terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Crítica: Detona Ralph


Férias chegando e com elas um animadíssimo anti-herói disneyano pronto para detonar as bilheterias e abarrotar as salas de cinema com os amantes dos velhos (vintages ou retrôs) e novos videogames (turbinados). Uma boa oportunidade para o fliperamaníaco (que sempre quis saber, mas não tinha a quem perguntar) conhecer a intimidade dos “bonequinhos dos games”.

Personagem de um antigo jogo de Fliperama, Ralph não aguenta mais o papel de vilão que representa há 30 anos no Detona Ralph. Cansado da mesmice, ele resolve fazer terapia de grupo, na Associação de Vilões Anônimos, onde tem a “genial” ideia de se infiltrar no jogo de alta resolução Missão de Herói, só para ganhar uma medalha. Ralph acredita que ela o fará tão amado e reconhecido (pelos outros personagens e jogadores) quanto o seu “parceiro” Conserta Felix Jr. É claro que o barato vai sair caro! Onde já se viu um sujeito programado para um jogo de 8 bits se meter em um de alta resolução e, pior, sem saber do que se trata?!


Apesar do tipo físico, grandalhão e com mãos enormes (que faz jus ao nome do jogo), Ralph é gente boa. Um meninão crescido, um vilão sem noção do perigo, mas com personalidade de herói. Um herói bem trapalhão, é bom que se diga, mas herói, de qualquer forma. Todavia, como de boas intenções as lan houses andam cheias, ao colocar em prática a sua inocente maluquice, Ralph acaba criando a maior confusão na plataforma dos games, misturando jogos, personagens e jogadores numa aventura hilária e alucinante.

Enquanto literalmente detona jogos alheios, ele acaba batendo de frente com a durona Sargento Calhoun (cuja Missão de Herói é caçar terríveis insetrônicos) e com a graciosa e instável Vanellope von Schweetz, uma obstinada piloto de carros de confeitos (cujo inimigo é o intolerante e misterioso Rei Doce) que pode ser a sua única aposta para dar a volta por cima ou escorregar de vez no melado. Ah, qualquer semelhança física do Rei Louco com o Chapeleiro Maluco, de Alice no País das Maravilhas, de Walt Disney, não é coincidência, é homenagem.



A ideia de misturar jogos e personagens é muito bacana (dá asas e asas à imaginação), no entanto a originalidade de Detona Ralph (Wreck-It Ralph, EUA, 2012) está mais no conceito tecnológico do que no perfil do personagem (Ralph), que lembra outros “malvados” de animações anteriores (tipo Megamente), que surtam (maravilhosamente) e depois se regeneram (assim, assim). O roteiro de Phil Johnston e Jennifer Lee tece uma trama de ação, aventura e romance bem acessível ao público infantil (acima dos seis anos). O bonito visual tem tudo para agradar aos jovens e trintões mais saudosistas. As crianças (principalmente as meninas fãs de animés e mangás) vão amar “a terra” da Corrida Doce, onde tudo o que se imaginar é feito com muito açúcar e com algum afeto. Já os meninos (e adultos masculinos) vão de deliciar mesmo é com o tiroteio e caça aos insetos mecânicos de Missão de Herói (com seu jeitão de Halo e Tropas Estelares).

As novidades técnicas de Detona Ralph são encher os olhos. A narrativa se alterna com perfeição em quatro mundos e ou plataformas diferentes: o de 8 bits, do Conserta Felix Jr. ou Detona Ralph; o hiperrealista do Missão de Herói; o fofinho Corrida Doce, com sabor animé; e a belíssima Estação Central de Jogos, inspirada na Grand Central Station de Nova York. Algumas das melhores gags estão nas impagáveis sequências na Estação Central, onde novos e velhos personagens (inclusive os aposentados) se encontram para falar (ou reclamar) da vida. Há muita referência a jogos antigos e nonsense com jogos desativados, porém, nada que impeça a um espectador (ignorante em games) acompanhar a edificante e divertida história (muito bem ilustrada para os pequeninos) sobre rejeição e (auto)aceitação, bullyng..., e feitos heroicos. Sem atropelar (é claro!) a moral e os bons costumes tradicionais da Disney.


Dirigido por Rich Moore (das séries Os Simpsons e Futurama), Detona Ralph (em 3D) é um filme que, mesmo com uma narrativa tão redondinha e tão previsível, emociona e faz rir, sem apelar para a escatologia (infantil ou adulta). O público alvo deste fascinante mundo povoado por simpáticos e curiosos personagens de fliperama é o espectador (e jogador?) infantojuvenil, entretanto, é bom lembrar que se trata de um universo de games (muita ação e aventura) e algumas cenas de violência (cultura norte-americana!) moderada e uma ou outra situação (que faz parte do mundo social infantil) podem incomodar aos pais. Fora isso, a curtição é certeira.



Paperman

Paperman é um cativante curta-metragem, em preto e branco, que se passa em Nova York dos anos 1950. Dirigido por John Kahrs, a fantástica história voa ao redor de um jovem que se apaixona por uma bela garota que esbarrou quando ia para o trabalho. Porém, como o destino é imprevisível, quando menos espera, ele a revê, a certa distância..., na verdade a uma boa distância, e fará de tudo para chamar a sua atenção. O único problema é que ele só tem uma pilha de papel à sua disposição e, se tem uma certa habilidade em dobraduras, é ineficaz na mira. O roteiro excelente e a técnica apuradíssima (retrô) fazem de Paperman uma animação deslumbrante! A mais divina compensação para o adulto (que odeia animação) que acompanhar os seus pequenos à sessão que vem a seguir!

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