Quem anda meio desligado e viu ao bizarro Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros (2012),
de Timur Bekmambetov, agora deve estar se perguntando do porquê de um segundo
filme com o famoso presidente norte-americano. A resposta mais plausível, no
momento, é que este Lincoln, do
Spielberg, é um presidente mais ao gosto do estadunidense (conciliador!)
patriota. Se é que me fiz entender. O Lincoln
spielberguiano não deixou de ser um caçador (e nem poderia, em se tratando do diretor),
só que, em vez de caçar vampiros, para libertar os escravos, ele caça votos na
câmara de deputados para aprovar a Emenda 13, para libertar os escravos. Ora, uma
causa tão nobre quanto a outra. Em ambos os filmes sempre há alguém para ser
vampirizado, inclusive o espectador. Ou não?
Lincoln (Lincoln, EUA, 2012), de Steven Spielberg, é um drama de
tribunal bem ao gosto do cinemão hollywoodiano que também faz sucesso no
exterior. Não é uma cinebiografia de Abraham
Lincoln (1809 - 1865) e muito menos encerra qualquer eventual polêmica
sobre o 16º presidente norte-americano. Adaptado do livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln, da
historiadora Doris Kearns Goodwin, publicado em 2005, o ótimo roteiro de Tony
Kushner abarca apenas o breve período pós-reeleição do presidente, quando se intensificaram
os seus esforços para por fim à Guerra Civil e aprovar a Emenda 13, que
libertava os escravos, culminando com o seu assassinato.
Que Spielberg é mestre em histórias choramingas,
ninguém tem dúvidas. No entanto, em Lincoln
ele aparece um pouco mais comedido e, excetuando a melosidade musical de John
Williams, a pieguice é pontuada e quase esquecível. Entre os assuntos destacados para o foco
narrativo, a articulação política em torno da aprovação da Emenda 13ª fica em
primeiro plano. A Guerra Civil, mesmo com uma forte sequência de batalha, serve
apenas como pano de fundo. Uma boa opção do diretor, uma vez que a Guerra de
Secessão já foi demasiadamente explorada no cinema, enquanto que as mazelas da política
que desvelam um Lincoln (em impressionante
incorporação de Daniel Day-Lewis) nada
santo têm sabor de novidade.
O presidente que se vê na tela é um homem que, fazendo
valer o ditado “na política e no amor
vale tudo”, arregimenta um impagável trio de lobistas, W. N. Bilbo (James Spader),
Robert Latham (Jonh Hawkes) e Richard Schell
(Tim Blake Nelson), e não mede esforços
(leia-se subornos) na tentativa de aprovar a importante E13ª. Se realmente isso
ocorreu, os fins justificam os meios? Assim como eu, muita gente não é versada
em História Norte-Americana e ou sequer sabe até onde vai a liberdade poética
na exposição deste fato (no livro e na tela). Porém, se real, por melhor que
seja a causa em questão, conhecer este lado estrategista, manipulador
(maquiavélico?) do republicano Lincoln
é constrangedor.
Além do brilhante Day-Lewis, na composição de um
Lincoln rico em nuances: político centrado;
pai de família quase ausente; o contador de histórias com fundo de parábola...,
há que se destacar Sally Field, no
papel da sofrida Mary Todd Lincoln, e
Tommy Lee Jones que faz um deputado
altivo, Thaddeus Stevens, e de língua
afiadíssima. Lincoln é um filme se
sustenta mais nos diálogos (a certa altura confusos) do que na ação, o que
exige muita atenção do espectador. Correto, com excelente produção e ótimas
interpretações, é comedido até no final menos dramático, mas nem por isso menos
patriótico ou americanófilo.
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