ARIAFERMA
por Joba Tridente
Quando se fala em filme policial ou mesmo de ação,
centrado em cadeia ou presídios, sempre se imagina uma trama de muita violência
e praticamente nenhuma humanidade na relação entre policiais e prisioneiros e
muito menos entre os prisioneiros..., um clichê que sempre funciona, mas que
pode cansar com o passar do tempo e ou dos filmes. Seja prisão masculina ou
feminina, há sempre um mesmo padrão recorrente: dominador e dominados e,
conforme o país, sujeira pra todo lado.
Toda via que leva cidadãos marginais e inocentes para
detrás das grandes e dos muros altos, onde tudo pode acontecer, também pode
levar grandes responsabilidades que, no cumprimento da ordem militar, não
necessariamente necessita de violência física ou tortura psicológica. É óbvio
que, embora o diálogo seja importante, nem sempre é possível uma conversação
saudável e ou sequer civilizada entre criminosos e policiais. Entre a segurança
e os conflitos da prisão real e da ficção, o diretor italiano Leonardo di Costanzo sugere, em Ariaferma (2021), um novo olhar
sobre a relação (possível?) entre policiais e prisioneiros. O filme será
exibido, online e gratuitamente, no 16º Festival de Cinema Italiano (05/11/2021 a 05/12/2021).
Escrito por Leonardo di Costanzo, Bruno Oliviero e
Valia Santella, este conto de boas intenções, que beira o melodrama, se passa numa
antiga prisão, em lugar indefinido na Itália, que será desativada e os presos
transferidos. No entanto, devido a questões burocráticas, doze presos serão
obrigados a permanecer no local, junto com a velha guarda, que já comemorava o
retorno para casa, até que uma nova prisão seja providenciada. Enquanto
aguardam os trâmites, os presos ocupam celas centrais, próximas à
administração, e um clima de tensão se instala e se agrava quando os
prisioneiros passam a rejeitar as quentinhas (comida industrializada) já que a
cozinha também foi desativada. Para evitar que o caos se instale, o Capitão Gaetano Gargiulo (Toni Servillo) acaba cedendo a uma
reivindicação dos prisioneiros e autoriza o mafioso Carmine Lagioia (Silvio
Orlando) cozinhar para eles, para desgosto do policial linha dura Franco Coletti (Fabrizio Ferracane). Há ainda um misto
de apreensão solidariedade no ar, com a chegada do jovem assaltante Fantaccini (Pietro Giuliano), à espera da pena definitiva.
O drama Ariaferma
é uma obra de ficção, livre das amarras
da realidade, em busca de alternativas humanitárias para a vida na prisão. Alternativas
que talvez funcionem num universo prisional micro (de crimes menores), como a
sequência do jantar coletivo, por exemplo, mas, num macro, me parece impossível
tamanha empatia. O que não quer dizer que sejam descartáveis. Talvez seja
apenas uma questão administrativa ou de se encontrar uma fórmula para realizar
a fantasia.
Diz-se que todo carcereiro é tão prisioneiro quanto
os criminosos que encarcera. Gaetano
refuta tal ideia, uma vez que está ali a trabalho e não por algum crime
hediondo que tenha cometido. Ainda que certas cenas incomodem, não é um filme
cruel e tampouco espetaculariza a violência (apenas a sugere)..., embora
mantenha um (bem resolvido) clima de suspense por toda a narrativa, que remete
a cenários de filme de terror.
Enfim, Ariaferma
é um filme diferente na sua maneira de expor tensão, raiva, solidariedade,
fragilidade, insegurança de homens em lados opostos da lei e da ordem, mas
também comovente sobre uma utópica vida prisional, ótimo elenco, encabeçado por
Toni Servillo e Silvio Orlando, excelente direção Leonardo di Costanzo, fotografia intimista de Luca Bigazzi e
cenografia arrepiante de Luca Servino.
Trailer: aqui
NOTA: As considerações acima são pessoais e,
portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de
carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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