O que esperar quando já se sabe o que esperar de
um filme policial estrelado por Arnold Schwarzenegger, cujo título é O Último Desafio? Que não importa quem
ou quantos são os bandidos de ocasião, já que todos serão devidamente
trucidados? Que não importa quem vai lavar a telona depois da sessão de extrema
violência? Que, ao contrário do que sugere o título, este não é o derradeiro filme
do astro das pancadarias? Que um monte de outros “quês” não faz a menor
diferença, desde o filme de ação faça valer o ingresso?
O
Último Desafio (The Last
Stand, EUA, 2013), dirigido pelo coreano Kim Jee-woon, gira (em alta velocidade!) em torno de velho Xerife Ray Owens (Arnold Schwarzenegger), que vive na pequena Sommerton Junction,
fronteira com o México, e descobre, da pior maneira possível, que a sua pacata
cidade está na rota de fuga (e colisão!) do famigerado traficante Gabriel Cortez (Eduardo Noriega). O bandido que escapou espetacularmente de um
comboio do FBI, pilota um Corvette ZR1 que, com mais de 1.000 cavalos de
potência, atinge a 300 km/H. Como desgraça pouca é bobagem, antes de se preocupar
com Cortez, o Xerife vai ter de resolver um “probleminha” de território com a
quadrilha dele, chefiada por Burrell
(Peter Stormare), que já chegou à
região. Ray Owens, ex-policial de narcóticos
(que já viu sangue e morte demais), vai
contar apenas com a sua astúcia e a ajuda de um grupo despreparado: os policiais
Mike (Luis Guzman), Sarah (Jaimie Alexander) e Jerry (Zach Gilford), um desocupado curando a ressaca na cadeia, Frank (Rodrigo Santoro),
e um maluco colecionador de armas, Lewis
(Johnny Knoxville), que tem um
arsenal parecido com aquele visto em Exterminador
do Futuro 2.
O roteiro de Andrew Knauer é puro clichê: traficantes, FBI, refém, Xerife em fim
de carreira, perseguição de carro e a pé, tiroteio, pancadaria, destruição e
muito sangue. Quando começa (após o fantástico prólogo) você já sabe como vai
terminar. E os fãs do gênero querem mais do que isso? Os personagens são rasteiros,
pouco interessantes, mas o tom de humor dos diálogos, principalmente aqueles em
que o velho Owens (o personagem)
parodia o velho Schwarzenegger (o ator) ajudam a digerir. Ray e seu grupo heterogêneo lembra um exército brancaleônico. Na
verdade, à parte a violência, o tom do filme é meio Brancaleone e meio Monty Pyton.
Não é um humor negro tarantinesco, é mais pastelão. Estranha mistura!
O
Último Desafio não é um filme que exige grandes
interpretações, portanto o elenco está dentro da competência combinada. Ou, no
mínimo, se divertindo e ganhando um din din, já que nem mais o Arnold é de aço.
O cultuado Kim Jee-woon (mestre do horror) parece não se importar muito com o
roteiro fraco (cheio de referência a filmes antigos de Schwarzenegger) e consegue
o máximo do mínimo, nesse gênero batido que só tem ganhado alguma sobrevida ao dialogar
com o humor. Ele sabe o que quer das cenas de ação e o seu fotógrafo Ji-yong Kim sabe muito bem como filmar.
Já na fantástica abertura (uma das mais bonitas dos últimos anos) e crédito inicial , eles dizem a que vieram. Toda a trama tem o ritmo narrativo de HQs. Os
enquadramentos são incríveis e vão da “simplicidade” dos Mangás à sofisticação
das Graphic Novels, resultando em sequências sensacionais. A perseguição no
milharal é fascinante na sua tensão e plasticidade. Fazia tempo que não via uma
sequência tão criativa e tão bem realizada.
O Último
Desafio é insano, banal, engraçado, saudosista, realista, óbvio, violentíssimo...,
mas não há como negar que é um filme que cumpre o que promete. Os fãs de Schwarzenegger,
que há muito esperavam por esse reboot,
e de Santoro, se firmando nesse concorrido mercado..., não vão ter do que reclamar.
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