segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Crítica: Brasil Animado


por Joba Tridente

O ano cinematográfico da animação brasileira começou bem desanimado, com a chegada de Brasil Animado, de Mariana Caltabiano. Vi a versão em 2D, no Clube do Professor, acompanhado por uma platéia de umas 20 pessoas (no máximo) entre professores e espectadores aproveitando o preço promocional.


O Brasil Animado que assisti, frustrando as minhas expectativas, é constrangedor. Os personagens são chatos, a dublagem “mecânica” é horrorosa e irritante, e a musiquinha ufanista da trilha é insuportável. O “roteiro” didático e enfadonho parece a serviço de alguma companhia de turismo do lugar comum ou da EMBRATUR, o que dá no mesmo. Não há sequer um destino dos dois viajantes animados que não tenha sido explorado à exaustão por telejornais e programetes turísticos até dos canais mais chinfrins. Ainda bem que o Brasil real é bem mais do que se vê ali. Ou quase se vê, melhor dizendo. Não sei se por “culpa” da projeção, ou qualidade baixa da captação, as “imagens turísticas” pareciam ter saído diretamente de um Túnel do Templo VHS, digo do tempo do VHS. Elas têm cara de coisa velha, parecem vindas lá dos anos 1970, 1980, por aí. A cor, as pessoas, os lugares, tudo parece prisioneiro daquelas fitas lá de trás. É um contraste impressionante com o colorido chapado da animação. Bom, também pode ser um estilo dos realizadores.

Brasil Animado (Brasil, 2010) narra as viagens de Relax e Stress, dois grandes amigos, em busca de um Jequitibá Rosa, que seria a mais antiga árvore do Brasil. Enquanto Stress só pensa nos lucros, com a exploração de tal tesouro, Relax aproveita a viagem para explorar os lugares por onde passam e para explicar (com tom professoral) o “o quê é o quê” e o “quem é quem” da região. O itinerário da dupla começa em Santa Rita do Passa Quatro, cidade interiorana paulista, e de lá segue por vários estados e o Distrito Federal. A linguagem utilizada em toda a narrativa é equivocadamente primária. Parece ser dirigida (exclusivamente) ao primário público do ensino fundamental. Se é que ele se interessa pela esquisita mistura ou pelas piadas sem graça que saltam de vez em quando para o nada.


O filme é um guia turístico (meio) animado com 3 focos ou 3 direcionamentos. O primeiro é o da animação, o segundo é o do turismo e o terceiro é o do cicerone. Os cuidados técnicos foram distribuídos conforme o grau de importância: desenhos dos personagens: medianos, imagens turísticas: ruins e desenhos complementares: péssimos. Os desenhos complementares, que ilustram a catatônica descrição de cada lugar (lendas, mitos, heróis), parecem cópia photoshopeada de a História do Brasil, antiga publicação (em fascículos) da Editora Abril. Talvez seja, mesmo, já que uma das revistas da editora é patrocinadora presente (via merchandising) no desenho, com o mesmo espaço publicitário do carro que carrega a dupla protagonista. Quanto ao texto ciceronizado, lembra a redação sonolenta de algum antigo livro didático de Conhecimentos Gerais.

Eu nem imagino como tenha ficado esta animação 2D em 3D, me basta a exaustiva experiência com a versão alternativa. 2011 pode ter começado meio frustrante no mundo animado brasileiro, mas o bom é saber que há uma boa quantidade de animações nacionais programadas até o fim do ano. É esperar pra ver (se estreiam) e torcer para que superem a má impressão deste Brasil Animado. Ser o primeiro nem sempre é a melhor opção. Mas alguém tem de correr o risco.

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