domingo, 24 de abril de 2022

Crítica: Como Matar a Besta

COMO MATAR A BESTA
Matar A La Bestia
por Joba Tridente

O filme especialmente escolhido para a abertura da Sessão Vitrine, no dia 28 de abril de 2022, é uma coprodução que une Argentina, Brasil e Chile num drama de mistério (em tom fabular) que flerta com o universo onírico: Como Matar a Besta, da diretora argentina Agustina San Martín. 


Escrito por Augustina, a narrativa acompanha a chegada de Emília (Tamara Rocca), uma adolescente de dezessete anos, numa cidadezinha na fronteira da Argentina com o Brasil, em busca do irmão Mateo, que não responde às suas chamadas telefônicas, registradas na secretária eletrônica. No lugarejo, rodeado de floresta e tomado por uma neblina que nunca dissipa, Emília se instala na velha hospedaria da sua tia Inês (Ana Brun) e quando se põe em busca do irmão, encontra uma gente local arredia e temerosa com a história de uma besta-fera, que toma forma dos mais diversos animais e estaria escondida na floresta. Não demora para a garota perceber que terá de resolver o misterioso sumiço de Mateo sozinha, já que os moradores, que o ignoram completamente, estão mais preocupados em encontrar o amedrontador animal selvagem. Entre idas e vindas pela comunidade e em meio a problemas com vários eletrodomésticos da hospedaria e os decididos caçadores da fera, Emília faz amizade com Julieth (Julieth Micolta), uma hóspede recém-chegada... 


Como Matar a Besta (Matar A La Bestia, 2021) é um filme em que a bela fotografia de Constanza Sandoval e os achados cenográficos da direção de arte de Agustín Ravotti, num excelente estudo de imagem, contam mais sobre a trama obscura do desaparecimento de uma pessoa e o aparecimento de uma fera, do que a “interação” dos seus “monossilábicos” personagens que, de tão ausentes, parecem espectros aprisionados pela religião e/ou pela ordem estabelecida. Em sua trama econômica (quase um fiapo), vista através de espelhos embaçados, janelas empoeiradas, cortinas velhas e rasgadas, ambientes claustrofóbicos..., todos os alinhavos, todas as costuras possíveis de conteúdo ganham forma e cor tão somente nas observações do espectador, que poderá aceitar ou não a “sugestão” de metáforas (sociais, políticas, religiosas, sexuais) não explicitadas na narrativa em aberto. Cabe a ele dar asas à imaginação, preencher as várias lacunas e fazer conjecturas com os elementos mínimos que terá em mãos. Embarcar ou não na narrativa opressiva (que beira o surrealismo) e de rumo incerto é uma opção. 


Com sua trama lenta e ambígua, que pode dar a impressão de que o filme é uma ótima ideia para um curta com intenção de média que esticado virou longa, Como Matar a Besta deve satisfazer as expectativas daquele público que gosta de mergulhar no universo mítico latino-americano, sabor realismo fantástico, com pitadas de provocação, principalmente religiosa. Ao seu enredo (com pouquíssimos elementos), certamente não faltarão perguntas para espectadores e (ainda que não explore a metalinguagem) personagens encontrarem uma saída daquela estranha e inalterável bruma..., isso se as respostas chegarem a tempo! 

Enfim, seduzido pela fotografia e pela cenografia que (com seu inegável protagonismo) roubam a cena e a essência da história (jogada para um segundo plano), me parece que Como Matar a Besta resulta mais num filme introspectivo, de contemplação da psique humana, que necessariamente de mistério. Quem assistir concluirá! Ou não!

Trailer: Aqui

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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