sexta-feira, 4 de junho de 2021

Crítica: De volta para casa


 Cineclube Italiano

DE VOLTA PARA CASA

04 a 10 de junho de 2021

online e gratuito

(links: textos em laranja) 

O filme selecionado para a segunda edição do Cineclube Italiano, para exibição online e gratuita, entre os dias 04 e 10 de junho de 2021, é o drama De volta para casa (2019), de Cristina Comencini. Fruto da parceria entre o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo e o Petra Belas Artes À LA CARTE, o Cine Clube Italiano disponibiliza seu filmes para assinantes e não assinantes da plataforma de streaming. Na quarta-feira, 09 de junho de 2021, às 18h30, acontece um bate-papo ao vivo, sobre o filme, com o jornalista e crítico de cinema Miguel Barbieri Jr. e Léo Mendes, gerente de inteligência do Belas Artes Grupo. 


Na abertura do drama psicológico De volta para casa (Tornare, 2019), da diretora italiana Cristina Comencini (La bestia nel cuore), há uma epígrafe do ensaísta e físico italiano Carlo Rovelli: “Não há passado, não há presente, não há futuro. O tempo é apenas uma forma de medir a mudança."..., que serve de “farol” para o desenvolvimento do labiríntico roteiro escrito por Comencini e Giulia Calenda. 

Situado em 1991, no belíssimo e elegante bairro costeiro Posillipo, em Nápoles, De volta para casa segue os passos de Alice (Giovanna Mezzogiorno), uma jornalista, na faixa dos 40 anos, que retorna dos Estados Unidos para acompanhar o enterro do pai, um oficial da marinha e, enquanto aguarda os trâmites para a venda da vila da família, sente-se aprisionada por lembranças do seu passado naquela esplêndida casa à beira-mar, onde não faltam segredos ocultos atrás das portas e em álbuns incompletos de fotografia. 


A trama de De volta para casa remete aos clássicos Alice no País das Maravilhas e Alice Através dos Espelhos, de Lewis Carrol. Assim como a garota Alice, de Carrol, (em uma leitura simbolista) entra numa toca de coelho, diminui, cresce e volta ao seu tamanho natural e, em seu itinerário por trilhas estranhas, se relaciona com seres maravilhosos, em busca de respostas para suas inquietações adolescentes..., a mulher Alice, de Comencini, ao entrar na casa onde passou a infância e a juventude, começa a se inquietar com memórias antigas, a se defrontar com “fantasmas” do seu passado, nas versões Alice adolescente rebelde (Beatrice Grannò) e Alice criança sonhadora (Clelia Rossi Marcelli) e, entre os encontros com suas “versões” oníricas, conhece um “coelho” (de carne e osso) que parece saber tudo sobre ela: o ambíguo bibliotecário Mark (Vincenzo Amato). A partir deste relacionamento triplo, deste diálogo interior entre as três faces/fases da mesma Alice, em tempo de felicidade (adolescente) e tempo de carência (infantil) diferentes, ela se dá conta de que não consegue se lembrar do motivo que a fez deixar a casa dos pais, aos 18 anos, e se põe a buscar estas memórias perdidas no tempo e ou bloqueadas em seu subconsciente no ano de 1967. 


Com seu viés dramático, que flerta com o suspense psicológico e tangencia em questões dolorosas, como o autoritarismo, rebeldia infanto-juvenil, ciúmes e obsessão, família disfuncional, violência, preconceito, traumas..., centrados no universo feminino, De Volta Para Casa deve encontrar diálogo particularmente com as mulheres. Embora não aprofunde as discussões propostas, deixando muitas perguntas em aberto (principalmente sobre relações familiares e conjugais), é uma narrativa que deve encontrar eco na dor de mulheres (de idades diferentes) que, assim como Alice, são vítimas dos padrões comportamentais machistas ainda nos dias de hoje. 

Enfim, mesmo que o roteiro não ouse tanto nas amarras da trama e que algumas pistas e fios soltos facilitem desvelar o trauma que bloqueou a memória de Alice, De Volta Para Casa é um drama melancólico, com algumas metáforas curiosas (cavernas e túneis e arenas), que se deixa ver com interesse. O elenco é eficiente, o cenário é deslumbrante, a fotografia é notável e a direção é formal. A ordem e a desordem do tempo na vida de cada espectador (a), durante a sessão, faz parte do quebra-cabeça quântico. Pois, como registra o mosaico na sequência final: Cave canem

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.


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