A
Torre Negra
por Joba Tridente
Uma coisa é certa, se as obras do escritor
norte-americano Stephen King são sucesso em todo o mundo, as adaptações cinematográficas
nem sempre agradam aos fãs e ou mesmo ao autor. Eu nunca li nenhum de seus
livros, mas já vi muitas versões no cinema. Enquanto espectador, evidentemente sem
condições técnicas de comparar um e outro, gostei da maioria.
Quando me interesso por algum filme (para
crítica/cabine ou não) busco o saber o mínimo possível, apenas a informação
básica, para não me deixar influenciar por diretor, roteirista, elenco..., nem vejo
trailer (cada vez mais com spoiler). Sobre
A Torre Negra, que finalmente chega
aos cinemas, li a interessante sinopse há alguns anos, quando se cogitava uma
adaptação franquiada para cinema e tv. Foi assim, curioso e sem ter lido uma
linha sequer da série de (por enquanto) 8 livros (1982-2012) e ou da adaptação
para os quadrinhos da Marvel (2006-2017), que fui conhecer a versão do diretor
e roteirista dinamarquês Nikolaj Arcel.
A Torre Negra (The Dark Tower, 2017), co-roteirizado
por Arcel, Anders Thomas Jensen, Akiva Goldsman e Jeff Pinkner, é um filme
fantasia de ação e aventura infantojuvenil programado para iniciar no cinema uma
história de ficção científica/western que vai terminar na tv, em forma de série
complementar. Bem ao contrário da minissérie IT (1990), sucesso na tv e que ganhou um remake cinematográfico com
estreia prevista para o mês de setembro.
A trama de A
Torre Negra gira ao redor do adolescente Jake (Tom Taylor), que
desenha (muito bem!) os seus frequentes pesadelos sombrios, onde aparecem um Homem de Preto/Walter (Matthew McConaughey), uma Torre Negra e um Pistoleiro/Roland (Idris
Elba). Jake busca um significado
para as imagens de terror que o perseguem noite a noite, mas todos dizem que é
fruto da sua imaginação. O garoto, acreditando numa iminente catástrofe
desenhada, decide pesquisar por conta própria e acaba descobrindo um Portal que
o leva até a Terra Média (num plano
paralelo e de língua inglesa). Neste lugar, uma das paisagens lúgubres dos seus
pesadelos e que (pelas reminiscências) pode ser a Terra de pós-apocalipse, ele
encontra o Pistoleiro Roland, que trava uma batalha (secular?)
com o Mago Walter, ansioso para destruir a Torre
Negra (que mantém o equilíbrio do Universo) a fim de implantar o seu Império de Trevas. Não está na hora
desses vilões serem mais criativos, não?! Um Pistoleiro movido pela vingança
e um Mago movido pela ganância. No meio desse imbróglio, uma
misteriosa Torre Negra, contornada
por um garoto dotado de poderes psíquicos raros: “o brilho”..., que pode interessar a ambos.
Além da previsibilidade (mesmo desconhecendo a fonte)
nas ações e reações, o filme é apressado e sem profundidade em seu enredo
rasteiro. Não há tempo para empatia e ou antipatia pelos personagens egocentrados
e vivendo apenas o seu presente: Roland
e Jake (unindo pistola e mente) para
derrotar Walter, que, por sua vez,
quer matar o (imune) Pistoleiro e
usar o garoto para destruir a enigmática Torre
Negra. Nessa lenga-lenga de gato e rato, cabe ao público juntar algumas
citações que vão quicando pela trama e encontrar lógica numa história trivial
que “relaciona” a Espada Excalibur do
Rei Arthur com a Pistola Automática de Roland,
mas deixa os seus personagens sem passado.
Saber mais sobre Jake,
Roland e Walter, sem a obrigação de ler os oito volumes (por enquanto!), faz
muita diferença. No entanto, fragmentada e claudicante, a narrativa é
desenvolvida como se todo espectador estivesse familiarizado com esse inusitado
universo (paralelo ou futuro?) onde há até um vilarejo multiétnico (analogia à
Arca de Noé?). Pelo que tenho lido (dos aficionados da série de Stephen King),
muita coisa aconteceu antes e depois dos “eventos do filme” com estes mesmos
personagens que (nos livros) são muito mais do que aparentam (na telona). Mas,
então o final não é o final? É melhor eu seguir em frente também!
Hoje em dia, com os filmes ultrapassando a duas
horas, para contar história de no máximo 1h30, é curioso que um enredo
“baseado” em uma série de oito longos romances caiba numa narrativa de 95
minutos. Porém, qualquer que seja o comentário que se faça ao “thriller”
juvenil, é bom levar em conta que os próprios realizadores deixaram claro que
esta não é uma adaptação fiel à série de livros de King, mas uma mera sequela
(tipo prévia?), aproveitando alguns personagens numa história não oficial, que
deverá ser aprofundada na série de tv. Se
bem que, pelo que se especula, não há consenso se A Torre Negra, o filme, é sequel
e ou prequel de alguma franquia
vindoura...
Enfim, diante de uma adaptação que pode soar a pipoca
fria sem sal e com muita pururuca ou refri quente, quem espera um thriller de
arrepiar os pelinhos da nuca, vai ter de se contentar com o cansativo tiroteio
(sem sangue) coreografado do Pistoleiro
(o tiro mais interessante, inclusive, com o itinerário da bala certeira, está
inteiro no trailer) e duas piadas legais no “ato” final. O trio de atores protagonistas
é bom, mas o script é de doer. Os
efeitos especiais “econômicos” também não ajudam. Os dois ou três monstrengos,
de tão primários, são risíveis. Não assustam. Não convencem! Nem eles sabem o
que estão fazendo na Terra Média.
A minha impressão foi a de assistir a mais um
mirabolante filme se super-heróis, só que obscuro e de baixo orçamento, com
personagens sem personalidade e nenhum carisma, onde o Walter seria uma espécie de Dr.
Estranho do mal: “Pare de respirar!”
e o Pistoleiro um coadjuvante
qualquer do bem, com o seu código de honra: “Eu
não miro com a minha mão, miro com o meu olho! Eu não atiro com a minha mão,
atiro com a minha mente! Eu não mato com a minha arma, mato com o meu coração!”.
Um filme (ou seria apenas um teaser?)
que promete muito, mas te entrega praticamente nada. Roda, roda, roda e avisa
que vai continuar em outro lugar, qualquer hora dessas.
Porém, toda via da leitura, como seu público alvo é o
pouco exigente juvenil, que está nem aí para roteiros rebuscados e não vai
precisar incomodar o Tico e o Teco, se descolar os olhos do celular,
esse conto simplório (bacaninha em algum momento), com começo, meio e fim, pode
até agradar. Já aos adultos e leitores assíduos de King, sei não...
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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