Como Nossos
Pais
por
Joba Tridente
Família é um dos temas mais populares, em todos os
gêneros, no cinema internacional. Vira e mexe ele também costumar dar as caras
e ou as cartas por aqui, depende da direção do vento ou dos fatos midiáticos.
Como Nossos
Pais (2017), dirigido por Laís
Bodanzky, que escreveu o roteiro em parceria com Luiz Bolognesi, é um drama,
praticamente sem alívio cômico, que dá voltas no cotidiano de Rosa (Maria Ribeiro)..., uma mulher estressada com a sobrecarga dos afazeres
domésticos e profissionais. Mãe de duas meninas e vivendo uma velada crise
conjugal com o marido e pai ausente Dado
(Bernardo Vilhena), um antropólogo e
ativista ambiental, ela está à beira de um ataque de nervos. Quando parece ter
chegado ao fundo poço, num tenso encontro de família a sua mãe Clarice (Clarisse Abujamra) faz uma revelação que lhe tira o chão de vez. Com
tantos problemas se acumulando no seu lar conturbado lar, essa bombástica
revelação, aparentemente despropositada, será a gota d’água para Rosa rever (seus) conceitos de família...,
se quiser encontrar paz de espírito e um lugar no planeta. Como deve ter
encontrado Mano (Francisco Miguez),
personagem do filme anterior de Laís: As
Melhores Coisas do Mundo.
Como Nossos
Pais é um filme que atira pra tudo quanto é lado: crise conjugal, familiar,
profissional, sexual, política,..., para falar de uma mulher (contraditória) em
busca de identidade e realização pessoal. Mas os petardos (alguns gratuitos e
sem relevância com o contexto) nem sempre acertam o alvo. E os que acertam trazem
um odor um tanto azedo e vicioso que, na “subtrama”, desdenha do papel do homem
no casamento de hoje. Seria irônico, não fosse radical. Em qualquer manifestação
artística, sempre me pareceu mais fácil um alvo ser atingido com humor (negro) do
que com rancor (negro).
O enredo irregular tem muito mais apelo ao público
feminino, com pertinentes reclamações à dupla jornada de trabalho da mulher, do
que ao público masculino, já que, na visão de Rosa, o homem é menos que nada e ou culpado de todas as mazelas. Na
generalização do seu amargurado discurso feminista, diferente da supermulher, que hoje gerencia a família
(filhos, casa, trabalho, finanças) os homens são supervilões, velhacos que não merecem crédito algum. Não é à toa que
todos os personagens masculinos (ao seu redor) são imprestáveis: o aborrecido irmão
Cacau (Cazé Peçanha), o folgado marido Dado
(Vilhena) o amante ordinário Pedro (Felipe Rocha), o hipócrita flerte da
mãe (Herson Capri) e até mesmo o seu
aéreo pai Homero (Jorge Mautner).
Enfim, Como
Nossos Pais, tem elenco coeso, com destaque para Maria Ribeiro, Clarisse
Abujamra e Jorge Mautner com sua poética filosofia e deliciosas canções. A
narrativa tradicional e com boa direção reserva ao menos uma bela sequência
(Abujamra ao piano), na justificativa do título que vem da música homônima de
Belchior, mas que também (ou mais) poderia ser O Tempo Não Para, do Cazuza. A história, embora redundante na
alegoria feminista, tem bons momentos nas cenas conflituosas entre Rosa (egocentrada em suas frustrações) e
Clarice (egocentrada em sua
felicidade), duas mulheres amarguradas aprendendo juntas a desatar os nós das amarras
sociais..., mas perde uma grande oportunidade de “brincar” com o machismo. Com boa dose de maniqueísmo e de (risíveis) estereótipos masculinos, num roteiro que
claudica, derrapa, mas segue em frente, Como
Nossos Pais, é um filme na média. Abacate com açúcar e limão para o
matriarcado vigente.
*Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de
idade. Os primeiros vídeo-documentários fiz em 1990. O primeiro curta (Cortejo),
em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista
e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
Gostei do texto, mas discordo de alguns pontos (haha!). Pra mim que todos os personagens se comportam como amebas, a esmo, vivendo num marasmo muitas vezes imposto por um orgulho de se negar os velhos e maus hábitos. Seria um filme feminista, se a meia-irmã da Rosa não fosse uma folgada esparramada no sofá, ainda que a alusão a geração da moça é ótima: uma geração que quer mudar com problematizações no aconchego de seus lares.
ResponderExcluirSenti falta de mais asserções visuais, como todo guia de roteiro deixa bem explícito, tal como costuma ter nos filmes do Kleber Mendonça Filho.
Não é o melhor filme brasileiro do ano, até porque pertence ao Bingo, mas ainda bem que não é dirigido ou escrito pela Anna Muylaert.
..., caramba, meu amigo Thiago, só agora vi as suas considerações no banco de espera dos comentários. ..., é por aí, e um pouco mais.
Excluir..., o que seria da arte (também) cinematográfica sem outros olhas e sem outras leituras. abs. ..., desculpe a demora.