joba

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