sexta-feira, 25 de março de 2016

Crítica: Batman vs Superman: A Origem da Justiça


Desavenças entre o noctívago Batman e o solar Superman não são nenhuma novidade no universo HQ-DC. O sombrio e o iluminado já se bateram algumas vezes..., e entre mortos e feridos, os dois sobreviveram para novos embates. Agora, sequestrando uma página de hq aqui, roubando meio argumento de hq acolá, e aspirando a obra-prima gráfica O Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller..., digo,  e se inspirando na famosa novela gráfica de Miller, os roteiristas Chris Terrio e David S. Goyer, com direção de Zack Snyder e bênçãos (pitacos e influência) do pretensioso Christopher Nolan (do bom Batman Begins, 2005, do razoável Batman - O Cavaleiro das Trevas, 2008, e do terrível Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012).

O confronto Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman V Superman: Dawn of Justice, 2016) acontece logo após a catastrófica batalha entre o Superman (Henry Cavill) e o vilão kriptoniano Zod (Michael Shannon), narrada em O Homem de Aço e que deixou um incalculável rastro de destruição em Metrópolis e Gotham City. Manipulações políticas e midiáticas, manifestações de ódio, fanatismo generalizado (lembrando a hipocrisia reinante na “rede social” Facebook no Brasil), dividem a opinião pública e acabam comprometendo a idoneidade moral do Homem de Aço (assunto já explorado no filme solo de 2013) e influenciando o atormentado, vingativo e inescrupuloso Batmaníaco do taciturno Bruce Wayne (Ben Affleck), que se considera mais uma vítima da batalha estelar e quer cobrar (do alienígena) a sua parte na porrada, em uma luta de vida ou morte.  


Nessa arena, o maquiavélico psicótico Lex Luthor (Jesse Eisenberg), é claro, espera assistir, de camarote, ao “acerto de contas”. Uma vez que a aparição dos coadjuvantes Diane Pince/Mulher Maravilha (Gal Gadot) e Apocalypse (Robin Atkin Downes) não é novidade para ninguém..., já dá para o espectador deduzir (sem qualquer spoiler) até mesmo o “final” da história..., se é que conhece a saga do Superman nos quadrinhos e (para mim) a sua (talvez) melhor e mais melancólica aventura.

Como qualquer produto da DC que se preze (positiva e ou negativamente), Batman vs Superman: A Origem da Justiça é grandiloquente (ao gosto de Nolan) e dado a frases prontas (clichês piegas) de impacto sócio-político e econômico, para o público (adulto?) mais intelectualizado achar que a sua inteligência não esta sendo subestimada e que o filme está (seriamente?) conectado (e comprometido?) com o seu tempo etc. Bobagem! Este é apenas mais um artifício narrativo manipulando frases (rasas) ao vento, já que não há interesse (ou estofo?) algum em se aprofundar o dito, que fica pelo não dito.


Batman vs Superman: A Origem da Justiça não é uma colcha de retalhos apenas de hqs dos heróis protagonistas, também se ocupa em fazer citações da trilogia cinematográfica Batman via  Nolan. Os furos do roteiro não são de bala, são de preguiça mesmo. O argumento é tosco e o enredo confuso e pouco convincente nesse universo quadrinhesco em mutação. Nem a trilha sonora horrorosamente sinfônica e ensurdecedoramente desconexa consegue imprimir alguma emoção ao gélido e insosso drama(lhão).

As crises e dilemas dos heróis se repetem: aceitar-se superior/divino e ou humano/marginal? E por falar nisso, a se calcular a neurose de cada futuro integrante da futura Legião, acho que, para discutir os traumas e as psicopatias de cada um, será necessário um ato inteiro do filme para a terapia em grupo. E como, ao contrário da Marvel, a DC não é chegada nem em humor negro, duvido que seja, ao menos, minimamente tão divertida e inocente quanto a sessão de terapia que acontece com personagens de games na ótima animação Detona Ralph (2012).


Ah, e por falar que o humor que rola fácil e mordaz na Marvel não faz parte da DC, os roteiristas de Batman vs Superman até tentam alguns gracejos, mas são tão ruins que é impossível esboçar um sorriso amarelo sequer. Nesta trama de explosão, tiro e pancadaria, o mais próximo que Terrio e Goyer conseguem chegar do que lhes parece humor é um brevíssimo diálogo constrangedor (!!!) entre Martha Kent (Diane Lane) e Batman (Affleck), sobre um apetrecho usado por muitos heróis e super-heróis e que a Pixar já se saiu muito melhor ao falar dele em Os Incríveis (2004). Se viu a animação, vai se lembrar, na hora, da piada lá,  ao ouvir a insinuação imbecil cá. Onde está o Deadpool quando mais se “precisa” dele?

A sequência de abertura (que deve durar uns quinze minutos), mostrando a batalha de Superman e Zod, sob o ponto de vista de Bruce Waine, agrega descaradamente todos os clichês tradicionais do gênero herói/catástrofe (ou vice-versa) que todo cinéfilo conhece de cor e salteado. Ou melhor, quase todos os clichês, pois não me lembro de ter visto algum cachorrinho em perigo. Quanto ao “casal romântico” Clark e Lois Lane (Amy Adams) os autores patinam e patinam, os atores se entregam e se entregam, porém, os personagens se olham, se abraçam, se beijam, insinuam sexo..., mas química que é bom..., nada!


Enfim..., após o equivocado O Homem de Aço (2013), parece que ainda não será desta vez que o diretor Zack Snyder (notório por 300, Watchmen, Sucker Punch) encontrará a sua redenção cinematográfica..., ao menos se depender da crítica, já que tem um público espectador que o admira mesmo nos deslizes. Esses fãs, que não estão nem aí para questionamentos filosóficos, sociais, econômicos, psicológicos..., se tiverem um pouco de paciência com a narrativa arrastada, com certeza vão se deliciar é com o explosivo terceiro ato e até se esquecer da pipoca com pururuca e do refrigerante quente...


Se eu não gostei de nada? Gostei do elenco (Henry Cavill, Ben Affleck, Jesse Eisenberg...), da fotografia de Larry Fong e (do melhor de tudo, mesmo!) dos fantásticos e alucinantes pesadelos do Batman!

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