Quem esperava ou imaginava que, após soltar a
voz em Rock of Ages (2012), o Tom
Cruise iria buscar novos desafios, pode ir tirando o seu colete a prova de bala
do guarda-roupa, porque o astro voltou com tudo (novamente!) a protagonizar
(outra vez!) um filme de ação. É claro, no (sempre!) papel de mocinho (agente,
detetive, policial etc) bang-bang.
Jack
Reacher - O Último Tiro (Jack
Reacher, EUA, 2013), com roteiro e direção de Christopher McQuarrie, é mais um thriller policial, no estilo pulp fiction, com variação mínima ao
gênero hollywoodiano. Fazendo jus aos clichês violência: tiros, socos,
perseguição de carros etc. Fazendo jus ao politicamente correto: hematomas,
sim..., sangue explícito, não! Como se sabe, o estadunidense fica traumatizado ao
ver sangue. A trama gira em torno de um assassino (cada dia mais comum nos EUA)
que atira a esmo e mata cinco pessoas numa manhã em Pittsburgh. A investigação
policial leva a um suspeito que nega a autoria e pede para chamar um tal Jack Reacher (Tom Cruise), um justiceiro solitário (ex-militar!) que está mais
para seu carrasco do que para seu amigo. O problema é que ninguém sabe onde se encontra
esse Reacher, que decide se quer ou não ser encontrado. Enquanto as autoridades
discutem sobre a existência do sujeito, ele entra em cena, desconfia da
movimentação nada amistosa ao seu redor e das provas contra o assassino Barr (Joseph Sikora), aceita trabalhar com a defensora pública Helen Rodin (Rosamund Pike) e parte para os “finalmentes” que indicam algo muito
maior por trás dos “assassinatos casuais”.
Com aguçado sentido de observação e habilidade para
solucionar crimes, pelas vias da dedução básica ou da força bruta, Reacher parece uma versão rústica de Sherlock Holmes (sem o Dr. Watson), de Arthur Conan Doyle. Baseado
em Um Tiro (One Shot), o 9º volume de
uma longa série policial criada pelo escritor britânico Lee Child, protagonizada por Jack
Reacher, o filme de ação (tradicional) e suspense (clássico) começa bem,
com sequências arrepiantes. No entanto, a narrativa interessante e envolvente, que
desperta curiosidade no prólogo, aos poucos vai perdendo o fôlego. Lá pelo meio
deixa a inteligência de lado, ganha ares rocambolescos, abusa da violência e da
firula e desemboca num epílogo pífio. Nessa história que vai se tornando
confusa e sonolenta, vale destacar a participação do cineasta Werner Herzog no papel (truncado) do
cruel Zec. O Reacher, sombrio e inexpressivo (?) na performance de Cruise, está
mais para personagem de HQ. No geral, o elenco atua no automático.
Jack
Reacher - O Último Tiro é diversão passageira para aquele público pouco
exigente e ou de memória curta. Como o gênero policialesco (literário,
cinematográfico) a cada dia passa mais ao largo da originalidade, os fãs das
séries policiais de TV vão se sentir em casa. Assistir aos mesmos atores sempre
nos mesmos papéis (apenas com nomes diferentes) também não ajuda. O filme
carece daquela boa dose de humor que popularizou James Bond e deu um charme especial ao Ethan Hunt, em
MI-Protocolo Fantasma. Até tem uma ou outra gracinha (nas constrangedoras
sequências de lutas), mas nada realmente engraçado. Por outro lado, o bom é que,
com isso, ficamos livres das indefectíveis piadas escatológicas machofalocratas,
apesar dos resquícios das insinuações sexuais por trás (ôps!) das grades.
Para quem desconhece o famoso personagem, segundo
o escritor Lee: “Reacher veio de todas as
leituras que fiz ao longo dos anos. Ele é um personagem lendário, baseado em
mitos, que aparece em todos os períodos da História - o forasteiro misterioso,
o nobre solitário. Um sujeito com princípios relativamente elevados, mas que,
por alguma razão, é banido e vai vagar por aí fazendo boas ações. Ele é a
metáfora de algo que todos nós secretamente desejamos, que é a justiça. Esse é
o grande apelo de Reacher, tanto para homens quanto para mulheres.
Especialmente as mulheres, acho, sentem-se ofendidas pela injustiça. Reacher fará
o que for preciso, sem receio de nada, para corrigir uma situação errada. É claro, há muita
violência nos livros, sem concessões. Mas eu creio que secretamente, lá no
fundo, queremos isso. Queremos ver as coisas serem corrigidas e os malfeitores,
punidos”. Então, tá!
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