22 a 30 de abril de 2021
online e gratuito
(links: textos em laranja)
O Cinema Brasileiro é um tema que sempre provoca debates apaixonados entre
os espectadores que amam os filmes nacionais e aqueles que (por ignorância e
ou aculturação) odeiam. A falta de unanimidade (mesmo a favor ou contra a
sétima arte tupiniquim) tem a ver com gênero, linguagem e principalmente com as
idiossincrasias brasileiras datadas em chanchadas, cinema novo,
pornochanchadas, novo cinema. Opiniões versus opiniões à parte (pois gosto se
discute, sim, mas é outro assunto), a verdade é que, contornando o
desmantelamento cultural e a distribuição, o Cinema Brasileiro continua firme
e despertando interesse também no exterior. No Brasil, o palco mais provável
para exibições de filmes, que dificilmente chegarão às salas de cinema e ou a
canais pagos de tv, é o dos festivais. Ou, em tempos da pestilência viral, o
das plataformas virtuais, com acesso livre a um público bem maior que o
presencial. São muitos os festivais e mostras cinematográficas que estão migrando
(temporariamente ou definitivamente), desde 2020, com sucesso inesperado,
para as plataformas de streaming, conquistando espectadores que jamais
teriam condições de assistir às obras premiadas em festivais presenciais.
Assim, enquanto a vida tropeça nos vírus que atravancam o caminho da cultura
brasileira, vamos nos satisfazendo com a arte que nos é possível acessar e
refletindo sobre a arte que nos virá quando a pandemia passar. A propósito, começa no próximo dia 22 e segue até o dia 30 de abril de 2021, no portal 10 Olhares ou direto na plataforma do Belas Artes À La Carte, o festival CINEMA BRASILEIRO: ANOS 2010, 10 OLHARES. A mostra, que resgata parte significativa da filmografia nacional da última década, dividida em 10 olhares de 10 curadores diferentes, exibirá online e gratuitamente 75 filmes (43 longas e 28 curtas) e 10 debates gravados entre os curadores e curadoras de cada segmento e mais dois especialistas nos temas, que discorrerão sobre as obras e o conceito trazido pelo curador para rever a década. Do texto de apresentação Cinema Brasileiro, anos 2010: uma questão de olhar, de Eduardo Valente, idealizador e curador da mostra, destaco: “(...) O CINEMA BRASILEIRO: ANOS 2010, 10 OLHARES buscará constituir a terceira parte de um movimento que temos feito desde o ano de 2001 (referente ao cinema dos anos 90) e 2011 (os anos 2000): o de tentar se aproximar de uma produção múltipla ainda no calor da hora em que ela fecha dez anos, sem maior recuo histórico para sua inserção numa linha mais longa. Buscamos marcar essa passagem de tempo com um claro objetivo que sempre é muito menos de canonizar ou resumir um cinema tão múltiplo (e cada vez mais, no caminho que atravessa essas três décadas) e mais de refletir sobre determinadas linhas de força presentes nessa produção. Torcemos que assim logremos permitir, inclusive, muitas vezes associá-la não só ao que veio antes como, talvez, conseguir a partir dela olhar e vislumbrar rabiscos para um futuro. Entendemos, por fim, que este gesto ganha uma dimensão política maior por chegar ao olhar do público num momento tão delicado, como afirmamos no começo deste texto. Para além de um país literalmente sangrando perdas enormes, este é também o momento em que se instaura um combate frontal do atual governo federal frente a algumas das instituições e artistas que compuseram e compõem toda uma rede viabilizadora e disponibilizadora do cinema nacional. Acreditamos, então, que, neste contexto, a possibilidade de ver, conhecer, discutir e repensar 43 longas e 28 curtas produzidos ao longo dos últimos dez anos possa servir também como uma resposta firme e ruidosa acerca da vitalidade, relevância e força mobilizadora do cinema do Brasil. E não podemos nunca deixar de torcer e lutar para que, daqui dez anos, possamos estar redesenhando este gesto olhando para essa década que mal se abre e reconhecendo nela uma vitória da criação e da vida frente o arbítrio e a morte. PROGRAMAÇÃO 22 a 30 de abril de 2021 alguns longas ficarão disponíveis por tempo restrito |
Cachoeira Doc: Desaguar em cinema: retomar territórios invadidos “O movimento observado no traçado desenhado pelos filmes reunidos, nesse segmento, antes de divisor é desaguar: confluência contra fronteiras erguidas por invasões e expropriações – de terras, corpos, povos, vidas, imaginários –, fronteiras fincadas em nome de um Brasil por cima de todos. É, portanto, de um cinema contra a Nação, e não de um cinema nacional, que se trata aqui, por meio dessa pequena coleção de filmes documentais surgidos nesta última década, e reunidos por fluxos sutis de conexão. Se o documentário é o cinema que toma para si a tarefa de empurrar as fronteiras do visível, estes longas e curtas lançam-se nas geografias - do tempo e do espaço –, em operações de retomada: do próprio corpo e desejo, das cidades, das imagens, da história e da terra.” Longas-Metragens de Vincent Carelli de Anita Leandro RESSURGENTES:
