segunda-feira, 21 de julho de 2014

Crítica: Planeta dos Macacos - O Confronto


No Brasil, os dubladores, digo, tradutores de títulos de cinemas, adoram um subtítulo..., o que praticamente entrega (ou estraga) um filme. Planeta dos Macacos - O Confronto (Dawn of the Planet of the Apes, EUA, 2014) está mais para o “Alvorecer” (Dawn), do título original americano, do que do complemento “Confronto”, da adaptação brasileira. Não que falte confronto no filme dirigido por Matt Reeves, muito pelo contrário. Há conflitos em ebulição a cada fotograma e nos mais variados níveis de provocação implícita e ou explícita.

Porém, o “Alvorecer” (do título) está direcionado mais ao “o dia seguinte” à catástrofe (ao recomeço) do que a um “Confronto” iminente. Inclusive, a sequência inicial (ou prólogo) do Alvorecer do Planeta dos Macacos (Dawn of the Planet of the Apes) está bem próxima da sequência inicial (ou prólogo: The Dawn of Man) Alvorecer do Homem, do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. É praticamente, sem nenhum demérito, uma visita ao clássico sci-fi. Tanto no filme de Kubrick quanto no de Reeves, os seres primitivos estão a um passo da cadeia evolutiva, descobrindo como usar armas e atacar furiosamente uma presa e ou um inimigo em potencial..., o que os colocará (quase?) no topo da cadeia alimentar. O que não quer dizer que o “Alvorecer” (assim como o “Entardecer”) não traga surpresas desagradáveis..., ou visitas indesejáveis para todos.


“Macaco não mata macaco.” é a regra máxima da nova comunidade de símios (gorilas, orangotangos, chimpanzés, bonobos) comandada por César (Andy Serkis), em seus primeiros passos rumo à (re)evolução da espécie. Um caminho que pode tanto aproximar quanto afastá-la da civilização humana.  Na verdade, dez anos após a dizimação de 90% de humanos, pela gripe simiesca (derivada de um vírus criado em laboratório para curar o Mal de Alzheimer) e conflitos entre nações, o que esses macacos mais querem é distância dos tais homens civilizados. Todavia, ainda que, para os humanos, uma regra como “Homem não mata homem.” jamais se aplicaria à matança por cor de pele, cultura, crença religiosa etc, há mais em comum entre as espécies do que supõe um teste de DNA.

Dez anos parece um tempo razoável para se enterrar um passado dolorido. O que os macacos viveram neste período, após a sua libertação dos laboratórios de pesquisa e zoológicos, é visível no semblante de cada um e no dia a dia da colônia, não é preciso de flashbacks. Quanto ao destino dos homens, é o que menos importa ao enorme bando totalmente adaptado à floresta de sequoias de Muir Woods. Ou era, até que a chegada de um grupo de humanos liderado por Malcolm (Jason Clarke), para reativar uma hidroelétrica em território símio, abre feridas em ambos os núcleos.


Neste desafiador drama de ficção, de um lado a diplomacia de Malcom e a intolerância de Carver (Kirk Acevedo), um homem que culpa os macacos pelo vírus..., e do outro, a diplomacia de Cesar e a intolerância de Koba (Toby Kebbell), um bonobo que não perdoa os humanos que o usaram como cobaia em experiências médicas. Cesar e Malcom vão precisar de muito mais que formalidades diplomáticas para acalmar os ânimos e evitar o pior. Uma trégua é bem-vinda para os dois grupos, resta saber quem dará o primeiro (bom ou mau) passo.

Planeta dos Macacos - O Confronto é tenso, perturbador. Reeves mostra-se mais uma vez seguro e ágil na direção. Evidentemente, numa produção de excelência como essa, a cenografia e os efeitos especiais não poderiam ser menores. Contudo, o seu maior trunfo (sofisticado e inteligente) é a comunicação entre os macacos, que mescla linguagem de sinais (que Cesar aprendeu no laboratório) com grunhido e inglês (tosco). O que nos leva às magníficas interpretações (em captura de performance) de Serkis (o compassivo e imponente César) e Kebbell (o apavorante e malicioso Koba). Aliás, Kebbell/Koba tem duas cenas antológicas, quando encontra homens armados numa velha base militar. Também se destacam Nick Thurston, na pele do adolescente Olhos Azuis, filho de Cesar, e Karin Konova, o orangotango conselheiro e mentor Maurice. Dois personagens quase silenciosos, mas de uma expressividade cativante.


Um espectador antenado com o os acontecimentos socioeconômicos no mundo e chegado a uma analogia entre a vida real e a fictícia, a partir do universo hollywoodiano, vai se sentir realizado com o pertinente roteiro escrito por Mark Bomback, em colaboração com Rick Jaffa e Amanda Silver, de O Planeta dos Macacos (2011). Os assuntos (que se acredita no subtexto) vão da posse e exploração estratégica de fonte de energia ao fim do imperialismo americano. Será?!

Enfim, quem não está nem aí para subtexto sócio-político, mas procura uma história convincente, com bom conteúdo e instigante reflexão, uma narrativa que não subestima e nem chateia o espectador, vai se sentir (também) muito gratificado.

NOTA: 
No Portal Motherboard você pode assistir ao impressionante documentário A Ilha dos Macacos, na Libéria (África) e a três curtas de uma série especial criada para sintonizar o espectador mais afoito ou distraído ao universo de O Planeta dos Macacos. As histórias se passam entre o primeiro e o décimo anos em que eclodiu o levante dos macacos e a dizimação da população pela “gripe símia”. Ou seja, entre O Planeta dos Macacos e o O Planeta dos Macacos - O Confronto. São eles: Spread of Simian Flu: Before the Dawn of the Apes (Year 1), com legenda em português, trata da propagação da gripe. O segundo, Struggling to Survive: Before the Dawn of the Apes (Year 5), com legenda em espanhol, fala da luta pela sobrevivência. O terceiro, Story of the Gun: Before the Dawn of the Apes (Year 10), com legenda em espanhol, é sobre uma arma que vai passando de mão em mão até que... Os curtas lembram A Estrada (2009), de John Hillcoat, mas é um trabalho muito bacana.

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