por Joba Tridente
Um povo mal informado sempre elege governantes mal intencionados. A
canalhice institucional não é privilégio de governo de país mais conhecido e ou
de país mais esquecido. Ela se espalha feito vírus e se inocula no poder de tal
forma que fica difícil (mas não impossível!) combatê-la. São raros aqueles que
professam a política sem interesses outros que não o de servir à pátria e,
principalmente, aos cidadãos que os elegeram (para ordenar o caos). Quem está
no poder quer (mesmo!) poder e fará de tudo (mesmo!) para se manter poderoso no
cargo. A qualquer iniciativa para barrar os seus alucinados desmandos, ele se
dirigirá ao seu curral de imbecis dizendo ser vítima de uma conspiração global
comunista ou socialista ou imperialista pagã para tirá-lo do comando da nação e
dominar o mundo. Sabemos muito bem onde se perpetuam e onde desejam se
perpetuar tais extremistas. Basta olhar pelo vão das pesadas cortinas e ou por
debaixo dos panos que cobrem as mesas dos conchavos.
Ao observar a atual cultura do cancelamento (em vida!) nas redes sociais, principalmente de artistas (de qualquer área), por suas opiniões e ou posições sociopolíticas, é impossível não relacioná-la com a absurda censura cultural imposta a autores, diretores, atores etc, entre os anos 1950 e 1957, nos EUA macarthista, que destruiu a vida profissional e familiar de inúmeros intelectuais “de esquerda” que ousavam pensar e ou agir fora dos egocêntricos padrões “patrióticos” dominantes. Tachados de comunistas pró-soviéticos, aos artistas nominados na temível Lista Negra de Hollywood..., cujas vidas eram esmiuçadas desde a juventude, pelo séquito raivoso do Senador McCarthy, que conduzia as investigações do Comitê de Atividades Antiamericanas (HUAC)..., eram “oferecidas” duas alternativas: citar os nomes de outros “comunistas” de seu ciclo de amizades e ou trabalho e voltar à ativa, ou negar os nomes dos inimigos da pátria e ser condenado à prisão e ou ao desemprego. Os torturantes sete anos de perseguição infundada (à classe artística), desencadeados pelo histérico McCarthy, com o aval de J. Edgar Hoover, diretor do FBI e encarregado de “descobrir” as atividades anticomunistas dos “condenados” (sem crime), ainda ressoam nos EUA e deixam resquícios em outros países com vocação autoritária (principalmente abaixo da linha do Equador).
O personagem David Merril é fictício, mas o clima kafkiano ao seu redor, a tortura psicológica para delatar conhecidos ou nunca mais trabalhar em Hollywood e ou exercer outra profissão em qualquer lugar dos EUA, é real. Culpado Por Suspeita não é o único a mergulhar no macarthismo. Nessa mesma linha, com mais ou menos intensidade, já tivemos, entre outros filmes, No Despertar da Tormenta (1956); Testa-de-Ferro Por Acaso (1976); Hollywood em Julgamento (1976); Um dos 10 de Hollywood (2000); Boa Noite, Boa Sorte (2005); Trumbo - Lista Negra (2015)..., cada com suas peculiaridades que, no todo, nos dão um panorama do que foram aqueles dias negros para a cultura (principalmente) cinematográfica norte-americana. Um filme a se ver e a se questionar se tamanha angústia cultural e perseguição aos intelectuais realmente chegaram ao fim..., ou se há espaço para repescagem lá e cá. Em tempos de terra plana, há que se ocupar com a engrenagem da gangorra dos negacionistas...
*A partir de 08.04.2021 no serviço de streaming Belas Artes à La Carte
NOTA: As considerações
acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos
espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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