quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Crítica: Rede Social


Rede Social ou Rede de Intrigas?

Fui ver o thriller Rede Social (The Social Network, EUA, 2010), de David Fincher, sem saber coisa alguma sobre Mark Zuckerberg, “criador” do Facebook, e saí do cinema sabendo menos ainda. Não sei se ele era (é?) um nerd babaca ou que se fazia (faz?) de babaca, um vilão, um ladrão, um gênio oportunista ou sequer o que está na tela é verdade ou especulação. Também porque ele não colaborou nem com o livro The Acidental Billionaires, de Ben Mezrich, e muito menos com o roteiro de Aaron Sorkin (escrito ao mesmo tempo em que o livro), que serviu de base para esta “cinebiografia” que trafega em mega-velocidade. O espectador que perder um byte acaba se afogando em bits.


Segundo Sorkin, quando convidado pra desenvolver o roteiro, The Acidental Billionaires era apenas algumas páginas e ele recebia os capítulos conforme ficavam prontos. Para adiantar o trabalho resolveu pesquisar por conta própria. Sem conseguir falar com Zuckerberg, criou a sua própria página, aberta à opinião dos usuários e buscou os afetos e desafetos que fizeram parte do grande momento criativo do programador, que já prometia revolucionar o mundo da informática, ainda criança em Dobbs Ferry, Nova York. O que está em discussão no filme é se Zuckerberg realmente criou sozinho o Facebook ou se apropriou indevidamente do código fonte ou da idéia de criação de um site parecido (Harvard Connection), que ele desenvolveria a pedido dos irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e de Divya Narendra, e se (também) passou uma rasteira no seu principal incentivador, primeiro sócio e ex-amigo Eduardo Saverin (que, curiosamente, é o menos antipático no filme e quem mais colaborou com Sorkin).


Como o filme não me despertou nenhuma simpatia (ou interesse) pelos “personagens” dessa rede de intrigas sem fim, que parecem dispostos a confundir e não a explicar (estratégia bem trabalhada por Sorkin e Fischer, para que – se possível – o espectador tire a sua própria conclusão), resolvi buscar informações outras pra saber se realmente o tal Zuckerberger é tão cafajeste como é pintado. Se no filme o bando nerd e assemelhados parecem farinha do mesmo saco, movidos a pó, álcool, sexo e rock’n roll, na “vida real” Mark Zuckerberg “é” (ou se faz) de uma apatia sem fim. Conforme um ótimo perfil dele, publicado na The New Yorker, em 20 de setembro de 2010, por José Antonio Vargas, o monossilábico e antissocial criador do Facebook parece ser o sujeito mais esquisito da face da Terra. Se não, porque um bilionário moraria numa pequena casa alugada em Palo Alto, onde tem a (discretíssima) sede do Facebook? Se o dinheiro (como está sempre afirmando) significa nada para ele, porque não faz doações? Arrogante, prepotente, tímido ou falso, a verdade é que esse gênio da informática ("Eu sou o CEO, Idiota”) sabe muito bem esconder o código fonte do seu jogo e blefar mesmo quando não é preciso.


Com uma inteligência acima da média, Zuckerberg demonstrou interesse por computadores desde criança. Aos sete anos já tinha um professor de computação. Na pré-adolescência criava jogos, programas e, com certeza, inimigos. É um sujeito totalmente contra a privacidade dos outros. O seu foco no Facebook é divulgar (partilhar) para todo mundo conectado, as informações (particulares ou não) postadas por quem se registrar, menos as dele, é claro. Como disse Dan Fletcher, em 20 de maio de 2010, num fantástico artigo para TIME.com (Como o Facebook está Redefinindo a Privacidade): O Facebook alterou o nosso DNA social, nos deixando mais afeitos a nos abrirmos. Mas a premissa do site pressupõe uma contradição: o Facebook é rico em momentos íntimos - você pode comemorar lá os primeiros passos da sua sobrinha ou lamentar a morte de um amigo próximo - mas a empresa está fazendo dinheiro porque você, em algum nível, exibe esses momentos online. Os sentimentos que você vivencia no Facebook são sinceros; os dados que você fornece alimentam o lucro financeiro.



Inconscientemente ou não, assim como na Internet (onde as aparências enganam), o filme Rede Social se parece um bocado com um site do tipo Fórum (ou mesmo uma página do Facebook), onde os personagens (usuários) dizem o querem e ouvem o que não querem, com a presença ou não de um advogado (mediador). Um fala e acusa daqui e outro linka e se defende dali, abrem-se arquivos, emails e perfis num ritmo vertiginoso, e ao final fica o dito pelo não dito. As informações são tantas (e misturadas) que a certa altura até parece um bando de nerds delinquentes fazendo muito barulho por nada. Se bem que este nada vale alguns bilhões, virtuais ou não, mas bilhões. Dizem! Para Aaron, o que ele e Fincher fizeram foi pegar um conjunto de fatos e criar uma verdade. Ou melhor, mais especificamente – criar três verdades. Não é uma história de uma única verdade. São três verdades entrelaçadas. Se você pensar nos fatos que não estão sendo contestados como pontos que você precisa ligar, nós ligamos esses pontos e produzimos um filme – porém entre os pontos existem a) os personagens, e b) o fato é que você é quem decide qual é a verdade. Nós não lhe dizemos ‘só existe esta verdade’. Nós apresentamos algumas verdades - três para sermos mais exatos, todas reveladas sob juramento por três litigantes que não querem cometer perjúrio - em busca de algo maior, ou seja, o conjunto de circunstâncias que tornou tudo isso possível.


Rede Social é (ao menos) um filme curioso. Tem uma excelente direção de atores jovens, onde se destacam: Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg), Andrew Garfield (Eduardo Saverin), Armie Hammer (gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss) e Justin Timberlake (Sean Parker). A trilha é competente e acentua bem a tensão do princípio ao fim. Mas, confesso que, apesar de toda a sua dinâmica estética, não prendeu muito a minha atenção. Pode até ter acontecido, mas é difícil de acreditar que o Facemash (precursor do Facebook) tenha sido criado como um ato de vingança, um desejo incontrolável de detonar (em rede) a ex-namorada que deixou Mark arrogantemente falando sozinho em um bar. Quem gosta de uma boa fofoca sobre código fonte, manipulação de dados, e “gente” nerd, geek e CEO, vai adorar. Já o usuário comum, que não está nem aí pra quem cria facilidades de navegação (programa, aplicativo, software, download), se ficar até o final, vai dizer: E daí?

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