domingo, 6 de agosto de 2017

Crítica: Malasartes e o Duelo com a Morte

Malasartes e o Duelo com a Morte
por Joba Tridente

Desde criança gosto das histórias maliciosas do Pedro Malasartes (ou Malazartes) e é com satisfação que vejo este rico personagem da Tradição Oral Portuguesa e Brasileira retornar aos cinemas na comédia Malasartes e o Duelo com a Morte, de Paulo Morelli. A primeira vez que o mestre da embromação deu o ar da graça na telona foi em 1960, com Mazzaropi e o seu As Aventuras de Pedro Malazartes, que conta como o matuto, roubado pelos irmãos e fugindo da namorada casadoira, sai mundo afora realizando pequenos golpes para se sustentar. Um filme que, em meio a outros diálogos cômicos, traz esse, entre Malazartes (Mazzaropi) e o diretor de uma escola particular onde ele pensa em deixar os órfãos que encontrou pelo caminho: Diretor: Você tem outros irmãos? Malazartes: Tenho dois irmãos!  Diretor: São vivos? Malazartes: O único vivo sou eu. Os outros dois trabalham.


Em seu roteiro mais enxuto, Morelli traz o malandrão Malasartes (Jesuíta Barbosa) às turras com Próspero (Milhem Cortaz), que o quer bem longe de sua irmã Áurea (Isis Valverde), e amigável com a Morte (Júlio Andrade), que o quer bem perto para finalizar um maquiavélico plano de aposentadoria. Mas, será que um malandro mortal pode enganar um malandro imortal que o quer enganar e, de quebra, ainda dar uma rasteira na Parca Cortadeira (Vera Holtz) e no Esculápio (Leandro Hassum), dois trevosos que (sem que ele saiba) têm lá as suas razões para atrapalhar os planos da Morte? É assistir para saber a quem caberá os louros da vitória: se ao vivaldino Malasartes, devoto do amor (sem compromisso), ou se à entediada Morte, devota do trabalho (sem rotina). A hora do ajuste de contas com a vida ou com a eternidade é agora! Vencerá o mais esperto!


Ambientado em um interior imaginário, num lugarejo que hoje em dia a gente só vê em novela de época, o roteirista e diretor Paulo Morelli traz uns três bons causos conhecidos do ingênuo trapaceiro e galanteador Malasartes (da mesma "escola" do sensacional João Grilo que, além de cordéis célebres, protagonizou o Auto da Compadecida (1955), do mestre Ariano Suassuna) que aplicava pequenos golpes nos espertalhões ambiciosos que se achavam mais espertos que ele..., igual ao tolo Zé Candinho (Augusto Madeira), encantado por um “pássaro” raro. A trama é bem simples, por isso não dá pra falar muito mais sem correr o risco de cometer spoiler e o filme perder o humor.

Com interessante desenho de abertura-prólogo, cujos traços lembram a animação Samurai Jack, do Genndy Tartakovsky, a comédia romântica caipira e fúnebre Malasartes e o Duelo com a Morte é leve, com boas gags brejeiras, elenco competente, trilha sonora agradável e efeitos especiais que impressionam. Enfim, um excelente espetáculo para se ver com ou sem a família. Que venham mais causos!!!


*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

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