UM FILME DE AÇÃO DIRETA de Dácia Ibiapina de Adirley Queirós. Curtas- Metragens de Ariel Duarte Ortega e Patricia Ferreira (Keretxu) de Leandro Santos de Safira Moreira de João Batista Silva. Carol Almeida: A cidade e as brechas ocupadas “O cinema brasileiro produzido durante os anos 2010 esteve muito atento a questões sobre o direito à cidade, e fez esse debate se mover em imagem a partir de filmes muito distintos em suas propostas formais. Pensando mais especificamente sobre alguns corpos queers que se recusam de forma mais enfática a se adaptarem à arquitetura de segregação dos grandes projetos urbanos e quais espaços de existência que esses corpos conseguem criar, o recorte "A cidade e as brechas ocupadas" agrega filmes que buscam, por um gesto de recusa, um modelo de vida de algumas cidades e simultaneamente de fabulação e criação de desejo dentro das rachaduras que surgem nos blocos de concreto.” Longas-Metragens de Allan Ribeiro e Douglas Soares de Gustavo Vinagre de Tavinho Teixeira de Elena Meirelles e Lívia de Paiva Curtas-Metragens de Luisa Marques, Darks Miranda de Chico Santos e Rafael Mellim de Cris Lyra de Carol Rodrigues. Cleber Eduardo: Espaços concretos de vidas em cinema “Esse segmento enfatiza uma linha de força de um grupo de filmes da última década e meia que conecta os modos de vidas de seus personagens com os espaços geográficos/sociais de suas vivências, amalgamando as vidas das pessoas fora da tela e das personagens na tela, sem deixar de haver jogo e criação para os filmes, reelaboração da vida cotidiana por dentro da vida em cinema, tensionando a autenticidade de corpos, espaços e falas com a elaboração cinematográfica, sem ter de firmar pacto com a ficção ou com o documentário, muito pelo contrário.” Longas-Metragens de Affonso Uchôa de Juliana Antunes de Maíra Bühler de Jo Serfaty Curtas-Metragens de Gustavo Vinagre de Irmãos Carvalho de Ana Carolina Soares de Gabriel Martins. Erly Vieira Jr: De corpo a corpo - personagens transbordantes, espectadorXs desejantes “Esse conjunto de filmes explora algumas das diferentes estratégias de engajamento sensório que parte da produção LGBTQIA+/Queer brasileira da última década utiliza para falar diretamente aos corpos dxs espectadorxs. Há desde a dimensão coreográfica/ performática presente na mise-en-scène, até o uso de uma visualidade ‘háptica’ (que remete ao tátil), promovida por uma câmera que muitas vezes funciona como um corpo que também é afetado por aquilo que registra. Também se pode incluir aqui o diálogo entre diversos gêneros audiovisuais e hibridismos com outras linguagens contemporâneas, bem como formas de se explorar as relações nem sempre conciliatórias entre corpos dissidentes em termos de gênero e sexualidade e os espaços que habitam.” Longas-Metragens de Marcelo Caetano de Karim Aïnouz de Juliana Rojas e Marco Dutra de Caru Alves de Souza. Curtas-Metragens De Nay Mendl, Rosa Caldeira, Stheffany Fernanda e Vita
Pereira de Mariana Campos de Yasmin Guimarães de Érica Sarmet. Heitor Augusto: O corpo, novamente “Reconhecendo o crescimento exponencial de realizadores e realizadoras não-brancas no cinema brasileiro ao longo da última década, esse recorte propõe uma costura na qual o corpo, particularmente o negro, é presença. Esse segmento reúne quatro filmes de realizadores negros, dois codirigidos por pessoas negras e um por um realizador não-branco. Além de trazer oito filmes para um lugar mais detalhado de apreciação, este recorte carrega também a intenção de que os filmes aqui exibidos facilitem a aproximação a muitos outros que porventura não integram este programa.” Longas-Metragens de Sabrina Rosa e Cavi Borges de Ewerton Belico e Samuel Marotta de Emilio Domingos de Carmen Luz Curtas-Metragens de Lincoln Péricles de Stanley Albano de Aline Motta de Fabio Rodrigues Filho Janaína Oliveira: Cotidiano singular “Na última década o cenário do cinema nacional presenciou a emergência de outros sujeitos na frente e atrás das telas contando suas histórias. Nesses deslocamentos de significados entre centros e margens que essa emergência propicia, vemos surgir obras que rompem com expectativas de representações