segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Crítica: Sapatinho Vermelho e os Sete Anões

 


SAPATINHO VERMELHO E OS SETE ANÕES

por Joba Tridente

Neste fatídico 2020, o Coronavírus tem sido uma incômoda pedra no sapato de toda categoria de profissionais do cinema. A cota de prejuízos, imposta pelo distanciamento social, não distinguiu grandes, pequenos ou independentes produtores, realizadores e exibidores. Muitos distribuidores e organizadores de Mostras e Festivais de Cinema, incomodados pelo silenciamento das plateias, acabaram migrando e ou optando (temporariamente) pelas plataformas de streaming. Os mais resistentes estão no aguardo de melhores dias para lançamentos presenciais de seus filmes e ou exibição em Festivais e Mostras tradicionais. O fato de algumas salas de cinema estarem abertas para o público mais ansioso não é sinal de que os negócios melhoraram e ou de que a vida voltou ao normal no palco da sétima arte.



E por falar em lançamentos, pode ser que a animação sul-coreana Sapatinho Vermelho e os Sete Anões (2019), chegue às salas de cinema abertas ainda em 2020. Pelo sim, pelo não, fique com as minhas considerações ao filme que pode ser apreciado como uma paródia aos Contos de Fadas Clássicos e às Comédias Clássicas de Humor e ou a mais um genérico de Shrek (2001).

A história de Branca de Neve (com sua variação de coadjuvantes: ladrões, dragões, anões) o mundo inteiro (?) conhece. A história de Branca de Neve e Rosa Vermelha (ou Rosa Branca e Rosa Vermelha), meio mundo (?) conhece. A história de Os Sapatinhos Vermelhos, pouca gente (?) conhece. As duas primeiras foram recolhidas pelos geniais Irmãos Grimm e a terceira pelo grande Hans Christian Andersen. Os que os três contos (que já mereceram versões cinematográficas, televisivas e teatrais) têm em comum, na sua origem secular, é o terror, envolvendo suas protagonistas, que foi sendo amenizado ao consumo (moralizante) infantojuvenil.



Com roteiro e direção de
SungHo Hong, o desenho animado Sapatinho Vermelho e os Sete Anões é uma mistura de Branca de Neve (Grimm) com Os Sapatinhos Vermelhos (Andersen)..., ou melhor, uma releitura (muito) livre dos dois Contos Clássicos, cujo resultado é um híbrido (?) da Branca de Neve disneyana com personagens da franquia Shrek. Bem, se com Shrek deu a louca no distante Reino dos Contos de Fadas e jamais príncipes e princesas foram tão deliciosamente caricaturados..., o que restaria para uma Branca de Neve gorda e Sete Anões verdes demolirem de vez todos os padrões de beleza no Mundo da Imaginação Fantástica? Não muito!


Em Sapatinho Vermelho e os Sete Anões acompanhamos a saga de Branca de Neve, uma simpática princesa gordinha, em busca do pai desaparecido. Para sua segurança, ela foi obrigada a deixar o castelo quando o Rei Branco se casou com a vaidosa bruxa Regina, que acredita que a sua beleza eterna pode estar relacionada a um raro par de sapatos vermelhos nascidos de uma macieira. Bem, adivinha quem vai encontrar e calçar estes preciosos sapatinhos e ser obrigada a fugir da dona malvadeza e de seu Espelho Mágico e encontrar Sete Anões enfeitiçados por suas opiniões desrespeitosas a uma Fada Princesa e que farão de tudo para ajudar a jovem em troca de um mero beijo? Ufa! É claro, a Branca de Neve gorducha, só que agora magra e sedutora, por causa dos sapatinhos vermelhos. Assim, a bela e elegante jovem, que não se importava com a sua aparência, se junta aos anões verdes, que já foram os bonitos Sete Magníficos, para uma aventura de resgates (pessoais) cheia de ação, bruxaria e muita pancadaria pastelão/cartum.


Para quem assistiu à excelente franquia de
Shrek é praticamente impossível não reconhecer as inúmeras “referências” no traçado, na personalidade e até nos diálogos dos personagens de Sapatinho Vermelho e os Sete Anões àquela famosa animação que detonou os Contos de Fadas (principalmente nas versões disneyanas). Toda via das “coincidências”, no entanto, ainda que se destaquem mais as semelhanças do que as diferenças (inclusive em personagens secundários, como o príncipe Tantufuz), a animação sul-coreana tem os seus méritos e até ensaia alguma originalidade ao dar vida, por exemplo, ao pesadelo da disneyana Branca de Neve perdida na floresta.  Se no revolucionário desenho animado de 1937, em sua desesperadora rota de fuga, a delicada Branca de Neve se via sendo agarrada pelos apavorantes galhos das árvores, aqui, as árvores (troncos e madeiras) literalmente ganham vida, por conta das artimanhas de Regina. Mas nada a ver com o Barbárvore e os Ents de O Senhor dos Anéis..., a imaginação da bruxa não chega a tanto.

Ah, e por falar em “referências”, “homenagens” ou “citações” cinematográficas, é sempre bom lembrar, o que não falta no mercado de animações (pelo mundo) são produções similares. É claro, tudo pode não passar de mero acaso, já que um longa de animação leva cerca de três a cinco anos (dependendo da qualidade) para ser produzido e lançado.


Mas, não são apenas as “coincidências” entre a animação sul-coreana e a citada animação americana que têm chamado a atenção da crítica. Alguns críticos (e também cinéfilos) mais extremados, por causa da divulgação “controversa” (E se a Branca de Neve não fosse mais bonita e os 7 anões não tão baixos?) do filme em Cannes, em 2017, já acusaram os realizadores de promoverem a gordofobia, quando, na verdade, o que (realmente) se discute na trama é a autoaceitação. Embora Branca de Neve se ache maravilhosa naquele admirável corpo novo, ela gosta mesmo é do seu antigo rosto comum e do seu físico rechonchudo. Há. inclusive, uma sequência muito significativa, que não sei o quanto do subtexto será decifrado pelo público jovem, onde um simples beijo entre a bela e o feio, que deveria quebrar feitiços, aparentemente dá em nada. A magia não acontece como eles esperavam, pois, num embate entre autoaceitação e vaidade, a aparência física de cada um pode enganar os olhos, mas não a mente. Ao menos em tese e naquele momento de desvelações apaixonadas. Sim, eu sei, lembra aquela cena lá do...


Enfim, visando um entretenimento saudável para um público infantojuvenil, que parece não dar muita bola para as infindáveis repetições das histórias contadas no cinema, Sapatinho Vermelho e os Sete Anões apresenta uma narrativa ágil, divertida e irônica (A maçã é a fruta mais suspeita de todas.). Os personagens são simpáticos, a arte é excelente e a dose de humor satisfatória (algumas gags envolvendo os “anões” Merlin e Arthur são geniais). O roteiro cumpre o que promete e a direção de SungHo Hong surpreende. A impressão é a de que, este bom entretimento-família, com suas pertinentes mensagens edificantes, mesmo com seu clima pra lá de déjà vú, nasceu apostando em franquia. Ao menos é o que indica as cenas extras entre os créditos finais...


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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