quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Crítica: Como um Gato na Marginal - Retorno a Coccia di Morto

 

COMO UM GATO NA MARGINAL

- RETORNO A COCCIA DI MORTO

(Retorno a Coccia di Morto)

por Joba Tridente 

Ando meio osso e a cada dia não é qualquer comédia que me faz rir e o sequer me faz abrir um sorriso amarelo. Parece-me que as tramas estão regionalizadas demais e as idiossincrasias locais difíceis de digerir. Mas, por via das dúvidas do humor suburbano, como havia gostado das fotos, decidi abrir a guarda para a comédia italiana Como um Gato na Marginal - Retorno a Coccia di Morto (Come un gatto in tangenziale - Ritorno a Coccia di Morto, 2021), de Riccardo Milani e, sinceramente, me esbaldei de tanto rir. UFA! Ele será exibido, online e gratuitamente, no 16º Festival de Cinema Italiano (05/11/2021 a 05/12/2021). 


Como um Gato na Marginal - Retorno a Coccia di Morto, segundo filme de uma trilogia (não conheço o primeiro Come un gatto in tangenziale, de 2017, e o terceiro encontra-se em produção) desenvolvida por Riccardo Milani, é daquelas comédias despretensiosas, com roteiro simples (não simplório) que te pega logo nas primeiras cenas e só te solta, se você quiser, na cena final. O desconhecimento do primeiro filme (que resultaram nos encontros e desencontros desse) não interfere na apreciação. 


Engajada social, política e culturalmente, a narrativa acompanha o desdobramento da prisão de Monica (Paola Cortellesi, excelente), por causa das suas irmãs gêmeas ladras compulsivas Pamela (Valentina Giudicessa) e Sue Ellen (Alessandra Giudicessa), que pede ajuda ao ex-namorado Giovanni (Antonio Albanese, excelente), que está envolvido com um importante projeto de recuperação de um Espaço Cultural no subúrbio de Roma. Com a intervenção de Giovanni, a pena é comutada e Monica é obrigada a realizar trabalho voluntário liderado pelo belo e piedoso Don Davide (Luca Argentero), o padre comunista da Paróquia de San Basilio, ao lado do Espaço Cultural onde Giovanni está gerenciando e enlouquecendo com as exigências dos patrocinadores. É uma mudança e tanto para uma mulher pragmática que quer distância da igreja, das atividades culturais e, principalmente, das irmãs cleptomaníacas..., mas que parece não conseguir ficar longe de confusões. 


Este é o ótimo argumento que dá início ao divertidíssimo embate sociocultural e político, envolvendo pessoas de classes, culturas e interesses diferentes. O roteiro escrito por Riccardo Milani, Paola Cortellesi, Giulia Calenda e Furio Andreotti é limpo, é direto e sem resquícios de conceitos panfletários..., chega a ser didático (sem pieguice) ao falar..., de forma bem-humorada, que é muito mais eficiente do que o ranhento mau-humor ou o dramalhão..., de direitos à moradia, à alimentação e à cultura (que enche, sim, a barriga de muita gente). Temas muito bem distribuídos na trama que homenageia dois mestres do cinema, emprestando seus ícones: a enxadrista Morte, de O Sétimo Selo (1957), de Ingmar Bergman, e as assustadoras Gêmeas, de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, em situações hilárias (não posto as fotos para não estragar a surpresa!). É claro que estando em Roma, não poderia faltar um passeio turístico, por vias ocultas do grande público, à Fontana di Trevi. 


Como um Gato na Marginal - Retorno a Coccia di Morto, tem ritmo intenso - mal dá tempo pra pensar, gags que funcionam, momentos brilhantes de nonsense (subliminar), como no registro de uma obra danificada em exposição no futuro Espaço Cultural, e muita excentricidade (pesadelos fellinianos). Uma direção eficaz, elenco confiante, aproveitando bem o tempo em cena. Enfim, um filme que tem tudo para agradar ao grande público..., exigente ou não! 

Trailer: aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

 

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