quinta-feira, 18 de março de 2021

Crítica: Druk - Mais Uma Rodada

 


Druk - Mais Uma Rodada

por Joba Tridente

Quatro amigos adultos: Martin (Mads Mikkelsen), Peter (Lars Ranthe), Tommy (Thomas Bo Larsen) e Nikolaj (Magnus Millang). Quatro professores: História (Martin), Música (Peter), Educação Física (Tommy) e Filosofia (Nikolaj). Quatro homens em crise existencial: Martin (casado com Anika (Maria Bonnevie) e pai de dois adolescentes), Nikolaj (casado com Amalie (Helene Reingaard Neumann), pai de três filhos pequenos), Tommy e Peter, solteiros. Em comum: uma experiência sobre o nível alcoólico no corpo humano e a sociabilidade dinamarquesa. Será que algumas doses de bebida alcoólica nos deixam mais amáveis, mais profissionais, mais pensantes, mais responsáveis? Ou os degraus que nos levam ao céu são os mesmos que nos levam ao inferno? Escada prazerosa acima e ou escada frustrante abaixo, são muitos os questionamentos possíveis nas entrelinhas da instigante e totalmente amoral (claro!) sátira social, com alguns goles de drama, Druk - Mais Uma Rodada (Druk, 2020), dirigida por Thomas Vinterberg (A Caça), que chega tinindo da Dinamarca, onde parece que a bebedeira, assim como na Rússia, faz parte da cultura local


Em Druk - Mais Uma Rodada, com roteiro assinado por Vinterberg e Tobias Lindholm, o espectador acompanha em linha reta e sem precisar fazer um quatro com as pernas, a curiosa saga etílica dos amigos de longa data que, na noite de aniversário de Nikolaj, entre reminiscências juvenis e frustrações domésticas, amorosas e profissionais na meia idade, decidem testar a teoria do psiquiatra e psicoterapeuta norueguês Finn Skårderud sobre os humanos terem um déficit de álcool de 0,5% ao nascer. Como exemplo de bons copos que fizeram sucesso na vida artística e ou na vida política não faltam, no mundo, eles passam a acreditar que, se Skårderud estiver certo, com a reposição de 0,5% de álcool no sangue, as suas vidas darão uma quinada. A colher bailarina será a varinha de condão.


Inicialmente o quarteto não tem do que reclamar. Porém, com a autoestima lá em cima, os amigos decidem ir além do experimento e ditam uma nova regra: cada um irá beber, de segunda à sexta-feira, durante o expediente e ou até às 20h, e o grupo irá se reunir para registrar as impressões físicas e intelectuais diárias de cada um. Mas, será que, depois de entornarem todas, por horas, e sequer darem um gole pro santo, Martin, Tommy, Nikolaj e Peter vão ter noção do quão longe eles foram, em busca do prazer (efêmero) e da felicidade (fugaz), e, se preciso, rever seus conceitos em relação à imunidade ao álcool? Afinal, uma bebidinha no happy hour ajuda a solucionar problemas pessoais e profissionais e ou a agravá-los, depois da bebedeira? Bom, sabe como é, se o barman exagera nos ingredientes a chance de o drink desandar é enorme. Aí, ou ele assume o erro e volta à receita original e ou aguenta o tranco, que pode levá-lo a uma situação bem desagradável. Para os protagonistas a vida (em casa e na escola) jamais será a mesma enquanto durar o experimento..., ou depois.


A ode à bebida é milenar (Evoé, Baco!). Mesmo assim, no dia a dia, é possível ver o consumo de álcool (relacionado ao esporte e às conquistas amorosas) por ângulos diferentes e que sempre suscitam grandes e calorosas discussões sobre seus benefícios e ou malefícios. Na Ásia (Coréia do Sul, Japão, China), como se vê em documentários e ficção, beber pode ser catártico. Druk - Mais Uma Rodada não condena e tampouco absolve seus personagens escapistas (Todo mundo bebe neste país!), que preferem a bebida à um divã de psicanalista. Dando um certo suspense (à ação e à reação) no clima bêbado da trama, Vinterberg deixa o julgamento para o público espectador..., que poderá se incomodar com a crueza (ou repugnância) de algumas cenas, principalmente se já teve caso de alcoólatra na família. Seu enredo (que, num misto de cinismo, ironia e espanto, acompanha bons amigos em experimento alcoólico que os leva da sobriedade à embriaguez) é provocante; o elenco excelente; a direção que equilibra com maestria, no fio da navalha, um tema incômodo e reflexivo, no andamento que beira o tragicômico, é notável (a gag do bacalhau é antológica). Você pode até sair meio grogue da sessão..., mas, com ou sem ressaca, há de considerar que este é um filme que dá petisco pra muita discussão... Quem nunca ficou bêbado (sem dar vexame), jamais saberá o significado de dançar no ar!

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.

 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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