O CORAÇÃO
DO MUNDO
por Joba Tridente
De vez em quando esbarro
em algum filme difícil de classificar. O premiado russo O Coração do Mundo
(Сердце мира, 2018), dirigido por Natalia Meshchaninova, é um
deles. Fica entre o drama obscuro, o suspense e o terror realista. Na trama,
acompanhamos a cansativa rotina do veterinário Egor (Stepan Devonin)
numa fazenda legalizada de treinamento de cães de caça à raposa, à texugo, à cervo.
Ele é um sujeito seco, inexpressivo, com sinais claros de psicopatia grave e
que aparenta guardar um segredo terrível. Morando numa edícula, naquela fazenda
esquecida no fim do mundo, onde parece apenas chover ou fazer frio, o solitário
e monossilábico Egor cumpre à risca os mandos do patrão: alimenta e
trata bem dos animais da fazenda e daqueles hospedados ali para o torturante
treinamento de caça à raposa e ao texugo..., que é de uma crueldade absurda. Toda
via da revolta, porém, ao descobrir a presença de ambientalistas bisbilhotando
ao redor da fazenda, o veterinário (sempre na iminência de um ataque de fúria)
vai demonstrar que, mais que um médico de animais, pode ser um verdadeiro cão
de guarda do local...
Enfim, O Coração do Mundo é um filme que pesa uma tonelada na cabeça do cinéfilo. Além da reflexão sobre a irracionalidade humana (evidentemente!), também busca foco ao questionar o alcoolismo (clichê indefectível nos filmes russos) e ao tangenciar os males das relações e das carências afetivas. A direção, elenco e a fotografia naturalista são excelentes. Não recomendo às pessoas com sensibilidade à flor da pele, ambientalista e defensores dos animas..., mas se quiserem se indignar com algumas sequências, fiquem à vontade.
Nota: O filme O Coração do Mundo será exibido no 1º. FESTIVAL DE CINEMA RUSSO - Russian Film Festival (10 a 30 de dezembro de 2020) que acontece online e gratuitamente na plataforma de streaming Spcine Play.
*Joba Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm,
realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003),
de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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