por Joba tridente
Vivemos em um mundo de segredos e de mentiras. Não há quem não tenha segredos e/ou quem não cometa mentiras..., para si mesmo e/ou para os outros ao seu redor. Segredos invioláveis é uma questão de tempo. Mentiras inofensivas é uma questão de vítima. Há sempre uma chave-mestra para tudo. Ou quase! Para falar dessa complicada sensação de “assim é se lhe parece” (muito bem delineada pelo mestre Pirandello), o premiado diretor e roteirista baiano Aly Muritiba (Para Minha Amada Morta, Ferrugem, Pátio, Jesus Kid) mergulha na dupla questão (segredo/mentira) e traz à tona um pouco de cada coisa, numa dramática crônica de costumes em que afetos e desafetos familiares e pessoais dão o tom da paixão e da solidão de seus personagens (em busca de si mesmos) em Deserto Particular. O filme estreia nesta quinta-feira, 25.11.2021.
Em tempos de extremismo exacerbado no país (e no mundo) Deserto Particular busca jogar por terra as máscaras cotidianas que os cidadãos de “honra estuprada” e “prenhes de falsa religiosidade” usam para parecer “gente de bem” (camuflando seus preconceitos) no curral das ideologias tacanhas que alimentam a “humanidade” há séculos e séculos em seus “améns”. É um drama melancólico que, além da idealização amorosa (virtual e presencial) esmiúça mais o que há de verdade e de mentira em Daniel (de formação militar), do que em Sara (de formação evangélica)..., também às voltas com o ser e o parecer ser aos olhos alheios, que, invariavelmente, lhe enxergam na sublimação do ideal e não na representação do real. Entre as certezas do ideal e as falhas do real, as aparências enganam (“..., aos que odeiam e aos que amam / porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões”: Sergio Natureza/Tunai). E como enganam!
Deserto Particular, de Aly Muritiba, escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, recebeu (até o momento) os seguintes prêmios: Prêmio do Público - Mostra Venice Days; Melhor Filme e Melhor Atuação, para Pedro Fasanaro, no Mix Brasil-2021; Melhor Filme Internacional TLVFest 2021 - The Tel Aviv Internacional LGBTQ Film Festival; Premio Camilo (melhor longa com temática LGBTQ), no Festival de Huelva - Cine Iberoamericano.
NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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