terça-feira, 1 de agosto de 2017

Crítica: Planeta dos Macacos: A Guerra

Planeta dos Macacos: A Guerra
por Joba Tridente

Provando que nem toda releitura cinematográfica é descartável ou subestima a inteligência do espectador, chega aos cinemas o fascinante Planeta dos Macacos: A Guerra..., um desfecho à altura da saga espetacular que recomeçou com O Planeta dos Macacos: A Origem (2011), seguido de Planeta dos Macacos: O Confronto (2014). Uma saga que tem mais divergências do que referências à franquia original nascida lá nos idos de 1968 e também inspirada na obra O Planeta dos Macacos/La Planète Des Singles (1963), de Pierre Boulle.


Planeta dos Macacos: A Guerra, novamente dirigido por Matt Reeves, com o roteiro dele e de Mark Bomback, se passa vinte anos após a ruptura entre as espécies humana e símia, causada (em parte) pelo traumatizado bonobo Koba (Tony Kebbell) em PM: O Confronto, onde a palavra de ordem era “Macaco não mata macaco!”. Agora que a vida anda mais calma na comunidade em que César (Andy Serkis) vive com seu grupo, no meio da floresta, uma ameaça carniceira chamada Coronel (Woody Harrelson) aparece com uma ferocidade humana ímpar, despertando não apenas o lado sombrio de César, mas provocando o êxodo dos macacos e uma nova palavra de ordem: “Eu não comecei esta guerra!”.


Esta guerra que foi enredando César, como se sabe, começou com o desenvolvimento de um vírus para o tratamento do Mal de Alzheimer e cujos efeitos colaterais desenvolveram a inteligência “humana” nos símios usados, sem nenhuma piedade, como cobaias (em Origem). O vírus sofreu mutação, virou gripe simiesca, matou bilhões de pessoas em todo o mundo, e, em busca de qualidade de vida, os norte-americanos sobreviventes enfrentaram violentamente os macacos (em Confronto).

Vinte anos depois, com outra mutação do vírus simiesco desencadeando uma estranha doença nos humanos, o Coronel, um militar com visão distorcida de cura e obcecado pela ideia de higienização do planeta, colocou em ação o seu exército particular para dizimar os macacos. Os dardos mortais foram lançados e feridas abertas. Quem sobrevier a esta guerra pessoal do insano Coronel, nascida de reação injustificável a uma dor familiar explicável, contará (literalmente) a história da raça suplantada.


É louvável que uma franquia popular de ficção científica, em meio a cenas pungentes de ação, traga à tona questões sociopolíticas pertinentes (saneamento, campos de concentração, racismo, xenofobia) sem escorregar nos clichês políticos de ocasião e sem forçar leituras óbvias. Nas referências (além do cinema clássico) que me parecem francas, uma das sequências (a mim) mais perturbadoras é aquela em que o Coronel, com maldade na alma e carregado de ironia, olhando para o majestoso César, diz que os seus olhos são tão expressivos que até parecem humanos. Um desconcerto que remete às reflexões do filósofo lituano Emmanuel Levinas (1905-1995) sobre o racismo nazista e a negação de humanidade àqueles considerados impuros. Pensando melhor, em toda a trilogia do Planeta dos Macacos cabem as profundas reflexões de Levinas sobre a dor e o terror no Planeta dos Homens!


Enfim..., considerando que este terceiro capítulo mantém a excelência dos capítulos anteriores no roteiro perspicaz que traz respostas criativas às dúvidas dos espectadores, na direção irretocável, no desenvolvimento de personagens cativantes, na coerência narrativa redonda, bem como nos impressionantes efeitos especiais que fazem o espectador se esquecer de que há um grupo de atores (de captura) dando vida (e que vida!) aos expressivos símios; que as performances do elenco de captura (incluindo o Steve Zahn, como o solitário chimpanzé Macaco Mau, e Karin Konoval, reprisando o adorável orangotango Maurice) e do elenco real (incluindo a bela Amiah Miller, no papel da órfã Nova) são um show à parte; que a trama emociona, sem ser piegas e moralista; que há cenas de beleza estonteante e outras de tristeza absurda..., se você gostou mesmo dos dois filmes anteriores, não perca o magnífico desfecho em Planeta dos Macacos: A Guerra.


NOTA: No Portal Motherboard você pode assistir ao impressionante documentário A Ilha dos Macacos, na Libéria (África) e a três curtas de uma série especial criada para sintonizar o espectador mais afoito ou distraído ao universo de O Planeta dos Macacos. As histórias se passam entre o primeiro e o décimo ano em que eclodiu o levante dos macacos e a dizimação da população pela “gripe símia”. Ou seja, entre O Planeta dos Macacos e o O Planeta dos Macacos - O Confronto. São eles: Spread of Simian Flu: Before the Dawn of the Apes (Year 1), com legenda em português, trata da propagação da gripe. O segundo, Struggling to Survive: Before the Dawn of the Apes (Year 5), com legenda em espanhol, fala da luta pela sobrevivência. O terceiro, Story of the Gun: Before the Dawn of the Apes (Year 10), com legenda em espanhol, é sobre uma arma que vai passando de mão em mão até que... Os curtas lembram A Estrada (2009), de John Hillcoat, mas é um trabalho muito bacana.


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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