já cristalizadas em nosso imaginário. Filmes com outros repertórios possíveis para o vivido todos os dias. O segmento traz um conjunto de filmes que dialogam com os cotidianos da vida naquilo que têm de único, mas afetivamente e efetivamente comum.” Longas-Metragens de André Novais Oliveira de Ary Rosa e Glenda Nicácio de Affonso Uchôa, João Dumans de Letícia Simões Curtas-Metragens de Guilherme Moura Fagundes de Aldo Ferreira, Ariel Ortega, Leo Ortega, Patricia Ferreira e Ralf Ortega de Lincoln Péricles de Gabriel Martins Kênia Freitas: Movimentos Fabulares “Esse segmento, apoia-se em dois aspectos basilares na sua proposição de olhar sobre os filmes da década de 2010. O primeiro é a ideia do movimento (dança/gesto/performance) como criador de fabulação nos filmes. O segundo aspecto é de pensar uma inflexão da década situada em 2015 (como um marco temporal simbólico): o movimento de um cinema (e recepção crítica) com linhas de força mais calcadas nas encenações realistas/naturalistas e perspectivas universais/totalizantes para um cinema mais aberto às possibilidades especulativas//experimentais e marcado muitas vezes pela auto-inscrição localizada.” Longas-Metragens de Caetano Gotardo de Marcelo Pedroso YÃMÎYHEX:
AS MULHERES-ESPÍRITO de Sueli Maxakali e Isael Maxakali de Grace Passô e Ricardo Alves Jr. Curtas-Metragens de Castiel Vitorino Brasileiro de Yasmin Thayná de Mulheres de Pedra de Diego Paulino Leonardo Bonfim: Era uma vez, era outra vez… “O foco principal aqui é pensar como um traço marcante do cinema contemporâneo – a ideia de que um filme pode recomeçar ao longo da projeção – foi abordado por longas brasileiros na última década. Dentro desse recorte, colocaremos em diálogo obras que se desdobram em duas ou mais partes, num jogo de variações e metamorfoses, e obras que aventuram a possibilidade da coexistência – nem sempre tranquila – de muitos filmes dentro de um mesmo filme.” Longas-Metragens de Otto Guerra de Julio Bressane de Maria Clara Escobar de Leonardo Mouramateus Paula Gaitán Pedro Azevedo: O mundo em desencanto “O critério inicial para definir esse recorte foi territorial. Trata de se mergulhar na produção nordestina e cearense da década de 2010, entendendo-a como uma parte bastante expressiva da cinematografia brasileira contemporânea, que vem ganhando cada vez mais espaço de exibição e debate no circuito de festivais nacionais e internacionais, além de infiltrar-se progressivamente no circuito exibidor de salas comerciais. Não se trata, contudo, de reafirmar a força do cinema produzido no nordeste como um gesto esvaziado de sentido, fadado à esterilidade da boa intenção, mas de propor uma via livre de acesso a filmes de artistas nordestinos que, quando pensados, exibidos, assistidos em conjunto, possam traduzir uma série de ideias complexas sobre questões que atravessam e transcendem a experiência de ser nordestino num Brasil cujas fronteiras apontam para a formação de um estado-nação que se desenha como ficção pura.” Longas-Metragens de Ivo Lopes Araújo de Guto Parente e Pedro Diógenes André Antônio Tavinho Teixeira, Mariah Teixeira de Jorge Polo e Petrus de Bairros Rafael Parrode: Desvios do contemporâneo “Ao nos locomovemos por destroços e ruínas de um passado recente, é preciso também partir de uma autocrítica, buscando compreender em que medida o cinema brasileiro se adequou a estilos, modelos de produção e difusão, e até que ponto vínculo permanecerá de pé diante do caos que se afirma. Nessa perspectiva, em que medida seremos reféns ao invés de operadores de novas estéticas emergentes, desvinculadas de um desejo de adequação do cinema brasileiro? A década passada viu muitos filmes que moldavam-se a um padrão internacional. São filmes facilmente encaixáveis em chaves ou tendências totalizantes do cinema mundial. Não se trata aqui da imposição de uma ideia de ‘novidade’, mas de tensionar as novas formas a partir deste arcabouço histórico. Investigar essas formas do cinema que agora já pertence ao passado é também um meio de compreender as amarras e enfrentamentos que precisamos lidar hoje.” Longas-Metragens de Andrea Tonacci de Vicent Carelli, Patricia Ferrreira (Keretxu), Ariel Duarte Ortega e Ernesto Ignacio de Carvalho de Getúlio Ribeiro de Luiz Rosemberg Filho de Lincoln Péricles 22 a 30 de abril de 2021 local: portal 10
Olhares direcionamento para as plataformas: Belas Artes à La Carte alguns longas ficarão disponíveis por tempo restrito exibição gratuita classificação indicativa de acordo com cada filme |
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