L
A U R A
por Joba Tridente
Alguns filmes vazam da memória da gente logo após a sua exibição. É como
se jamais tivessem existido. Outros ficam ali, retidos, bem acomodados numa
ramificação neuronal, à espera de que uma leve menção ao título cinematográfico
abra um arquivo nostálgico repleto de informações (audiovisuais) que se juntam
em curiosa associação, feito um quebra-cabeça de imagens e palavras. A mim, a mera
citação ao clássico drama Laura (1944), de Otto Preminger (Anatomia
de um Crime, Rio das Almas Perdidas), remete primeiro à inesquecível
composição de David Raksin, principalmente à versão letrada por Johnny Mercer. Depois
à intrincada trama que se desvela, por entre a luz e a sombra da requintada
fotografia (em preto e branco) de Joseph LaShelle, em busca do assassino da
bela Laura (Gene Tierney).
Mesmo passados setenta e sete anos e por mais que seu enredo seja
conhecido, Laura é um (melo)drama que ainda se assiste com interesse. O
enredo, que explora com segurança a dobradinha ciúme e
obsessão, é envolvente e não vai além da história misteriosa que quer
contar..., incluindo as reviravoltas. Os diálogos, que também não espicham o
assunto, reservam algumas pérolas irônicas (“Posso aceitar manchas em meu
caráter, mas não em minhas roupas.”). Quanto ao ótimo elenco, destacam-se Clifton
Webb (indicado ao Oscar pelo seu detestável Lydecker) e Vincent Price.
O diretor Preminger, que foi o primeiro a se interessar pela obra de Caspary e a trabalhar na adaptação para o
cinema (cujo registro de produção é um imbróglio e tanto), dirigiu o thriller
como bem imaginou e após duas rasteiras do estúdio, deu as cartas, numa jogada
de mestre, até o corte final. Enfim, quando se trata de Laura (filme,
personagem e tema), há sempre algum fotograma, algum gesto ou alguma nota
musical a ser revisitada.
*A partir de 08.04.2021 no serviço de streaming Belas Artes à La Carte
NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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