No Brasil, os dubladores, digo, tradutores de
títulos de cinemas, adoram um subtítulo..., o que praticamente entrega (ou
estraga) um filme. Planeta dos Macacos -
O Confronto (Dawn of the Planet of
the Apes, EUA, 2014) está mais para o “Alvorecer”
(Dawn), do título original americano,
do que do complemento “Confronto”, da
adaptação brasileira. Não que falte confronto no filme dirigido por Matt Reeves, muito pelo contrário. Há
conflitos em ebulição a cada fotograma e nos mais variados níveis de provocação
implícita e ou explícita.
Porém, o “Alvorecer”
(do título) está direcionado mais ao “o dia
seguinte” à catástrofe (ao recomeço) do que a um “Confronto” iminente. Inclusive, a sequência inicial (ou prólogo) do
Alvorecer do Planeta dos Macacos (Dawn of the Planet of the Apes) está bem
próxima da sequência inicial (ou prólogo: The
Dawn of Man) Alvorecer do Homem,
do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço,
de Stanley Kubrick. É praticamente, sem nenhum demérito, uma visita ao clássico
sci-fi. Tanto no filme de Kubrick
quanto no de Reeves, os seres primitivos estão a um passo da cadeia evolutiva,
descobrindo como usar armas e atacar furiosamente uma presa e ou um inimigo em
potencial..., o que os colocará (quase?) no topo da cadeia alimentar. O que não
quer dizer que o “Alvorecer” (assim
como o “Entardecer”) não traga
surpresas desagradáveis..., ou visitas indesejáveis para todos.
“Macaco
não mata macaco.” é a regra máxima da nova comunidade de símios
(gorilas, orangotangos, chimpanzés, bonobos) comandada por César (Andy Serkis), em
seus primeiros passos rumo à (re)evolução da espécie. Um caminho que pode tanto
aproximar quanto afastá-la da civilização humana. Na verdade, dez anos após a dizimação de 90%
de humanos, pela gripe simiesca (derivada de um vírus criado em laboratório
para curar o Mal de Alzheimer) e conflitos entre nações, o que esses macacos
mais querem é distância dos tais homens civilizados. Todavia, ainda que, para
os humanos, uma regra como “Homem não
mata homem.” jamais se aplicaria à matança por cor de pele, cultura, crença
religiosa etc, há mais em comum entre as espécies do que supõe um teste de DNA.
Dez anos parece um tempo razoável para se enterrar
um passado dolorido. O que os macacos viveram neste período, após a sua
libertação dos laboratórios de pesquisa e zoológicos, é visível no semblante de
cada um e no dia a dia da colônia, não é preciso de flashbacks. Quanto ao destino dos homens, é o que menos importa ao
enorme bando totalmente adaptado à floresta de sequoias de Muir Woods. Ou era, até que a chegada de um grupo de
humanos liderado por Malcolm (Jason Clarke), para reativar uma
hidroelétrica em território símio, abre feridas em ambos os núcleos.
Neste desafiador drama de ficção, de um lado a
diplomacia de Malcom e a intolerância
de Carver (Kirk Acevedo), um homem que culpa os macacos pelo vírus..., e do
outro, a diplomacia de Cesar e a intolerância
de Koba (Toby Kebbell), um bonobo que não perdoa os humanos que o usaram como
cobaia em experiências médicas. Cesar
e Malcom vão precisar de muito mais
que formalidades diplomáticas para acalmar os ânimos e evitar o pior. Uma
trégua é bem-vinda para os dois grupos, resta saber quem dará o primeiro (bom
ou mau) passo.
Planeta
dos Macacos - O Confronto é tenso, perturbador. Reeves mostra-se
mais uma vez seguro e ágil na direção. Evidentemente, numa produção de excelência
como essa, a cenografia e os efeitos especiais não poderiam ser menores. Contudo,
o seu maior trunfo (sofisticado e inteligente) é a comunicação entre os
macacos, que mescla linguagem de sinais (que Cesar aprendeu no laboratório) com grunhido e inglês (tosco). O que nos leva às magníficas interpretações (em
captura de performance) de Serkis (o compassivo e imponente César) e Kebbell (o apavorante e
malicioso Koba). Aliás, Kebbell/Koba
tem duas cenas antológicas, quando encontra homens armados numa velha base
militar. Também se destacam Nick Thurston, na pele do adolescente Olhos Azuis, filho de Cesar, e Karin Konova, o orangotango
conselheiro e mentor Maurice. Dois
personagens quase silenciosos, mas de uma expressividade cativante.
Um espectador antenado com o os acontecimentos
socioeconômicos no mundo e chegado a uma analogia entre a vida real e a
fictícia, a partir do universo hollywoodiano, vai se sentir realizado com o pertinente
roteiro escrito por Mark Bomback, em colaboração com Rick Jaffa e Amanda
Silver, de O Planeta dos Macacos (2011). Os assuntos
(que se acredita no subtexto) vão da posse e exploração estratégica de fonte de
energia ao fim do imperialismo americano. Será?!
Enfim, quem não está nem aí para subtexto sócio-político,
mas procura uma história convincente, com bom conteúdo e instigante reflexão, uma
narrativa que não subestima e nem chateia o espectador, vai se sentir (também)
muito gratificado.
NOTA:
No Portal Motherboard você pode assistir
ao impressionante documentário A Ilha dos Macacos,
na Libéria (África) e a três curtas de uma série especial criada para
sintonizar o espectador mais afoito ou distraído ao universo de O Planeta dos Macacos. As histórias se
passam entre o primeiro e o décimo anos em que eclodiu o levante dos macacos e
a dizimação da população pela “gripe símia”. Ou seja, entre O Planeta dos Macacos e o O Planeta dos Macacos - O Confronto. São eles: Spread
of Simian Flu: Before the Dawn of the Apes (Year 1), com legenda em
português, trata da propagação da gripe. O segundo, Struggling to Survive: Before the Dawn of
the Apes (Year 5), com legenda em espanhol, fala da luta pela
sobrevivência. O terceiro, Story
of the Gun: Before the Dawn of the Apes (Year 10), com legenda em
espanhol, é sobre uma arma que vai passando de mão em mão até que... Os curtas lembram A Estrada (2009), de John Hillcoat, mas
é um trabalho muito bacana.
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