quarta-feira, 2 de março de 2022

Crítica: Batman


B  A  T  M  A  N

The Batman

por Joba Tridente 

Após duas produções horrorosas, descartáveis e totalmente esquecíveis, mas que tem (?) lá seus fãs..., Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), do Christopher Nolan, e Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), do Zack Snyder..., eis que o notório vigilante noturno e o “maior detetive do mundo”, cujo mero sinal de presença na área/cena do crime, apavora bandidos e corruptos de Gotham City, está de volta às telas do cinema numa aventura, no mínimo, interessante: Batman (The Batman, 2022), dirigido por Matt Reeves (Planeta dos Macacos - A OrigemPlaneta dos Macacos - O Confronto; Planeta dos Macacos: A Guerra). 

Em Batman, roteirizado por Reeves e Mattson Tomlin, o espectador acompanha uma semana (31 de outubro a 6 de novembro) das mais agitadas de Bruce Wayne/Batman (Robert Pattinson) na conturbada Gotham City, onde não há limites para o crime e nem para a corrupção compartilhada por políticos, policiais, empresários. Ali, um charadista anda assassinando cruelmente homens públicos e deixando mensagens enigmáticas para o Batman, com indicações do local e da próxima vítima. O que faz o carrancudo Bruce (ego) e o soturno Batman (alter ego), com seus traumas à flor da pele e do espírito e sempre à beira de mais uma explosão de fúria, em nome da vingança justa, empreenderem uma corrida contra o tempo para desmascarar o criminoso, sempre a um passo à frente. 

“Eu sou a vingança!” 


Neste seu segundo ano de (polêmica) vigilância noturna em Gotham, o solitário e irredutível Batman só pode contar com a assistência doméstica e empresarial de Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e a assistência legal do tenente da polícia James Gordon (Jeffrey Wright). Porém, como até na sombra da noite os braços do crime deixam rastro, não demora para que o vigilante/detetive se encontre, para um bate-papo amistoso e/ou nem tanto, com infratores de renome como Oswald Cobblepot/Pinguim (Colin Farrell), Carmine Falcone (John Turturro) e até com a vingadora independente Selina Kyle/Mulher-Gato (Zoë Kravitz), que acaba mexendo com os sentimentos do Vigilante Noturno. No entanto, se no submundo do crime uma mão criminosa leva à outra, no submundo da internet (Deep/Dark Web), onde psicopatas como Edward Nashton/Charada (Paul Dano) são alimentados pelas mãos mensageiras de delinquentes seguidores obscuros, a procura de pistas é muito mais difícil, até para alguém altamente equipado como Wayne. 


O dramático Batman é um filme (noir) com muitas referências ao cinema dos gêneros suspense, policial, terror, e às mais famosas HQs do Homem-Morcego. Mas é bom que se diga, referências estas que só têm valor se descobertas pelo cinéfilo e o/ou leitor de quadrinhos do Batman. Comentá-las é estragar a surpresa..., ainda que Reeves já tenha citado as mais visíveis e alguns críticos - desmancha-prazeres - falado da maioria delas. Pois, se o público não as (re)conhece, desvelá-las acrescentará nada à apreciação da trama cheia de reviravoltas e reflexões sobre justiça, corrupção em grande escala e filantropia na caótica Gotham City, tomada por bandidos de todos os naipes. Uma coisa é citar referências que serviram de base para o desenvolvimento do roteiro e outra é dizer onde exatamente elas aparecem, obrigando-se a revelar trechos importantes do enredo. Assim, quem quiser que busque pelos tais easter eggs por aí..., por conta e risco do spoiler. 


Batman está longe de ser tão somente um filme de referências customizadas. O diretor e roteirista Matt Reeves, que olha para o futuro do jovem investigador e ambíguo herói em formação, e não para o seu passado, acertadamente não perde tempo recontando (pela enésima vez) a sua origem e/ou a razão da sua raiva (mais ou menos) contida em relação à justiça feita com as próprias mãos e àquela outorgada às autoridades nem sempre ilibadas. O que não quer dizer que estas questões estejam ausentes na intensa e claustrofóbica narrativa noturna espetacularmente fotografada por Greig Fraser. Porém, o contexto em que são discutidas é outro e bem mais complexo..., beirando o nosso cotidiano, cuja “humanidade” a cada dia despenca um pouco mais no precipício da arrogância. Algumas vezes ela é silenciosa (mas gritante!), se fazendo presente na sutileza da troca de olhar entre Batman e um inconsolável menino que, incompreensivelmente, acabou de perder o pai barbaramente assassinado. 


E por falar em fotografia, o tratamento de luz e sombra (nos mais diversos tons) que Fraser dá às imagens, principalmente noturnas, é um absurdo, de cair o queixo. É notável o modo como ele aproxima desesperadamente o espectador da ação..., jogando-o dentro das cenas, invariavelmente envoltas num ar sombrio, cinzento glacial, raramente vazado por uma luz outonal laranja-avermelhada. A ensandecida perseguição automobilística de Batman ao Pinguim, vista por ângulos inusitados, talvez seja a mais aflitiva sequência..., uma aula de fotografia aliada a uma edição formidável de William Hoy e Tyler Nelson. Mas gosto também da divertida e alucinante fuga de Batman, entre escadas em caracol, rumo a uma clarabóia, e a da sua descida (na vertical) por uma pilastra. 


Assim, considerando a qualidade do efeito sonoro (ruídos indistintos, pisadas pesadas, respiração abafada) que conduz o clima de suspense, levando terror aos bandidos (e espectadores) que não sabem o quê sairá das trevas para enfrentá-los (em cenas de lutas muito bem coreografadas); considerando as pitadas de humor leve e sincero e as incômodas sequências de grande violência, com muitas mortes e, praticamente, sem sangue (para não amedrontar os inocentes jovens norte-americanos); considerando a seleção de referências ao cinema clássico e/ou cult e às melhores histórias em quadrinhos do Vigilante Noturno; considerando a performance do excelente elenco e o convincente desenvolvimento de personagens traumatizados (em busca de redenção?) como Batman, Charada e Mulher-Gato, irmanados na intenção, mas não nos métodos, ao reagir justiceiramente e/ou vingativamente à sociedade opressora; considerando alguns diálogos e ou monólogos pertinentes sobre fazer justiça ou buscar por vingança, pelo ponto de vista de um assassino frio e calculista e/ou de um herói adrenalinado que, às vezes, passa do limite..., remetendo à famigerada fala: “Bandido e polícia é tudo a mesma coisa.”, do filme brasileiro Lúcio Flávio - O passageiro da agonia, de Hector Babenco; considerando o uso oportuno da mídia, recortes televisivos e internet, para falar de política, questões sociais, idolatria, crimes cibernéticos e aliciamento nas redes sociais; considerando o apurado figurino, principalmente a apavorante vestimenta do ultrajante Charada; considerando a magnífica direção de Matt Reeves e desconsiderando a maldita trilha sonora extremamente alta (é de enlouquecer!) que raramente cessa para dar um alívio de segundos aos ouvidos..., Batman, com sua aura de mistério, é um filme de muita ação e grandes achados narrativos que ainda vai dar muito que falar. Quanto à metragem de quase-quase três horas, acredite se quiser, não me incomodou... 

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


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