quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Crítica: Vamos Nos Divorciar

 


VAMOS NOS DIVORCIAR

por Joba Tridente 

Quem não gosta de uma boa comédia de costumes? Em tempo de pandemia não anda fácil a gente dar umas boas risadas. Toda via do humor, no entanto, confesso que ri um bocado com a hilária comédia russa, com pitadas de humor negro e nonsense, Vamos Nos Divorciar (2019), escrita e dirigida por Anna Parmas. O tema é até clichê em Hollywood: um marido, Misha (Anton Filipenko), troca a mulher, Masha (Anna Mikhalkova), médica ginecologista workaholic, mãe de seus dois filhos, por Oksana (Anna Rytsareva), uma jovem personal trainer. 


O casal reside num condomínio novo (típico de filmes americanos: casas iguais e vizinho estressado) e Masha é tão focada em seu trabalho, que acaba se tornando uma mãe e mulher ausente, sempre preocupada com as contas da casa. Misha, geofísico desempregado, que se ocupa dos deveres de casa, inclusive das crianças, é um cara gente boa que nas horas vagas frequenta uma academia de ginástica. Certa noite de luz de geladeira para o casal, num toque de celular, a traição de Misha com Oksana cai de sms nas mãos de Masha que, de tão tola, não se dá conta do óbvio ululante no intenso sapp-vupt do marido com a amante. Depois do leite derramado em casa alheia, indignada, descontrolada e se sentindo a mulher mais humilhada da Russia, Masha vai fazer de tudo (mesmo!) para ter Misha de volta. Porém, suas malucas e ridículas receitas sobrenaturais (mandingas muito usadas por mulheres inseguras e com receio da solidão também no Brasil) para reconquistar o amor perdido de Misha, não saem exatamente como ela espera..., algumas são bem engraçadas e outras bem melancólicas. 

Vamos Nos Divorciar é uma comédia leve e até descompromissada. Porém, a trama narrativa e a personalidade de Masha podem incomodar mulheres independentes, já que, a princípio, a médica é apresentada como uma mulher chata, tonta, submissa, totalmente sem noção e absurdamente tosca no relacionamento com os filhos e com o (ex)marido. Mas..., ela não tem uma com boa formação educacional e cultural? É até ginecologista! Sim, está no roteiro! Mas..., é bom que se diga, dependendo do ponto de vista, nem tudo que está no roteiro (escrito por uma mulher), pode ser considerado incongruência, deslize ou escorregão na casca de banana. O “equívoco” pode não passar de evocação à Jornada da Heroína? Será? Bom..., quem assistir decidirá! 


Enfim, considerando o roteiro simples e a direção correta de Anna Parmas, que critica, de maneira nada velada, a falta de personalidade, de independência e, principalmente, de autoestima das mulheres profissionais e ou tão somente donas de casa (bibelôs do lar); o bom e correto uso de estereótipos da cinematografia internacional (muito comum nos EUA); o tempo necessário para uma mulher invisível, como Masha (que só faz trabalhar), reconquistar a visibilidade diante da família e de amigos; a discutível questão (na Rússia?) de que a mulher é mais pudica que o homem em relação às oportunidades sexuais; as reviravoltas surreais do geofísico Misha (se é que todos os “pecadilhos” podem ser perdoados na Terra e ou no Céu); dispensando as indefectíveis cenas de corrupção (policial) e de bebedeira constrangedora (generalizada em filme russos) e um claudicante tropeço na continuidade..., Vamos Nos Divorciar é um bom entretenimento: leve, divertido, breve (92 min), reflexivo, charmoso e esquecível depois do relaxante passatempo...

Nota: O filme Vamos Nos Divorciar será exibido no 1º. FESTIVAL DE CINEMA RUSSO - Russian Film Festival (10 a 30 de dezembro de 2020) que acontece online e gratuitamente na plataforma de streaming Spcine Play.


Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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