terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Crítica: Lincoln


Quem anda meio desligado e viu ao bizarro Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros (2012), de Timur Bekmambetov, agora deve estar se perguntando do porquê de um segundo filme com o famoso presidente norte-americano. A resposta mais plausível, no momento, é que este Lincoln, do Spielberg, é um presidente mais ao gosto do estadunidense (conciliador!) patriota. Se é que me fiz entender. O Lincoln spielberguiano não deixou de ser um caçador (e nem poderia, em se tratando do diretor), só que, em vez de caçar vampiros, para libertar os escravos, ele caça votos na câmara de deputados para aprovar a Emenda 13, para libertar os escravos. Ora, uma causa tão nobre quanto a outra. Em ambos os filmes sempre há alguém para ser vampirizado, inclusive o espectador. Ou não?

Lincoln (Lincoln, EUA, 2012), de Steven Spielberg, é um drama de tribunal bem ao gosto do cinemão hollywoodiano que também faz sucesso no exterior. Não é uma cinebiografia de Abraham Lincoln (1809 - 1865) e muito menos encerra qualquer eventual polêmica sobre o 16º presidente norte-americano. Adaptado do livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln, da historiadora Doris Kearns Goodwin, publicado em 2005, o ótimo roteiro de Tony Kushner abarca apenas o breve período pós-reeleição do presidente, quando se intensificaram os seus esforços para por fim à Guerra Civil e aprovar a Emenda 13, que libertava os escravos, culminando com o seu assassinato.


Que Spielberg é mestre em histórias choramingas, ninguém tem dúvidas. No entanto, em Lincoln ele aparece um pouco mais comedido e, excetuando a melosidade musical de John Williams, a pieguice é pontuada e quase esquecível. Entre os assuntos destacados para o foco narrativo, a articulação política em torno da aprovação da Emenda 13ª fica em primeiro plano. A Guerra Civil, mesmo com uma forte sequência de batalha, serve apenas como pano de fundo. Uma boa opção do diretor, uma vez que a Guerra de Secessão já foi demasiadamente explorada no cinema, enquanto que as mazelas da política que desvelam um Lincoln (em impressionante incorporação de Daniel Day-Lewis) nada santo têm sabor de novidade.

O presidente que se vê na tela é um homem que, fazendo valer o ditado “na política e no amor vale tudo”, arregimenta um impagável trio de lobistas, W. N. Bilbo (James Spader), Robert Latham (Jonh Hawkes) e Richard Schell (Tim Blake Nelson), e não mede esforços (leia-se subornos) na tentativa de aprovar a importante E13ª. Se realmente isso ocorreu, os fins justificam os meios? Assim como eu, muita gente não é versada em História Norte-Americana e ou sequer sabe até onde vai a liberdade poética na exposição deste fato (no livro e na tela). Porém, se real, por melhor que seja a causa em questão, conhecer este lado estrategista, manipulador (maquiavélico?) do republicano Lincoln é constrangedor.


Além do brilhante Day-Lewis, na composição de um Lincoln rico em nuances: político centrado; pai de família quase ausente; o contador de histórias com fundo de parábola..., há que se destacar Sally Field, no papel da sofrida Mary Todd Lincoln, e Tommy Lee Jones que faz um deputado altivo, Thaddeus Stevens, e de língua afiadíssima. Lincoln é um filme se sustenta mais nos diálogos (a certa altura confusos) do que na ação, o que exige muita atenção do espectador. Correto, com excelente produção e ótimas interpretações, é comedido até no final menos dramático, mas nem por isso menos patriótico ou americanófilo.

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