B A T M A N
The Batman
por Joba Tridente
Após duas produções horrorosas, descartáveis e
totalmente esquecíveis, mas que tem (?) lá seus fãs..., Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012),
do Christopher Nolan, e Batman vs Superman: A Origem da Justiça
(2016), do Zack Snyder..., eis que o notório vigilante noturno e o “maior
detetive do mundo”, cujo mero sinal de presença na área/cena do crime, apavora
bandidos e corruptos de Gotham City, está de volta às telas do cinema numa
aventura, no mínimo, interessante: Batman
(The Batman, 2022), dirigido por Matt
Reeves (Planeta dos Macacos - A Origem; Planeta dos Macacos - O Confronto; Planeta dos Macacos: A Guerra).
Em Batman,
roteirizado por Reeves e Mattson Tomlin, o espectador acompanha uma semana (31 de outubro a 6 de novembro) das
mais agitadas de Bruce Wayne/Batman (Robert Pattinson) na conturbada Gotham City, onde não há limites
para o crime e nem para a corrupção compartilhada por políticos, policiais,
empresários. Ali, um charadista anda
assassinando cruelmente homens públicos e deixando mensagens enigmáticas para o
Batman, com indicações do local e da
próxima vítima. O que faz o carrancudo Bruce (ego) e o soturno Batman (alter ego), com seus traumas
à flor da pele e do espírito e sempre à beira de mais uma explosão de fúria, em
nome da vingança justa, empreenderem
uma corrida contra o tempo para desmascarar o criminoso, sempre a um passo à
frente.
“Eu sou a vingança!”

Neste seu segundo ano de (polêmica) vigilância
noturna em Gotham, o solitário e irredutível Batman só pode contar com a assistência doméstica e empresarial de Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e a assistência legal do tenente da polícia James Gordon (Jeffrey Wright). Porém, como até na sombra da noite os braços do
crime deixam rastro, não demora para que o vigilante/detetive se encontre, para
um bate-papo amistoso e/ou nem tanto, com infratores de renome como Oswald Cobblepot/Pinguim (Colin Farrell),
Carmine Falcone (John Turturro) e até com a vingadora independente Selina Kyle/Mulher-Gato (Zoë Kravitz),
que acaba mexendo com os sentimentos do Vigilante Noturno. No entanto, se no
submundo do crime uma mão criminosa leva à outra, no submundo da internet
(Deep/Dark Web), onde psicopatas como Edward
Nashton/Charada (Paul Dano) são alimentados pelas mãos
mensageiras de delinquentes seguidores obscuros, a procura de pistas é muito
mais difícil, até para alguém altamente equipado como Wayne.

O dramático Batman
é um filme (noir) com
muitas referências ao cinema dos gêneros suspense, policial, terror, e às mais
famosas HQs do Homem-Morcego. Mas é
bom que se diga, referências estas que só têm valor se descobertas pelo
cinéfilo e o/ou leitor de quadrinhos do Batman.
Comentá-las é estragar a surpresa..., ainda que Reeves já tenha citado as mais
visíveis e alguns críticos - desmancha-prazeres - falado da maioria delas. Pois,
se o público não as (re)conhece, desvelá-las acrescentará nada à apreciação da
trama cheia de reviravoltas e reflexões sobre justiça, corrupção em grande
escala e filantropia na caótica Gotham City, tomada por bandidos de todos os
naipes. Uma coisa é citar referências que serviram de base para o
desenvolvimento do roteiro e outra é dizer onde exatamente elas aparecem,
obrigando-se a revelar trechos importantes do enredo. Assim, quem quiser que
busque pelos tais easter eggs por
aí..., por conta e risco do spoiler.
Batman está
longe de ser tão somente um filme de referências customizadas. O diretor e
roteirista Matt Reeves, que olha para o futuro do jovem investigador e ambíguo
herói em formação, e não para o seu passado, acertadamente não perde tempo
recontando (pela enésima vez) a sua origem e/ou a razão da sua raiva (mais ou
menos) contida em relação à justiça feita com as próprias mãos e àquela
outorgada às autoridades nem sempre ilibadas. O que não quer dizer que estas
questões estejam ausentes na intensa e claustrofóbica narrativa noturna espetacularmente
fotografada por Greig Fraser. Porém,
o contexto em que são discutidas é outro e bem mais complexo..., beirando o nosso
cotidiano, cuja “humanidade” a cada dia despenca um pouco mais no precipício da
arrogância. Algumas vezes ela é silenciosa (mas gritante!), se fazendo presente
na sutileza da troca de olhar entre Batman
e um inconsolável menino que, incompreensivelmente, acabou de perder o pai
barbaramente assassinado.

E por falar em fotografia, o tratamento de luz e
sombra (nos mais diversos tons) que Fraser dá às imagens, principalmente noturnas,
é um absurdo, de cair o queixo. É notável o modo como ele aproxima desesperadamente
o espectador da ação..., jogando-o dentro das cenas, invariavelmente envoltas num
ar sombrio, cinzento glacial, raramente vazado por uma luz outonal laranja-avermelhada.
A ensandecida perseguição automobilística de Batman ao Pinguim, vista
por ângulos inusitados, talvez seja a mais aflitiva sequência..., uma aula de
fotografia aliada a uma edição formidável de William Hoy e Tyler Nelson. Mas
gosto também da divertida e alucinante fuga de Batman, entre escadas em caracol, rumo a uma clarabóia, e a da sua
descida (na vertical) por uma pilastra.

Assim, considerando a qualidade do efeito sonoro
(ruídos indistintos, pisadas pesadas, respiração abafada) que conduz o clima de
suspense, levando terror aos bandidos (e espectadores) que não sabem o quê
sairá das trevas para enfrentá-los (em cenas de lutas muito bem coreografadas);
considerando as pitadas de humor leve e sincero e as incômodas sequências de
grande violência, com muitas mortes e, praticamente, sem sangue (para não
amedrontar os inocentes jovens norte-americanos); considerando a seleção de
referências ao cinema clássico e/ou cult
e às melhores histórias em quadrinhos do Vigilante
Noturno; considerando a performance do excelente elenco e o convincente
desenvolvimento de personagens traumatizados (em busca de redenção?) como Batman, Charada e Mulher-Gato, irmanados
na intenção, mas não nos métodos, ao reagir justiceiramente e/ou vingativamente
à sociedade opressora; considerando alguns diálogos e ou monólogos pertinentes
sobre fazer justiça ou buscar por vingança, pelo ponto de vista
de um assassino frio e calculista e/ou de um herói adrenalinado que, às vezes,
passa do limite..., remetendo à famigerada fala: “Bandido e polícia é tudo a mesma coisa.”, do filme brasileiro Lúcio Flávio - O passageiro da agonia,
de Hector Babenco; considerando o uso oportuno da mídia, recortes televisivos e
internet, para falar de política, questões sociais, idolatria, crimes
cibernéticos e aliciamento nas redes sociais; considerando o apurado figurino,
principalmente a apavorante vestimenta do ultrajante Charada; considerando a magnífica direção de Matt Reeves e desconsiderando
a maldita trilha sonora extremamente alta (é de enlouquecer!) que raramente cessa
para dar um alívio de segundos aos ouvidos..., Batman, com sua aura de mistério, é um filme de muita ação e
grandes achados narrativos que ainda vai dar muito que falar. Quanto à metragem
de quase-quase três horas, acredite se quiser, não me incomodou...
NOTA: As considerações acima são pessoais
e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de
carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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