COMO UM GATO NA MARGINAL
- RETORNO A COCCIA DI MORTO
(Retorno a Coccia di Morto)
por Joba Tridente
Ando meio osso e a cada dia não é qualquer comédia
que me faz rir e o sequer me faz abrir um sorriso amarelo. Parece-me que as
tramas estão regionalizadas demais e as idiossincrasias locais difíceis de
digerir. Mas, por via das dúvidas do humor suburbano, como havia gostado das
fotos, decidi abrir a guarda para a comédia italiana Como um Gato na Marginal - Retorno a Coccia di Morto (Come un gatto in tangenziale - Ritorno
a Coccia di Morto, 2021), de Riccardo
Milani e, sinceramente, me esbaldei de tanto rir. UFA! Ele será exibido, online e gratuitamente, no 16º Festival de Cinema Italiano (05/11/2021 a 05/12/2021).
Como um Gato
na Marginal - Retorno a Coccia di Morto, segundo filme de uma trilogia (não
conheço o primeiro Come un gatto in
tangenziale, de 2017, e o terceiro encontra-se em produção) desenvolvida por Riccardo Milani, é
daquelas comédias despretensiosas, com roteiro simples (não simplório) que te pega
logo nas primeiras cenas e só te solta, se você quiser, na cena final. O
desconhecimento do primeiro filme (que resultaram nos encontros e desencontros
desse) não interfere na apreciação.
Engajada social, política e culturalmente, a
narrativa acompanha o desdobramento da prisão de Monica (Paola Cortellesi,
excelente), por causa das suas irmãs gêmeas ladras compulsivas Pamela (Valentina Giudicessa) e Sue
Ellen (Alessandra Giudicessa),
que pede ajuda ao ex-namorado Giovanni
(Antonio Albanese, excelente), que
está envolvido com um importante projeto de recuperação de um Espaço Cultural
no subúrbio de Roma. Com a intervenção de Giovanni,
a pena é comutada e Monica é obrigada
a realizar trabalho voluntário liderado pelo belo e piedoso Don Davide (Luca Argentero), o padre comunista da Paróquia de San Basilio, ao
lado do Espaço Cultural onde Giovanni
está gerenciando e enlouquecendo com as exigências dos patrocinadores. É uma
mudança e tanto para uma mulher pragmática que quer distância da igreja, das
atividades culturais e, principalmente, das irmãs cleptomaníacas..., mas que
parece não conseguir ficar longe de confusões.
Este é o ótimo argumento que dá início ao
divertidíssimo embate sociocultural e político, envolvendo pessoas de classes,
culturas e interesses diferentes. O roteiro escrito por Riccardo Milani, Paola
Cortellesi, Giulia Calenda e Furio Andreotti é limpo, é direto e sem resquícios
de conceitos panfletários..., chega a ser didático (sem pieguice) ao falar..., de
forma bem-humorada, que é muito mais eficiente do que o ranhento mau-humor ou o
dramalhão..., de direitos à moradia, à alimentação e à cultura (que enche, sim,
a barriga de muita gente). Temas muito bem distribuídos na trama que homenageia
dois mestres do cinema, emprestando seus ícones: a enxadrista Morte, de O Sétimo Selo (1957), de Ingmar Bergman, e as assustadoras Gêmeas, de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, em situações hilárias (não posto as fotos para não estragar a surpresa!). É
claro que estando em Roma, não poderia faltar um passeio turístico, por vias
ocultas do grande público, à Fontana di Trevi.
Como um Gato
na Marginal - Retorno a Coccia di Morto, tem ritmo intenso - mal dá tempo
pra pensar, gags que funcionam,
momentos brilhantes de nonsense
(subliminar), como no registro de uma obra danificada em exposição no futuro Espaço
Cultural, e muita excentricidade (pesadelos fellinianos). Uma direção eficaz,
elenco confiante, aproveitando bem o tempo em cena. Enfim, um filme que tem
tudo para agradar ao grande público..., exigente ou não!
Trailer: aqui
NOTA: As considerações acima são pessoais e,
portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de
carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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